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Guia da Copa do Mundo Feminina de Futebol - Grupo C

 Tabela de Jogos (No Horário de Brasília)

1ª Rodada:

21/07 – 04h30: Espanha x Costa Rica (Wellington Regional Stadium – Wellington/NZL)

22/07 – 04h: Zâmbia x Japão (Waikato Stadium – Hamilton/NZL)

2ª Rodada:

26/07 – 02h: Japão x Costa Rica (Forsyth Barr Stadium – Dunedin/NZL)

26/07 – 04h30: Espanha x Zâmbia (Eden Park – Auckland/NZL)

3ª Rodada:

31/07 – 04h: Japão x Espanha (Wellington Regional Stadium – Wellington/NZL)

31/07 – 04h: Costa Rica x Zâmbia (Waikato Stadium – Hamilton/NZL)


 As duas seleções classificadas enfrentam adversários do Grupo A nas Oitavas de Final


Guia da Copa do Mundo Feminina de Futebol - Grupo A

Guia da Copa do Mundo Feminina de Futebol - Grupo B

Espanha

Foto: @SEFutbolFem (Twitter)

Em condições normais, a Espanha ocuparia até mesmo um lugar na lista das principais candidatas ao título da Copa do Mundo. O que diminuiu consideravelmente essa possibilidade de uma conquista inédita foi o ocorrido no pós-Eurocopa do ano passado. Em Setembro, um grupo formado por quinze das principais atletas da seleção foi responsável por mandar uma carta à federação local exigindo a troca no comando técnico. As alegações: problemas relacionados à saúde mental.

Ao fim de tudo, o treinador permaneceu no cargo e boa parte dessas jogadoras assistirá às partidas de La Roja pela televisão. Quem retornou aos planos da comissão técnica ainda na última data FIFA pré-Copa foi Irene Paredes, experiente defensora do Atlético de Madrid e uma das referências da linha de defesa do supercampeão Barcelona. Em cima da hora, Aitana Bonmatí, Ona Batlle e Mariona Caldentey também se colocaram à disposição, e adicionam um poderio enorme ao conjunto nacional. Isso porque o trio vem de excelentes temporada por seus clubes.

Outro motivo de descontentamento por parte das atletas se dá pela sequência de resultados em grandes torneios. Desde 2015, quando Jorge Vilda comanda a seleção, a Espanha sempre chega a competições internacionais como uma das candidatas aos lugares mais altos no pódio, mas acaba tropeçando e abandona a disputa antes do esperado. Vale relembrar: Jorge Vilda é filho de Angel Vilda, chefe do departamento de futebol feminino da federação local.

Óbvio que o momento é turbulento e tudo parece conspirar contra, mas é possível organizar uma equipe muito competitiva mesmo com tantos desfalques importantes. Principalmente se levarmos em conta o ótimo trabalho realizado nas categorias de base do país já há alguns anos. Beber dessa fonte vem sendo bastante importante para a continuidade do trabalho de Vilda, já que a saída de boa parte do elenco considerado o ideal obrigou-o a integrar atletas mais jovens ao plantel principal. Outro reforço é Alexia Putellas, simplesmente a melhor do mundo e que ficou sem atuar por quase um ano por conta de lesão.

Ranking da FIFA: 6º Lugar.

Participações Anteriores em Copas do Mundo: 2/8 (2015 e 2019).

Melhor Campanha: Oitavas de Final (2019).

Jorge Vilda sofreu e sofre muita pressão de atletas e torcedores locais, mas segue no cargo para o seu segundo mundial à frente da seleção espanhola. Foto: FEF

Técnico: Jorge Vilda (desde Julho de 2015).

