As Olimpíadas comemoravam 100 anos de existência em 1996 e, quando todos os fãs dos Jogos Olímpicos imaginavam que ela seria no mesmo lugar que renasceu na era moderna, em Atenas, o COI cedeu ao poder do dinheiro e levou a edição centenária para Atlanta, sede de uma das patrocinadoras mais antigas dos Jogos e que investiu rios de dinheiros para que eles fossem para a cidade americana.
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Em uma Olimpíada em que o gigantismo de países e eventos atingiu o seu ápice, o Brasil também foi com a maior delegação da história e com uma nova filosofia, possibilitando treinamentos para atletas dentro e fora do Brasil, e conseguiu o maior número de medalhas em sua história até aquele momento, com quinze láureas, quase o dobro do recorde de Los Angeles 1984 com oito medalhas conquistadas.
Além da quantidade de medalhas, a Olimpíada de Atlanta foi marcante pois, após 64 anos da primeira participação, finalmente as mulheres brasileiras voltaram de uma Olimpíada com medalhas, finalmente mostrando o potencial esportivo que tinham e que há anos não era explorado pelos dirigentes brasileiros. No vôlei de praia, estreando em Jogos Olímpicos, as duplas Jaqueline e Sandra e Adriana e Mônica dominaram a competição e fizeram uma final 100% brasileira, algo inédito em toda a história dos Jogos Olímpicos e até hoje nunca repetido.
Assim como os confrontos na primeira fase, Jackie e Sandra venceram Adriana e Mônica novamente na grande final e foram postas na história como as primeiras mulheres brasileiras a se tornarem campeãs olímpicas. E desde então, sempre tivemos uma brasileira no pódio em todas as Olimpíadas seguintes.
Assim como os confrontos na primeira fase, Jackie e Sandra venceram Adriana e Mônica novamente na grande final e foram postas na história como as primeiras mulheres brasileiras a se tornarem campeãs olímpicas. E desde então, sempre tivemos uma brasileira no pódio em todas as Olimpíadas seguintes.
As outras duas medalhas das mulheres brasileiras foram em esportes coletivos. O basquete feminino, campeão mundial em 1994, confirmou o seu favoritismo com um basquete de altíssimo nível e chegou à final contra os Estados Unidos. As americanas engasgadas pela derrota na semifinal do Mundial passado, atropelaram as brasileiras por 111 a 87, única derrota do país na competição.
Apesar da derrota, Paula, Hortência, Janeth e cia comemoraram muito essa conquista que consagrou essa que foi a melhor geração da história do basquete feminino do Brasil. Essa foi a última competição da 'Rainha' Hortência, que se aposentou da seleção após os Jogos.
foto:Divulgação/COB |
Foto: reprodução |
No vôlei feminino, a seleção comandada por Bernardinho mostrava sua força. E na semifinal, um confronto épico contra Cuba, melhor time do mundo, que terminou com derrota brasileira por 3 sets a 2. Uma grande confusão se instalou na rede e que terminou com briga dentro dos vestiários entre brasileiras e cubanas, com esse confronto entrando para história olímpica não da melhor maneira. Na decisão do terceiro lugar, O Brasil enfrentou a Rússia e em outro jogo épico e dramático, venceu por 3 sets a 2, garantindo a primeira medalha da história do vôlei feminino.
Mas se teve um esporte que brilhou em Atlanta foi a vela. Após o péssimo desempenho em Barcelona, os velejadores brasileiros se redimiram e conquistaram três medalhas: ouro com o jovem talento Robert Scheidt na estreante classe Laser – que travou um intenso duelo contra Ben Ainslie (GBR). Com a vantagem antes regata da medalha, Scheidt se usou da estratégia e queimou a largada e foi acompanhado pelo britânico. Os dois foram desqualificados e o brasileiro foi o primeiro campeão olímpico da classe Laser. Essa seria a primeira de muitas medalhas de Scheidt em Olimpíadas.
Melhor entrosados com mais apoio para se prepararem, Torben Grael e Marcelo Ferreira dominaram as regatas e conquistaram ouro na classe star, com Torben se tornando o primeiro brasileiro a ter uma medalha olímpica de cada cor - ouro em Atlanta, prata em Los Angeles 84 e bronze em Seul 88.
