Quase dois anos após a revelação de um esquema de doping
sistematizado na Rússia, a Agência Mundial Antidopagem (WADA) voltou a falar
sobre o caso e a afirmar que os russos devem aceitar e reconhecer a veracidade
do relatório da entidade que apontou a existência do esquema. Conhecido como
Relatório McLaren (nome do investigador que descobriu o esquema, Richard
McLaren), o documento aponta para um grande apoio da agência nacional antidopagem
da Rússia (RUSADA) na manipulação de resultados positivos dos atletas
nacionais, contando ainda com a colaboração de autoridades do governo russo. Depois de todo esse período, a Rússia segue afirmando que o páis nunca esteve envolvido em esquema algum.
Nos últimos anos a Rússia vem sendo acusada de incentivar e
encobrir o doping de seus atletas nas mais variadas modalidades. Casos na
natação, atletismo, vôlei, levantamento de peso, lutas, dentre outras
modalidades, fizeram o país europeu quase ser excluído totalmente das
Olimpíadas do Rio de Janeiro, no ano passado. O COI deixou a cargo de cada federação
esportiva a decisão de aceitar ou não os atletas russos em suas modalidades. A maior
punição veio da Federação Internacional de Atletismo (IAAF), que excluiu a
Rússia de competições internacionais em novembro de 2015. Punição que ainda
hoje vigora.
A primeira parte do Relatório McLaren foi divulgado ainda em 2015 e já apontava para a participação da RUSADA na falsificação de
testes de doping de seus atletas. A última parte foi revelado em julho do ano
passado e trouxe dados assustadores. Entre 2011 e 2015 mais de mil atletas poderiam
ter sido envolvidos no esquema, parte considerável tendo seus resultados
manipulados. Com a ajuda do laboratório de Moscou e do Ministério dos Esportes,
a RUSADA identificava a quem pertencia a urina, selecionando as amostras
daqueles atletas que ela queria fraudar. As amostras positivas eram então
substituídas por amostras negativas, através da troca de urina.
O auge do programa russo de dopagem ocorreu com foco (durante) nas Olimpíadas de Inverno de Sochi, realizado no país em 2014. Entretanto, os
atletas também foram beneficiados durante a preparação das Olimpíadas de Londres
em 2012 e o Campeonato mundial de Atletismo de 2013, realizado em Moscou.
Mesmo com as provas apresentadas pela WADA, as autoridades
russas seguem reticentes quanto ao suposto esquema de doping desenvolvido pelo
país. “Não ouve um programa estatal e não pode haver um, isso não aconteceu na
Rússia. Não vamos admitir algo que não aconteceu”, afirmou o
vice-primeiro-ministro do país, Vitaly Mutko.
Logo após as denúncias da segunda parte do relatório divulgado
no ano passado, alguns funcionários do Ministério dos Esportes da Rússia
renunciaram aos seus cargos, entretanto o governo do país nunca admitiu que
eles tivessem qualquer relação ou que fossem responsáveis pelas fraudes
apontadas no relatório. Em uma investigação paralela realizada pelos russos
através de um comitê local, o ex-diretor do laboratório de Moscou, Grigory
Rodchenkov é apontado como o principal responsável pelos casos de doping dos
atletas do país. O Comitê de Investigação Russo se concentra em Grigory e o
descreve como uma figura imoral e pouco confiável, tendo levado atletas limpos
a tomarem drogas para melhorarem seus desempenhos.
A WADA reconhece que as autoridades russas estão trabalhando
para que a RUSADA possa novamente ser liberada a realizar testes antidopagem,
mas afirma que ainda faltam algumas coisas a serem corrigidas para que isso
venha a acontecer. A Rússia espera por uma reunião com a WADA em novembro, que
poderia representar a liberação completa da Rússia em todos os esportes. Mas
para que isso ocorra, a RUSADA deve ser liberada e reintegrada.
Foto: Getty Images
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