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Após desistir do caratê duas vezes, Vinicius Figueira comemora vaga olímpica sem abraçar ninguém: 'situação muito estranha'


Uma classificação para os Jogos Olímpicos é a realização de um sonho para a maioria dos atletas. E, portanto, motivo de muita comemoração com amigos, familiares e todos aqueles que o incentivaram, o apoiaram e o ajudaram em seu crescimento no esporte. Mas Vinicius Figueira, do karatê, teve um momento diferente quando recebeu, finalmente, a confirmação da vaga olímpica, em 18 de março. Após disputar 21 competições, a última e decisiva etapa, em Rabat (Marrocos), foi cancelada e transferida para Madri (Espanha), que também acabou não sendo realizada, ambas por conta do coronavírus (COVID-19). Com isso, o brasileiro não pode mais ser alcançado pelo egípcio Ali Elsawy, garantindo a classificação. De volta à cidade natal, Londrina (PR), Vinicius teve uma comemoração sem abraços.

“Estava em casa quando recebi a notícia. O primeiro a me mandar mensagem foi meu amigo e técnico turco, o Yaser Sahintekin, com que estive treinando antes do cancelamento das competições. Depois foram chegando várias mensagens, e fui ver meu nome no site da Federação Internacional. Eu e meu irmão ligamos para os meus pais e fomos ao Oguido Dojô, onde treino desde criança. Do lado de fora, pelo espelho, pude ver meu professor, sensei Marcelo Oguido, e meu grande amigo Alberto Nishimura, o faixa preta mais velho da academia, comemorando. Eles estavam muito emocionados e, quando nos viram, estavam loucos para me abraçar, mas não podiam. Foi uma situação muito estranha”, contou Vinicius.

Em casa não foi diferente. “Quando saí de casa, no dia 2 de janeiro, falei à minha mãe (Inês Maria): vou em busca da vaga olímpica e só volto com ela. Quando voltei, depois de dois meses e meio sem ver a minha família, ela não podia me abraçar. Como tinha voltado da Europa, precisava ficar em quarentena e achamos melhor evitar abraços, até pela idade dela (57 anos). Foi estranho, mas a alegria era muito grande”.

Para chegar à primeira edição de Jogos Olímpicos da modalidade, Vinicius percorreu um longo caminho, muito maior do que as 21 competições do ciclo Tóquio 2020. Sua história com o karatê não começou muito bem. “Tinha quatro ou cinco anos quando lutei pela primeira vez. Fui em uma academia perto de casa e saí chorando da aula. Só voltei aos dez, incentivado por um amigo do prédio (Erick Ikehara). E foi justamente com o mesmo professor da primeira aula, o sensei Marcelo Oguido. Logo de cara, ele disse que eu levava jeito e que poderia ir longe”.


Mas antes de chegar longe, mais precisamente nos Jogos Olímpicos de Tóquio, Vinicius desistiu do karatê pela segunda vez. “Em 2008, meu primeiro ano na seleção de base, fui vice-campeão sul-americano e passei no vestibular para agronomia na Universidade Estadual de Londrina (UEL). Nos dois primeiros anos de faculdade, eu me dediquei somente a estudar. Mas, no terceiro, comecei a sentir falta do karatê”.

“Voltei a treinar e segui estudando. Neguei estágios em grandes empresas para permanecer em Londrina e não perder treinos e competições. Não foi fácil. Era uma faculdade boa, meu pai é agrônomo, mas tive que fazer essa escolha e não me arrependo”.

“Acredito que acertei na decisão. Foram três Campeonatos Mundiais e participei de todos, tendo conquistado um bronze, um quinto lugar e o vice-campeonato em 2019. Ainda não realizei o sonho de ser campeão mundial, mas estamos trabalhando para isso. No meio do caminho, ainda surgiu a possibilidade dos Jogos Olímpicos, que, agora, sim, é meu maior objetivo. Vai ser uma honra muito grande poder defender meu país e meu esporte nesse evento tão importante. Quero fazer história”.

Parceira e inspiração
O projeto de ser campeão mundial teve uma inspiração que, no meio do caminho, ainda virou amigo, companheiro de seleção, parceiro de treinos, técnico e incentivador: o bicampeão mundial Douglas Brose, ídolo e peça-chave na carreira de Vinicius.

“Tenho vários ídolos dentro do esporte porque gosto de saber a história de cada um, conhecer os personagens e o que eles passaram. Dentro do karatê, sem dúvida, os que mais me motivaram são o Douglas Brose e a Valéria Kumizaki. Eles me fizeram acreditar que era possível, me fizeram sonhar e querer estar onde eles estavam”.

“Mas o meu projeto de ser campeão mundial foi movido pelo exemplo do Douglas. Ele é uma referência não só no Brasil, mas no mundo. Tem quatro medalhas em Mundiais. Na real, decidi o que queria fazer o assistindo na TV. Foi aí que comecei a treinar e entrei nessa missão. Com o tempo, passei a ir para Florianópolis para treinar com o Douglas, e isso me ajudou muito na evolução técnica. Em algumas competições, ele ficava de fora me ajudando. Na minha primeira medalha em Liga Mundial, em 2014, lembro direitinho dele na grade falando o que eu tinha que fazer. Além de ser uma referência, o Douglas me ajudou, me orientou e me capacitou para chegar melhor preparado no mais alto nível competitivo”.

O apelido de Vinicius Figueira quando criança era “Tombinho” porque costumava cair à toa. Mas o menino franzino de Londrina, depois de desistir duas vezes do karatê, escolher o esporte ao invés de uma carreira de agrônomo ao lado do pai, transformar um ídolo em amigo e conseguir uma vaga olímpica no meio de uma pandemia, já mostrou que não será derrubado com facilidade.

Foto: Rede do Esporte

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