(Vinheta de abertura para as transmissões do SporTV nos Jogos Olímpicos de 2008. Postado no YouTube por Gabriel Canabarro)
Narração: Luiz Carlos Júnior, Milton Leite, Lucas Pereira, Eduardo Moreno, Eusébio Resende e Sérgio Maurício
Comentários: Maurício Noriega e Lédio Carmona (futebol masculino/futebol feminino), Marco Freitas (vôlei masculino/vôlei feminino), Byra Bello (basquete masculino/basquete feminino) Alexandre Pussieldi (natação), Lauter Nogueira (atletismo), Mosiah Rodrigues (ginástica artística), Sandra Pires (vôlei de praia masculino/vôlei de praia feminino)
Reportagens: Victorino Chermont, Guilherme Roseguini, Bruno Laurence, Marcelo Barreto, Lúcio de Castro, Marcos Uchôa e Tiago Leifert
Apresentação: Marcelo Barreto, Vanessa Riche, Janaína Xavier
Participação: Lúcio de Castro, Róbson Caetano
Em 2008, a situação do SporTV seguia estável: a emissora esportiva do Grupo Globo seguia como líder de audiência nos canais da televisão fechada brasileira – e não somente entre os canais esportivos. Como sempre, dava espaço aos eventos olímpicos: além do pioneirismo de exibir pela primeira vez os Jogos Paralímpicos, a partir de Atenas-2004, o canal da Globosat também continuava abrindo espaço então único para os Jogos Olímpicos de Inverno: fora o exibidor exclusivo de Turim-2006, em tevê a cabo ou aberta. Quase obviamente, ainda fizera a cobertura dos Jogos Pan-Americanos de 2007, no Rio de Janeiro.
Sem contar as transmissões habituais de vários torneios, em várias modalidades olímpicas: o domínio quase monopolista dos principais campeonatos nacionais de futebol (e, na época, alguns campeonatos estrangeiros, como o Francês e o Italiano); as Superligas de Vôlei, masculina e feminina; o NBB (Novo Basquete Brasil); no tênis, Aberto da Austrália, Wimbledon e US Open, só para ficar nos torneios do Grand Slam... de fato, por melhor que fosse a fase dos canais ESPN, e por mais que o interesse do Bandsports por abarcar várias modalidades também fosse genuíno, as condições do SporTV tornavam seu domínio amplo na audiência.
Por ser tudo igual, é que a emissora da Globosat aproveitava para ser diferente a cada edição de Jogos Olímpicos. Na cobertura de Sydney-2000, três canais estavam à disposição; para Atenas-2004, eram quatro, sendo que o SporTV 2 já entrara de vez para a grade de programação; finalmente, em Pequim, o SporTV ostentaria nada menos do que cinco canais para dar conta das disputas olímpicas na China, de 6 de agosto (começo do torneio de futebol feminino) a 24 de agosto de 2008.
Claro, o SporTV principal transmitiria as principais disputas, as cerimônias de abertura e encerramento, os programas que sustentavam aquela cobertura olímpica em Pequim. Mas os canais 2, 3 e 4 seriam dedicados somente às competições – mostrariam provas das mais diversas modalidades do programa olímpico pela madrugada, das 20h às 12h de Brasília, e passariam a tarde à base de reprises, até que o dia começasse em Pequim. Para os capazes de ter “multifoco”, seria disponibilizado ainda um mosaico, como se vira na Copa de 2006, a grande cobertura anterior: o SporTV+ exibiria aos assinantes o que estava passando em cada um dos quatro canais.
O novo avanço tecnológico, ampliando a sensação de “overdose” que o SporTV sempre quisera oferecer nos Jogos Olímpicos desde Atlanta, era o principal orgulho de Pedro Garcia, então diretor de negócios do canal, falando a Priscila Bertozzi para a “Máquina do Esporte”, em 8 de agosto de 2008: “Procuramos sempre inovar e surpreender o nosso público na cobertura dos grandes eventos. Para Pequim estamos batendo o nosso próprio recorde, que foi em Atenas. Este foi o modelo que encontramos para cobrir um evento plural como os Jogos Olímpicos, na sua totalidade e para oferecer aos assinantes realmente a maior e melhor cobertura possível”.
Se na tecnologia o SporTV dava mais um passo adiante na preparação para Pequim, havia outra grande novidade entre os 120 enviados à cidade-sede para os trabalhos no centro de imprensa (só de equipes de reportagem, seriam 16!). Se Luiz Carlos Júnior fora a voz absoluta do SporTV nas coberturas de Sydney-2000 e Atenas-2004 - e até em Atlanta-1996, de certa forma -, a partir dos Jogos Olímpicos de 2008 o narrador carioca dividiria o protagonismo nos principais eventos com um outro locutor tão conhecido quanto ele: Milton Leite. O paulista de Jundiaí fora a principal voz dos canais ESPN, mas preferiu mudar de ares em 2005, estreando no canal em abril daquele ano - com Paulo Cesar Vasconcellos, outro egresso da ESPN, sendo mais um reforço do SporTV na época.
