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O novo formato de competição do Skate Street é justo? Esta foi a primeira pergunta que me veio à mente, enquanto assistia o Pro Tour de Roma. A primeira de muitas etapas classificatórias que teremos até as Olimpíadas de Paris 2024; o primeiro evento a contar pontos para o ranking olímpico, e, talvez, o único antes dos mundiais de Street e Park, a serem realizados no Rio de Janeiro, no fim do ano.
Normalmente, as etapas de skate costumam ser bastante disputadas, com um alto nível de performance e manobras apresentadas pelos skatistas do mundo inteiro, e esta não foi muito diferente. Mas, ainda assim, algo me incomodava.
Acompanho o skate há bastante tempo, antes mesmo da ideia deste esporte ser olímpico passar perto da realidade. Me lembro do novato Nyjah competindo com os seus tradicionais dreads - ele, aliás, saiu vencedor deste Pro Tour -, do brasileiro Luan Oliveira conquistando o mundo, e das primeiras notas dez apresentadas pela SLS (Street League Skateboarding). Em 2019, estive presente em uma das melhores competições de skate, o Super Crown, organizado no Pavilhão do Anhembi, em São Paulo; e, não me lembro de ter tido esta sensação, em nenhuma dessas situações. A sensação de frustação, desapontamento, de que algo estava errado.
Loic Venance/AFP |
Este texto não irá se resumir à uma simples crítica das decisões tomadas pela World Skate, espero conseguir colocar as minhas sugestões de mudanças em pauta, trazendo reflexão. E não se enganem, achando que o fato dos brasileiros não terem obtido um grande resultado nesta etapa, interfira de alguma forma nesta opinião. Dito isso, antes de irmos adiante, é preciso explicar essas mudanças.
Os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 marcaram a última competição em que o sistema, agora antigo, foi utilizado. Na época, todos os skatistas tinham o direito de competir em duas voltas de 45 segundos, seguidos de cinco tricks (ou manobras), para aumentarem as suas pontuações. Dessa forma, as quatro maiores notas, independentemente da fase em que foram conquistadas, eram utilizadas para a pontuação final. Outro detalhe, as notas iam de 0 a 10, sendo 40 o máximo que um skatista poderia obter, num caso improvável de conseguir a pontuação máxima por quatro vezes.
A partir de agora (ou melhor, desde o ano passado nas competições da SLS), esse sistema mudou. As notas passaram a ser estabelecidas dentro da pontuação de 0 a 100. Enquanto o formato de disputa estabelece que apenas três notas serão contabilizadas e, obrigatoriamente, contando uma das voltas. Essa mudança ocorreu com o intuito de que as voltas fossem mais valorizadas, impedindo que alguns skatistas possam vencer um campeonato, apenas utilizando-se das pontuações alcançadas na fase de manobras.
Ainda há uma outra importante mudança, não tão perceptível. Agora, os atletas poderão eliminar uma de suas manobras, propositalmente, a partir do novo Procedimento de Recusa de Pontuação. Assim, os skatistas poderão excluir uma de suas manobras anteriores, tentando melhorá-la, e alcançando uma nota superior ao que foi obtido previamente. Com isso, eles evitam deduções e penalidades de repetição, caso a primeira tentativa não tenha saído como planejavam.
Julio Detefon – CBSk |
Esportes como o skate, na qual a definição dos vencedores é feita através de notas, passam por um grande problema relacionado à subjetividade. E isso não é uma novidade no mundo esportivo; o surfe, como esporte profissional, está décadas à frente do skate, e ainda enfrenta problemas desse tipo. Outros esportes como a ginástica artística e o nado artístico passaram, e ainda passam, por mudanças drásticas na padronização e aprimoramento de suas notas. Tudo isso, buscando uma maior credibilidade e justiça nas pontuações finais. Deixando o julgamento mais claro, tanto para o público, quanto para os atletas. Mas, é aí que vêm a primeira pergunta ao skate. Será que está claro?
Nesta última etapa, uma das notas chamou a atenção de todos, inclusive do público presente em Roma, que chegou a vaiar a pontuação conquistada pelo francês Aurelién Giraud, em uma de suas manobras; e não sendo a única nota questionável da final. Aqui, abro aspas para dizer que estou longe de ser um especialista em manobras. Contudo, a paixão e o tempo que acompanho esta modalidade, me permitem ter uma noção se algo foi bem feito, ou se determinado trick é de alta dificuldade ou não.
