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Os Jogos Olímpicos na Televisão Brasileira: Atlanta 1996, Globo








(Vinheta de abertura e patrocinadores das transmissões da TV Globo para as disputas dos Jogos Olímpicos de 1996)




Narração: Galvão Bueno, Cléber Machado, Oliveira Andrade e Maurício Torres

Comentários: Falcão e Arnaldo Cezar Coelho (futebol masculino), Marcel (basquete masculino e basquete feminino), Isabel (vôlei feminino/vôlei de praia) e Bebeto de Freitas (vôlei masculino/vôlei de praia)

Reportagens: Marcos Uchôa, Ernesto Paglia, César Augusto, Mauro Naves, Denise Chahestian, Tino Marcos e Maurício Kubrusly

Apresentação: Fátima Bernardes, Fernando Vannucci, Sandra Annenberg, Mauricio Torres e Paulo Henrique Amorim



A cobertura da Globo para Barcelona-1992 fora animada e agradável para quem fez parte dela. No entanto, para o público, faltara o carisma inegável de Galvão Bueno, por melhor que fosse o trabalho de Luiz Alfredo e Cléber Machado na Vênus Platinada, quatro anos antes. Felizmente, para a emissora carioca, a ausência de Galvão durou pouco. Descontente com os problemas financeiros por que a Rede OM passava – de cheques sem fundo a atraso de salários -, a PGB, produtora do narrador, rescindiu o contrato com o canal paranaense, em fevereiro de 1993. Livre de novo, Galvão recebeu propostas de todas as emissoras da televisão aberta (“Foi o maior prêmio da minha vida”, lembrou com alegria ao jornalista Bob Faria, no livro Grito de Gol). Esteve perto de acertar parceria com a TV Manchete, na qual seria diretor de esportes e principal narrador. Mas aí, a Globo propôs o retorno. E Galvão reconheceu a Bob Faria: “O meu caminho, a partir do momento em que eles me queriam de volta, era a Globo”.



Dito e feito: em março de 1993, o narrador carioca acertou o retorno ao canal dos Marinho. Sua alegria foi descrita numa frase, em seu livro de memórias, em 2015: “Voltei para casa”. Fora a conhecida cobertura na Copa de 1994, no futebol – como esquecer o “é tetra”? -, o narrador carioca foi a voz global em torneios como o mundial de vôlei feminino de 1994. Quando chegou a hora da próxima cobertura olímpica, 1996, Bueno já reassumira o posto de principal locutor como se nunca houvesse saído da emissora. Se a Globo deixou de lado muitos dos torneios pré-olímpicos – só exibiu mesmo a qualificação do futebol masculino, em torneio na Argentina -, teria de volta um grande símbolo para os trabalhos no centro de imprensa em Atlanta.



Desde 1995 diretor de esportes da Globo, Luiz Fernando Lima reconheceu à Folha de S. Paulo de 7 de julho de 1996: como habitual, o foco da cobertura global estaria na participação brasileira e nos grandes eventos olímpicos nos Estados Unidos: “Queremos dar mais qualidade do que quantidade de informação. Vamos acompanhar o Brasil em todos os esportes coletivos e interromper a programação com flashes de provas. A evolução das transmissões vai depender do interesse do público”. Após três edições de Jogos Olímpicos como um dos principais repórteres da emissora (Los Angeles-1984, Seul-1988 e Barcelona-1992), em 1996 Luiz Fernando passava para trás das câmeras: seria um dos comandantes dos enviados para a cobertura, tendo como parceiro na liderança Luis Erlanger, diretor editorial da Globo. Na redação montada dentro do centro de imprensa, novamente o jornalista com status de chefe da equipe seria Luizinho Nascimento, que seguia à frente do Fantástico.



Na montagem para a cobertura, vivendo um momento em que começava a sobrepujar Bandeirantes e Manchete, rivais de audiência em eventos esportivos, a Globo se valeu das tradicionais pompa e circunstância (até demasiados, às vezes). Se só tivera um satélite 24 horas à disposição em Barcelona, em Atlanta-1996 a emissora teria dois satélites, também prontos para que ela pudesse enviar imagens de competições ou de qualquer coisa digna de nota durante os Jogos, a qualquer hora do dia ou da noite. Haveria ainda câmeras exclusivas da emissora, na transmissão dos jogos do futebol masculino. E uma iniciativa ousada da Globo chamou a atenção: a instalação de um equipamento exclusivo de videoconferência, dentro do alojamento brasileiro na Vila Olímpica, para poder entrevistar os atletas na chamada “janela olímpica”.