Em 2008, na montagem da cobertura para Pequim, Milton já consolidara as intenções do canal ao contratá-lo: era um “segundo ‘primeiro locutor’” da casa. Obviamente, dividiria a narração dos principais eventos olímpicos com Luiz. Finalmente, nos estúdios do Rio de Janeiro (dos quais agiriam 500 pessoas naqueles trabalhos olímpicos), também seriam narradores do SporTV naquelas Olimpíadas o gaúcho Eduardo Moreno - era a segunda cobertura olímpica de Moreno, na retaguarda -, os cariocas Sérgio Maurício e Eusébio Resende, além de Lucas Pereira, em seu último grande evento no canal antes de tomar o caminho da Record, no ano seguinte.
Já entre os comentaristas para os Jogos, o canal esportivo da Globosat teria algumas novidades valiosas. É certo que muitos opinadores já eram velhos conhecidos: Byra Bello já ia para as quartas Olimpíadas seguidas comentando o basquete (masculino e feminino) no SporTV, Lauter Nogueira comentaria o atletismo no Ninho do Pássaro como já fizera em Sydney-2000 e em Atenas-2004 (e Róbson Caetano voltava também ao SporTV, como em Sydney), Marco Freitas vinha para a segunda edição de Jogos em que comentava o vôlei – agora, o das mulheres também.
Mas novos nomes apareciam. Embora já estivesse no SporTV há pelo menos um ano, o carioca Lédio Carmona (de longa trajetória na imprensa escrita: Placar, Jornal do Brasil, Lance!...) participaria de uma grande cobertura pela primeira vez, comentando os torneios de futebol quando Luiz Carlos Júnior narrasse os jogos. Ao lado de Milton Leite, outro nome que já estava no SporTV – desde 2005 -, mas que só em Pequim-2008 passaria a comentar o futebol em grandes eventos: o paulistano Maurício Noriega, também experiente na imprensa escrita.
Novidades mesmo viriam para o vôlei de praia e a ginástica artística. Naquele, Sandra Pires chegava com sua experiência olímpica (um ouro em Atlanta, um bronze em Sydney) para comentar o que homens e mulheres jogariam na praia de Chaoyang Park. Nesta, sem ter conseguido vaga para disputar os Jogos, o gaúcho Mosiah Rodrigues foi prontamente incluído na equipe do SporTV em Pequim, para comentar o que os ginastas fariam. Finalmente, na natação, o gaúcho Alexandre Pussieldi já tinha experiência gigantesca como treinador, dentro e fora do Brasil – e o “Coach Pussieldi” passaria a usá-la no SporTV, se convertendo num elogiado comentarista da modalidade, verdadeiro símbolo dela no canal, a partir daquela ocasião em que acompanharia as provas no Cubo D’Água.
Nas reportagens, como começava a acontecer, o SporTV se equilibrava entre seus nomes e os nomes da “emissora-mãe” Globo. No primeiro caso, estavam Victorino Chermont (1973-2016), Guilherme Roseguini (egresso do Lance!) e Lúcio de Castro, já então especializado nas chamadas “matérias especiais”. No segundo, percorreriam a China acompanhando as disputas nomes como Tadeu Schmidt, Marcos Uchôa, Bruno Laurence – e como um paulistano, 28 anos na época, iniciado na televisão como apresentador de um programa para jovens, na TV Vanguarda (retransmissora da Globo na região paulista do Vale do Paraíba): Tiago Leifert, que faria várias matérias sobre o ambiente em Pequim, seria elogiado, começaria a apresentar o Globo Esporte paulista em 2009 e se transformaria numa das caras mais conhecidas da televisão brasileira. Tudo a partir daquelas reportagens pelo SporTV nos Jogos Olímpicos de 2008.
Outro nome que simbolizaria aquela cobertura em Pequim seria Marcelo Barreto. O mineiro de Bicas até faria algumas reportagens, mas estaria mais focado na apresentação do Momento Olímpico, noticiário em duas edições, apresentado do centro de imprensa, que abriria (na edição das 20h30 de Brasília) e fecharia (na edição das 12h30) o dia olímpico, no SporTV principal. Nos estúdios cariocas, estariam Janaína Xavier e Vanessa Riche – ambas se dividindo no Tá na Área, às 17h30, e no SporTV News, às 19h, os dois noticiários tradicionais com várias reportagens e notícias sobre as competições olímpicas. Mas Barreto teria papel mais preponderante. A ponto de dividir a cabine no Ninho do Pássaro com Luiz Carlos Júnior, na cerimônia de abertura em 8 de agosto de 2008, durante a madrugada brasileira.
