Narração: Luiz Carlos Jr., Lucas Pereira, Sérgio Maurício, João Guilherme, Eusébio Resende e Giovanni Martinello
Comentários: Roberto Assaf e Alex Escobar (futebol masculino/futebol feminino), Dulce Thompson (vôlei feminino), Marco Freitas (vôlei masculino), Byra Bello (basquete masculino/basquete feminino), Andréia João (ginástica artística) e Lauter Nogueira (atletismo)
Reportagens: Carlos Gil, Kiko Menezes, João Pedro Paes Leme e Bárbara Bassanesi
Apresentação: Bárbara Bassanesi e Vanessa Riche
Participação: Armando Nogueira, Leila, Róbson Caetano, Tande, Renato Mauricio Prado e Galvão Bueno
De Sydney até Atenas, o SporTV ganhou algumas coisas, manteve outras, e perdeu mais outras. Na manutenção, seguiu a tradição em eventos poliesportivos: com os Jogos Olímpicos de Inverno de 2002, na norte-americana Salt Lake City, e com os Jogos Pan-Americanos de 2003, em Santo Domingo, ambos exibidos pelo canal esportivo da Globosat. Ganhou em espaço: em 2003, o SporTV 2 entrou definitivamente na grade de programação das operadoras de tevê a cabo – e o que havia sido uma medida apenas auxiliar para a cobertura dos Jogos Olímpicos de 2000 se tornava definitivo a partir de então. E também podia iniciar novos ganhos: 2004 marcava o primeiro ano em que, além dos Jogos de Verão, a televisão brasileira exibiria as Para(o)limpíadas – e coube ao SporTV o pioneirismo honroso, com exclusividade.
Mas perdeu alguma autonomia: se nas coberturas de Barcelona-1992, Atlanta-1996 e Sydney-2000 a Globosat estava no controle de tudo, a partir de 2003 o SporTV teria a influência, o investimento e a vinculação cada vez maior ao Grupo Globo (então, ainda Organizações Globo). Logo, a estrutura e a linha editorial do SporTV ficariam cada vez mais vinculadas às da “emissora-mãe” Globo. Tal “sinergia” já era visível no trânsito cada vez maior de profissionais entre a emissora aberta (Globo) e a fechada (SporTV), nos novos programas que viriam – basta lembrar que o Redação SporTV matinal, estreado no começo daquele 2004 olímpico, tinha a apresentação de Luís Roberto, enquanto o Arena SporTV, debate também iniciado naquele ano e exibido no início da tarde (14h de Brasília), era ancorado por Cléber Machado. E a “união” teria seu primeiro grande teste naquela cobertura na Grécia – algo até visível na camisa verde-claro que era o “uniforme” de Globo e SporTV naqueles Jogos.
Ainda assim, a cobertura do SporTV daria mais um passo adiante em termos tecnológicos. Em 1996, só um canal exibira as disputas em Atlanta; a emissora se valeu de três canais para mostrar tudo em Sydney-2000; e em Atenas, o SporTV já teria quatro canais. Além do principal existente desde 1991 e do agora fixo SporTV 2, que teriam a preferência na exibição dos eventos ao vivo, estariam disponíveis para o assinante o SporTV + (que exibiria a mesma programação do SporTV principal, com seis horas de atraso, mas também abriria espaço para flashes ao vivo caso necessário) e o SporTV Brasil (como o próprio nome indica, dedicado somente aos atletas da delegação brasileira na Grécia, exibindo não só as provas em que competissem, mas também programas com a preparação prévia deles antes da viagem). Os quatro canais eram trombeteados nas propagandas do canal antes da cobertura: seriam “96 horas” de eventos olímpicos.
(Trecho de propaganda da cobertura do SporTV para os Jogos Olímpicos de 2004, extraído de um vídeo com a linha do tempo do canal. Postado no YouTube por Kercy Leite)
E mesmo a perda de autonomia do canal da Globosat em relação à Globo foi compensada com alguns ganhos entre os seus enviados. Entre os repórteres que foram a Atenas, três deles fariam matérias para as duas frentes (Globo e SporTV): Carlos Gil, Kiko Menezes e João Pedro Paes Leme. Melhor ainda: tendo estreado em 2003 o Bem, Amigos!, a mesa-redonda nas noites de segunda-feira que já era ensaiada aqui e ali durante coberturas de Copas do Mundo de futebol, Galvão Bueno seria um convidado especial do SporTV em Atenas. Não para o Bem, Amigos!, mas para outra espécie de mesa-redonda diária, para debater o que se via em Atenas, entre 11 e 29 de agosto de 2004: o Arena Olímpica, exibido dos estúdios do SporTV/Globo no centro de imprensa, às 20h30 de Brasília.
