A equipe feminina da seleção brasileira foi responsável por duas das
conquistas mais marcantes de 2015 nos Jogos Pan-Americanos: o
vice-campeonato individual e por equipes. Primeira finalista do país na
competição, Lin Gui revelou detalhes da campanha em solo canadense.
A história do tênis de mesa brasileiro foi reescrita em Toronto em dois
grandes capítulos – o primeiro dele foi o torneio por equipes, onde Lin
teve a companhia de Caroline Kumahara e Ligia Silva.
“Foi muito legal ter chegado na final. Só o fato de ser inédita para o
Brasil já tinha me deixado muito feliz. Claro que sabíamos que seriam
adversárias muito difíceis, mas se estávamos lá é porque tínhamos
condições de brigar e ganhar. Nós sabíamos disso e elas também”,
recordou a brasileira.
A medalha de prata, conquistada após a vitória da seleção
norte-americana por 3 partidas a 0, começou a ser conquistada muito
antes, e duas situações não saem da memória da vice-campeã.
“Desde a preparação eu senti a equipe muito unida, focada em alcançar a
nossa meta, que era a medalha. Dois episódios foram muito marcantes
para mim: a primeira foi nossa vitória nas quartas de final contra a
Colômbia, valendo a medalha. O segundo momento foi a semifinal contra
Porto Rico, quando comecei ganhando, mas perdi o primeiro jogo para a
Adriana Díaz. Eu saí muito brava, mas a equipe me colocou pra cima e fez
eu perceber que não tinha nada perdido. Depois viramos e acabamos
vencendo por 3 a 1”, contou, orgulhosa.
Conquistar o primeiro grande objetivo da equipe foi um desafio
superado. Engana-se, porém, quem pensa que a garantia de medalha acalmou
os ânimos de Lin Gui – o que estava em jogo no dia seguinte era a vaga
na decisão.
“Contra a Colômbia, eu estava confiante e também nervosa por ser meu
primeiro Pan, mas as meninas me acalmaram e garantimos o pódio. Depois
disso foi difícil desligar, acho que dormi três horas só, e a Carol, que
estava no quarto comigo, foi a mesma coisa”, revelou.
O segundo grande capítulo da edição histórica dos Jogos Pan-Americanos
para a equipe feminina foi o torneio individual, onde duas medalhas
inéditas foram conquistadas. Lin Gui ficou com a prata e Caroline
Kumahara com o bronze. Surpreendentemente, o feito nas equipes afetou o
início da caminhada até a final.
“Como o individual começa no dia seguinte à final por equipes, foi
difícil me desligar daquilo. Nos primeiros dois dias joguei muito mal,
mesmo ganhando, e não conseguia entender o que estava acontecendo
comigo”, explicou a jovem de 22 anos.
Lin Gui conseguiu se classificar para a segunda fase, mas confessa que a
confiança não estava como deveria. Foi neste momento crucial da
competição que os conselhos do sueco Peter Karlsson, tetracampeão
mundial e consultor internacional da CBTM, se somaram aos do técnico
Hoyama e ajudaram a brasileira a deslanchar no torneio.
“Depois do último jogo da fase de grupos eu cheguei a chorar e estava
conversando com o Hugo para acharmos uma solução, então teve um episódio
que marcou muito, com o Peter Karlsson. Depois de cada vitória ele
passava por mim e me elogiava, dizia que eu estava bem e me parabenizava
pela vitória. Então nesse dia eu perguntei pra ele porque ele
continuava dizendo isso se eu tinha jogado mal. A explicação dele foi
muito simples: “Você tem que estar feliz, só assim vai voltar a jogar
melhor”. Depois disso consegui colocar minha cabeça no lugar e pensar
jogo a jogo, só jogar”, contou.
Na fase eliminatória, Lin Gui bateu a norte-americana Zheng Jiaqi nas
oitavas (4 a 2), Luo Anqi nas quartas, pelo mesmo placar, antes do
grande duelo contra a cabeça de chave número 1 da competição: Lily
Zhang, dos Estados Unidos, na semifinal – 4 a 1.
“O pensamento era o mesmo e a pressão era dela, eu não tinha nada a
perder. Para falar a verdade eu nem lembro do jogo, foi muito tenso. Só
sei que quando olhei o placar estava 3 a 3. Nesse intervalo antes do
último set, o Hugo me deu mais confiança, mandou eu ser mais agressiva e
graças a Deus deu certo”, comemorou.
Contra a experiente Wu Yue, ficou com sua medalha de prata no Canadá,
mas ganhou uma recompensa muito mais valiosa e que habitará para sempre
suas melhores lembranças do esporte.
“Era melhor não pensar em ouro e seguir a estratégia dos outros jogos.
Eu já conhecia ela, sabia que era forte e mais experiente que eu, então
fui só pensando em mostrar um bom tênis de mesa para o público. Ela
ganhou, mas eu fui a última a sair da quadra, porque fiquei um tempo no
banco, chorando. Nessa hora todo o público me aplaudiu e isso me fez ver
que valeu a pena, foi o reconhecimento por todo o meu esforço”.
Com ânimo renovado após a grande temporada, Lin Gui
promete empenho máximo na busca pela vaga para representar o país nos
Jogos Olímpicos do Rio, em 2016. Para tal, jogará o Torneio
Classificatório Olímpico, que será realizado em abril, no Chile.
“O Pré-Olímpico vai ser mais uma guerra que vamos lutar. Uma lição que
eu tirei dessa final do Pan foi que se não ganhei, foi porque não era
minha hora. Então agora eu e toda a seleção já estamos concentradas em
cada detalhe que pode ser corrigido até a competição, para buscarmos
essa vaga”, decretou.
Foto: Divulgação
0 Comentários