E garanto, a manobra apresentada por Giraud, passa longe de ser fácil. No meu ponto de vista, a sua nota “baixa” (um pouco acima dos 91 pontos) deveu-se ao fato da sua "aterrissagem" não ter sido das melhores. Mas, convenhamos, ele não fez justamente aquilo que queremos ver nesse tipo de competição? Manobras incríveis que, até mesmo nos video games são consideradas de alto grau de dificuldade, tornando-se reais? Em suma, não tenho certeza se está claro para todos os skatistas, aquilo que os juízes querem ver, ou o julgamento por trás disso. Talvez, caso o francês tivesse uma clareza maior do que precisava ser feito, ele poderia ter tentando uma outra manobra, e garantido o seu título na etapa.
A. Mounic/L'Équipe |
No entanto, a grande questão é: A nova forma de disputa das competições de skate street funcionam de forma justa? Fica óbvio que os skatistas, agora, devem ser mais precisos, com apenas duas tentativas em jogo, para conseguirem uma nota alta que, com certeza, fará parte da pontuação final. Essa prática que estabelece uma pequena margem para erros é até comum em determinados esportes. No judô, por exemplo, uma pequena desconcentração na luta, poder levar o atleta ao chão e terminar com suas chances em um determinando campeonato. Mas será que isso funciona para o skate?
Ficou claro, também, que caso um skatista não consiga acertar a sua “linha”, ou tenha alguma queda em manobras decisivas, ele ou ela terá que manter esta nota ruim até o final, fazendo toda a diferença no restante da competição. Foi o que ocorreu com três skatistas nesta etapa: a bicampeã mundial Pâmela Rosa, o experiente canadense Ryan Decenzo e o atual campeão olímpico, o japonês Yuto Horigome. E se quisermos ir mais longe, até mesmo com a Rayssa Leal. Todos eles tiveram um desempenho abaixo nesta fase da competição, o que ocasionou numa redução gigantesca em suas chances de chegarem ao pódio.
Essa limitação imposta no somatório das notas, faz com que os atletas precisem ir muito acima daquilo que lhes é razoável, na fase seguinte. Yuto, ao ver a sua nota extremamente baixa em comparação às notas de outros skatistas, arriscou manobras de altíssimo nível técnico. Mesmo se ele acertasse esses tricks, quem garante que ele receberia uma nota justa, ou comparável à sua realização? Provavelmente, ele teria dificuldades em finalizar a manobra, ou ele sofreria deduções por ela não sair “perfeita”. E aí, o que aconteceria? Ele seria penalizado por isso, como Giraud? Como vimos, isso faria diferença em sua pontuação, deixando-o ainda mais longe da nota necessária para brigar por um pódio, ou pela vitória. Uma vez que as pontuações para chegar lá, giravam em torno dos impensáveis 95, 96 e 97 pontos, em algumas ocasiões
Reprodução: espnpressroom |
Então, o que deveria ser feito? Seria muita presunção definir aquilo que seria o ideal para as competições de street. Porém, lá vai a minha sugestão: Olhe para o lado!
Basta ver aquilo que os seus “concorrentes” estão fazendo, e quem sabe lá esteja a “solução”. Por exemplo, os X-Games, que já tiveram diferentes sistemas de disputas para as várias competições do seu programa. Entre elas, a competição de street, aonde os skatistas tinham um determinado tempo para competir na fase de voltas. Logo depois que um skatista terminava a sua, o próximo já seguia, e assim por diante. Isso daria mais oportunidades para os atletas tentarem obter o melhor traçado, e as melhores notas.
É claro que isso demandaria um dinamismo maior dos juízes na avaliação e divulgação das notas, sem contar o preparo físico dos skatistas, que teriam um tempo menor de descanso. Além de várias outras questões paralelas que precisariam ser ajustadas. Mas, não seria mais justo? Dessa forma, a imposição de somar uma de suas voltas no score final, faria mais sentido. E podemos ir além, essa seria uma forma de oportunizar maiores chances para os skatistas, e uma maior apreciação de manobras, permitindo que eles providenciem o melhor espetáculo possível para o público.
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