Convocação

Goleiras: 1-Misa Rodríguez (23 anos – 23/07/1999; Real Madrid), 13-Enith Salón (21 anos – 24/09/2001; Valencia), 23-Cata Coll (22 anos – 23/04/2001; FC Barcelona);

Laterais: 2-Ona Batlle (24 anos – 10/06/1999; Manchester United-ING), 12-Oihane Hernández (23 anos – 04/05/2000; Athletic Bilbao), 19-Olga Carmona (23 anos – 12/06/2000; Real Madrid);

Zagueiras: 4-Irene Paredes (32 anos – 04/07/1991; FC Barcelona), 5-Ivana Andrés (29 anos – 13/07/1994; Real Madrid), 14-Laia Codina (23 anos – 22/01/2000; FC Barcelona), 20-Rocío Gálvez (26 anos – 14/04/1997; Real Madrid);

Volantes/Meio Campistas: 3-Teresa Abelleira (23 anos – 09/01/2000; Real Madrid), 6-Aitana Bonmatí (25 anos – 18/01/1998; FC Barcelona), 7-Irene Guerrero (26 anos – 12/12/1996; Atlético de Madrid), 11-Alexia Putellas (29 anos – 04/02/1994; FC Barcelona), 16-María Pérez (21 anos – 24/12/2001; FC Barcelona), 21-Claudia Zornoza (32 anos – 29/10/1990; Real Madrid);

Pontas: 8-Mariona Caldentey (27 anos – 19/03/1996; FC Barcelona), 15-Eva Navarro (22 anos – 27/01/2001; Atlético de Madrid), 18-Salma Paralluelo (19 anos – 13/11/2003; FC Barcelona), 22-Athenea del Castillo (22 anos – 24/10/2000; Real Madrid);

Atacantes: 9-Esther González (30 anos – 08/12/1992; Real Madrid), 10-Jenni Hermoso (33 anos – 09/05/1990; Pachuca-MEX), 17-Alba Redondo (26 anos – 27/08/1996; Levante).

Lista de Suplentes: Não Divulgada.

Ausências Notáveis: Sandra Paños (GOL – FC Barcelona; ausente por escolha própria), Lola Gallardo (GOL - Atlético de Madrid; ausente por escolha própria), Laia Aleixandri (ZAG – Manchester City-ING; ausente por escolha própria), Andrea Pereira (ZAG – América-MEX; ausente por escolha própria), Mapi León (ZAG – FC Barcelona; ausente por escolha própria), Patri Guijarro (VOL/MC – FC Barcelona; ausente por escolha própria), Nerea Eizaguirre (MC - Real Sociedad; ausente por escolha própria), Lucía García (PD – Manchester United-ING; ausente por escolha própria), Claudia Pina (MA/PE – FC Barcelona; ausente por escolha própria), Amaiur Sarriegi (AT – Real Sociedad; ausente por escolha própria), Sheila García (PD/LD – Atlético de Madrid; lesão no joelho sofrida em Abril de 2023), Elene Lete (GOL – Real Sociedad; opção técnica), Jana Fernández (ZAG – FC Barcelona; opção técnica), Leila Ouahabi (LE – Manchester City-ING; opção técnica), Maite Oroz (MC – Real Madrid; opção técnica), Fiamma Benítez (MC/MA – Valencia; opção técnica), Anna Torrodà (MC – Valencia; opção técnica), Marta Cardona (PD – Atlético de Madrid; opção técnica), Inma Gabarro (AT/MA – Sevilla FC; opção técnica), Nahikari García (AT – Real Madrid; opção técnica).

Time-Base:

Misa Rodríguez; Ona Batlle, Irene Paredes, Ivana Andrés, Olga Carmona; Aitana Bonmatí, Teresa Abelleira, Alexia Putellas ©; Eva Navarro, Jenni Hermoso, Mariona Caldentey.

A Espanha de Jorge Vilda se caracterizou por atuar quase sempre no 4-3-3 durante todos esses oito anos. E, apesar de os resultados não significarem título algum neste período, é fato que as europeias competiram bem contra adversários de maior poderio técnico e físico. A situação no pós-Eurocopa, porém, obrigou a comissão técnica a fazer uma reformulação total no elenco da noite para o dia.

Por conta disso, até mesmo uma troca de esquema passou a ser cogitada. Nos amistosos contra seleções como Estados Unidos, Japão, Noruega e China, o que se viu foi um time se alternando entre 3-5-2 e 4-2-3-1. Obviamente que o alto número de perdas no grupo espanhol impacta nisso, já que La Roja viu ruir todo o fortíssimo conjunto titular que tinha à disposição e a equipe que passou a ser construída no final de 2022 não apresentava ainda entrosamento e até características de jogo para assumir um protagonismo técnico contra rivais de maior nível.