E Kiko Pelicano e Lars Grael (acima) levaram a medalha de bronze na classe Tornado - um ponto atrás da medalha de prata. Essa seria a última participação olímpica de Lars, já que em 1998 ele teve seu barco atingido por outra embarcação e ao cair no mar, teve a perna atingida pela hélice do motor do outro barco, o fazendo perder a perna. Ele voltou a competir no iatismo, mas não mais em provas olímpicas.
Foto: Ivo Gonzalez/ Acervo o Globo |
E Kiko Pelicano e Lars Grael (acima) levaram a medalha de bronze na classe Tornado - um ponto atrás da medalha de prata. Essa seria a última participação olímpica de Lars, já que em 1998 ele teve seu barco atingido por outra embarcação e ao cair no mar, teve a perna atingida pela hélice do motor do outro barco, o fazendo perder a perna. Ele voltou a competir no iatismo, mas não mais em provas olímpicas.
Outro destaque brasileiro nos Jogos foi Gustavo Borges. Mais experiente, o nadador brasileiro teve grandes atuações nas piscinas americanas com a prata nos 200m livre com 1m48s08, novo recorde sul-americano, e bronze nos 100m masculino, com 49s02, outro recorde sul-americano, em disputa caseira com Fernando Scherer, o ‘Xuxa’ que terminou em quinto. Gustavo Borges se tornou o primeiro atleta brasileiro em 76 anos a ganhar duas medalhas em uma mesma edição de uma Olimpíada e o brasileiro com mais medalhas olímpicas na história até o momento ao lado de Torben Grael.
Foto: Rogério Assis/Folhapress |
Fernando Scherer conseguiu sua medalha olímpica nos 50m livre, bronze com 22s29 na prova. E detalhe que 'Xuxa' teve que disputar um desempate por ter feito o mesmo tempo de Francisco Sanchez (VEN) e Bengt Zikarsky (GER) com 22s68. Quem sabe se não tivesse precisado essa prova extra, a prata não teria escapado por 0s03?
Tivemos um recorde de medalhas de bronze em Atlanta, mas uma especialmente foi bem amarga. Com o título mundial em 1994, a seleção foi em busca do único título que ainda faltava em sua galeria, que era o ouro olímpico. Com isso, a CBF fez uma grande preparação e levou para Atlanta o que tinha melhor de jogadores sub23, já que a partir de Barcelona, só era permitido jogadores abaixo dessa idade para disputar os Jogos, por exigência da Fifa. E em Atlanta, três jogadores acima dessa faixa etária poderiam ser chamados. E com um elenco forte, mesclado com nomes consagrados ou outros em ascensão como Dida, Aldair, Roberto Carlos, Rivaldo, Bebeto e Ronaldo ‘Fenômeno’, entre outros, o ouro foi encarado como obrigação.
Na semifinal, um confronto contra a Nigéria mostrou que ninguém ganha título só no papel. Vencendo por 3 a 1, o Brasil levou o empate e na prorrogação, sofreu do artifício que estava sendo testado nos Jogos Olímpicos para encurtar as prorrogações de futebol, o gol de ouro, que quem marcasse primeiro no tempo extra o jogo terminaria. E quem marcou primeiro foi Kanu, dando a vitória para os nigerianos, que ainda venceriam os argentinos para ficar com o ouro no futebol. Para o Brasil restou uma goleada em cima de Portugal na disputa do bronze, que sequer os brasileiros ficaram para receber no pódio, em uma tremenda gafe.
Foto:Repdoução/COB |
O atletismo superou o jejum de medalhas em Barcelona para conquistar pelo menos uma em Atlanta. No revezamento 4x100m, o quarteto formado por Edson Luciano, André Domingos, Róbson Caetano - em sua última olimpíada - e Arnaldo Oliveira foi bronze com a ótima marca de 38s41 - recorde sul-americano.
