O Comitê Olímpico Internacional (COI) pediu desculpas e excluiu um vídeo publicado em seu Twitter oficial depois de receber críticas por mostrar imagens dos Jogos Olímpicos de Berlim 1936, realizados na Alemanha nazista. A publicação fazia parte da campanha #StrongerTogether, promovida pelo COI como forma de reconhecer a importância da união em meio à pandemia e ao contexto de adiamento dos Jogos de Tóquio.
O clipe de 30 segundos veio dentro de uma série de postagens mostrando vídeos de edições anteriores dos Jogos. O post dos Jogos de Berlim 1936 foi ao ar após as contas oficiais dos Comitês Olímpicos Nacionais dos Estados Unidos e da Bélgica também terem veiculado vídeos das Olimpíadas de Los Angeles 1932 e Antuérpia 1920, respectivamente. A série teve como objetivo marcar a contagem regressiva de um ano para os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, programados para começar em 23 de julho do próximo ano.
O vídeo mostrava o acendimento da pira olímpica, realizado pela primeira vez em 1936, com o ato completado pelo atleta Fritz Schilgen. Schilgen não competiu nos Jogos, mas foi selecionado para acender a pira pelo diretor de cinema alemão Leni Riefenstahl, devido às suas características arianas. Riefenstahl dirigiu o filme de propaganda nazista sobre os Jogos intitulado Olympia, com o evento de 1936 se tornando bastante associado aos nazistas e à suástica. O vídeo também apresentava imagens e clipes da música, incluindo equipes que participam da cerimônia de abertura dos Jogos.
O clipe foi acompanhado pelo texto "Berlim 1936 marcou o primeiro revezamento da tocha olímpica a trazer a chama para o caldeirão. Mal podemos esperar pelo próximo no Japão", seguido pela hashtag "#StrongerTogether". A publicação do COI enfrentou diversas críticas, com o Memorial de Auschwitz entre os que postaram comentários negativos em resposta.
For 2 weeks the Nazi dictatorship camouflaged its racist, militaristic character. It exploited the Games to impress foreign spectators with an image of a peaceful, tolerant Germany. Later, Germany's expansionism, the persecution of Jews & other "enemies of the state" accelerated.— Auschwitz Memorial (@AuschwitzMuseum) July 24, 2020
"Durante duas semanas, a ditadura nazista camuflou seu caráter racista e militarista", twittou a conta do Memorial de Auschwitz. "Ele explorou os Jogos para impressionar os espectadores estrangeiros com a imagem de uma Alemanha pacífica e tolerante. Mais tarde, o expansionismo da Alemanha, a perseguição a judeus e outros 'inimigos do estado' se acelerou".
Resposta do COI
Contatado pelo site InsidetheGames, o COI afirmou que a série de vídeos não pretendia ser uma comemoração histórica dos respectivos Jogos Olímpicos, mas uma celebração da importância da união e da solidariedade em momentos difíceis
"As imagens selecionadas para todos os vídeos foram escolhidas para transmitir a mensagem de unidade e solidariedade", disse o Comitê. "O clipe dos Jogos Olímpicos de Berlim 1936 foi escolhido especificamente para esse fim, NÃO para comemorar esta edição dos Jogos".
A entidade destacou fotos do lendário velocista americano Jesse Owens, que apareceu como parte do vídeo. Owens ganhou medalhas de ouro nas provas de 100 metros, 200m, 4x100m e salto em distância nos Jogos, sendo creditado por derrubar a ideia de Adolf Hitler de uma raça ariana superior. Owens também se tornou amigo do concorrente alemã Luz Long, medalhista de prata no salto em distância nos Jogos.
O estadunidense Jesse Owens se sobressaiu nos Jogos de Berlim, marcados pela influência do regime nazista às vésperas do início da Segunda Guerra Mundial (Foto: 1936/COI)
O COI destacou a amizade como um momento olímpico icônico e mostrando o poder unificador dos Jogos.
"A história de Jesse Owens e Luz Long representa um momento histórico icônico, onde o espírito de fraternidade foi demonstrado ao mais alto nível. Jesse Owens, o lendário tricampeão olímpico, teve que sofrer em casa com a dolorosa realidade da segregação racial. Por meio de suas extraordinárias conquistas esportivas, ele ensinou uma lição retumbante ao regime nazista, quebrando suas reivindicações fascistas desprezíveis de superioridade racial. Porém, entendemos que o filme sobre os Jogos Olímpicos de Berlim em 1936, que inclui essa história, não foi percebido dessa maneira", respondeu.
Mais tarde, o COI emitiu uma segunda declaração, confirmando que o tweet havia sido excluído, e pediu desculpas por qualquer ofensa causada pela publicação.
"Pedimos desculpas a quem se sente ofendido pelo filme dos Jogos Olímpicos de Berlim em 1936", declarou. "Excluímos o vídeo, que fazia parte da série de clipes com a mensagem de unidade e solidariedade, da conta do Twitter da @Olympics".
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Foto de capa: Hoffmann/Bundesarchiv
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