Um exemplo disso foi o teste contra a Suécia, quando o rotineiro 4-3-3 organizado por Jorge Vilda não conseguiu repetir atuações anteriores e a equipe teve seu estilo bastante afetado pelo desempenho adversário. O empate por 1x1 acabou sendo até positivo, já que as espanholas até tinham a bola nos pés, mas não conseguiam encaixar suas tramas ofensivas e ainda sofriam quando eram pegas desprevenidas através de contra-ataques.

O retorno de Alexia Putellas é um reforço enorme para a seleção. Trata-se "somente" da Melhor Jogadora do Mundo nas duas últimas temporadas. Foto: Aitor Alcalde Colomer

Agora, é necessário falarmos sobre as mudanças que impactaram essa reta final de ciclo. Em relação à equipe que fez uma Eurocopa bastante irregular, a Espanha tinha como time-base: Sandra Paños; Ona Batlle, Irene Paredes, Mapi León, Leila Ouahabi; Aitana Bonmatí, Patricia Guijarro, Irene Guerrero; Lucía García, Esther González e Mariona Caldentey. Percebe-se que, mesmo com a ausência da lesionada Jenni Hermoso, as europeias possuíam um time forte e capaz de competir com qualquer seleção do mundo.

Inclusive, La Roja esteve muito perto de vencer a futura campeã Inglaterra já nas quartas de final, mas um gol no finalzinho do tempo normal e outro no começo da prorrogação acabariam dando vitória e também classificação à equipe da casa. O fato de cair diante das inglesas e novamente não confirmar as expectativas criadas ajudou a aumentar o nível de descontentamento do grupo com o trabalho executado pela comissão técnica.

E, a partir do momento em que a insatisfação das maiores referências da Espanha foi exposta ao mundo através de uma carta enviada à federação de futebol local, essa estrutura montada e moldada ano após ano foi se desmanchando gradativamente. Até a data FIFA de Abril, somente Irene Paredes havia retornado ao time nacional. Para a Copa do Mundo, porém, Jorge Vilda ganharia reforços gigantescos desse grupo. Um deles é Alexia Putellas, recuperada da grave lesão ligamentar sofrida no joelho que já a havia tirado da mais recente Eurocopa.

A meio campista Teresa Abelleira foi uma das atletas a ganhar maior espaço na seleção desde a reta final de 2022. E ela parece ter agradado, já que surge como opção para complementar a dupla formada por Alexia Putellas e Aitana Bonmatí no setor. Foto: Real Federación Galega de Fútbol

Ainda que seu ritmo de jogo não seja o melhor possível, visto que a craque do Barcelona reestreou somente na última semana de Abril, tê-la de volta é uma maravilhosa notícia para as pretensões espanholas no mundial. A meio campista conquistou dois prêmios de Melhor Jogadora do Mundo de forma consecutiva e conseguiu ótimos números na última temporada mesmo perdendo muitos meses por conta do problema médico. Por exemplo: em 42 jogos, Putellas marcou 36 gols e deu 19 assistências.

Ainda que muito se conteste esse seu segundo troféu individual (até pela brilhante Eurocopa realizada pela inglesa Beth Mead), não dá para negar que o prêmio ficou em boas mãos. A estrela do clube catalão também mostrou insatisfação com o trabalho de Jorge Vilda durante o ano passado, mas não seria tão radical em seu posicionamento. A atleta iria reaparecer oficialmente pela seleção europeia na goleada de 7x0 contra o Panamá em 29 de Junho.

Desta forma, à medida que o seu retorno aos gramados foi se aproximando, comissão técnica e também atleta trataram de deixar as portas abertas para uma convocação à Copa do Mundo. Ainda que ter Alexia de volta seja um acréscimo enorme, vale dizer que o meio campo já vinha funcionando bem mesmo com os vários desfalques. E a tendência é a coisa melhorar com as voltas dela e também de Aitana Bonmatí, sua companheira de Barcelona. Por outro lado, Patri Guijarro parece uma jogadora de difícil reposição. Os testes ali foram muitos, como veremos.

