Hugo Calderano, atual sexto colocado do ranking mundial de tênis de mesa, é um dos maiores nomes do esporte olímpico brasileiro da atualidade. Com 23 anos de idade, o carioca é detentor de diversos recordes na modalidade e consegue bater de frente com grandes nomes do esporte mundial, dada a sua regularidade ao longo dos anos.
A arrancada da carreira de sucesso de Hugo se iniciou em 2016, após sua participação nos Jogos Olímpicos do Rio. Na ocasião, com apenas 20 anos de idade, era 56º colocado do ranking mundial, e conquistou um honroso nono lugar no torneio individual, repetindo o melhor resultado brasileiro na história, o do xará Hugo Hoyama, em Atlanta-1996.
Não fosse o histórico resultado conquistado no quintal de casa e os posteriores bons resultados no circuito, a visibilidade que Calderano possui hoje não seria a mesma. Em entrevista exclusiva ao Surto Olímpico, o mesa-tenista admite que o chamado legado olímpico da Rio-2016, que deveria ser algo uniforme para a maioria dos atletas e modalidades no Brasil, tornou-se uma exceção para ele.
"Eu acho que, infelizmente, perdemos a oportunidade de usar os Jogos do Rio 2016 para desenvolver o esporte no Brasil. Pessoalmente, eu passei a ter muito mais apoio porque tive bons resultados e subi no ranking, mas acho que isso foi pontual para alguns atletas e não para o esporte brasileiro em geral", comenta o número 6 do ranking mundial.
Dois anos depois da campanha histórica, Calderano já estava no top-10 do tênis de mesa mundial. O ano de 2018 foi, aliás, muito especial para o brasileiro. Ele derrotou, em duas oportunidades, os primeiros colocados do ranking mundial. Em março, no Aberto do Catar, bateu o alemão Timo Boll, dono de três medalhas olímpicas e, no final do ano, venceu o chinês Fan Zhendong, no Grand Finals da temporada.
Para Hugo, o pouco incentivo e os baixos investimentos não só no tênis de mesa em específico, como no esporte olímpico de uma maneira geral, fizeram (e fazem) com que o Brasil esteja um pouco distante de se tornar uma potência esportiva. Sobre sua modalidade, ele enxerga que a atual geração pode deixar uma herança positiva para o futuro.
"Eu acredito que temos potencial para conseguir bons resultados. Nossa equipe masculina chegou até as quartas de final no último Mundial por Equipes. Mas para se tornar uma potência em qualquer esporte é preciso muito mais tempo e investimento. Estamos ainda no começo desse caminho", conta o mesa-tenista.
Atualmente, o Brasil tem quatro atletas no top-100 do ranking mundial de tênis de mesa masculino, além de Calderano: Gustavo Tsuboi (44º), Vitor Ishiy (58º), Thiago Monteiro (84º) e Eric Jouti (88º). No feminino, ainda há Bruna Takahashi, de 19 anos, que aparece na 47ª colocação.
Apesar de saber de sua influência no Brasil e no mundo, Hugo não acredita que sua ascensão tenha influenciado a maneira como os estrangeiros enxergam os outros mesa-tenistas brasileiros. "Isso tem mais a ver com cada atleta do que com o país de maneira geral", diz ele.
Alemanha e quarentena
Desde 2014, Hugo mora na Alemanha, onde atua no Liebherr Ochsenhausen, com sede na cidade de Ochsenhausen, de pouco mais de 9 mil habitantes, e que fica a cerca de 130km de Munique. No ano passado, o brasileiro ajudou o time a sair de um jejum de 15 anos sem ganhar o título da Bundesliga, a liga alemã de tênis de mesa. Calderano foi o "raquete 1" na ocasião.
Na atual temporada, a reta final da competição está paralisada por conta da pandemia de coronavírus. O Ochsenhausen, no entanto, já garantiu classificação para as semifinais e aguarda o retorno das atividades para defender seu título.
Hugo manteve os treinamentos em sua casa durante a quarentena, juntamente com o parceiro Vitor Ishiy. Eles levaram uma mesa do clube para a casa e a colocaram na sala de estar. O número 6 do mundo nos contou, em primeira mão, que sua equipe recebeu autorização para voltar aos treinos no ginásio com algumas restrições, o que deve acontecer em breve.
A premier alemã Angela Merkel começou a relaxar as medidas de restrição da pandemia no país nesta semana. O país tem uma das taxas de mortalidade por Covid-19 mais baixas da Europa. As competições esportivas, no entanto, deverão voltar somente em junho e sem a presença do público.
A premier alemã Angela Merkel começou a relaxar as medidas de restrição da pandemia no país nesta semana. O país tem uma das taxas de mortalidade por Covid-19 mais baixas da Europa. As competições esportivas, no entanto, deverão voltar somente em junho e sem a presença do público.
Títulos do circuito
Além do título alemão, o brasileiro detém diversas conquistas representando a seleção brasileira, como o tricampeonato da Copa Pan-Americana e o bicampeonato nos Jogos Pan-Americanos. No Circuito Mundial, porém, a história é outra. Hugo conquistou apenas o Aberto do Brasil de 2013 e de 2017 e foi vice do Aberto do Catar de 2018 e do Aberto da Áustria de 2016.
Perguntado se a falta de títulos do circuito o incomoda, Calderano despista e fala que quer ser "o melhor entre os melhores" e, por isso, foca nas disputas dos eventos platinum, competições que reúnem os melhores do mundo, o que aumenta o nível de dificuldade e reduzem as chances de título. Além disso, a pontuação no ranking é um fator fundamental para ele.
"O calendário do tênis de mesa é bastante intenso, ainda mais para quem joga uma liga disputada como a Bundesliga. Por isso escolhemos priorizar os eventos platinum, que têm os melhores jogadores e dão mais pontos no ranking mundial. Ser campeão de eventos menos importantes não teria nenhum impacto na minha pontuação no ranking", pontua Hugo.
Adiamento dos Jogos Olímpicos e foco no próximo ano
Em meio à pandemia, Calderano foi um dos poucos atletas que conseguiu permanecer treinando. Sem a mesma intensidade, obviamente, mas foi algo que o ajudou a manter sua forma física. De sua casa, recebeu a notícia do adiamento dos Jogos Olímpicos de Tóquio para o próximo ano. Ficou um pouco frustrado, mas entendeu que a decisão foi a mais correta possível.
"Acho que todos os atletas que vinham há anos se preparando para Tóquio devem estar um pouco frustrados. Mas quando pensamos na seriedade do momento que o mundo está passando, e colocamos tudo em perspectiva, o adiamento deixa de ser tão importante", comenta ele.
Medalhista de bronze nos Jogos Olímpicos da Juventude de 2014, Hugo quer repetir a dose e voltar ao pódio de uma competição olímpica no próximo ano, dessa vez em Tóquio. Ele sabe que a tarefa será muito difícil, mas também sabe que está no caminho certo, e já quer virar a chave para o próximo ano.
"O planejamento vai ter que ser alterado. Estou conversando com minha equipe mas, como ainda há muita incerteza em relação ao calendário, não podemos definir muita coisa ainda", diz ele.
Os maiores nomes da modalidade são os chineses. Evitar confrontos diretos com eles é essencial para aumentar as chances de medalha. Como nas Olimpíadas o limite de atletas por país é limitado - no tênis de mesa são dois -, a questão torna-se um pouco mais democrática. Calderano atualmente é o quarto colocado do ranking olímpico e, se se manter na posição até junho do próximo ano, evitará enfrentar os chineses até as semifinais em Tóquio-2020.
Foto: Danilo Borges /ME/Brasil2016
0 Comentários