Por Bruno Guedes
Pouco mais de 5 mil quilômetros separam América do Sul e Europa. Mas após a Copa de 2018 essa distância aumentou de forma considerável com o quarto título seguido de uma seleção da UEFA, a França. O que vinha sendo observado há algum tempo por jornalistas e profissionais do futebol aconteceu: o futebol europeu dominou o esporte.
Desde 2002 nenhum time sulamericano levanta o troféu de campeão da Copa do Mundo. Àquela época, o Brasil colocou o continente à frente dos europeus em números de conquistas. Velho e Novo Mundos estavam empatados com 8 conquistas para cada, mas a vitória brasileira trouxe pela nona vez a taça para casa. A partir de então esse quadro se inverteu. Nas edições seguintes, das 8 seleções finalistas, foram 7 europeias e apenas uma sulamericana, a Argentina em 2014. E o placar mudou radicalmente: 12 títulos para a Europa e os mesmos 9 para a América do Sul.
Na Copa do Mundo da Rússia aconteceram 13 jogos entre os dois continentes. Foram 3 empates, 6 vitórias dos europeus com 17 gols, contra 4 triunfos americanos com também 17 tentos.
E os números pioram para as seleções e clubes de cá quando aprofundados. Em um confronto entre os continentes apenas nas fases eliminatórias das Copas do Mundo disputadas neste século, foram 15 vitórias europeias com 38 gols marcados e 9 sulamericanas com 23 gols. sendo que, em 2006 (duas partidas) e 2010 (5 partidas), nenhuma vitória das seleções da Conmebol nesse duelo.
Ao todo 6 equipes da América do Sul (Argentina, Brasil, Colômbia, Equador, Paraguai e Uruguai) e 9 da Europa (Alemanha, Bélgica, Espanha, França, Holanda, Inglaterra, Portugal, Suíça e Turquia) estiveram nestes embates continentais. Os argentinos apareceram com mais participações nesta fase final entre ambas confederações, 7 no total. Em seguida brasileiros e alemães com 6 cada, além de uruguaios e holandeses com 4.
Pouco mais de 5 mil quilômetros separam América do Sul e Europa. Mas após a Copa de 2018 essa distância aumentou de forma considerável com o quarto título seguido de uma seleção da UEFA, a França. O que vinha sendo observado há algum tempo por jornalistas e profissionais do futebol aconteceu: o futebol europeu dominou o esporte.
Desde 2002 nenhum time sulamericano levanta o troféu de campeão da Copa do Mundo. Àquela época, o Brasil colocou o continente à frente dos europeus em números de conquistas. Velho e Novo Mundos estavam empatados com 8 conquistas para cada, mas a vitória brasileira trouxe pela nona vez a taça para casa. A partir de então esse quadro se inverteu. Nas edições seguintes, das 8 seleções finalistas, foram 7 europeias e apenas uma sulamericana, a Argentina em 2014. E o placar mudou radicalmente: 12 títulos para a Europa e os mesmos 9 para a América do Sul.
Na Copa do Mundo da Rússia aconteceram 13 jogos entre os dois continentes. Foram 3 empates, 6 vitórias dos europeus com 17 gols, contra 4 triunfos americanos com também 17 tentos.
E os números pioram para as seleções e clubes de cá quando aprofundados. Em um confronto entre os continentes apenas nas fases eliminatórias das Copas do Mundo disputadas neste século, foram 15 vitórias europeias com 38 gols marcados e 9 sulamericanas com 23 gols. sendo que, em 2006 (duas partidas) e 2010 (5 partidas), nenhuma vitória das seleções da Conmebol nesse duelo.
Ao todo 6 equipes da América do Sul (Argentina, Brasil, Colômbia, Equador, Paraguai e Uruguai) e 9 da Europa (Alemanha, Bélgica, Espanha, França, Holanda, Inglaterra, Portugal, Suíça e Turquia) estiveram nestes embates continentais. Os argentinos apareceram com mais participações nesta fase final entre ambas confederações, 7 no total. Em seguida brasileiros e alemães com 6 cada, além de uruguaios e holandeses com 4.
Vale lembrar que, entretanto, há mais clubes europeus na Copa do Mundo. Justamente pela quantidade de nações na federação. No formato atual, a UEFA conta com 54 países participantes, sendo 14 vagas diretas, o que corresponde a aproximadamente 26% dos que disputam. Já na Conmebol são 10 seleções tentando 4 vagas diretas, correspondente a 40% dos competidores. Esse número pode aumentar para 5 com a repescagem e 50%, respectivamente.
