Foi em uma tarde de folga, zapeando a TV do sofá de casa, que o diretor
de cinema Marcelo Mesquita viu atletas com lâminas em vez de pernas, na
pista do Estádio Olímpico de Londres, esperando a largada dos 200m dos
Jogos Paralímpicos de 2012. Curioso, ouviu anunciar como favoritíssimo
ao ouro o sul-africano Oscar Pistorius, que tinha um brasileiro ao lado.
Era Alan Fonteles – que, numa arrancada incrível, deixou para trás o
favorito. Ali nasceu a ideia do filme "Paratodos", com estreia
simultânea em cinemas e escolas de São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco
e Ceará, marcada para 2 de junho.
Comecei a fazer umas pesquisas para montar um ‘monstrinho’, como a
gente diz. Um trailer falso, com imagens juntadas, que acabou ficando
melhor do que a gente esperava”, conta Marcelo, que decidiu ir a
Brasília falar com o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB).
Deu tão
certo que no início de 2013 a produtora Sala 12 Filmes já começava as
filmagens. A equipe foi para o Mundial de Atletismo Paralímpico em Lyon,
na França, onde Marcelo começou a conhecer os atletas sobre quem ia
falar – “E me apaixonei por metade do time” –, depois ao Mundial de
Natação Paralímpica em Montreal, no Canadá. “Tínhamos muito material,
mas ainda não o desenho do filme”, conta o diretor.
Depois de conhecer várias modalidades Paralímpicas, a decisão foi por
montar o filme em quatro partes: com o pessoal do atletismo, da natação,
um esporte coletivo – o escolhido acabou sendo o futebol de 5 – e a
história do canoísta Fernando Fernandes e sua importância no movimento
Paralímpico.
Do atletismo, o documentário foca nos medalhistas Alan
Fonteles, Yohansson do Nascimento e Terezinha Guilhermina. Da natação,
retrata as trajetórias dos campeões Daniel Dias e Susana Schnamdorf,
ex-triatleta.
“Susana tem uma história incrível. Ela tinha
participado de 13 Ironman e era mãe de três filhos pequenos quando, aos
38 anos, contraiu uma rara doença degenerativa. Depois de uma depressão,
foi incentivada pelo antigo técnico para participar de provas de
natação – e se tornou campeã mundial em 2013.”
Como a doença segue evoluindo, a nadadora "luta por uma reclassificação
funcional, para mudar de classe, conseguir índice na nova classe e
competir nos Jogos Paralímpicos de 2016", conta o diretor. "Em 20 de
abril, será o tudo ou nada para ela, com a chance de reclassificação e
busca por índice. Estamos com o filme quase pronto, só esperando esse
desafio da Susana.”
O futebol de 5 (para
deficientes visuais) foi escolhido dentre os coletivos por ser “a cara
do Brasil”, segundo Marcelo Mesquita. “Ficamos concentrados 15 dias na
Andef (Associação Niteroiense dos Deficientes Físicos), a ‘Granja Comary
do futebol de 5’, acompanhando a preparação da seleção brasileiro para o
Mundial de Tóquio, no fim de 2014. E, lá, foi um sufoco, quando o
Brasil ganhou da Argentina na final, com um gol no último minuto da
prorrogação. Isso, depois de uma semifinal incrível contra a China.”
O diretor acompanhou por seis meses o canoísta Fernando Fernandes. “Ele,
Clodoaldo Silva e Daniel Dias são os atletas mais conhecidos, segundo
pesquisa do Comitê Paralímpico Bbrasileiro (CPB). Convivendo com
Fernando, conhecemos o ‘Cowboy’ [Fernando Rufino], que era peão de
rodeio e ficou paraplégico. São muitas histórias”, resume Marcelo
Mesquita.
Foto: Getty Images
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