A versátil Jenni Hermoso pode atuar como meio campista, armadora, atacante móvel ou ponta. Ela é um dos trunfos da seleção para a Copa do Mundo. Foto: Córdon Press

Da reta final de 2022 pra cá, o setor teve em Claudia Zornoza sua principal novidade. Essencial no crescimento recente do Real Madrid no cenário europeu, a jogadora estreou em La Roja já aos 31 anos em um jogo amistoso contra o Brasil. E ela correspondeu, tanto que hoje é uma das principais alternativas encontradas por Jorge Vilda para o centro do campo espanhol. Mesmo atuando como volante em alguns momentos (sendo opção direta à Patri), Zornoza mostra qualidade quando avança e costuma aparecer perto da área rival.

O trio de meio campo formado por Anna Torrodà, Teresa Abelleira e Irene Guerrero teve como maior característica a troca de passes e também a facilidade nos movimentos pelo centro. As duas últimas possuem maior rodagem em nível internacional, tendo inclusive feito parte do elenco que disputou a última Eurocopa. Já Torrodà acabaria perdendo espaço ao final do ciclo e será ausência no mundial. A novidade foi María Pérez, atleta do Barcelona que agradou especialmente nos treinos e teve chance no confronto amistoso contra o Panamá. Ela que cumpre o papel ocupado por Patri Guijarro e vem sendo muito elogiada pela comissão técnica. Com isso, não soa absurdo ela aparecer como titular na Copa.

A comissão técnica também proporcionou à talentosa Maite Oroz uma sequência maior na equipe nacional. Outra meio campista do Real Madrid, Oroz foi utilizada também como armadora em um 4-2-3-1, atuando mais próxima da única atacante do esquema e tendo a função de pressionar a volante adversária responsável por iniciar o jogo ofensivo de sua equipe. Porém, ela também ficaria de fora da lista decisiva de forma até surpreendente. Mesmo caso de Maitane López, utilizada em uma região central e também como ponta pelo lado direito mas que não seria mantida no grupo de 23 atletas.

Irene Guerrero é normalmente utilizada como meio campista, mas pode ser alternativa ao posto de volante outrora ocupado por Patri Guijarro. Foto: Oscar J. Barroso (AFP7)

Outro ganho de Jorge Vilda nos últimos tempos foi Jenni Hermoso. Mais uma jogadora que sofreu com lesão e chegou a endossar o discurso do grupo que buscava uma mudança no comando técnico, ainda que de uma maneira não tão branda. Ultimamente, Hermoso vem tendo maior liberdade de circulação nas faixas de centro e também de intermediária ofensiva. Livre para circular e encontrar espaços, ela vem retomando o protagonismo que tinha antes da lesão. Assim, o que se vê é uma Espanha capaz de alternar movimentos táticos em campo.

Dependendo de onde a habilidosa atleta do Pachuca recebe a bola dentro das quatro linhas, o que se percebe é um 4-4-2 ou até um 4-3-1-2. Não se pode descartar sua utilização como atacante central de mobilidade, como fora visto no ciclo anterior. Caso Jorge Vilda prefira ter Jenni Hermoso em um papel de maior aproximação com o centro do campo, as principais opções para o comando de ataque passam a ser Esther González e Alba Redondo, ambas de médias de gol muito altas em Real Madrid e Levante respectivamente.

Pensava-se que Nahikari García pudesse assumir um posto de protagonismo em La Roja após suas ótimas temporadas na Real Sociedad e a reta final de ciclo anterior, mas não foi o que se viu. Hoje, ela é uma opção interessante, mas não uma real garantia para gols. Assim, acabaria ficando de fora da lista final. Esse espaço aberto deu margem para a introdução de Inma Gabarro, artilheira do Mundial Sub-20 e que tem facilidade para atuar também fora da área. Entretanto, a talentosa e promissora atleta do Sevilla não conseguiria desbancar a pesada concorrência e também ficaria de fora da lista das 23.