E no Arena Olímpica, além das participações periódicas de vários comentaristas da emissora-mãe global (como Róbson Caetano ou Leila, que comentavam as respectivas modalidades para a Globo em Atenas), Galvão teria a seu lado dois velhos conhecidos. Um deles era - ainda - parceiro, membro fixo da bancada do Bem, Amigos! semanal, também acompanhante de outras modalidades além do futebol: Renato Maurício Prado, que ali vivia seu primeiro trabalho olímpico na televisão, após tantos Jogos cobertos pelos jornais das Organizações Globo, como O Globo ou o Extra que ajudara a fundar. O outro não era só influência decisiva de Galvão e de Renato, mas também era um decano olímpico do SporTV: claro, Armando Nogueira (1927-2010), indo ali para mais uma cobertura de Olimpíadas, a terceira pelo canal esportivo, no qual seguia com seu programa de entrevistas – que, de Esporte Real, fora rebatizado Papo com Armando Nogueira (por sinal, outra mudança forçada pela vinculação do SporTV à Globo: ainda proibindo merchandising no departamento de esportes, ela censurou o primeiro nome, que evocava o Banco Real, patrocinador do programa).
Por sinal, em seu livro de memórias (Fala, Galvão!, de 2015), o narrador se alegrou ao lembrar o envolvimento de Armando, 77 anos então, com aquela mesa-redonda: “O Armando gostou tanto da ideia que trabalhou como produtor, redator, chefe de reportagem, fazia a pauta, escolhia os temas das conversas, comprou uns bonequinhos que representavam os deuses olímpicos e foi o responsável por transformar uma conversa de dez minutos em programas que passaram de 45 e podiam ir até mais longe”.
Não faltou nem mesmo um galanteio: num dia em que Leila seria convidada do Arena Olímpica, o acreano de Xapuri (que tinha na voleibolista um tradicional alvo de suas colunas poéticas, como Paula e Hortência haviam sido) olhou a ela e disse: “Deus, se começas a me tirar as forças, por quê também não me tiras o desejo?”. Galvão e Renato Mauricio gargalharam, enquanto Armando justificou a “pedreiragem”, sorridente: “Na idade em que estou, já posso falar o que penso”. Não se sabia ainda, mas era a última cobertura olímpica de Armando Nogueira antes de começar a sofrer, em 2007, os efeitos de um câncer no cérebro, que terminou por matá-lo aos 83 anos, em 29 de março de 2010.
De resto, entre os enviados do SporTV, novamente equilíbrio entre nomes conhecidos e novatos no canal. Luiz Carlos Jr. já ia para sua quarta edição de Olimpíadas como o principal narrador da emissora (e único que embarcara para Atenas) – outros, como Sérgio Maurício, Lucas Pereira, Eusébio Resende, João Guilherme e o catarinense Giovanni Martinello, este em sua primeira cobertura de Jogos, ficariam a postos nos estúdios do Rio de Janeiro. Também eram nomes certos de Olimpíadas no SporTV – e enviados a Atenas - Dulce Thompson, comentando o vôlei feminino (última vez que a ex-jogadora carioca faria isso no canal), e Byra Bello, para opinar sobre os jogos de basquete, homens e mulheres, na Arena Indoor Helliniko. Até mesmo Andréia João, que fizera papel periférico nos comentários da ginástica artística (modalidade que não recebia muito destaque nas coberturas olímpicas do SporTV), voltaria não só para comentar as provas no Olympic Indoor Hall, com a ansiedade pela possibilidade de medalhas de Daiane dos Santos e Danielle Hypólito, mas também para colaborar com os flashes da TV Globo para as participações brasileiras, sempre que necessário. E mesmo que estivesse para comentar o atletismo nos Jogos Olímpicos pela primeira vez, o técnico Lauter Nogueira também já era voz conhecida dos telespectadores para comentar as provas de pedestrianismo, na pista de tartan ou no asfalto mesmo, como as maratonas. As novidades entre os comentaristas do SporTV vinham em duas das modalidades mais conhecidas.
