O trabalho de captação de recursos se mostrou um desafio para o Comitê Olímpico do Brasil (COB) desde o encerramento dos Jogos do Rio de Janeiro, em 2016. Com o fim da Copa do Mundo de futebol, evento que concentra as atenções do mercado e da mídia, e após o fim da Copa, a entidade quer intensificar a nova imagem que vem construindo nos últimos meses para conseguir atrair parceiros privados, com os olhares em Tóquio-2020.
Após nove meses de trabalho, a atual diretoria acumula trunfos para mostrar às empresas que o Comitê hoje é uma “máquina” diferente da que ficou manchada por escândalos de corrupção e falta de transparência sob comando de Carlos Arthur Nuzman, que a presidiu entre 1995 e 2017, e chegou a ser preso em meio às investigações sobre compra de votos para o Rio receber os Jogos.
"Estamos, por recomendação do presidente Paulo Wanderley, dando foco à área de marketing, pois, assim que acabar a Copa do Mundo, o COB já terá passado pelo processo de mudanças internas, com novo estatuto e maior participação dos atletas, e poderemos buscar parceiros para poder investir ainda mais neles"disse Rogério Sampaio, diretor geral do COB, em entrevista ao diário LANCE!.
A principal atração do novo COB é seu estatuto, aprovado em novembro no ano passado, com garantias de maior participação dos atletas e os Conselhos de Ética e Administração, com membros independentes. O último, criado para gerir na prática a entidade, se reúne a cada dois meses.
O campeão olímpico do judô nos Jogos de Barcelona, em 1992, é peça-chave no processo. Anunciado no cargo em abril, após ter sido Secretário Nacional de Alto Rendimento do Ministério do Esporte, ele vê boas perspectivas para o Brasil no ciclo olímpico, mesmo com as barreiras.
"Estamos otimistas para os próximos anos, mas há muito trabalho. Há uma preocupação com a formação de novos valores e técnicos que, futuramente, poderão atender às seleções" diz Sampaio.
O período também marcou um novo ciclo para as confederações. Um Termo de Ajustamento de Conduta assinado por COB e Ministério do Esporte, em novembro, tornou mais rígidos os mecanismos de repasse de verba pública. Agora, quem não se adequar é punido.
Responsável por descentralizar os recursos da Lei Agnelo-Piva para as confederações, o COB foi obrigado tomar medidas severas nos últimos meses. Em junho, suspendeu repasses para as entidades que não cumpriram as exigências previstas nos artigos 18 e 18-A da Lei Pelé, que tratam, por exemplo, de limitação de mandatos, garantias de representatividade das comissões de atletas e mecanismos de transparência. Hoje, 12 delas têm pendências.
Seis, além de não certificadas, também estão inadimplentes com o Ministério do Esporte: Confederação Brasileira de Badminton (CBBd), de Canoagem (CBCa), de Tiro com Arco (CBTa), de Wrestling (CBW), de Tiro Esportivo (CBTE) e de Taekwondo (CBT).
Outras seis, embora não tenham dívidas, ainda não podem receber verbas do COB por não estarem certificadas: confederações de Karatê (CBK), Boxe (CBBoxe), Basquete (CBB), Desportos Aquáticos (CBDA), Triatlo (CBTri) e a de Handebol (CBHb). O COB, por sua vez, tem todas as suas certificações.
"É um processo de transição. As entidades têm se esforçado ao máximo para se adequar. Algumas vão demorar mais, outras serão mais rápidas, mas todas irão se atualizar" disse Rogério Sampaio.
As últimas a obterem suas certificações, segundo o Ministério do Esporte, foram a Confederação Brasileira de Ciclismo (CBC) e a Confederação Brasileira de Beisebol e Softbal (CBBS), em junho.
O cenário do COB, embora animador no aspecto da gestão, não é suficiente para pagar contas e colocar o Brasil em um patamar de destaque no cenário mundial. Sem patrocinadores privados, a entidade fez uma série de cortes desde o ano passado e vem aprendendo a lidar com nova realidade.
Parte da receita do Comitê vem da Lei Agnelo-Piva, que destina 1,7% da arrecadação bruta das loterias federais à entidade. A estimativa no início do ano era de que ele receberia R$ 225 milhões do montante em 2018, dos quais R$ 95 milhões iriam diretamente para confederações, R$ 44 milhões seriam aplicados em projetos alinhados com as confederações e R$ 52,3 milhões teriam como destino as despesas administrativas e outros projetos.
Mas o cenário é incerto para o futuro. Mesmo antes da edição da polêmica MP 841/18, que retira R$ 500 milhões por ano do setor, a Comissão de Esportes da Câmara discutia novos formatos para a distribuição da verba da loteria.
Já a mudança de sede para o Parque Aquático Maria Lenk, no Parque Olímpico, uma das ações para conter despesas e que estava prevista para 2018, ficará para, no mínimo, a metade do ano que vem. Até lá, o COB ainda terá de pagar um aluguel de mais de R$ 300 mil por mês.
O contrato com a chinesa Peak, feito em 2017, prevê só fornecimento de material esportivo. O Comitê também recebe recursos do COI.
Com informações do Diário 'Lance!'
foto: COB/Divulgação
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