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Meu Momento Olímpico - Thiago Rocha


Thiago Rocha (@Thiago_Rocha80)

Lembra deles, Brasil?

Ao contrário dos Jogos Pan-Americanos, que passam aos mais desavisados a ideia de que o esporte brasileiro vai de vento em popa por causa das medalhas em baciada, os Jogos Olímpicos servem para colocar o país em seu devido lugar – uma nação com potencial, mas pouco preocupada em fomentar o desenvolvimento esportivo como base, inclusive, da educação, já que é refém de dirigentes imediatistas e empenhados apenas em seus próprios interesses. Por isso um pódio, seja lá qual degrau o atleta suba, deve ser muito comemorado. São em momentos como a Olimpíada que heróis e heroínas nascem ou se superam e fazem, nem que seja por um dia, as pessoas abrirem os olhos e vibrarem por modalidades que ignoram por praticamente quatro anos. Não é cenário ideal, mas com certeza ajuda o atleta a se sentir mais recompensado após um ciclo de tantos sacrifícios e provações.

Um país que almeja ser uma potência olímpica e que organizará a próxima edição dos Jogos Olímpicos, em 2016, no Rio de Janeiro, não poderia, por exemplo, ficar surpreso com o ouro de Arthur Zanetti na ginástica em Londres-2012, o primeiro do país na modalidade. Afinal, ele dividia o favoritismo nas argolas com o chinês Chen Yibing. Deveria também saber que o ginasta treinava em condições precárias para alguém com a capacidade dele num ginásio acanhado de São Caetano do Sul (SP). Um país que levasse o esporte mais a sério já teria dado a ele estrutura adequada, inclusive financeira, de dominar a prova por uns três ciclos olímpicos.

A ginástica, de certa forma, goza de certa popularidade em comparação ao pentatlo moderno, que até Yane Marques fazer uma brilhante prova em Londres e terminar com a medalha de bronze a maioria nem sabia que o Brasil participava dessa modalidade. E a pernambucana não é nenhuma revelação: foi campeã pan-americana no Rio de Janeiro em 2007 (sim, em território nacional) e prata em Guadalajara-2011, além de integrar o top 3 do ranking mundial.

E o que falar de Adriana Araújo? No primeiro ano em que o boxe feminino integra o programa olímpico, ela surge “do nada” para ser medalhista de bronze numa modalidade em que os homens predominam.

Um ano depois de darem alegrias imensas para o Brasil, o que Adriana, Yane e Zanetti receberam em troca? Muitas promessas e tapinhas nas costas, com certeza. Pouca efetivamente aconteceu, porém.

Yane segue sem patrocinador. Recebe ajuda do COB, da Confederação Brasileira de Pentatlo Moderno e do Exército, este último cede estrutura de treinamento. Recém-formada em Educação Física, a atleta de 29 anos virou estagiária de uma academia em Recife, onde dá aulas de natação para crianças.

Adriana, com 12 anos dedicados ao boxe, tinha tudo para colher os frutos que uma medalha olímpica pode gerar, mas recebeu o golpe de quem deveria lhe dar apoio, sendo cortada da equipe brasileira, assim como as outras representantes do país em Londres-2012: Erika Mattos e Roseli Feitosa. Todas acusaram Mauro José da Silva, presidente da Confederação Brasileira de Boxe, de retaliação por conta de críticas a sua administração.

Zanetti precisou ameaçar defender outro país em competições para que a cartolagem brasileira se mexesse, dando a ele aparelhos de nível internacional para treinamentos. Ele também conseguiu, em maio, assinar com patrocinadores que estão lhe garantindo um melhor suporte. Não era o mínimo que um campeão merecia ter?

Das 17 medalhas conquistadas pelo Brasil em Londres-2012, guardo essas três como as mais especiais. Os casos de Adriana Araújo, Yane Marques e Arthur Zanetti, infelizmente, não serão os últimos e servem para mostrar como o Brasil é um país atrasado em termos de políticas esportivas e apoio a seus atletas, que capitaliza em cima do resultado dos outros mas não retribui com investimentos abrangentes. 

Confiram no link a semifinal entre Adriana Araujo e Sofya Ochigava (RUS).

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