O Surto Entrevista desta semana é com Nick Hope, editor de Esportes Olímpicos e Paralímpicos da BBC, emissora detentora dos direitos de transmissão das Olimpíadas na Grã-Bretanha. O jornalista fala sobre as expectativas em relação aos Jogos do Rio e como a Grã Bretanha tem lidado com o legado olímpico de Londres 2012.
- Com a chegada de 2016, quais são as suas expectativas para a primeira edição dos Jogos Olímpicos na América do Sul?
Viajei em 2015 para o Rio de Janeiro e conheci os locais de competição dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos e honestamente acredito que a cidade irá realizar Jogos incríveis.
Sim, existem preocupações - principalmente sobre a qualidade da água na Baía de Guanabara, protestos com o investimento do dinheiro e o impacto do corte no orçamento - mas todas as edições de Jogos Olímpicos enfrentaram problemas nos preparativos para levantar o maior show do planeta.
Diversos locais de competição em Atenas 2004 foram completados dias antes da Abertura dos Jogos, Pequim 2008 sofreu com a poluição do ar e Londres 2012 teve que fazer sacrifícios por causa da crise mundial. Entretanto, após o começo dos Jogos, os problemas foram postos de lado com os observadores destacando as performances dos atletas.
A beleza extasiante do Rio e a variedade das novas instalações Olímpicas - combinadas com a atmosfera festiva - ajudará a criar algo único para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos.
Espero que o público e o mundo dê o seu apoio aos dois eventos, em uma verdadeira celebração do esporte.
- Nos últimos Jogos Olímpicos a Grã-Bretanha conquistou oito ouros no Ciclismo de Pista, mas nos dois últimos Mundiais o país levou apenas um ouro em provas presentes no programa olímpico. Como você vê a equipe britânica para os Jogos do Rio?
Os ciclistas foram os melhores e mais consistentes atletas da Grã-Bretanha nos últimos Jogos Olímpicos, mas as aposentadorias de Sir Chris Hoy (seis ouros) e Victoria Pendelton (dois ouros), assim como a saída do treinador chefe David Brailsford, atingiu duramente a equipe.
Hoy não era apenas uma inspiração na modalidade, mas também tinha um grande papel como mentor dos atletas mais jovens. A campeã Olímpica Laura Trott o descrevia como figura paterna. Ela me contou que por alguns anos faltou direção à equipe britânica, o que afetava as performances dos atletas. Entretanto, Trott disse que a equipe está melhorando e que ela é capaz de lutar por medalhas nas provas de Omnium e Perseguição por Equipes.
Já a equipe masculina não é mais competitiva quanto costumava ser quando tinha Chris Hoy. O sucessor de Hoy, Jason Kenny, está sofrendo para encontrar a forma que lhe rendeu três medalhas de ouro olímpicas. Mas o retorno de atletas do ciclismo de estrada - Sir Bradley Wiggins (Perseguição por Equipes) e Mark Cavendish (evento ainda incerto) - irão dar mais força para a equipe.
A Grã-Bretanha não terá tanto sucesso no ciclismo de pista quanto teve nos Jogos de 2012, mas a campeã Mundial Lizzie Armitstead e o vencedor de dois Tour de France, Chris Froome, devem aumentar a chance do ciclismo de estrada do país nos Jogos de 2016.
- Em 2012, a Grã-Bretanha conquistou 25 ouros e 65 medalhas no total. Nos Jogos do Rio o país tem a expectativa de ultrapassar esses números ou a tendência é conquistar menos medalhas?
A UK Sport, que é a entidade que define o orçamento das federações esportivas, anunciou que a expectativa da equipe britânica no Rio é superar o número de medalhas obtidas em Londres. Essa decisão foi recebida com surpresa - e também com algum choque. Nenhum país jamais ganhou mais medalhas do que obteve como país sede quatro anos antes na história dos Jogos Olímpicos.
Na mais recente atualização dos números do site Infostrada, que faz uma previsão para os Jogos Olímpicos, a Grã-Bretanha terá 47 medalhas, sendo 15 ouros. O serviço é conhecido pela sua exatidão.
Pessoalmente acho que a Grã-Bretanha ganhará menos medalhas do que em 2012, pois a vantagem de jogar em casa realmente melhorou os resultados. Entretanto, acho que a equipe do país levará entre 50 e 60 medalhas, o que seria excepcional e o melhor resultado obtido pela Grã-Bretanha fora do país.
- Se pudesse apostar em uma medalha inesperada para a Grã-Bretanha no Rio de Janeiro, qual seria?
A Grã-Bretanha jamais foi ouro no Badminton ou subiu ao pódio em uma prova feminina de Tiro Esportivo. Entretanto, essas marcas indesejadas podem cair no Rio de Janeiro.
O casal Chris e Gabby Adcock venceu a World Superseries de 2015 nas duplas mistas e aumentaram as expectativas para obter o ouro em 2016. A jovem Amber Hill tem sido uma sensação desde que ganhou venceu a etapa de estreia dela na Copa do Mundo de Skeet em 2013 e ficou com o ouro nos Jogos Europeus de 2015.
- Londres 2012 foi há quase quatro anos. Como a população da cidade está lidando com o legado dos Jogos?
O Parque Olímpico Rainha Elizabeth, que foi o coração dos Jogos de 2012, foi um grande legado dos Jogos. O Centro Aquático, os campos de Hóquei na Grama, Velódromo e a quadra de Handebol estão abertos ao público e o Estádio Olímpico receberá jogos da Premier League de Futebol em breve, além de eventos importantes de atletismo. A Vila Olímpica agora serve como moradias, enquanto as melhoras realizadas para os Jogos transformaram uma das áreas mais decadentes de Londres em um dos locais mais desejados da capital.
Entretanto, há críticas sobre o impacto dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos, com pesquisas sugerindo que a participação da população em esportes tem decaído desde 2012. Isso tem sido visto com grande preocupação e estão sendo realizadas diversas investigações e planos para tentar reverter essa tendência. Na verdade, provavelmente tem mais a ver com a politica do governo - falta de aulas de educação física na escola que levam a inatividade em adultos - que influencia o resultado, mas ainda é preciso fazer mais.
Uma certeza é que atletas Olímpicos e Paralímpicos recebem mais atenção agora do que antes dos Jogos de 2012. Os eventos fizeram os britânicos perceberem que há esportes de alto nível, além dos futebol, que são ótimos para assistir e a equipe britânica terá uma grande torcida em uma edição dos Jogos que não acontecerão na Grã-Bretanha.
- Após organizar os Jogos de 2012, como Londres enxerga os preparativos para os Jogos de 2016?
Como você deve saber, estão sendo publicadas várias notícias negativas sobre os Jogos do Rio de Janeiro, como poluição, protestos e problemas financeiros. Entretanto, acho que, diferentemente dos outros Jogos, há mais compreensão sobre o fato de que apesar dos problemas, tudo estará pronto quando for realizada a Cerimônia de Abertura.
Estamos em um ano Olímpico e tudo em referência aos Jogos do Rio ganharão mais importância nos próximos meses e a BBC mostrará uma fascinante mistura de bastidores dos preparativos dos atletas britânicos no "Road to Rio", combinado com análise e previsões.
Resumindo, logo após os Jogos de 2012, pessoas perguntavam: "Rio será melhor do que Londres?". Agora a pergunta é "O quão diferente serão os Jogos do Rio?", e acho que foi uma mudança bastante positiva.
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