Assim se falou com algumas jogadoras de vôlei, como Hilma; assim se ouviram as jogadoras de basquete, no dia da vitória contra a Ucrânia que garantiu lugar na decisão do ouro; assim foi ouvido Fernando Scherer em 25 de julho, quando “Xuxa” ganhou o bronze nos 100m livres da natação masculina; assim Fernando Meligeni foi entrevistado no dia de sua derrota nas semifinais do torneio masculino de tênis, para o espanhol Sergi Bruguera. Concorrentes criticaram: na Folha de S. Paulo de 2 de agosto de 1996, um jornalista que trabalhava em outra emissora brasileira de televisão dizia que “com tanto poder, eles [Globo] acabam tendo privilégios” e que era “um absurdo” o Comitê Olímpico Brasileiro ter permitido, em sigilo, a instalação do equipamento global na Vila Olímpica. Na mesma reportagem, após explicar que a ideia surgira em março, após conversas com o comitê organizador dos Jogos e a AOB (Atlanta Olympic Broadcaster, a geradora de imagens dos Jogos), Luiz Fernando Lima desconversou: “Tudo tem um custo, resta saber se as emissoras acham que isso compensa”.

E se nos Jogos de 1992 o número de enviados globais à Espanha ficou em 60, ele dobrou em Atlanta: entre jornalistas e técnicos, seriam 120 pessoas trabalhando em nome da emissora para a cobertura das disputas olímpicas, entre 19 de julho e 4 de agosto de 1996. Mesmo que a cobertura se resumisse a quatro horas diárias de eventos mostrados – transmissões ao vivo, apenas de esportes coletivos: as provas individuais apareceriam em flashes no decorrer da programação normal, fora as reportagens para os telejornais. Por falar neles, o estúdio global em Atlanta também seria um pouco maior que o de Barcelona.



(Anúncio da TV Globo às vésperas dos Jogos Olímpicos de 1996, sobre a cobertura preparada para o evento)



Entre os narradores, claro, Galvão Bueno seria a grande voz global em Atlanta, onipresente em qualquer coisa que fosse decisiva, ou envolvesse brasileiros, ou as duas coisas juntas: Galvão faria a locução das partidas do Brasil no futebol, no vôlei e no basquete, fosse a seleção masculina ou feminina. Se ainda causara desconfiança na audiência em Barcelona-1992, em 1996 Cléber Machado já era um nome estabelecido e conhecido: Cléber também narraria muita coisa para a Globo naqueles Jogos, e seria o apresentador do bloco olímpico do Jornal da Globo, dos estúdios em Atlanta. Oliveira Andrade, por sua vez, apareceria mais na cidade-sede olímpica: mesmo mais afeito ao futebol, o locutor paulista (na TV Globo desde 1986, promovido da EPTV, a retransmissora global na região da cidade de Campinas) também foi um dos 120 enviados, e estaria em momentos importantes dos Jogos. Assim como o quarto locutor enviado da Globo a Atlanta: Mauricio Torres (1971-2014), que estreava na televisão aberta, após as passagens por Rádio Globo fluminense e SporTV – neste, aliás, já trabalhara em Barcelona-1992. E Maurício abriria o dia olímpico no canal, de certa forma: seria o apresentador do bloco de notícias no Bom Dia Brasil.



Nos comentários, misturavam-se colaboradores conhecidos da Globo a uma aposta. Se o torneio olímpico de futebol masculino teria uma cobertura quase à parte da Globo, nada mais lógico que levar a Atlanta o comentarista principal da emissora na modalidade (Paulo Roberto Falcão, que estreara nacionalmente nela em 1996, após o começo na RBS gaúcha, no ano anterior) e também o comentarista de arbitragem (Arnaldo Cezar Coelho, na TV Globo desde 1989). Após os trabalhos fechados com a emoção pelo ouro em Barcelona-1992, Bebeto de Freitas tornava a colaborar num trabalho olímpico global: de novo, o carioca comentaria as disputas do vôlei masculino. Ícone da geração de jogadoras brasileiras dos anos 1980, Isabel já comentara pela Globo as partidas do Mundial de Vôlei Feminino, em 1994 – e estaria em Atlanta, para opinar sobre as disputas no vôlei das mulheres. Mais do que isso: tanto Bebeto (no masculino) quanto Isabel (no feminino) seriam reaproveitados pela emissora nos comentários para o torneio de vôlei de praia, novidade no programa olímpico em Atlanta. Finalmente, a aposta de comentarista do canal iria para os torneios masculino e feminino de basquete: dois anos após encerrar a carreira nas quadras, Marcel traria sua experiência de quatro participações em Jogos Olímpicos para a cabine da Globo, estreando em participações televisivas.