Esse domínio já vinha sendo observado através do Mundial de Clubes da FIFA, realizado ao final de cada ano. Das 13 edições consecutivas, os times da Europa venceram 10 vezes marcando 17 gols, com apenas 3 vitórias da América do Sul e 6 gols. Sendo que os europeus jamais ficaram fora da final, já os sulamericanos em 3 ocasiões (2010, 2013 e 2016).
Clubes fracos, federações fortes
Mas por que esse fenômeno vem acontecendo? O argumento mais repetido (e simplista) fala sobre a força monetária dos europeus. Porém, ela se torna apenas muleta se lembrarmos que em diversas outras partes do planeta jorra dinheiro e o sucesso esportivo não acontece, como EUA, China, Japão e até Oriente Médio. No caso dos americanos é ainda mais grave. Pela segunda vez há uma reformulação da estrutura futebolística, mas o resultado ainda não aparece por inúmeras razões. Quase todas gerenciais. A Seleção dos Estados Unidos chegou a ficar de fora da Copa da Rússia.
O problema vem da complexa e falha gestão esportiva na América do Sul. Principalmente Brasil e Argentina, potências do futebol. Com um mundo cada vez mais globalizado, os europeus buscaram soluções - ainda que de forma forçada - para equilibrar o esporte como praticavam. Sem acompanhar essas mudanças, os sulamericanos passaram a ficar em desvantagens diversas.
A primeira transformação aconteceu na administração. A partir dos anos 90 diversas ligas surgiram na Europa, sob comando dos clubes e descentralizando o poder das federações. A importância desse acontecimento passa diretamente pela estruturação de campeonatos (esportiva e financeiramente), equipes mais fortes e um gerenciamento profissional. Eles criaram seus calendários, suas competições e adaptaram seus modelos.
O fluxo do dinheiro aumentou, possibilitou o intercâmbio com jogadores de diversas partes do planeta, novas ideias, maneiras diferentes de se jogar o futebol incorporadas e novos conceitos administrativos. O Barcelona, por exemplo, deixou de ser uma bandeira da Catalunha e passou a ser marca mundial, fazendo excursões milionárias pela China, Estados Unidos, Oriente Médio... Criou um estilo próprio que se tornou identidade.
Algo que parece impossível para um futebol pentacampeão como o brasileiro mesmo com toda sua relevância mundial. Brasil e Argentina, cujos clubes ainda continuam atrelados às CBF e AFA, respectivamente, não conseguem desenvolver uma gerência favorável para as partes mais interessadas: os times. Estes são reféns, muito por vontades próprias, de calendários assassinos, campeonato pífios e desorganização. Com equipes como o Flamengo, em 2017, fazendo quase 80 partidas em uma temporada. Média de um jogo a cada 4 dias. Nenhum ganho esportivo possível. Nenhum projeto ou trabalho que seja viável implantar.
O Brasileirão, sem nenhum valor atrativo, espanta qualquer grande jogador. Sem falar na estrutura física em si. Fala-se em "equilíbrio". Sim. Equilibrado por baixo. Junta-se a isso, o fato de novas práticas já estarem sendo utilizadas na Europa para melhorias, como o uso do VAR em ligas italianas e alemãs, mas no Brasil recusado - com total cumplicidade dos clubes - para se evitar gastos. Mesmo com a CBF faturando R$ 500 milhões anuais com patrocínios, quatro anos após o vexame do 7 a 1...
Ou a Superliga Argentina, que chegou a ter 30 times e 450 partidas, jogando a qualidade no lixo e valorizando mais a política de quem elege a AFA. Para piorar, a Copa Libertadores, principal competição continental, saltou para 47 clubes e assim agradando todas as federações da Conmebol, ainda que derrube o nível do futebol praticado. A Seleção, em 17 meses, com 3 técnicos diferentes e mais uma eliminação vexatória na Copa.
Falta de estruturas física e profissional: o amadorismo como futuro
Não sendo o suficiente, eis uma questão central: qualificação profissional. Sabendo da disparidade técnica entre os jogadores europeus e sulamericanos de antes, a UEFA há alguns anos passou a exigir especialização dos seus profissionais e a busca por soluções para desenvolvimentos.