Alba Redondo terminaria a temporada como artilheira do campeonato espanhol. A atacante do Levante é, no mínimo, uma reserva de luxo no conjunto nacional. Foto: Radio Marca

Os lados do campo viram Sheila García, Marta Cardona, Eva Navarro, Athenea del Castillo e Salma Paralluelo receberam oportunidades durante o período. Todas essas são capazes de adicionar velocidade pelos lados do campo, drible e também gols, embora somente as três últimas tenham sido convocadas para a Copa do Mundo. Trata-se de um setor interessante e com nomes que podem tranquilamente inverter o lado com o passar dos minutos a fim de desestabilizar a marcação rival. Lembremos que a seleção não conta com Claudia Pina, craque do Barcelona e que também pode atuar nessa região do campo, seja como armadora ou atacante de mobilidade.

A grande novidade nos últimos meses foi Paralluelo, principal destaque do título espanhol no Mundial Sub-20 do ano passado e que vivia ótimo momento no Villarreal antes de acertar a saída ao todo-poderoso Barcelona. No clube catalão, a jovem não demorou a encontrar seu espaço e hoje em dia já é destaque e peça importante da equipe. Pelos gols decisivos que marcou, ela virou uma espécie de talismã no clube. Vale lembrar que há sim a possibilidade de Alexia Putellas atuar como meia-direita ou meia-esquerda num 4-2-3-1.

Em especial na faixa direita, o que facilitaria o seu deslocamento buscando uma zona de centro. Essa aproximação com outras meio campistas e o fato de ser uma canhota no setor inverso ajudaria na construção ofensiva e também em inversões rápidas. Por outro lado, é verdade que a Espanha perderia em aceleração e movimentações em direção à linha de fundo. Isso é algo que deve ser pensado e organizado por Vilda jogo após jogo, dependendo do rival.

A habilidosa e dribladora Athenea del Castillo se tornou uma das melhores opções da Espanha para os lados do campo. A ponta do Real Madrid tem tudo para receber bons minutos na Copa. Foto: Imago

Um ponto a se corrigir é o espaço deixado às costas da linha de defesa. A Espanha sofreu por ali especialmente no amistoso contra o Japão, que atacava em um 3-4-3. Outra rival que deu trabalho nesse sentido foi a China, que utilizou troca rápida de passes seguida de bola longa em direção à sua meia-esquerda. Por conta dos ajustes a serem feitos e ao estilo principal da titular escolhida para determinada partida, esse tem tudo para ser um espaço muito explorado pelo adversário.

Mas menos agora, já que a Espanha terá o retorno de uma Ona Batlle vinda de grande temporada no Manchester United e afirmada como uma das melhores do mundo em sua posição. Ainda que tenha no apoio uma das principais virtudes, ela é mais equilibrada do que Sheila García (que acabaria se lesionando às vésperas do mundial). Essa sim é uma jogadora ofensiva e que atua principalmente como meia ou ponta, buscando o fundo do campo sempre que possível.

E vale destacar que o fato de contar com Batlle, Alexia e Bonmatí pelo mesmo lado praticamente dá toda a faixa direita do campo à lateral, visto que a dupla do Barcelona oferece qualidade técnica e aproximação com as demais meio campistas enquanto a defensora é opção para os lances que exijam uma maior chegada à linha final. Existe a possibilidade de Batlle se transferir ao Barcelona, o que pode aumentar ainda mais a força e o entrosamento desse trio dentro dos próximos anos.

A versátil lateral Ona Batlle vem de ótima temporada no Manchester United e certamente agregará muito em seu retorno ao time nacional. Foto: Daniela Porcelli (Sports Press Photo)

A escolha por Oihane Hernández é para momentos onde se busca uma atleta que acrescente um maior equilíbrio ao lado direito de defesa. Até pela ofensividade natural de Olga Carmona pelo lado contrário. A atleta do Real Madrid mostra qualidade no momento ofensivo e em muitos lances é praticamente uma meia por aquele setor. Ambas têm boa passagem pelas seleções de base e se consolidaram no elenco espanhol graças às boas atuações a partir da reta final de 2022.