(Trecho inicial do Jornal da Globo de 19 de julho de 1996, logo após a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de 1996, num bloco apresentado por Cléber Machado, com participações dos comentaristas Falcão, Marcel, Isabel e Bebeto de Freitas)



Para as reportagens olímpicas, a Globo também usaria do mesmo expediente: alternância entre nomes com experiência prévia na cobertura de grandes eventos e nomes que viviam sua primeira experiência em algo do tipo. No primeiro caso, estavam Ernesto Paglia e Marcos Uchôa; no segundo, dois repórteres então conhecidos da cobertura de esportes da Globo em São Paulo, César Augusto e Denise Chahestian, ambos trabalhando pela primeira vez em Jogos Olímpicos. E de novo, a emissora sediada no Jardim Botânico carioca daria um tratamento especial à cobertura da Seleção Brasileira no futebol masculino em Atlanta: já mais do que acostumados aos trabalhos no ludopédio, Tino Marcos e Mauro Naves se dedicariam somente à cobertura do que fizesse o time treinado por Zagallo - e integrado por Dida, Aldair, Amaral, Rivaldo, Ronaldo, Bebeto etc. Finalmente, acompanhando o ambiente em Atlanta (e também algumas modalidades, como o futebol feminino), um jornalista que já fazia matérias de variedades havia muito tempo na Globo: Maurício Kubrusly, na emissora desde 1985.



Como habitual, os noticiários globais ainda teriam um bloco dedicado às notícias olímpicas em Atlanta. E como já citado, Maurício Torres seria o titular do bloco olímpico no Bom Dia Brasil, enquanto Cléber Machado fecharia os trabalhos diários da Globo em Atlanta, apresentando as notícias para o Jornal da Globo que Ana Paula Padrão apresentava de São Paulo. Mas o foco iria para as reportagens e para as apresentações no Jornal Hoje, no Jornal Nacional e no Fantástico (neste, o Casseta & Planeta, Urgente! zombaria, com o “Plantão Olímpico”). No “bloco olímpico” que esses três noticiosos teriam, duas duplas de apresentadores se alternariam na apresentação, dentro dos estúdios na cidade-sede. Uma das duplas era formada por Fernando Vannucci (1951-2020), outro símbolo da Globo nos esportes (até 1999, ano da conturbada saída), e Sandra Annenberg (esta, em sua primeira grande cobertura pela emissora). Outra teria Paulo Henrique Amorim (1941-2019), então correspondente em Nova Iorque, na primeira cobertura olímpica de uma carreira já então longa, e Fátima Bernardes, novamente dentro de um grande evento esportivo. De quebra, a Globo ainda traria um boletim isolado, exibido no fim de noite (por volta de 0h30), arrematando os trabalhos do dia: era o Boletim das Olimpíadas, apresentado pela dupla Fernando Vannucci-Sandra Annenberg. E o Boletim teria momentos de destaque naquela cobertura – logo eles serão citados.



Fátima Bernardes também repetiria uma dose de Barcelona-1992: a apresentadora carioca faria parte do trio que ancoraria a transmissão da cerimônia de abertura, em 19 de julho de 1996, no Centennial Olympic Stadium de Atlanta, junto de Marcos Uchoa e, claro, de Galvão Bueno. Caberia a Galvão saudar, com a efusão típica dele, a pira olímpica sendo acesa por Muhammad Ali/Cassius Clay – como se fosse um “pedido de desculpas dos Estados Unidos àquela figura e ao que ele representou”, nas palavras de Marco Mora (1946-2018), diretor executivo de esportes da Globo, que acompanhou do Brasil o trabalho feito em Atlanta.