O hipismo brasileiro conseguiu a primeira medalha olímpica da história com uma medalha de bronze na competição por equipes André Joahannpeter, Álvaro ‘Doda’ Miranda, Luiz Felipe Azevedo e Rodrigo Pessoa - que já mostrava seu talento quase zerando o percurso nas duas tentativas no comando do cavalo Tomboy - e seus cavalos mostraram todo o seu talento e potencial que ainda estava por vir dessa era de ouro do hipismo brasileiro que começava ali.
Na Trave!
O tênis quase viu a sua primeira medalha olímpica, com Fernando Meligeni, argentino naturalizado brasileiro, que sem muito alarde chegou à semifinal onde foi derrotado. Na disputa do bronze, caiu para o indiano Leander Paes de virada após vencer o primeiro set. Até hoje, é o melhor resultado de um tenista brasileiro em Olimpíadas.
No judô, o hoje dirigente do Comitê olímpico Brasileiro (COB0, Sebastian Pereira perdeu na disputa do bronze da categoria leve para Jimmy Pedro (USA) e quase conseguiu a terceira medalha da modalidade em Atlanta.
No boxe, Daniel Bispo quase quebrou o jejum de medalhas que durava desde 1968, ficando nas quartas de final na categoria meio pesado ao ser derrota por 14 a 7 para Thomas Ulrich (GER).
E quase Xuxa e Gustavo Borges faturaram mais uma medalha na natação, mas o revezamento 4x100m livre, formado pelos dois, Alexandre Massura e André Cordeiro, terminou em quarto lugar. De consolação, ficou o recorde sul-americano da prova.
No boxe, Daniel Bispo quase quebrou o jejum de medalhas que durava desde 1968, ficando nas quartas de final na categoria meio pesado ao ser derrota por 14 a 7 para Thomas Ulrich (GER).
E quase Xuxa e Gustavo Borges faturaram mais uma medalha na natação, mas o revezamento 4x100m livre, formado pelos dois, Alexandre Massura e André Cordeiro, terminou em quarto lugar. De consolação, ficou o recorde sul-americano da prova.
Estreias
O futebol feminino fez sua estreia nos Jogos Olímpicos e o Brasil, comandado por Sissi, Pretinha, Maicon Jackson, Kátia Cilene e uma menina chamada Formiga fizeram um bom papel em Atlanta, quase conquistando a medalha, ficando na quarta posição, após perder para a Noruega por 2 a 0 na disputa do terceiro lugar.
Outra estreia do Brasil foi no ciclismo mountain bike, com dois ciclistas. Márcio Ravelli foi o brasileiro melhor colocado, na vigésima sétima colocação.
Decepção dos campeões olímpicos
Se no vôlei as mulheres brilharam, no masculino tivemos uma atuação regular. O vôlei masculino, defendendo o título olímpico caiu nas quartas de final para a Iugoslávia por 3 sets a 2, em uma atuação longe daquelas que deram o ouro olímpico em Barcelona e o título de Liga Mundial em 1993.
Outro campeão olímpico que decepcionou foi Joaquim Cruz. Ausente em Barcelona por conta de uma contusão, Joaquim Cruz disputou os 1500 metros e não conseguiu ir muito longe na sua última participação olímpica, ficando em quadragésimo segundo lugar. Ele se aposentaria do esporte em 1997, limitado pelas contusões.
A Despedida do ‘mão santa’
Foto:CBB |
A alegria após a tragédia
Hugo Hoyama viajou para Atlanta para a disputa da competição de tênis de mesa sozinho, pois seu amigo e grande adversário Cláudio Kano faleceu dias antes da viagem para as Olimpíadas em um acidente de moto. O brasileiro arrumou forças para fazer uma ótima competição e avançar para a fase eliminatória - com direito a vitória em cima do lendário Jorgen Persson (SWE), caindo nas oitavas de final para Pter Korbel (CZE) por 3 sets a 2, no melhor resultado de um mesatenista brasileiro em Olimpíadas, sendo igualado por Hugo Calderano vinte anos depois.
Quadro de medalhas
Com três medalhas de ouro, três de prata e nove de bronze, o Brasil ficou na vigésima quinta colocação, entre setenta e nove nações que conquistaram medalha em Atlanta.
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