O beisebol chegou no Brasil durante o início do século XX, trazido por integrantes de multinacionais estadunidenses e imigrantes japoneses e hoje conta com cerca de 30 mil praticantes de diversos níveis nas cinco regiões do país. Ao todo são 55 clubes e mais de 100 campos. Além disso, temos dois atletas campeões na Major League Baseball (MLB) Paulo Orlando e Yan Gomes.
É verdade que esse não é dos esportes mais populares no Brasil. Porém, entre as 86 seleções inclusas no ranking mundial da modalidade, nosso país aparece na 21ª colocação. Parte disso vem do sucesso do trabalho feito no Centro de Treinamento da nossa seleção, localizado em Ibiúna, estado de São Paulo.
O CT do Brasil é uma parceria entre a Confederação Brasileira de Beisebol e Softbol (CBBS) e da multinacional Yakult, que dá nome ao empreendimento que completa 20 anos em 2020. Dessa parceria surgiu a criação de cinco seleções nacionais, com atletas a partir dos 13 anos na categoria pré-júnior, até o time profissional, que disputou a World Baseball Classic (WBC) de 2013, campeonato equivalente a uma Copa do Mundo.
Durante as eliminatórias da América do Sul e Central para o Mundial de 2013, o Brasil tinha adversários com muito mais tradição no esporte, como a Nicarágua, Colômbia e Panamá. Mesmo desacreditada, a seleção brasileira venceu todas as suas partidas, e derrotou o Panamá no jogo decisivo para garantir a vaga histórica no WBC.
Já na WBC, nossa seleção acabou perdendo todos os jogos ao cair em um grupo com alguns dos times mais fortes do mundo: Japão, Cuba e China.
Mas é preciso destacar que não é só de sucesso que vive a modalidade. Apesar do bom ranking, o Brasil não se classificou para os Jogos Pan-Americanos de Lima, no ano passado, e consequentemente ficou fora dos Jogos Olímpicos de Tóquio.
Para entender melhor o cenário do beisebol nacional, o Surto Olímpico fez uma entrevista exclusiva com o técnico da seleção brasileira, Thiago Caldeira.
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Ligas e campeonatos
Apesar de ser uma das 25 melhores seleções do mundo, o Brasil não tem um liga profissional de beisebol, assim como existe nos Estados Unidos, Japão ou México, por exemplo.
"Os jogadores que atuam profissionalmente estão todos no exterior, espalhados em várias partes do mundo. Apesar de não haver uma liga, temos alguns campeonatos no nosso país, como o Campeonato Brasileiro e a Taça Brasil, que é o principal deles", explicou Caldeira.
"A Taça Brasil conta até com alguns atletas brasileiros que jogam no exterior. Durante as férias, eles voltam para cá e disputam esse campeonato, que é realizado no estádio do Bom Retiro, em São Paulo. Nesse torneio os olheiros e técnicos da seleção ficam atentos para ajudar na hora da convocação também", revelou.
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Aumentando a popularidade do beisebol no Brasil
Sem uma liga para desenvolver o trabalho com torcidas, a CBBS tem atuado em parceria com a MLB para tentar popularizar o beisebol no Brasil. E isso começa na escola.
"Começamos a fazer alguns trabalhos do projeto Beisebol nas Escolas, onde as crianças têm seu primeiro contato com o esporte. São eventos grandes, então através disso ocorre o aumento do número de pessoas interessadas", revelou. "Muitas escolas e professores entram em contato, pedem para marcar um horário em que os estudantes possam assistir um treino, uma partida, ajudando assim no entendimento da modalidade.
"Conquistar melhores resultados com a nossa seleção também é um dos meios de elevar essa popularidade, mas o trabalho com as crianças é o principal no momento, pois quem participa pode conhecer mais sobre o beisebol", concluiu Caldeira.
Rivalidade com países da América do Sul
Atualmente é a seleção da Venezuela que tem o maior destaque entre as os países da América do Sul, ocupando a oitava colocação do ranking mundial. O Brasil tem ainda na sua frente na classificação geral a seleção da Colômbia (14ª). Caldeira também explicou que a Argentina, outro país muito próximo do Brasil no ranking, tornou-se um grande adversário.
"Na América do Sul, nossos grandes rivais são a Venezuela, a Colômbia, seleção na qual fazemos sempre bons jogos. Inclusive, nós derrubamos eles na qualificatória para a Copa do Mundo que conseguimos disputar. Além disso, também tem a Argentina, país onde o beisebol está se desenvolvendo. Atualmente, eles ocupam a 23ª posição no ranking", disse.
O primeiro vínculo com o beisebol
Caldeira chegou na seleção brasileira em 2009, após abandonar sua carreira como jogador ao sofrer uma lesão no ombro quando jogava no Japão. Apesar da tristeza daquele momento, ele deu a volta por cima ao receber a oportunidade de ajudar outros jovens jogadores a evoluir no esporte.
Seu primeiro envolvimento com o beisebol ocorreu aos sete anos. Nascido em Bastos, município paulista fundado por imigrantes japoneses, ele teve duas opções entre os esportes com mais tradição oriental. Ou lutava judô, ou jogava beisebol, já que seu pai buscava para ele um esporte que lhe proporcionasse mais disciplina.
Ele escolheu o beisebol e quando entrou pela primeira vez em campo para treinar, nunca mais quis abandona-lo. Sua história e a do CT Yakult se misturam, já que Caldeira fez parte do primeiro grupo de jovens jogadores que seriam lapidados no local.
"Nessa época vieram muitos treinadores de escolas e universidades do Japão para dar bolsa de estudos para os atletas. Então me viram jogar e se interessaram, me ofereceram uma bolsa integral para atuar lá. Eu fui aos 14 anos, fiz os três anos de ensino médio lá e ganhei outra bolsa de estudos, para a Universidade, no curso de esporte e saúde, que é o equivalente ao de educação física aqui no Brasil", contou Caldeira.
Próximos objetivos
Agora, o objetivo é voltar a classificar o Brasil para a WBC que foi reagendado para 2023, por conta da pandemia de coronavírus. Dias antes de ser declarada a epidemia em nível mundial, a seleção estava nos Estados Unidos, pronta para jogar o evento qualificatório.
"Estávamos treinando quase dez dias nos Estados Unidos, obtivemos a liberação de vários atletas, mas com a pandemia o torneio foi cancelado, infelizmente", concluiu.
O Brasil enfrentará África do Sul, Alemanha, França, Nicarágua e Paquistão pela vaga no Mundial. Os confrontos deverão ocorrer no ano que vem.
Foto: CBBS
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