(Entrada da delegação do Brasil no Centennial Olympic Stadium, na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de 1996, na transmissão da TV Globo, com a apresentação de Galvão Bueno, Fátima Bernardes e Marcos Uchoa. Postado no YouTube por HelNascimento)



No primeiro dia de competições em Atlanta, até que os outros narradores da Globo apareceram bastante: Oliveira Andrade narrou a prata de Gustavo Borges nos 100m da natação masculina, exibida num flash dentro da programação em 20 de julho de 1996, enquanto Cléber Machado e Isabel foram a dupla de transmissão para os 3 sets a 0 brasileiros no Peru, na estreia no torneio olímpico do vôlei feminino, na noite daquele mesmo dia. Cléber voltaria no dia seguinte: seria ele o narrador ao lado de Bebeto de Freitas, na transmissão global para a derrota brasileira na estreia pelo torneio de vôlei masculino (3 sets a 1 para a Argentina). Mas aí, naquele 21 de julho, Galvão Bueno já começaria a tomar conta. E num ponto baixo da participação brasileira: a derrota por 1 a 0 para o Japão, na cidade de Athens, pela estreia no torneio olímpico de futebol masculino. Ao lado de Falcão e Arnaldo Cezar Coelho, seus habituais colegas nas transmissões futebolísticas do canal, Galvão lamentaria aquele inesperado revés.



Se os reveses fossem apenas esportivos, ainda seriam suportáveis. Mas já naqueles primeiros dias olímpicos, as dificuldades irritaram os enviados globais. Novamente diretor de operações numa cobertura de Jogos Olímpicos, Fernando Guimarães comentou ao Memória Globo, em 2007: “A gente achava que seria um espetáculo de Olimpíada, e foi um horror, foi a Olimpíada em que tivemos mais problemas”. Também se recordando ao projeto institucional da emissora, em 2001, Marcos Uchôa aprofundou: “Foi um horror, foi péssima. A organização foi muito ruim, um calor do cão, uma certa arrogância na maneira como tratavam as pessoas, não foi uma Olimpíada boa de se fazer nesse sentido”. E Galvão Bueno finalizou, curto e grosso, também ao Memória Globo, em 2007: “Foi uma forçação de barra. Nunca devia ter sido lá”.



E nenhum revés foi mais duro de cobrir do que a explosão no Centennial Park, em 26 de julho de 1996, durante uma festa, com apresentação da banda Jack Mack and the Heart Attack. Em recordações ao Memória Globo, gravadas em 2001, Cléber Machado citou como ficou sabendo do atentado que matou duas pessoas: logo após apresentar o bloco de notícias olímpicas no Jornal da Globo. “Quando a gente estava indo embora do IBC [International Broadcasting Center, o centro de imprensa], vinham correndo dois caras da engenharia da Globo. Os dois voltaram correndo”. Cléber brincou: “Fazendo cooper, a essa hora, 1h da manhã?”. Ouviu: “Estourou uma bomba”. Só restou a Cléber fazer o que fez: “Eu estava maquiado, [pensando] ‘nós vamos para casa [hotel], então nem vou tirar a maquiagem, tiro lá’. Aí nós começamos a entrar [no ar]. Eles reabriram [o escritório da Globo no IBC], começaram a falar com o Rio, não tinha diretor de tevê... eu acho que o César Augusto [repórter] estava cortando [editando as imagens], porque... estava fechado o escritório [na hora da explosão], acabou o dia, o Jornal da Globo era a última coisa do dia”. Cinegrafista naquela cobertura global, Paulo Zero (atualmente, diretor de controle de qualidade na TV Globo) também perdeu a noite de sono após a explosão, lembrando ao Memória Globo em 2009: “A gente trabalhava cedinho, então, ia para a cama o mais cedo possível. Aí, meia-noite – não me lembro direito que hora foi -, o Paulo Henrique [Amorim] me acordou, dizendo que tinha explodido uma bomba. Não conseguimos dormir mais”.