No vôlei, o técnico Marco Freitas iria para a cabine do Ginásio Paz e Amizade comentar as partidas dos torneios olímpicos de homens e de mulheres. E no futebol, dos estúdios no Brasil, estariam comentando os torneios Roberto Assaf - de longa carreira no Jornal do Brasil, colaborando com o SporTV desde o ano anterior - e Alex Escobar - que já fora comissário de bordo e até cantor, antes de iniciar carreira no jornalismo e começar a decolar profissionalmente em 2002, como apresentador/comentarista do programa Rock Bola, veiculado na Rádio Cidade fluminense, e em 2003, quando começou a comentar no SporTV.
Para a apresentação, com o fuso horário facilitando os trabalhos – afinal, as disputas na Grécia iam do fim da madrugada até o final da tarde, no horário de Brasília -, as iniciativas do SporTV seriam mais modestas. Bastaria apenas o SporTV News olímpico, em duas edições (às 13h e às 23h de Brasília), com uma apresentadora no Rio de Janeiro e outra em Atenas. Nos estúdios da Globosat estaria uma mulher que já começava a se bandear definitivamente para o esporte, embora ainda se vinculasse à Globo News em que apresentava programas como Via Brasil: a carioca Vanessa Riche, outra egressa da locução em rádios de música pop. Apresentando o bloco de notícias em Atenas, dos estúdios no centro de imprensa, estaria a gaúcha Bárbara Bassanesi, que começara como repórter do canal no Rio Grande do Sul e ganhava cada vez mais espaço naquela época.
Olimpíadas iniciadas (novamente, com Luiz Carlos Jr. e Armando Nogueira dividindo a cabine do Estádio Olímpico, em 13 de agosto de 2004), curiosamente, vários dos narradores secundários teriam momentos de destaque, nos quatro canais. Basta dizer que a primeira medalha brasileira em Atenas – o bronze de Leandro Guilheiro, no peso leve (73kg) do judô – teve a voz de Lucas Pereira, durante a madrugada de 16 de agosto de 2004. Entretanto, na hora dos principais eventos, Luiz Carlos Jr. marcava presença como a voz do SporTV. No atletismo, no basquete... e no vôlei, quando coube a ele narrar (e a Dulce Thompson, comentar) o marcante triunfo da Rússia sobre o Brasil (aqui, a íntegra), em 26 de agosto de 2004, com a célebre virada após o Brasil ter 24 a 19 no terceiro set, com 2 sets a 1, pronto para a primeira final olímpica de vôlei feminino, antes que a dupla Ekaterina Gamova-Liubov Sokolova capitaneasse as russas para a vaga na decisão que perderiam para a China.
(Trecho final de Rússia 3 sets a 2 no Brasil, na semifinal do torneio de vôlei feminino dos Jogos Olímpicos de 2004, na transmissão do SporTV, com a narração de Luiz Carlos Júnior e os comentários de Dulce Thompson)
Mas aquela cobertura olímpica do SporTV terminaria em alta no 29 de agosto do encerramento. Primeiro, com Luiz Carlos Júnior e Marco Freitas comandando a transmissão da decisão do ouro no vôlei masculino, com o Brasil conseguindo a esperada medalha dourada ao vencer a Itália com os 3 sets a 1. E depois, com Giovanni Martinello sendo o escolhido para narrar o que se viu na maratona masculina: a liderança promissora de Vanderlei Cordeiro de Lima, a invasão do padre Cornelius Horan que atrapalhou tudo, a continuação, a ultrapassagem do italiano Stefano Biraghi rumo ao ouro... e a chegada alegre de Vanderlei rumo ao bronze, no Estádio Panatenaico. Enquanto Giovanni bradava o nome do fundista paranaense para celebrar aquela última medalha brasileira em Atenas, Lauter Nogueira, vivido no atletismo, citava a tradicional comemoração de Vanderlei, fosse qual fosse a vitória: “Olha aí, o aviãozinho velho de guerra...”.
Fecho positivo, numa cobertura que ditaria os destinos do SporTV a partir de então. Em Pequim-2008, a vinculação com a Globo já estaria aprofundada – assim como os investimentos seguiriam fortes.
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