No centro da defesa, Ivana Andrés e Irene Paredes largam em vantagem para iniciar a Copa do Mundo na equipe titular. A primeira já foi utilizada como uma lateral mais defensiva, mas logo se tornaria líder da zaga por ser o nome de maior experiência internacional em meio a novatas que passaram a ser incluídas aos poucos nas listas de convocação. Menos mal que Paredes acertou seu retorno à La Roja já na data FIFA de Abril, o que dá maior paz e tranquilidade para a organização de um setor defensivo que carecia de maior entrosamento e também de ajustes.

Outras zagueiras utilizadas durante o ciclo foram Rocío Gálvez, Laia Codina e María Méndez, com as duas primeiras fazendo parte da lista de atletas para o mundial. Havia a possibilidade de Mapi León voltar a fazer parte das convocações, porém a defensora do Barcelona não cedeu e permaneceu firme em suas convicções. Isso apesar de comentar repetidas vezes em entrevistas que tinha o sonho de disputar seu segundo mundial, dando a entender que ainda acreditava em uma saída de Jorge Vilda.

Olga Carmona é uma importante peça no momento ofensivo espanhol. Destaque no Real Madrid, ela atua praticamente como outra meio campista também quando veste a camiseta de La Roja. Foto: Marca

De grande qualidade técnica com a canhota, Mapi certamente agregaria muito no momento de construção a partir de bola trabalhada. No gol, Misa Rodríguez foi alçada ao posto de titular com as ausências das então referências Lola Gallardo e Sandra Paños e vem dando conta do recado. A atleta do Real Madrid vem de uma temporada de bastante destaque e tem tudo para se firmar na meta durante o mundial.

Mesmo com tantas mudanças nominais efetuadas nesses poucos meses prévios até a Copa do Mundo, algumas características de jogo da Espanha permaneceramm as mesmas. A começar pela marcação adiantada já no campo adversário, o que deve acontecer especialmente nos duelos onde La Roja é o time a ser batido. O avanço frequente de pelo menos uma lateral também é uma marca do jogo de Vilda e que dificilmente será alterada mesmo com tantas modificações no plantel.

Além, obviamente, da preferência em manter a posse de bola e buscar os ataques através da movimentação constante das atletas e também em tabelas curtas. Quem sabe essa Espanha “mesclada” não seja uma equipe pronta para brigar de igual para igual com qualquer time do mundo. O rendimento recente do Japão coloca em dúvida até a possibilidade de o conjunto europeu avançar como líder de seu grupo. Porém, boa parte desse time montado por Jorge Vilda possui experiência em jogar e vencer competições como a Liga dos Campeões.

Caso consiga organizar-se minimamente em um esquema que explore as virtudes de suas atletas novatas e realoque as referências em bom nível técnico, físico e mental, a Espanha tem tudo para fazer uma ótima Copa do Mundo. Com menores expectativas do que se teria caso o grupo estivesse completo, é lógico. Mesmo assim, é possível superar o desempenho de 2019, quando La Roja parou nas oitavas de final.

Aitana Bonmatí chega ao mundial após temporada espetacular pelo Barcelona. Uma boa campanha da Espanha pode fazer a meio campista sonhar com o prêmio de Melhor do Mundo. Foto: Bernadett Szabo

Destaque – Aitana Bonmatí

Normalmente esse espaço seria ocupado por Alexia Putellas. Ainda mais pelo fato de a meio campista do Barcelona ter recebido o prêmio de Melhor Jogadora do Mundo nas duas últimas temporadas. Porém, suas condições físicas são incertas após tanto tempo de ausência. Dessa forma, a bola da vez passa a ser uma companheira de Barcelona. Trata-se de Aitana Bonmatí, que no calendário recém-encerrado pelo clube catalão alcançou uma incrível marca de 21 assistências e 17 gols marcados em 37 partidas disputadas.

Ainda que tenha balançando as redes uma vez a menos se compararmos os números aos da temporada anterior, seu rendimento em assistências foi o melhor da carreira. Assim, não é exagero dizer que a craque jogou por ela e também por Alexia, comandando um Barcelona que conquistaria seu segundo título da Liga dos Campeões em três anos. Na decisão contra o Wolfsburg, ela daria a assistência para o 2x2, empatando um confronto duro contra as alemãs.