Por falar em Paulo Henrique Amorim, o clima frenético da cobertura da explosão rendeu ao falecido jornalista carioca uma rusga com Galvão Bueno. Em seu livro Manual Inútil da Televisão, Paulo Henrique se recordava: Evandro Carlos de Andrade, diretor de jornalismo da Globo, só escolheu Amorim como um dos âncoras dos noticiários globais em Atlanta porque a alternativa de fazer isso com Galvão desagradava o diretor – que para isso, passava por cima da desavença mútua que tinha com PHA. Pois bem, aí, é melhor ver Paulo Henrique se divertindo com o que aconteceu na cobertura do atentado, em palavras ao Programa do Porchat, na TV Record, em 2016: “Eu estava apresentando o noticiário da cobertura da Globo e de repente entra o Galvão pelo estúdio querendo tomar o meu lugar. Fiquei sentado na cadeira... e fiquei sentado. Não saí da cadeira. Ele [Galvão] queria narrar o atentado. [Imitando Galvão] ‘Lá vai o assassino, entrou pela direita’”. Foi um dos momentos finais de Paulo Henrique Amorim na emissora: já desgastado com a Globo, o jornalista rumaria para a TV Bandeirantes em novembro daquele 1996. De todo modo, enquanto ele apresentou os desdobramentos do atentado no Centennial Park, César Augusto fazia as primeiras reportagens, e Ernesto Paglia foi o repórter em matéria sobre o fato, no Fantástico de 28 de julho de 1996.



Mas nem só de coisas desagradáveis foram feitos os trabalhos do canal da família Marinho em Atlanta. Na única edição dos Jogos Olímpicos que fez in loco pela Globo, Oliveira Andrade já narrara as medalhas brasileiras na natação (Gustavo Borges, prata nos 200m do nado livre e bronze nos 100m livres; Fernando Scherer, nos 50m livres). E o locutor paulista de Campinas daria voz às principais disputas do atletismo. Em flashes no decorrer da programação, coube a Oliveira narrar o ouro (e o recorde mundial) do canadense Donovan Bailey nos 100m, em 27 de julho de 1996, interrompendo um capítulo de O Rei do Gado, a badalada novela global das 20h/21h na época. E também foi dele a voz da Globo para os dois ouros de Michael Johnson, nos 200m (1º de agosto) e nos 400m (29 de julho), e para o bronze do quarteto brasileiro (Édson Luciano, Róbson Caetano, André Domingos e Arnaldo da Silva) nos 4x100m.



Nos jogos de basquete, a Globo também despontou positivamente. Primeiro, com a cobertura dos jogos da seleção masculina: com a narração de Galvão Bueno (em regra) e os comentários de Marcel, a emissora carioca mostrou todas as partidas brasileiras, fossem no Ginásio da Universidade de Morehouse ou no Georgia Dome. E mais marcante do que a trajetória do time treinado por Ary Vidal – comentarista global para o basquete, em Barcelona-1992 – foi a trajetória de Oscar Schmidt em Atlanta, vivendo seus últimos jogos pela seleção, após a trajetória longa e marcante de 19 anos. Com a queda brasileira nas quartas de final (98 a 75 para os Estados Unidos), a Globo deixou de exibir as partidas ao vivo. Mas seguiu acompanhando a seleção – e mais precisamente, acompanhando Oscar.



Teve a cobertura coroada no Jornal Nacional de 2 de agosto, com um dos momentos mais lembrados de sua cobertura em Atlanta: numa reportagem, Ernesto Paglia deixou a derrota brasileira na decisão do quinto lugar (91 a 72 para a Grécia) em segundo plano. O foco da reportagem de Paglia era absoluto: a partida de despedida de Oscar. Ela foi refletida na reverência dos colegas de elenco a ele, logo que o jogo acabou. Nas palavras de Ary Vidal, sobre a impossibilidade de um sucessor para o natalense: “Não tem sucessor. Não tem sucessor para Michelangelo, para Chopin... ninguém”. E principalmente, no emocionado depoimento do “Mão Santa” a Paglia, ao vivo, com as luzes do Georgia Dome apagadas, encerrando a matéria do Jornal Nacional. Câmeras desligadas, protagonista em lágrimas, vieram as saudações finais: “Boa, Oscar! Valeu, Oscar!”. E os próprios colegas do repórter paulista foram unânimes: aquele depoimento foi “maior do que o próprio jornal”, para Marco Mora, enquanto Cléber Machado qualificou o trabalho de Ernesto como “espetacular”. Só resta a descrição do próprio repórter da Globo: “O Oscar já não precisa de muito para chorar; imagine numa situação como essa (...) Foi muito forte, foi um negócio que eu nunca mais esqueci”. E ver o vídeo abaixo.



