A história olímpica do boxe brasileiro viveu dois momentos
marcantes. Em 1968, na Cidade do México, o paulista Servílio de Oliveira
entrou para a galeria dos heróis da modalidade no país ao conquistar o
bronze na categoria peso mosca (até 51kg). O feito ficaria marcado por
44 anos como o único pódio do boxe nacional em Jogos Olímpicos. A quebra
do tabu ocorreu na edição de 2012, em Londres.
Nos Jogos da Inglaterra, dois irmãos nascidos no Espírito Santo –
Yamaguchi Falcão e Esquiva Falcão – e uma mulher com sangue baiano –
Adriana Araújo – ampliaram o número de pódios para quatro. A prata de
Esquiva e os bronzes de Yamaguchi e Adriana encheram o país de
esperanças para 2016.
Cada país pode classificar até 13 atletas. São dez vagas no masculino
e três no feminino. Por ser país-sede, o Brasil tem asseguradas seis
vagas – cinco no masculino e uma no feminino. Os nomes serão conhecidos
até o fim de maio. Bronze no Mundial de 2015, em Doha, no Qatar, o
baiano Robson Conceição oficializou uma vaga adicional. Assim, o Brasil
já tem sete atletas confirmados nos Jogos do Rio.
O objetivo da CBBoxe, entretanto, é chegar ao limite. “Em Londres,
competimos com 10 atletas. Foram sete no masculino e três no feminino.
Para o Rio, a meta é levar a equipe completa. Obviamente que por ser um
esporte de contato não podemos garantir isso. Mas estamos nos
preparando”, disse o presidente da CBBoxe, Mauro José da Silva.
Mauro confessa que a CBBoxe praticamente já sabe quais serão os seis
indicados, mas o plano é não divulgar nada antes dos torneios
pré-olímpicos, para tirar todos os boxeadores da zona de conforto.
“Queremos que o atleta busque a vaga. Quando você chega à Seleção após
ter conquistado a vaga, a sua motivação é outra. É algo que você
conquistou por direito. Sem falar que a vaga conquistada, como foi com o
Robson, vale por duas, pois abre espaço para um outro atleta ser
chamado”, afirmou o dirigente.
Oportunidades
A agenda o primeiro semestre prevê três eventos internacionais
estratégicos. Em março, entre os dias 8 e 20, será disputado em Buenos
Aires, na Argentina, o Pré-Olímpico continental, aberto a atletas do
masculino e feminino. Entre 19 e 27 de maio, em Astana, no Cazaquistão, o
Mundial Feminino distribuirá vagas olímpicas e será uma nova
oportunidade de as brasileiras que não obtiverem na Argentina.
Finalmente, entre os dias 7 e 19 de junho, em Baku, no Azerbaijão, o
Mundial Masculino fecha os torneios classificatórios.
Único atleta do boxe brasileiro que não precisa se preocupar em
garantir a vaga, Robson Conceição declarou que não disputará os torneios
classificatórios para 2016. “Não tenho mais que me preocupar em ir para
Pré-Olímpicos e Mundial. “Agora é só treinar e participar de algum
evento que tiver da APB, porque eu luto profissionalmente também. Essa é
uma liga criada pela AIBA”, disse, em referência à AIBA Pro-Boxing,
liga profissional da AIBA, a Associação Internacional de Boxe. “Posso
fazer algumas lutas antes e em algum evento de preparação, para manter o
ritmo. Dá para fazer umas 15 ou 20 lutas antes das Olimpíadas”.
Para a medalhista olímpica Adriana Araújo, o fim de 2015 não foi de
festa ou descanso. Longe de se sentir confortável com as vagas
garantidas ao Brasil, ela já adiantou que seu foco no primeiro semestre
está voltado para carimbar seu passaporte olímpico.
“Eu vou lutar melhor do que fiz em 2012 para buscar a vaga”, avisou.
“Já estou fazendo um trabalho com nutricionista, preparador físico e
toda a minha equipe para isso. Não tive férias neste fim de ano e não
vou ter férias neste primeiro semestre. Vou trabalhar para conquistar a
vaga no Pré-Olímpico (na Argentina), que vai ser mais fácil do que no
Mundial, pois será só para atletas do continente”, adiantou.
Estrutura de ponta
Para o presidente da CBBoxe, o ciclo olímpico para 2016, aliado aos
resultados obtidos em Londres 2012, significou uma nova etapa no
desenvolvimento da modalidade no Brasil. “As Olimpíadas do Rio trouxeram
crescimento, responsabilidade, cidadania e civilidade para o boxe”,
avaliou Mauro Silva.
Ele destacou todo o potencial do CT localizado dentro do Centro
Esportivo Joerg Bruder, em Santo Amaro, em São Paulo, onde os atletas
têm à disposição toda a estrutura do Núcleo de Alto Rendimento (NAR).
Para o dirigente, as condições atuais de treinamento equiparam a
Seleção a qualquer grande potência da modalidade. “Temos todas as
condições. É uma estrutura de primeiro mundo. Além disso, temos toda a
estrutura da CBBoxe e toda a estrutura que o COB oferecem na área
técnica e de ciência do esporte, além do suporte do Ministério do
Esporte. Estruturalmente, o boxe não deve nada a nenhum país”,
assegurou. “Não temos um CT específico para o boxe no Brasil, mas no
formato que montamos isso não nos faz falta”, prosseguiu.
Ele ressaltou que os equipamentos à disposição são de ponta, tanto
que os dois ringues utilizados no início de dezembro no Torneio
Internacional de Boxe, evento-teste da modalidade para os Jogos
Olímpicos Rio 2016, foram os ringues da CBBoxe.
Sem pressão
A CBBoxe prefere não trabalhar com metas pré-estabelecidas para os
Jogos Olímpicos. Para o presidente Mauro Silva, o objetivo é não
pressionar ainda mais os atletas. “Não trabalhamos com metas senão fica
um peso muito grande sobre os atletas e treinadores”, justificou. “Nós
trabalhamos para permitir que todos cheguem na melhor forma, física e
mentalmente, para que eles acreditem que podem enfrentar qualquer um de
igual para igual e chegar para brigar por medalhas”.
Adriana Araújo, contudo, não esconde a confiança. Para ela, depois
dos bons resultados em Londres e de toda a estrutura montada para o Rio
de Janeiro, as expectativas são as melhores possíveis. “Essas três
medalhas em Londres só vieram devido a um bom investimento. Isso
contribuiu muito. A gente sabe que lá em cima do ringue tudo é surpresa,
mas o que não falta na Seleção são atletas experientes. O Robson está
em ótima fase, o Robenilson (de Jesus) está bem, com a mente focada;
temos o Julião (Julião Neto), em ótimo momento; o Patrick (Patrick
Lourenço), e a Flávia (Flávia Figueiredo), entre as mulheres para citar
alguns. Temos atletas experientes e com chances reais de medalhas. Tenho
certeza de que em 2016 teremos boas surpresas”.
Foto: Brasil 2016
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