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Surto História - A rivalidade na patinação que virou caso de polícia


Tonya Harding era uma patinadora atlética e promissora. Tinha brilhado no campeonato mundial de 1991, se tornando a primeira patinadora americana e a segunda da história a executar um 'triple axel' e pintava como uma das favoritas em Albertville 1992. Mas após um 1991 perfeito, Tonya começou a decair, Terminando em quarto lugar nos Jogos de inverno. No mundial no mesmo ano ela terminou em sexto e no ano seguinte, com problemas de lesão, não se qualificou. As qualificatórias da Olimpíada de 1994 seria a última chance dela ir para Lillehammer, sua segunda chance de conquistar uma medalha olímpica.


Mas ela tinha uma rival na disputa dessa vaga. Nancy Kerrigan, que tinha um estilo de patinação mais gracioso e técnico, que tinha sido bronze em Albertville - superando Tonya - e vinha como a favorita para levar outra medalha em Lilehammer, provavelmente de ouro. 


Então, em 6 de janeiro de 1994, um dia antes da seletiva americana que daria duas vagas para os Jogos, Kerrigan sofreu um ataque mudaria a sua vida para sempre. Ao sair de um treinamento, Nancy foi atingida acima do joelho por um homem com um cassetete. Uma equipe de televisão estava no ginásio e quase filmou a cena. Sua perna não foi quebrada, mas a lesão causada pela pancada foi o suficiente para Nancy não disputar o campeonato americano.


Tonya Harding tinha treinado muito para aquele momento e sem Kerrigan, venceu com facilidade a competição. Mas o vídeo com Nancy chorando de dor e gritando repetidamente 'por quê?' após o ataque tinha comovido os Estados Unidos. E a suspeita de que Tonya teria sido a mandante aumentou muito a visibilidade da patinação. Os tabloides sensacionalistas americanos inventam teorias e mais teorias sobre a contusão de Kerrigan. E eles de todo estavam certo quando no dia 12 de janeiro Shane Eckardt foi detido e ele confessou que ele era um dos cúmplices, junto com Derrick Smith, que foi o piloto de fuga e Shane Stant, o agressor. Eles fizeram o serviço pela quantia de 6.500 dólares e o plano inicial era cortar o tendão de aquiles da perna direita de Kerrigan, o que foi recusado por Stant, que preferiu uma pancada forte que lesionasse a patinadora. Os mandantes? Jeff Gilloly e sua esposa, Tonya Harding.


Mesmo com Harding negando veementemente a sua participação no caso, ela foi rapidamente taxada como a vilã da história e Nancy, a mocinha. Tonya se divorciou de Gilloly, mas mesmo assim, ainda era considerada a culpada pela contusão de Nancy pela opinião pública. Para apimentar ainda mais a situação, a Federação Internacional de Patinação decidiu que a segunda vaga seria de Kerrigan, mesmo sem ela ter se qualificado. No fim de janeiro de 94, a poucos dias do início dos jogos, a bomba: foram encontradas provas incriminatórias contra Harding, em papéis que tinham endereço e telefone do centro onde Kerrigan treinava escritos com a sua letra, o que provava sua participação como cúmplice.

A Federação americana de patinação tentou excluir Harding dos Jogos, mas ela ameaçou entrar na justiça, processar a USOC (Comitê Olímpico norte americano) e pedir uma indenização de milhões de dólares. Por conta do pouco tempo hábil para resolver essa questão, a USOC anunciou sua participação - a contragosto - dois dias antes do início dos jogos. Michelle Kwan, que também tinha se classificado, iria como reserva.

As duas estavam em Lillehammer e o mundo ficou de olho nas competições de patinação artística enquanto o caso continuava a correr na justiça dos Estados Unidos. Enquanto Kerrigan teve uma recuperação milagrosa da pancada sofrida, tendo muita sorte de não ter um osso quebrado e mesmo ainda sentindo um pouco de dor, ela iria participar. Já Harding não conseguiu treinar direito após toda a confusão e parecia estar fora de forma para o padrão das patinadoras. Ela sabia que essa era sua última chance na patinação, já que ela fatalmente seria condenada pelo caso e banida do esporte para sempre. Lado a lado, as duas treinaram no ringue de patinação dos Jogos em meio a flashes e filmadoras. 

A patinação artística feminina foi o evento mais visto no mundo dessa edição dos Jogos de inverno. Nos Estados Unidos, a ESPN teve 48,3 milhões de televisões ligadas no país na hora programa curto da patinação, uma das cinco maiores audiências da história do canal até hoje, excluindo todas as edições do Superbowl - até o momento dessa postagem. Todos queriam ver como seriam o encontro das duas rivais. Harding, que teve que se apresentar duas vezes pois teve um problema com o cadarço de seus patins, terminou na oitava colocação após o programa longo. Já Nancy brilhou e ficou com prata em uma decisão que os americanos contestaram muito, pois eles achavam Oksana Baiul (UCR) não mereceu as notas que a levaram ao ouro. Mas pelo menos o final feliz de Kerrigan foi conquistado, com a 'vilã' Harding se dando mal.


As duas encerraram a carreira após Lillehammer. Enquanto Kerrigan assinou com a Disney e virou a principal patinadora do Disney on ice, Harding assumiu a sua culpa no crime em março de 1994, admitindo que foi motivada pelo dinheiro que uma medalha de ouro daria a ela, já que ela não vivia em boa situação financeira, algo dito por todos os quatro homens presos no caso. Ela teve uma pena de três anos de liberdade condicional e 500 horas de serviço comunitário, além de se tornar persona non grata em qualquer ringue de patinação dos Estados Unidos pra sempre. Ela acabou virando um subcelebridade, participando de reality shows de gosto duvidoso, virando boxeadora profissional e depois comentarista de programas de humor.

Em 2014, a ESPN lançou um documentário chamado 'price of gold' sobre a história das duas e em  2017 foi lançado um filme ficcional da história "Eu,Tonya" , com Margot Robbie, a Arlequina do filme 'Esquadrão suicida', fazendo o papel de Harding. O filme recebeu 3 indicações ao Oscar, com uma estatueta de melhor atriz coadjuvante ganha por Alisson Janney, que fez a mãe de Harding no filme. 






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