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Coluna Lógos Olympikus - O peso de jogar em casa

Por Juvenal Dias

Um dos temas mais recorrentes em estudos de alta performance esportiva é a influência no rendimento dos atletas competindo dentro ou fora de casa. A pergunta que fazemos é se competir em casa é um fator motivacional ou implica em maior pressão. Todo esportista afirma que é um estímulo a mais para se empenhar e dar seu melhor. Ter familiares e amigos por perto pode aguçar mais os sentidos e percepções necessárias para a pessoa desempenhar melhor a função dela, isso vale tanto para modalidades individuais como coletivas. 

Uma boa prova de como isso pôde ser observada foi o desempenho dos atletas brasileiros ano passado, nos Jogos Olímpicos do Rio. Vimos vários casos de quem estava competindo, se não ganhou medalha, alcançou a melhor colocação da história do país na modalidade ou chegou a uma final depois de muito tempo. Cito o caso do halterofilista Fernando Santos, que foi quinto dentre os mais pesados, resultado inédito no Brasil. Ao todo, foram 71 finais com 19 pódios. O dobro de momentos decisivos de Londres/2012, com número recorde de medalhas. Por mais que não fossem surpresas devido a seu ranqueamento nas competições anteriores, podemos lembrar do caso de Isaquías Queiroz, que conquistou três láureas e se tornou maior medalhista brasileiro em uma edição de Olimpíada, o caso de Felipe Wu, que ganhou a primeira medalha brasileira, já no primeiro dia de competição e “livrando” o restante da delegação desse peso. 

Outra que soube lidar muito bem com essa questão foi a nadadora Poliana Okimoto. Já havia sido campeã mundial de maratona aquática em 2013 em Barcelona e no circuito mundial de 2009. Chegou para a disputa em Copacabana sem sustentar favoritismo e sem tantas expectativas, mesmo assim conquistou o bronze, se tornando a primeira brasileira a ganhar medalha em esportes aquáticos. No lançamento do seu livro, ela respondeu sobre esse fator de competir em casa: “A pressão existe, muito mais do que se estivéssemos competindo fora, porque vão ter ali para te assistir 95% de brasileiros e isso gera mais pressão. Mas acredito que devemos levar pelo lado positivo, tem mais pressão, porém tem mais incentivo também. Eu sou bem Poliana mesmo, meu nome vem do livro (Poliana – livro que descreve a história de uma garota, otimista e cheia de bondade). E no livro, ela faz o jogo do contente, então todas as coisas negativas que acontecem para ela, dá um jeito de torna-las positivas. Eu sou muito assim desde pequena, acabei levando isso para a vida. Muito se falou antes da Olimpíada, que haveria muita pressão, que os atletas iriam sofrer, mas sempre entrei deixando isso de lado, sabendo que meus amigos estariam aqui, minha família estava aqui para me incentivar, não importava o resultado. Era uma situação que não havia nas outras edições. Então olha que oportunidade de representar seu país e eu soube usar isso a meu favor”. 

Mas há quem sinta mais dificuldade e acaba virando um peso. Dois casos não-olímpico mas que retratam bem essa situação, foi com os pilotos Ayrton Senna e Rubens Barrichello. Senna sofreu um bocado antes que viesse a primeira vitória em Interlagos, foram anos de tentativas com bons carros, mas, talvez, a cabeça tenha atrapalhado um pouco. Já Barrichello nunca conquistou a tão sonhada vitória em casa, sempre batendo na trave e sentindo a pressão de ter esse incômodo tabu. Assim como Andy Murray e a enorme pressão em vencer em Wimbledon. Um britânico não vencia nas gramas sagradas desde 1936, com Fred Perry, ninguém tinha conseguido na Era Aberta. Em 2012, Murray teve essa oportunidade e perdeu. No entanto, soube reverter aquela derrota em motivação, vencendo nas mesmas quadras no mesmo ano o torneio olímpico e no ano seguinte o Major. Feito que repetiu ano passado e na busca pelo tri nesse ano, parou nas quartas de final. 

Tudo isso que trouxe, para falar do antagonismo da Seleção Brasileira de vôlei masculino. Pode-se dizer que é um time que vive os dois lados da mesma moeda. No Rio, ano passado, superou suas limitações, venceu a França no momento decisivo de classificação e conquistou mais um ouro de maneira brilhante, o que não aconteceu com as meninas que eram consideradas grandes favoritas. No entanto, na semana passada, jogaram a sexta edição de Liga Mundial em casa, na fantástica quadra montada na Arena da Baixada, em Curitiba. O resultado foi a quinta vez que não triunfaram jogando em seu território. Tudo bem que, na minha opinião, havia o fator Serginho para desequilibrar a nosso favor em 2016. Mas fica aquele gosto amargo de que dava para alcançar o degrau mais alto do pódio e que não veio por detalhe. Óbvio que os méritos são todos do outro lado da rede, de um excelente time que pouco oscilou durante toda a competição e fez por merecer. 

Fica a dúvida de quanto a cabeça pesa a favor ou contra nesses momentos decisivos dentro de casa. Isso pode se sobressair perante uma técnica inferior e se tornar um impulso ou a ansiedade pode desconcentrar e virar mais uma barreira a ser superada? Difícil chegar a uma conclusão, tanto em países acalorados nas emoções como o nosso, como naqueles lugares tidos como frios mentalmente.


foto: Silvio Avila/ FIVB

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