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Brasil, 100 anos olímpicos - Tóquio 1964




As Olimpíadas estiveram, pela primeira vez, em solo asiático. E no país fora da Europa que foi um dos grande protagonistas da II Guerra Mundial e um dos que mais sofreu com ela, o Japão. Mas foi uma Olimpíada importante do ponto de vista tecnológico, já que foi a primeira a ser transmitida via satélite para outro continente e a primeira a usar computadores para armazenar resultados.

Já o Brasil, mesmo iniciando um período sombrio na sua história em 1964, com a instalação do Golpe Militar que deu início a uma ditadura que durou 21 anos, conseguiu levar uma delegação razoável aos Jogos, apesar dos custos de uma viagem tão longa. Muitos atletas acabaram indo por conta própria ou ficando totalmente à própria sorte em terras japonesas, por falta de verba suficiente para ajuda logística.


O destaque foi, mais uma vez, a seleção de basquete masculino, que tinha se sagrado bicampeã mundial em 1963. A melhor geração da história do basquete brasileiro conseguiu mais uma medalha de bronze, mesclando os craques Wlamir Marques, Amaury Pasos, Rosa Branca, com jovens talentosos como Mosquito, Ubiratan, Edvar Simões e Sérgio Macarrão.

A campanha começou com um susto, com uma derrota surpreendente para o Peru por 58 a 50 na estreia. A parti dali, a seleção reagiu e graças a uma importante vitória em cima da Iugoslávia avançou para as semifinais. Mais uma vez, os soviéticos estiveram no caminho do brasileiro e, novamente, uma derrota apertada para por 53 a 47. Na disputa do bronze, uma vitória sobre Porto Rico por 76 a 60, com 23 pontos de Wlamir Marques. Essa foi a única medalha do Brasil nos Jogos de Tóquio e a última do basquete masculino em Olimpíadas.

A guerreira Aída


Aída dos Santos foi outro grande destaque brasileiro em Tóquio, apesar de nunca ter tido o reconhecimento devido. Única mulher na delegação e única representante do atletismo brasileiro nos Jogos, Aída viajou sem treinador, sem equipamento e mesmo assim chegou na final do salto em altura. Com uma sapatilha emprestada e machucada - tinha torcido o tornozelo na fase de classificação - terminou em um heroico quarto lugar, com a marca de 1,74m.  Esse foi o melhor resultado de uma brasileira em jogos olímpicos por 32 anos, superado apenas por Jaqueline e Sandra no vôlei de praia em Atlanta 96. Aída acabou sendo um símbolo de persistência e amor ao esporte.

O primeiro ‘Pessoa’ a brilhar

Nélson Pessoa foi outro atleta brasileiro que bateu na trave. Na prova de saltos, montando o cavalo Hiupil - montaria que seria uma das mais duradouras da carreira de Nélson - terminou em quinto lugar. Um esbarrão em um obstáculo o deixou quatro pontos do desempate pelo bronze junto com Peter Robson (GBR) e Thomas Fahey (AUS). Foi o melhor resultado do pai do cavaleiro Rodrigo Pessoa em Jogos Olímpicos.

Cobrinha, o herói

Então com 18 anos, o boxeador João Henrique, o ‘Cobrinha’, chegou bem perto da medalha olímpica nos meio-médio ligeiros, perdendo por pontos nas quartas de final para Eddie Blay (GHA) . Prata no Pan de 63, João é considerado por muitos especialistas o melhor boxeador brasileiro que não se sagrou campeão mundial profissional - disputou o título mundial por quatro vezes e perdeu em todas. Aposentou-se dos ringues em 1979.

Em 1982, João voltava de Mogi das Cruzes – onde estudava educação física - para São Paulo quando o ônibus que estava caiu em um barranco. João ajudou a retirar vários passageiros feridos do ônibus enquanto o socorro não chegava. Horas depois João passou mal, foi internado, e faleceu por uma hemorragia interna. Os médicos não souberam explicar como João conseguiu suportar a dor e carregar tanta gente com o pulmão perfurado por conta de costelas quebradas. Um verdadeiro herói.

Outro vexame no futebol

A seleção brasileira de futebol mais uma vez ficou na primeira fase. Treinada por Vicente Feola, campeão do mundo em 58, os juvenis brasileiros - que tinham o meia Roberto Miranda, campeão do mundo em 70 como maior destaque -  empataram por 1 a 1 com a República Árabe Unida - breve período em que Síria e Egito se uniram em uma só nação - venceram por 4 a 0 a Coreia do Sul e foram derrotados pela Tchecoslováquia por 1 a 0. O Brasil teria ficado com a segunda vaga do grupo, mas a República Árabe Unida que precisava de 8 gols para tirar o saldo em relação ao Brasil, ganhou por 10 a 0 dos coreanos (detalhe: o primeiro tempo foi 3 a 0 para os árabes).

Estreias

Em Tóquio, estrearam dois esportes que dariam muitas alegrias para o Brasil no futuro: judô e vôlei. Os dois esportes só entraram nos Jogos Olímpicos porque os japoneses eram extremamente bons neles e o COI resolveu fazer um ‘agrado’ao país-sede. O Brasil levou representantes em ambos.

No judô, o primeiro e único representante do Brasil em Tóquio foi Lhofei Shiozawa na categoria até 81kg. Lhofei foi um dos inúmeros atletas brasileiros que não teve apoio e foi na marra, chegando a vender o seu carro para ir à Tóquio. Filho de imigrantes japoneses, Lhofei terminou em um honroso quinto lugar, caindo nas quartas de final, um excelente resultado para um esporte que era pouquíssimo difundido no país naquela época.

Já no vôlei, a seleção masculina terminou em sétimo, com a campanha de três vitórias em nove jogos. Daquela seleção, um jogador se destacou anos depois como dirigente esportivo: Carlos Arthur Nuzman, que ficou famoso no comando da CBV, erguendo o vôlei ao patamar de segundo esporte brasileiro nos anos 80 e que, a partir dos anos 90, presidiu o COB por longos anos. Após os Jogos de 2016, foi deposto do Comitê Olímpico Brasileiro, preso e acusado por corrupção e compra de votos usando dinheiro público  para a escolha do Rio de Janeiro para os Jogos Olímpicos.

Quadro de medalhas

Com apenas uma medalha de bronze conquistada, o Brasil terminou na trigésima quinta colocação, empatado com Gana, Irlanda, Quênia, México, Nigéria e Uruguai. Quarenta e uma nações conquistaram medalhas em Tóquio.



fotos: Acervos da CBB, Wlamir Marques e do jornal 'O Globo'

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