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Cancelamento do torneio de tênis em cadeira de rodas no US Open gera revolta entre tenistas


Após definir todos os protocolos para a realização do US Open, incluindo a diminuição da chave de duplas e a não realização do evento em duplas mistas, uma coisa passou sem ser percebida. O cancelamento do torneio de tênis em cadeira de rodas, corroborando com a revolta de atletas do circuito em declarações nas redes sociais na última quarta-feira (17). 

O tenista australiano Dylan Alcott, líder do ranking mundial do tênis em cadeira de rodas na categoria Quad (para atletas com deficiência em três ou mais extremidades do corpo) e dez vezes campeão de Grand Slam, proferiu um grande discurso em sua conta no Twitter, sobre o descaso com a modalidade.

"Foi anunciado que o US Open será realizado sem competições de tênis em cadeira de rodas. Os jogadores não foram consultados. Eu pensei que tinha feito o suficiente para me qualificar, sou duas vezes campeão e número 1 do mundo. Mas infelizmente não consigo fazer a única coisa que interessa: andar. Discriminação nojenta", disse ele.

Campeão de simples no US Open de 2015 e 2018, Alcott seguiu falando sobre como se sentia em relação a esta situação. "E por favor, não me diga que sou do 'grupo de risco' porque sou deficiente. Estou com deficiência sim, mas isso não me deixa doente. Eu sou mais apto e saudável do que quase todo mundo que está lendo isso agora. Não há riscos adicionais".

Por fim, Alcott reiterou sua insatisfação por não ter sido consultado sobre a decisão de cancelar o US Open na modalidade de tênis em cadeira de rodas.

"E com certeza há coisas muito mais importantes acontecendo no mundo, mas essa escolha deveria ter dependido de mim. É uma discriminação flagrante submeter a pessoas físicas capazes de decidir em meu nome o que eu faço com a minha vida e carreira apenas porque sou deficiente. Não está bom o suficiente US Open", finalizou Alcott.


Atual número 5 do mundo na categoria Open (para atletas diagnosticados obrigatoriamente com alguma deficiência nos membros inferiores), o britânico Gordon Reid reforçou as afirmações de Alcott, expondo que ninguém do circuito foi informado ou convidado para debater sobre um possível cancelamento.  

"Muito decepcionado ao descobrir no twitter esta manhã que o US Open planeja 'cortar' o tênis de cadeira de rodas deste torneio de anos. Os jogadores de cadeira de rodas tiveram comunicação ou consulta zero por parte da ITF ou do Grand Slam em torno dessa decisão", afirmou Reid.


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O posicionamento da Federação Internacional de Tênis (ITF)

A ITF encaminhou um comunicado à imprensa e aos tenistas da modalidade nesta quinta-feira (18), comentando o cancelamento do torneio de tênis em cadeira de rodas no US Open, abrindo possibilidade para realização do evento em outro local, mas sem mencionar as críticas feitas pelos atletas. Confira na íntegra.

A ITF entende e compartilha a decepção sentida por muitos por não ser possível para o US Open deste ano sediar um evento em cadeira de rodas.

Apreciamos plenamente os enormes desafios logísticos enfrentados pelos organizadores em tempos sem precedentes. É certo que, em meio a uma pandemia global, a segurança de todos os concorrentes deve ser a primeira e única prioridade.

Continuamos discutindo com os organizadores as possíveis abordagens que podem permitir que a competição de tênis de cadeira de rodas ocorra dentro ou fora do local.

A ITF também continua a garantir que os planos estejam em vigor para que os jogadores possam voltar com segurança à quadra o mais rápido possível, através do reinício do circuito de tênis em cadeira de rodas antes de Roland Garros, em setembro.  

E o Brasil nessa história? 

O Brasil tem um top-10 na categoria Quad, Ymanitu Silva, 10º no ranking da ITF, e um top-20 na categoria Open, Daniel Rodrigues, atual 11º na classificação. Entre as mulheres, Meirycoll Duval é a melhor brasileira, ocupando a 28ª posição.

Em entrevista exclusiva ao site Surto Olímpico, Daniel Rodrigues conta que recebeu o e-mail da ITF nesta quinta, e declarou que não há sentido no cancelamento do torneio de tênis em cadeira e rodas no US Open.

"O cancelamento é ruim para o tênis em cadeira de rodas, mesmo que eu ainda não participe do evento (apenas os oito melhores em sua categoria disputam). Não há justificativa ter o US Open com jogadores do 'tênis convencional' e não ter o do tênis em cadeira de rodas", disparou.

Apesar do atraso na emissão de um comunicado, Daniel afirma que há boa relação entre o os jogadores da categoria e a ITF. "O circuito é bem extenso, dentro do nosso calendário tem torneios o ano todo e em vários níveis. O tênis em cadeira de rodas tem um conselho no qual não faço parte, mas acredito que os jogadores tem boa relação com a ITF".

O brasileiro apontou ainda alguns aspectos onde enxerga discriminação dentro do esporte, ressaltando a importância do papel que a imprensa pode ter na ajuda ao combate do preconceito.

"Existe sim discriminação no esporte com relação à valores de premiação, patrocínios e isso é muito ruim, pois os atletas se dedicam como qualquer outro que não tenha deficiência. Acho que a própria mídia tinha que divulgar mais o esporte paralímpico, para que isso diminuísse mais e assim conseguiríamos mostrar nosso valor", reiterou.

Foto: Divulgação
Campeão do Aberto da Suíça de 2019, sendo o primeiro tenista paralímpico brasileiro a vencer um torneio nível ITF1, Daniel segue em contato com a Confederação Brasileira de Tênis (CBT) para definir a retomada do esporte no país.

"A pandemia tem prejudicado muito, eu estava em um ritmo bacana e hoje estou fazendo só treinos em casa, o que não é bom para um atleta de alto rendimento. Estou ansioso para voltar a treinar e competir".

Foto: USTA/Ned Dishman

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