Hamamatsu abraçou o chamado para receber os atletas brasileiros no período anterior aos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio. A cidade com a maior colônia brasileira no Japão já tem 1.500 voluntários inscritos para ajudar na aclimatação dos atletas do Brasil no período que antecede os dois megaeventos de 2020.
Até agora, o judô, o tênis de mesa e o rúgbi de sete feminino estão confirmados entre as modalidades olímpicas na cidade de 800 mil habitantes, com cerca de 10 mil brasileiros residentes. Beisebol, golfe e remo ainda dependem de classificação. "Independentemente da classificação dessas outras modalidades, já estamos fazendo inspeções para dar o 'start' ao planejamento das questões técnicas", disse Soraya Carvalho, responsável no Comitê Olímpico do Brasil (COB) pelas relações com Hamamatsu.
O judô nacional, inclusive, está na cidade com uma delegação de 50 pessoas para um 'evento-teste' da operação olímpica. O grupo faz a aclimatação para o Mundial da modalidade, que será disputado de 25 de agosto a 1 de setembro, em Tóquio. O Brasil terá 18 atletas na disputa individual.
Já a delegação paralímpica nacional virá em peso, praticamente inteira, para a cidade que fica a 250km da capital japonesa. As exceções serão ciclismo, tiro esportivo e hipismo, que não encontraram na cidade centros de treinamento apropriados. Para ajudar nessa operação, voluntários foram convocados pela prefeitura. A estimativa do governo local era atrair mil pessoas, para atuarem no auxílio aos atletas e comissões técnicas em centros de treinamento, alojamentos e traslados.
"Quando surgiu a possibilidade, não pensamos duas vezes. O histórico de uma comunidade ativa de brasileiros há mais de 30 anos aqui nos sugeriu naturalmente erguer as mãos", afirmou o prefeito de Hamamatsu, Yasutomo Suzuki. "É um grande desafio nosso e por isso era essencial envolver a comunidade. Abrimos um chamado para buscar mil voluntários, mas já temos 1.500 inscritos. A gente visualiza esse momento como super importante, não só para a cidade, mas para a sequência desse relacionamento multicultural", completou o prefeito.
Nos acordos assinados com os comitês olímpicos e paralímpicos brasileiros, a prefeitura da cidade japonesa oferece hospedagem, estrutura de treinamento e alimentação a custo praticamente zero para as entidades. "Fizemos uma visita técnica em 2017. Voltamos em 2018. Tivemos contato com o prefeito. Avaliamos arenas, instalações e hotéis. Achamos que Hamamatsu atendia todas as expectativas. Os custos que vamos ter são baixíssimos, mas muito mais do que o custo, que faz diferença, a própria acolhida, o histórico de brasileiros na cidade e a disposição da comunidade em acolher a delegação por 15 dias fizeram toda a diferença", afirmou o professor Alberto Martins da Costa, diretor técnico do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) e chefe da delegação brasileira.
No quesito acessibilidade, o principal desafio a ser vencido até 2020 está menos na cidade, mas nos hotéis. "O problema não está nos apartamentos, que são amplos, mas nos banheiros. Em geral há na arquitetura japonesa um degrau do quarto para o banheiro, um desnível. E praticamente todos os banheiros têm banheira acoplada. Isso é um grande obstáculo para cadeirantes, mas eles já estão providenciando os ajustes", disse Alberto Martins.
Para o cônsul-geral do Brasil em Hamamatsu, Ernesto Rubarth, a oportunidade de receber os atletas brasileiros em 2020 ajuda a reforçar uma política de integração entre as comunidades brasileira e japonesa na região e, ao mesmo tempo, estimula que os cidadãos brasileiros reforcem laços com o país de origem. Laços que muitas vezes se tornam frágeis em função da distância e do alto preço do deslocamento.
"Hoje já vivemos uma segunda geração dessa migração feita para cá nos anos 1990. Temos cada vez mais meninos em escolas japonesas, que conseguem se comunicar de forma consistente, mas eles não podem perder essa raiz com o Brasil. É importante que tenham esse lugar de pertencimento, e aí entra a Olimpíada e a Paralimpíada como grande oportunidade de reforço disso", afirmou Rubarth.
Na avaliação do prefeito de Hamamatsu, é essa face imaterial, da interculturalidade, a principal meta como legado para a cidade, mais do que estruturas físicas e esportivas, até porque a cidade já é bem equipada. "Posso dizer que esse legado estrutural é importante, mas para nós o legado interpessoal é muito importante. Temos uma relação naturalmente boa com o Brasil e esperamos em 2020 consolidar isso, aprofundar esse elo de ligação", disse Suzuki.
Foto: Rede do Esporte/Roberto Castro
0 Comentários