(Depoimento de Oscar Schmidt ao repórter Ernesto Paglia, se despedindo da Seleção Brasileira, no Jornal Nacional de 2 de agosto de 1996, após a derrota por 91 a 72 para a Grécia, na decisão do 5º lugar do torneio de basquete masculino, nos Jogos Olímpicos de Atlanta)



Já no basquete das mulheres, a cobertura da Globo teve mais momentos alegres. À medida que a seleção avançava, trocava-se o narrador: Cléber Machado cedia o espaço a Galvão Bueno. Marcel seguia comentando. E a seleção treinada por Miguel Ângelo da Luz – tendo Alessandra, Cintia Tuiú, as irmãs Leila e Marta Sobral, Janeth, e como destaques absolutos e óbvios, Paula e Hortência – também teve seu espaço crescendo na cobertura olímpica do canal dos Marinho. Com repórteres se alternando nas quadras – ora Ernesto Paglia, ora Denise Chahestian -, cada partida era coberta: os jogos da primeira fase, o 101 a 69 sobre Cuba nas quartas de final, o 81 a 69 na Ucrânia que levou à decisão do ouro e garantiu pelo menos uma medalha.



Os bastidores daquela equipe feminina também eram cobertos pela Globo, das fotos nas saídas por Atlanta à atenção que Hortência, de carreira virtualmente encerrada, dava ao filho recém-nascido, João Victor. Veio a transmissão da decisão, contra os Estados Unidos, às 19h30 de Brasília, no 4 de agosto de 1996 que encerrava aqueles Jogos Olímpicos. Galvão Bueno narrou e Marcel comentou a vitória (111 a 87) que deu o ouro aos Estados Unidos. Mas a prata das jogadoras brasileiras foi muito incensada na Globo: a entrega das medalhas foi transmitida no decorrer do Fantástico, Hortência confirmou à repórter Denise Chahestian que encerrava ali sua carreira dentro das quadras, e todo o grupo – mais o técnico Miguel Ângelo da Luz – estaria no estúdio dentro do centro de imprensa, aparecendo durante a transmissão da cerimônia de encerramento ancorada pelo trio Fátima Bernardes-Marcos Uchoa-Galvão Bueno.



(Entrevista de Fernando Vannucci com as jogadoras da seleção brasileira de basquete feminino, medalha de prata nos Jogos Olímpicos de 1996, durante a transmissão da TV Globo para a cerimônia de encerramento do evento, em 4 de agosto de 1996. Postado no YouTube por HelNascimento)



No vôlei (de praia e de quadra), o espaço dado pela cobertura global às campanhas das mulheres também sobrepujou os espaços dados às equipes masculinas. O torneio dos homens no vôlei de praia passou quase em branco na Globo, que só exibia flashes das disputas na praia – de quebra, tanto Zé Marco/Emanuel quanto Franco/Roberto Lopes pararam na quarta fase, com as respectivas eliminações mostradas pela Globo na íntegra. Já no vôlei de praia feminino, as duplas brasileiras despontavam, mesmo sem transmissões globais (só reportagens repercutiam o torneio, nos telejornais). As semifinais de 26 de julho já antecipavam o ouro e a prata brasileiros, com Jackeline Silva/Sandra Pires e Mônica Rodrigues/Adriana Samuel como as duplas classificadas para a decisão. No dia seguinte, 27 de julho, às 16h15 de Brasília, enfim a Globo capitulou: Galvão Bueno foi a voz do ouro de Jackie/Sandra – logo, da prata de Mônica/Adriana – em Atlanta Beach, transmitido ao vivo pelo canal do Jardim Botânico carioca e reportado por Ernesto Paglia para o Jornal Nacional daquele sábado.



No vôlei masculino de quadra, Cléber Machado e Bebeto de Freitas trabalharam durante as transmissões da turbulenta campanha da equipe de José Roberto Guimarães, das derrotas para Argentina e Bulgária, passando pelo alívio da vitória sobre Cuba, que garantiu o avanço às quartas de final, à eliminação nas mesmas quartas, para a Iugoslávia. A campanha das mulheres treinadas por Bernardinho, que somava a experiência de Márcia Fu, Hilma, Ida e Ana Moser às chegadas promissoras desde o Mundial de 1994 (Fernanda Venturini, Virna, Ana Paula e, posteriormente, Leila), também tinha suas partidas transmitidas. Comprovando o espaço que ganhava dentro da Globo, Cléber Machado também narrou boa parte da campanha das mulheres: o locutor paulistano formou dupla com Isabel na equipe de cabine da Globo para a maioria das partidas no Omni Coliseum, dos 3 sets a 0 sobre o Canadá (26 de julho) e dos 3 sets a 1 sobre a Alemanha (28 de julho), ainda na fase de grupos, aos 3 sets a 0 na Coreia do Sul, já nas quartas de final, em 30 de julho de 1996.