Como se esperava, Luiz Carlos e Milton Leite dividiram o protagonismo nos momentos de destaque daquelas Olimpíadas dentro do SporTV. Num deles, inclusive, Milton deu sorte. Falando a Bob Faria, no livro Grito de gol: as vozes da emoção na TV (Belo Horizonte, Leitura, 2011), o locutor paulista se recordou: “Eu nem estava escalado para fazer natação naquela Olimpíada, mas aí, um dia, eu falei para o Emanuel Castro, que era o diretor do SporTV na época: ‘Poxa, Emanuel, deixe eu fazer uns dias lá de natação, eu gosto tanto de transmitir natação’”. Emanuel assentiu, e Milton foi escalado para narrar as provas no Cubo D’Água, em dois dias. Um deles, 16 de agosto de 2008, quando Cesar Cielo foi disputar a final dos 50m livres na piscina. E Milton, tendo ao lado os comentários precisos de Alexandre Pussieldi, deu voz ao histórico ouro de Cielo. Mais um dia, e mais uma vez Milton Leite narrou um momento marcante no Cubo D’Água: na madrugada de 17 de agosto, foi dele a voz do SporTV para a dramática vitória dos Estados Unidos no revezamento 4x100m medley – o oitavo ouro de Michael Phelps em Pequim, fazendo-o superar os sete ouros de Mark Spitz em Munique-1972, sua meta absoluta.
(A final dos 50m livres, na natação masculina, com ouro do brasileiro Cesar Cielo, nos Jogos Olímpicos de 2008, na transmissão do SporTV, com a narração de Milton Leite e os comentários de Alexandre Pussieldi. Exibida no SporTV News, em 2016, numa série retrospectiva antes dos Jogos Olímpicos daquele ano)
Nos torneios de futebol, o SporTV teve iniciado naquelas Olimpíadas um método que viceja até hoje: nas campanhas da Seleção Brasileira, Luiz Carlos Júnior narrava uma partida, Milton Leite narrava a seguinte, e assim sucessivamente. Pois o paulistano acabou dando voz a mais destaques das campanhas brasileiras, com Maurício Noriega, já se convertendo em seu parceiro tradicional de cabine ou de estúdio em transmissões. Nas mulheres, coube a Milton narrar (e a Maurício, comentar) a goleada por 4 a 1 na Alemanha, nas semifinais, que levou a equipe a mais uma decisão de ouro – enquanto Luiz Carlos e Lédio foram os dois na transmissão de nova derrota para os Estados Unidos, e nova prata para a seleção feminina. Já nos homens, a decepção foi transmitida pela dupla de São Paulo: Milton fez a locução e Maurício comentou o 3 a 0 da Argentina na seleção masculina brasileira, nas semifinais, catapultando a Albiceleste (de Messi, Riquelme, Di María...) para o bicampeonato olímpico que seria ganho contra a Nigéria, com Lucas Pereira narrando no SporTV, em 23 de agosto de 2008.
(Melhores momentos de Argentina 3x0 Brasil, semifinal do torneio de futebol masculino, nos Jogos Olímpicos de 2008, na transmissão do SporTV, com a narração de Milton Leite. Apresentados no “SporTV News” de 19 de agosto de 2008, com a apresentação de Janaína Xavier)
Mas Luiz Carlos também colocou sua voz em grandes momentos vistos em Pequim. Sua narração para o primeiro ouro olímpico de Usain Bolt nos 100m do atletismo masculino descreveu bem o tamanho do impacto que o jamaicano causava nas pistas: em 16 de agosto de 2008, quando Bolt já abria vantagem na pista do Ninho do Pássaro, Luiz perguntava, tendo Lauter Nogueira ao lado na cabine: “Será que temos recorde? Teremos recorde?”. O jamaicano deu a resposta: ganhou o ouro com 9s69, o novo recorde mundial dos 100m. E o locutor do SporTV exultou: “Temos recorde! Temos Bolt, e Bolt é garantia de recorde!”.
E se Milton Leite ficou mais ligado às peripécias brasileiras no futebol em Pequim, coube a Luiz Carlos Jr. ser a voz do SporTV para os feitos do vôlei verde-e-amarelo. Tendo Marco Freitas ao lado na cabine (fosse no Ginásio da Capital, fosse no ginásio do Instituto de Tecnologia de Pequim), o locutor carioca ia para seus terceiros Jogos Olímpicos seguidos sendo a voz preferencial nas quadras. E acompanhou a campanha dos homens, que terminou com a prata na final após a derrota para os Estados Unidos. Mais importante: se dele fora a voz para a decepção final da campanha das mulheres em Atenas, quatro anos antes, Luiz também narrou a evolução consistente da seleção que terminou com o primeiro ouro do vôlei feminino brasileiro, ganho com os 3 sets a 1 nos Estados Unidos, em 23 de agosto de 2008.
(Pontos finais de Brasil 3 sets a 0 na China, semifinal do torneio de vôlei feminino, nos Jogos Olímpicos de 2008, na transmissão do SporTV, com a narração de Luiz Carlos Júnior e os comentários de Marco Freitas)
E ao contrário da “matriarca” TV Globo, o SporTV poderia voltar a Londres, em 2012, para mais uma cobertura olímpica. Todavia, o impacto da perda dos direitos de transmissão pela emissora aberta do Grupo Globo (então, ainda Organizações Globo) respingaria um pouco no canal esportivo da Globosat.
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