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Surto História - 50 anos de Antônio Tenório



Nascido em São José do Rio Preto(SP) e Judoca desde os 8 anos de idade, Antônio Tenório viu sua vida mudar aos 13 anos, quando o seu olho esquerdo foi atingido por uma semente de mamona, o que causou um descolamento de retina que o deixou cego daquele olho. Seis anos mais tarde, uma infecção no olho direito fez Antônio ficar totalmente cego.


Sua paixão pelo judô não permitiu que ele se abatesse e após alguns anos disputando competições contra judocas convencionais, ele fez a adaptação para o judô paralímpico, disputado apenas por atletas com deficiência visual. Na categoria B1 (para cegos totais ou com percepção de luz, mas sem reconhecer formatos) até 86kg, Antônio chegou para sua primeira paralimpíada em Atlanta 96. 


Era o início de uma nova fase para o esporte paralímpico brasileiro, com o recém criado CPB e o Brasil começava a ir para essa competição de forma mais organizada, dando mais chances para os atletas se prepararem. Com força física e ótima técnica, Antônio venceu logo de cara o campeão mundial na época Ian Rose (GBR), depois a vítima foi David Guillaume (FRA) e na final conquistou a medalha de ouro vencendo Francisco Boedo (ESP) em um ippon logo no início da luta. Essa foi uma das duas láureas douradas que o Brasil conquistou naqueles jogos e Antônio foi o primeiro brasileiro na história a ganhar uma medalha de ouro nos jogos paralímpicos sem ser no atletismo ou na natação. 


foto:CBDV

Quatro anos depois em Sydney, o esporte paralímpico começava a ser mais divulgado e Antônio, agora na categoria até 90kg, ia para os jogos com o status de grande favorito. E mais uma vez, ele não decepcionou, derrotando Brett Lewis (USA) e conquistando o bicampeonato paralímpico.


2004 foi o divisor de águas da carreira de Antônio. Os Jogos paralímpicos de Atenas tiveram um grande aumento de popularidade em relação a última edição,  e o Brasil finalmente conheceu grande estrelas do Brasil como Clodoaldo Silva, Ádria dos Santos e o próprio Antônio Tenório, que tinha mudado mais uma vez de categoria (até 100kg) e buscar o inédito tricampeonato paralímpico em três categorias diferentes. E ele conseguiu mais uma vez, derrotando Run Ming Men (CHN).


E ele não parou por ali. Aos 37 anos, ele foi aos Jogos Paralímpicos de Pequim conseguir um tetracampeonato paralímpico, algo que nenhum atleta tinha conseguido em quaisquer modalidades nos jogos. E não seria fácil, os comitês ao redor do mundo acompanharam o crescimento no esporte paralímpico aumentando o investimento e já veterano par ao esporte, ele teria que superar atletas bem mais jovens do que ele.


Mas quem disse que Antônio seria parado facilmente? Quarta final paralímpica seguida, e mais uma vitória, agora para Karim Serdanov (AZB). Antônio era tetracampeão paralímpico, feito inédito na história dos Jogos. 

Foto:CBDV

Ele poderia ter parado no auge, mas continuou a desafiar o tempo e os adversários, já que ele continuava a se manter como um dos melhores do mundo. Mas em Londres 2012, veio algo que todos pareciam que nunca aconteceria: Uma derrota. Vladmir Fedin (RUS) seria o responsável por quebrar a invencibilidade do brasileiro nas quartas de final. Antônio não se abateu e na repescagem garantiu a medalha de bronze. Foi seu quinto pódio em cinco paralimpíadas.


Mais uma vez Antônio recusou o prognóstico de que estava acabado para o esporte de alto rendimento e aos 45 anos, se qualificou para sua sexta participação nos jogos paralímpicos, no Rio de Janeiro. E ele, cansado de ouvir que estava velho para o esporte e que deveria se aposentar, treinou como nunca para calar seus críticos lutando em casa. 


E ele conseguiu, e com o apoio da torcida, foi vencendo seus adversários e chegou a sua quinta final paralímpica em seis participações, contra Choi Gwang-Geun (KOR). Mas o campeão paralímpico de Londres mostrou sua força e derrotou Tenório com um ippon, deixando o brasileiro com a prata. Antônio demonstrou respeito ao adversário ao abraçá-lo e em seguida, levantar o seu braço para que a torcida o aplaudisse.


Aos 50 anos, seis medalhas paralímpicas e o status de maior judoca paralímpico de todos os tempos,  Antônio está longe de pensar em parar. Garantido em Tóquio após terminar entre os seis melhores do ranking mundial da IBSA (Associação Internacional de Esportes para Cegos, em português) em 2019, Antônio vai para sua sétima paralimpíada, em busca do seu sétimo pódio. E ele já afirmou que dependendo do resultado em Tóquio, ele vai lutar para chegar aos Jogos de Paris:


"Se eu trouxer essa medalha, lógico que abre espaço para mais um ciclo. Aí vai depender muito de onde os dirigentes vão querer me colocar. Será que vão querer um senhorzinho de 54 anos acompanhando garotos de 18? Não sei. Mas será que minha experiência poderá contribuir para trazer novas medalhas ao Brasil? Essa é a pergunta que fica. Vou continuar como atleta até alguém chegar e falar 'olha, tá na hora de passar para o outro lado da mesa'"


Foto: Gabriel Heusi/Heusi Action

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