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Brasil, 100 anos olímpicos - Berlim 1936




Tradicionalmente, tivemos mais um problema entre dirigentes na preparação para os Jogos de Berlim, Jogos que tiveram a sombra do regime nazista de Adolf Hitler, que usou a Olimpíada para divulgar seus ideias de supremacia da raça ariana - e que se mostrou falho graças à mágica atuação do afro-americano Jesse Owens .

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Criado em 1914, o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) só passou a ser ativo no esporte amador a partir de 1935. E nesse ano, travou-se uma briga com a Confederação Brasileira de Desportos (CBD) sobre quem levaria a delegação brasileira aos Jogos Olímpicos de 1936. Ambas não se entenderam e as duas levaram delegações brasileiras ao evento. 

Ao saber disso às vésperas do início das competições, o COI deu ganho de causa ao COB – mesmo com a CBD tendo apoio do governo brasileiro - e estipulou que as delegações deveriam se fundir ou, então, o Brasil não participaria da Olimpíada.  A CBD aceitou a fusão das equipes e o problema foi resolvido, deixando o Brasil com sua maior delegação da história dos Jogos Olímpicos até então, com 79 pessoas, sendo 72 homens e 6 mulheres, embora exista dúvidas de mais atletas tenham participado, pois muitos registros na competição sumiram com o tempo.

Atleta-dirigente (1) 

Sylvio (primeiro da esquerda) durante a disputa dos 400m c/barreiras (Foto: Acervo pessoal de Alberto Murray)

Sylvio Magalhães de Padilha foi o primeiro atleta sul-americano a disputar uma final olímpica no atletismo, na prova dos 400m com barreiras. Terminou em quinto com o tempo de 54 segundos cravados, um pouco pior do que o 53s3 feito na semifinal.

Semifinal esta em que o técnico de Sylvio, o austríaco Emmannuel Matula , ouviu algumas frases de József Kovács, húngaro e campeão europeu da distância antes da prova. "Eu sou campeão europeu, já estou na final. Vou competir até contra um que veio de um país de macacos", dissera. Kovács, porém, ficou em quarto em sua bateria, logo atrás de Padilha, e não foi à final.

Após o fim da carreira, Sylvio seguiria como dirigente esportivo e, anos depois, se tornaria presidente do COB, um dos mais longevos no cargo na história da entidade, e membro do COI.

Atleta-dirigente (2)

Em Berlim-1936, um jovem nadador brasileiro chamado João Havelange estreava em Olimpíadas. Ele participou da prova dos 400m e dos 1500m livre. Vencedor de muitas provas no Brasil nos anos 30 e 40, Havelange ainda esteve nos Jogos de Helsinque em 1952, mas no polo aquático.

Logo depois do fim da carreira esportiva se dedicou à ‘cartolagem’, se tornando presidente da CBD (Confederação Brasileira de Desportos) entre 1956 e 74 e depois da Fifa (Federação Internacional de Futebol), entre 1974 e 1998. Havelange ainda foi membro do COI entre 1963 e 2011,ano que notícias de corrupção na entidade máxima do futebol quando ela estava em seu comando foram comprovadas e ele foi expulso da entidade.

O escândalo de corrupção fez também Havelange ter o nome do estádio olímpico localizado no bairro do Engenho de Dentro retirado - hoje o estádio tem o nome do ex-jogador do Botafogo e campeão mundial de futebol em 1958 e 1962, Nilton Santos. 

A outra pioneira

Piedade Coutinho seguiu os caminhos de Maria Lenk na natação e fez história aos 16 anos como a primeira brasileira em uma final olímpica de natação, nos 400m livre. Ela ficou em quinto lugar com o tempo de 5m35s2. O resultado é, até hoje, o melhor de uma nadadora brasileira, sendo apenas igualado 68 anos depois, por Joanna Maranhão, na final dos 400m medley em Atenas 2004.

A volta a uma final do tiro

José Salvador Trindade pôs o Brasil de volta a uma final do tiro esportivo dezesseis anos após Antuérpia-1920. A medalha não veio, mas o quinto lugar na carabina deitada com 296 pontos em 300 possíveis foi um dos melhores resultados do Brasil nos Jogos. Após a Olimpíada de Berlim, José encerrou sua carreira esportiva e se fixou em Friburgo (RJ).

Estreias

O basquete brasileiro fez parte da estreia da modalidade nos Jogos, com o Brasil terminando em um razoável nono lugar. Detalhe: as partidas foram disputadas ao ar livre, em uma quadra de tênis. O Brasil ganhou do Canadá - que ficaria com a prata - na primeira rodada por 24 a 17, perdeu para o Chile por 23 a 18 na segunda rodada, derrotou o Taipei Chinês na repescagem por 32 a 14 e foi derrotado pela Polônia nas oitavas de final, por 33 a 25.

Na três ciclistas representaram o Brasil na estreia do país no ciclismo estrada: Hermógenes Netto não completou a prova de 100km, mas Dertênio Ferrer e José Ricardo Magnani completaram a prova junto a vários ciclistas, e sabe-se lá porque, eles não tiveram seus resultados anotados (!);

Na esgrima, nove atletas – oito homens e uma mulher, Hilda von Puttkammer - representaram o Brasil nas três armas. Destaque para Henrique de Aguiar, que chegou a semifinal e terminou em décimo – na época as semifinais eram disputadas por 18 esgrimistas.  

No pentatlo moderno, tivemos três representantes, com destaque para Anísio da Rocha, que ficou em trigésimo nono lugar, e voltaria aos Jogos Olímpicos em 1948, mas no hipismo. Guilherme Catramby Filho foi o brasileiro melhor colocado na trigésima sexta colocação.

O Brasil também estreou na vela (ou iatismo, se preferirem), com Walter Heuer ficando em vigésimo quarto na classe O-jolle.

Chacota

Voltar sem nenhuma medalha com uma delegação tão grande foi motivo pra chacota nacional. Houve quem dissesse que o Brasil levou atletas como nunca e ficou sem medalhas como sempre. Mas seria a última vez na história que o país iria sair de uma edição de Jogos Olímpicos sem nenhuma medalha sequer na mala.

Pausa olímpica para a guerra

Infelizmente, a II Guerra Mundial eclodiria em 1939, impedindo que os jogos de Tóquio em 1940 e Londres em 1944 acontecessem. Para o Brasil, a falta dos Jogos afetou principalmente as carreiras de Sylvio Magalhães Padilha - eleito o melhor atleta sul-americano - e Maria Lenk - primeira brasileira a quebrar um recorde mundial em qualquer gênero e modalidade -, que estavam no auge de suas carreiras em 39 e em 1940 seriam nomes favoritos à medalha olímpica.



foto: Acervo pessoal de Alberto Murray 

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