O último dia do Campeonato Mundial de Piscina Curta, disputado em Doha no Catar, não poderia ter sido melhor. Daqueles bons dias em que tudo conspira a favor e resultam na primeira vez da história que o país termina na frente no quadro de medalhas no mundial de natação. O país fez história hoje (07/12) no Oriente Médio.
Para conseguir a aparentemente improvável liderança no quadro de medalhas o Brasil precisaria além de conquistar todas as medalhas de ouro que tinha chance,teria o dever de secar a Húngria em especial a dama de ferro Katinka Hoszú que estava na frente até o inicio da etapa
Primeiro,o troco. O campeão olímpico e agora 11 vezes campeão mundial César Cielo, conquistou mais um na sua carreira ao vencer a revanche contra o francês Florent Manadou. Manadou tinha provado que estava mais veloz neste campeonato,mas Cielo mostrou que os 100 metros nado livre não são apenas velocidade,mas estratégia e resistência. Prova disso foi o incrível final do brasileiro vencendo com apenas 1 centésicmo acima de sua melhor marca pessoal com 45s75. Manadou foi prata com 45s81 e o russo Danila Isotov em terceiro. Primeiro ouro brasileiro da noite.
Segundo,o momento histórico. O que aconteceu na final dos 50 metros costas foi sem dúvidas o maior momento da natação brasileira em Doha. A pernambucana "arretada" Etiene Medeiros largou,virou e bateu na frente na final da prova para se tornar a primeira mulher brasileira a ganhar uma medalha em campeonatos mundiais da FINA em provas de piscina e ganhou logo a de ouro. Podia ficar melhor? Sim podia,pois ela não só ganhou como quebrou o recorde mundial de 25s70 ainda da era dos trajes ao marcar o tempo de 25s67. Etiene é a segunda mulher brasileira da história a quebrar um recorde mundial,a primeira e única foi a saudosa Maria Lenk, que possuía a melhor marca nos 200 peito no longínquo 1939. Prata para a australiana Emily Seebohm e bronze para ninguém mais ninguém menos que Katinka Hoszú. Segundo ouro do Brasil,e com certeza o mais histórico.
Em 2009 Felipe França apareceu "do nada" pra surpreender o mundo e se tornar o primeiro brasileiro em anos a quebrar um recorde mundial,nos 50 metros peito e desde então muita coisa aconteceu na vida deste excelente nadador. De medalhas em mundiais a frustração olímpica,passando por ausência na seleção e mudança de técnico. Aquele Felipe com certeza nunca imaginaria que conseguiria os resultados que atingiu em Doha. Nada menos do que cinco medalhas de ouro,o nadador mais medalhado da competição. Hoje Felipe venceu mais um,ao quebrar o recorde de campeonato da prova além da marca sul-americana ao vencer com 25s63. Adam Peaty e Cameron Van Der Burg empataram com a prata. Terceiro ouro do Brasil,e o quinto que com certeza fizeram esse nadador lavar a alma.
As tarefas de secar os adversários vieram logo nas duas últimas provas individuais do campeonato. Se a Hungria não vencesse nenhum ouro e o Brasil levasse o único que ainda tinha chance,seríamos os campeões do campeonato mundial. Primeiro os 1.500 livre em que o húngaro Gerdely Giurta nos aliviou ao não confirmar o favoritismo e sequer pegar um pódio, ouro para o jovem Gregório Paltreniere da Itália. Depois foi a vez dos 200 livre com Katinka Hoszú na água e vencendo até os últimos metros até ser ultrapassada por Sarah Sjoestrom que não só venceu como quebrou seu segundo recorde mundial do dia com 1m50s78. Sarah aliás foi o destaque individual do dia já que também venceu com recorde mundial os 100 metros borboleta com 54s61,já Katinka com as duas medalhas conquistadas hoje se tornou de forma isolada a maior vencedora de medalhas em uma edição do campeonato mundial de curta com 8 no total. Aí chegou a hora do revezamento.