Foi assim que surgiu o curso da UEFA, onde através de licenças, técnicos, preparadores físicos, treinadores de categorias de base e toda a parte ligada ao trabalho com futebol passou a ser qualificada para a área específica. Não bastava apenas ser ex-jogador. Para dirigir um clube da Série A no Velho Mundo é preciso ter a Uefa Pro, que obrigatoriamente deve ser renovada a cada duas temporadas. Zidane passou 8 anos se preparando para ser o treinador mais vitorioso deste século. Chegou a ser punido, quando treinava o Real Madrid B, por treiná-lo sem o devido licenciamento.
Muito além disso, passaram a estudar o futebol. O que é chacota no Brasil, na Europa é regra. Observações do que acontece pelo mundo, metodologias específicas para formar novos jogadores, centros de preparação. Mbappé, Pogba, Hazard, De Bruyne, Kane, Lahm, Muller, Iniesta, Sérgio Ramos... esses jogadores não surgiram por acaso. Não vieram "de uma geração" que vingou. Teve um trabalho por trás.
Em Portugal virou cadeira acadêmica debater o esporte, formando diversos nomes de sucesso como Mourinho. A Inglaterra, que após 28 anos chegou às semifinais de Copa do Mundo, investiu mais de R$ 1 bilhão durante os últimos 10 anos na preparação e formação de novos jogadores. É a atual campeã mundial no Sub-17 e Sub-20, categoria esta que o Brasil nem mesmo se classificou.
Mas o maior exemplo foi a Alemanha, campeã do mundo em 2014. A federação alemã passou a exigir requisitos mínimos aos clubes, como departamentos médico específicos, quatro campos para treinos, área de educação, diversos times entre sub-11 e sub-23 e treinadores com a licença da UEFA. A própria, aliás, oferece preparo para os técnicos interessados. Hoje, há 54 centros de desenvolvimento para atletas espalhados pelo país jorrando talentos com qualidades específicas e diversas.
Pelo Novo Mundo, principalmente no "país do futebol", basta ser ex-jogador. O curso da CBF, a preços inalcançáveis por ampla maioria dos profissionais do futebol nacional, está longe da profundidade e qualidade do aplicado na UEFA. Não amplia o estudo além da esfera esportiva, não busca soluções e não força a desenvolver o novo. Nem mesmo é reconhecido como licença para o solo europeu. E os que buscam estudar, são chamados de "estagiários", além de atacados por alguns nomes já obsoletos, torcedores que não aceitam o novo momento e/ou parte da imprensa.
O curso de treinadores mais qualificado em nosso território é o ATFA, criado pela Associação de Treinadores do Futebol Argentino. Único reconhecido pela UEFA no continente. A preços acessíveis, qualifica diversos argentinos e que não por acaso dominam a área entre os sulamericanos aqui e na Europa. Pochettino e Simeone são exemplos.
Já a formação de novos atletas é a grande preocupação. Sem essa busca pela excelência e a preparação específica, o continente ainda vive do aparecimento natural de talentos. O que impactou diretamente na fraquíssima renovação do Uruguai, por exemplo, ou na deficiência argentina de ter mais nomes além do Messi. E um problema amplia esse lastro. Com a formação europeia cada vez melhor e regular, os grandes clubes de lá passaram a contratar apenas os jogadores fora de série na América do Sul.
O continente se tornou apenas o começo e o fim das carreiras dos melhores jogadores. E quanto mais novos, que possam ser desenvolvidos de acordo com a necessidade, melhor. Rodrygo, Vinícius Jr e Paulinho são os grandes exemplos. Já o Luan, grande nome do futebol brasileiro, é considerado "veterano" para se adaptar, brilhar e ser revendido. Isso aos 25 anos! É o que explica sua permanência no país quando se conversa com agentes e profissionais europeus.
Sem ter como destino os grandes centros, Rússia, China, Oriente Médio ou times do Leste Europeu - onde sabidamente o nível técnico é muito pior - são os rumos dos jogadores. Os que são destaques e sopros de qualidades, se escondem nesses locais. Como Kranevitter, chamado de "novo Mascherano" na Argentina, indo para o Zenit e ficando assim de fora da lista do Sampaoli.
Como reverter esse quadro? Querendo mudar. Com de fato vontade de novamente estar no topo do mundo. Não é copiando a Europa, mas sim entendendo como se recriar e acompanhar as mudanças. Sem a imprensa passando panos em erros repetidos, falando em "perder por detalhes" quando a derrota já começa em casa.
Mas principalmente deixando a política de lado, engolindo a arrogância e aceitando: a América do Sul não é mais o centro do futebol.
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