Porém, momentos decisivos do Brasil em Atlanta pediam Galvão Bueno. Dito e feito: mais dois dias, e no 1º de agosto, quinta-feira, às 23h de Brasília, Galvão veio para o vôlei de quadra e comandou junto de Isabel a transmissão da Globo para o histórico 3 sets a 2 de Cuba nas brasileiras, nas semifinaise para a briga séria após a vitória cubana, que comprovou a intensidade daquela rivalidade. Briga que teve seus desdobramentos expostos na reportagem de Marcos Uchôa, apresentada no Globo Esporte da sexta, 2 de agosto de 1996. Pelo menos, o final teve alguma emoção alegre: em 3 de agosto de 1996, Galvão e Isabel estiveram de novo no Omni Coliseum, para o emocionante 3 sets a 2 na Rússia, que deu a primeira medalha olímpica ao vôlei feminino brasileiro. Previsivelmente, as doze jogadoras – e Bernardinho – apareceram nos estúdios da Globo no centro de imprensa, com as medalhas, para o Boletim das Olimpíadas daquele sábado.



(Ponto decisivo de Brasil 3 sets a 2 na Rússia, decisão da medalha de bronze do torneio de vôlei feminino, nos Jogos Olímpicos de 1996, na transmissão da TV Globo, com a narração de Galvão Bueno e os comentários de Isabel. Postado no YouTube por HelNascimento)



Mas se a Globo privilegiava a transmissão ao vivo dos momentos decisivos em que os brasileiros estivessem nos Jogos, a competição principal era óbvia: a disputa do torneio masculino de futebol. Não que a campanha das mulheres, concluída com o quarto lugar, ficasse sem cobertura: mas elas ficavam restritas às reportagens nos telejornais e no Boletim das Olimpíadas – coube a Sandra Annenberg a reportagem sobre a eliminação para a China, nas semifinais, exibida no Fantástico de 28 de julho. Mas só o fato de ter equipe completa nos jogos dos homens (Galvão Bueno, Falcão, Arnaldo Cezar Coelho, mais os repórteres Tino Marcos e Mauro Naves) deixava claro o quanto a Globo apostava naquela medalha de ouro nos campos. Após o supracitado tropeço vexaminoso com a derrota para o Japão na estreia, a Globo exibiu as outras partidas da Seleção: na fase de grupos, o 3 a 1 na Hungria e o 1 a 0 na Nigéria, e nas quartas de final, o 4 a 2 em Gana.



Vieram as semifinais, no Sanford Stadium de Athens, cidade vizinha a Atlanta, contra a Nigéria, em 31 de julho de 1996, às 19h de Brasília. E nenhuma outra narração é tão lembrada para ressaltar o tamanho da decepção com o Brasil – e o tamanho do feito da Nigéria, reagindo de 3 a 1 atrás para 3 a 3 no tempo normal e marcando o “gol de ouro” da vaga na final – quanto o “Kanu, é perigoso, entrou, bateu, acabou... terminou... termina o jogo, termina a prorrogação, termina o sonho do ouro no futebol para o Brasil” com que Galvão Bueno narrou o quarto gol nigeriano. No Jornal Nacional imediatamente posterior à partida visto abaixo, Galvão enfatizou: “Nunca foi tão fácil chegar a uma final olímpica”. Em 2 de julho, a Globo ainda exibiu ao vivo a goleada em Portugal (5 a 0) que rendeu o bronze ao Brasil – e também a decisão do futebol masculino, em 3 de agosto, com a Nigéria ganhando o ouro sobre a Argentina. Poucos se importaram.


(Melhores momentos de Nigéria 4x3 Brasil, semifinal do torneio de futebol masculino nos Jogos Olímpicos de 1996, exibidos no Jornal Nacional de 31 de julho, na transmissão da TV Globo, com a narração de Galvão Bueno. Postado no YouTube por Flávio Baccarat)



Todavia, seguindo em sua tática de só exibir o melhor das disputas olímpicas, foi a partir de Atlanta-1996 que a Globo começou a impor seu poderio financeiro e técnico sobre as concorrentes, nas coberturas de grandes eventos esportivos. De um jeito ou de outro.

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