Foto: Brasil 2016 |
O velejador Robert Scheidt tem experiência de Jogos Olímpicos como poucos. E
pouquíssimos podem se orgulhar de ter 100% de presença no pódio com
cinco edições no currículo. De Atlanta 1996 a Londres 2012, ele esteve
em algum dos três degraus, sendo duas vezes no lugar mais alto. Sobre a
sexta participação que se aproxima - de volta à Classe Laser, após duas
Olimpíadas na Star - o velejador costuma dizer que talvez seja a
primeira em que não chega como favorito. Mas, duas décadas depois de o
jovem de 23 anos, ainda solteiro e sem os dois filhos, levar pra casa o
ouro de Atlanta, a vontade de vencer ainda é a mesma para o Rio 2016.
“Chego a essa Olimpíada sabendo que o jogo vai ser duríssimo, que eu
não vou ter a vantagem competitiva que eu tinha em 1996, 2000 e 2004,
onde eram dois ou três atletas muito superiores aos demais. Hoje a gente
tem 10 a 12 atletas que têm um nível muito parecido. Sei que vai ser
tudo na execução, vai ser tudo naquela semana, mas eu acredito na minha
chance e é por isso que estou aí tentando melhorar a cada dia”, analisa o
bicampeão olímpico.
O velejador afirma que os Jogos Olímpicos não são evento de
participação e, sim, de performance. O principal, segundo Scheidt, não é
se classificar. É colocar-se em condição de disputar uma medalha. E a
certeza de saber como “chegar lá” gera tranquilidade.
“Por eu ter passado por vários momentos, ter ganhado Jogos Olímpicos,
ter perdido, ter ficado em todas as posições do pódio, eu tenho a
segurança do que eu posso fazer. Já fiz e dá pra repetir e isso é uma
segurança a mais. Quem nunca fez ainda tem aquela dúvida se realmente dá
pra chegar ou se Olimpíada é um sonho impossível. Sei que não é”,
garante.
Na vela, ele explica, o resultado vem de uma construção paciente.
“Não dá chegar com muita sede ao pote, querer definir a Olimpíada no
primeiro dia. Você precisa ir construindo a Olimpíada. Primeira regata,
tirou um sétimo? Está ótimo. Segundo dia, tirou um oitavo? Ótimo. Vai
construindo a tua média e, se ficar entre os dez em todas as regatas,
no final você vai estar disputando a medalha”.
Fator-casa?
Enigmática, traiçoeira, desafiadora... Não faltam adjetivos para
definir a Baía de Guanabara e os desafios que ela impõe aos velejadores.
Se os brasileiros a conhecem há mais tempo do que os adversários,
também é verdade que as principais equipes investiram bastante no último
ciclo olímpico para ter o maior volume de informações possível sobre a
baía. Além de câmeras e outros equipamentos de coleta de dados, os
estrangeiros também são presença constante nas águas olímpicas nos
últimos anos. Para Scheidt, o diferencial vai ser a regularidade na
semana de competição.
“Todos os atletas que vão competir com chance de medalha já vieram
aqui no mínimo dois ou três anos atrás, como a Holanda, a Inglaterra e
os Estados Unidos, que já têm base aqui, já conhecem tudo sobre a raia
no Rio. O Brasil ainda leva um pouco de vantagem porque passamos mais
anos treinando aqui. Eu já velejo aqui há mais de 20 anos, mas o que
importa no esporte é a execução, é aquela semana na Olimpíada, são 11
regatas”, diz.
As seis raias de competição também podem trazer realidades diferentes
e, por isso, a troca de informação é frequente entre os velejadores
para saber o que ocorreu em cada uma no dia a dia dos treinos. Além dos
dados coletados pela equipe brasileira com auxílio da tecnologia, a base
de informações vai aumentando nessas conversas com os colegas,
guardadas as diferenças de efeitos de corrente e vento sobre os diversos
barcos. “Você nunca sabe exatamente o que vai acontecer, mas a gente
já tem uma boa noção do que pode acontecer e o que pode dar certo e dar
errado”, explica.
Para o bicampeão olímpico, quanto mais variação de condição, melhor
será, de forma a enfraquecer os “especialistas” em determinada situação,
como em ventos muito fortes ou fracos.
“Se a gente tiver todas as condições, cada dia um vento diferente
vence o velejador mais all-around, que é o meu caso. Sou um velejador
que consegue se defender bem em qualquer condição de vento. Aqui no Rio,
dificilmente a gente vai ter sempre vento forte ou sempre vento fraco,
vai ter dia com chuva, com maré forte, e a gente tem que estar pronto.
Tem que comer o prato que está na mesa, estando pronto pra tudo”,
afirma.
Comendo um pouquinho a cada dia, ainda que o cardápio não seja o
preferido, Scheidt espera chegar à sobremesa, com o doce e único sabor
que só a medalha olímpica tem.
“O que me motiva é o amor pelo esporte, o meu espírito competitivo, o
sonho olímpico, porque na Olimpíada você vive emoções únicas, só quem
está ali sabe o que é, e é um pouco viciante. Quando você sobe no pódio e
ouve o Hino Nacional, você quer sentir aquilo de novo. Vale todo o
sacrifício, todas as manhãs acordando cedo, todos os treinos, todos os
percalços, todas as derrotas, pra você chegar lá e ter a chance de
brigar mais uma vez. Isso é o esporte: é você se colocar na situação de
poder lutar por um objetivo. A medalha pode vir ou não, isso depende de
várias circunstâncias. Mas é trabalhar para chegar lá com a melhor
chance possível”, ensina.
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