Tínhamos Guido que foi 5º colocado nos 100 metros costas, Marco Macedo que só foi 8º nos 100 borboleta por que cometeu uma erro de virada que comprometeu toda a sua prova e tínhamos o campeão dos 100 metros peito e dos 100 metros livre, e não precisamos nem falar quem são. Guido começou bem,abrindo em terceiro nos costas com o tempo de 50s11 que lhe daria a prata no individual, depois entregou para um cansado Felipe França que mesmo desgastado por ter nadado quase que recentemente os 50 fez um ótimo trabalho e nos manteve em terceiro atrás apenas de Estados Unidos e Grã Bretanha,então caiu na água Marcos Macedo que em busca de seu ouro que ainda não tinha vindo passou um pouco forte,cansando no final mas mesmo assim nadando pro ótimo tempo de 49s63. Éramos quarto até Cielo cair na água, os líderes eram os Estados Unidos que teriam Lochte fechando. Nos primeiros 50 metros já era segundo,tirando uma vantagem de 0s35 centésimos. Nos metros finais Cielo foi ultrapassando aos poucos até com a incrível parcial de 44s67 ajudar o time brasileiro a ganhar seu quarto ouro neste dia. O Brasil já era o maior vencedor de ouro da edição e marcava a história vencendo pela primeira vez um quadro de medalhas de uma competição da FINA
O dia foi tão maravilhosos com quatro vezes o nosso hino tocando no deserto que também não podemos esquecer os outros destaque da última etapa. Já que Sarah Sjoetrom e Katinka já foram citadas vamos falar dos inúmeros recordes mundiais batidos nessa etapa. Nos 100 medley vitória para Marcus Diebler da Alemanha com 50s66 no final. Ainda tivemos o recorde do time holandês no revezamento 4x50 metros livre feminino com o tempo 1m34s24. Outros vencedores do dia: a japonesa Kanako Watanabe (200m
peito, 2min16s92), a holandesa Ranomi Kromowidjojo (50m livre, 23s32) e equipe
dinamarquesa de revezamento feminina (4x100m medley, 3min48s86), o polonês
Radoslaw Kawecki (200m costas, 1min47s38) e o sul-africano Chad Le Clos (200m
borboleta, 1min48s61) que conseguiu a trifeta nas provas de borboleta ao vencer
as três distancias do nado.
Confira abaixo o quadro de medalhas com os primeiros colocados:
Quem viu a esse momento histórico que foi transmitido pelo Sportv pode constatar a emoção de profissionais ligados ao esporte com o Coach Alex Pussieldi e a ex-nadadora e agora jornalista Mariana Brochado,além de os mesmos terem exaltadado uma mudança de postura dos nadadores brasileiros no quesito união. Mesmo que assistiu as provas pela TV e não estava lá nos bastidores poderia ver que era nítido um torcendo pelo outro, um feliz pelo resultado do outro e até abrindo mão de nadar provas em prol de ajudar a equipe,como Etiene que abriu mão dos 50 livre para nadar com o time o reveamento 4x50 metros livre misto e conquistar medalhas. Isso é postura de time,tomara que vire uma marca brasileira, já que das dez medalhas que conquistamos 4 vieram de revezamentos. No ano passado fomos os campeões gerais de maratonas aquáticas,esse ano temos o melhor nadador e a melhor nadadora do mundo da mesma modalidade e agora vencemos o mundial de curta.Temos muita coisa pra evoluir,muito caminho até 2016, definitivamente não seremos os mais medalhados no Rio,mas temos que pensar no futuro.No dia 07 de dezembro de 2014 o Brasil mostrou que é o país do futebol, do vôlei e do judô,mas também dos esportes aquáticos.
A natação não para,dia 16 começa o Open que é seletiva pro Pan e pro mundial de Kazan. E claro,com cobertura do Surto.
Fotos: Sátiro Sodré
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