A meio campista de 25 anos fez parte do grupo que se manifestou publicamente contra o técnico Jorge Vilda, mas pouco tempo antes do mundial se colocou à disposição para a disputa do mundial. Até pelo rendimento recente, ela foi aceita de volta sem maiores problemas. Bonmatí também vem de ótima Eurocopa em 2022, quando frequentou a seleção ideal do torneio apesar de um torneio bastante irregular das espanholas desde a fase de grupos.


Costa Rica

Foto: CONCACAF

Uma das seleções com o trabalho técnico mais longevo de toda a Copa do Mundo, a Costa Rica retorna a um mundial após a surpreendente ausência quatro anos atrás. Na ocasião, a equipe ficou atrás da estreante Jamaica e seria uma das duas grandes ausências proporcionadas pela eliminatória continental. A técnica Amelia Valverde foi duramente criticada, e as cobranças ganharam força ainda maior quando lembramos que esta é a principal geração da história do futebol feminino costarriquenho.

Mesmo assim, Valverde foi mantida no cargo e alcançou a classificação à Copa deste ano após uma campanha sem maiores sustos e com a ausência de uma das suas craques: Gloriana Villalobos. Porém, se engana quem acha que o descontentamento é coisa do passado. A comandante técnica ainda é duramente criticada no país por conta do futebol pouco vistoso de sua seleção e também por escolhas feitas para a montagem do elenco. Inclusive para este mundial.

Com o time completo, é inegável que a Costa Rica tem qualidade para apresentar mais do que vem apresentando nos últimos tempos. Porém, pensar em classificação à fase final seria difícil em qualquer circunstância a partir do momento em que os superfavoritos times de Espanha e Japão são seus concorrentes de Grupo C. Nem mesmo o confronto contra Zâmbia se desenha tranquilo para a seleção latino-americana, que entra na Copa com mais interrogações do que as africanas.

E, ainda que La Sele tenha armas para machucar seus adversários, a diferença de nível em relação aos conjuntos favoritos é bastante grande. Amelia Valverde precisará muito que suas atletas mais decisivas estejam em grande forma se quiser alcançar uma fase oitavas de final. Hoje, seja pela qualidade dos rivais ou devido aos problemas da própria Costa Rica, o cenário é praticamente impossível.

Ranking da FIFA: 36º Lugar.

Participações Anteriores em Copas do Mundo: 1/8 (2015).

Melhor Campanha: Fase de Grupos (2015).

Apesar da forte contestação que sofre dentro do próprio país, Amelia Valverde comandará a Costa Rica mais uma vez em mundiais. Foto: CONCACAF

Técnica: Amelia Valverde (desde Janeiro de 2015).

Convocação

Goleiras: 1-Génesis Pérez (18 anos – 04/05/2005; UCF Knights-EUA), 18-Priscilla Tapia (32 anos – 02/05/1991; Deportivo Saprissa), 23-Daniela Solera (25 anos – 21/07/1997; Sporting FC);

Alas: 2-Gabriela Guillén (31 anos – 01/03/1992; LD Alajuelense), 3-María Coto (25 anos – 02/03/1998; LD Alajuelense), 12-María Paula Elizondo (24 anos – 30/11/1998; Deportivo Saprissa);

Zagueiras: 4-Mariana Benavides (28 anos – 26/12/1994; Deportivo Saprissa), 5-Valeria del Campo (23 anos – 15/02/2000; Monterrey-MEX), 6-Carol Sánchez (37 anos – 16/04/1986; Sporting FC), 13-Emilie Valenciano (26 anos – 15/02/1997; LD Alajuelense), 20-Fabiola Villalobos (25 anos – 13/03/1998; LD Alajuelense);

Volantes/Meio Campistas: 8-Mariela Campos (32 anos – 04/01/1991; Deportivo Saprissa), 10-Gloriana Villalobos (23 anos – 20/08/1999; Deportivo Saprissa), 11-Raquel Rodríguez (29 anos – 28/10/1993; Portland Thorns-EUA), 15-Cristin Granados (33 anos – 19/08/1989; Sporting FC), 16-Katherine Alvarado (32 anos – 11/04/1991; Deportivo Saprissa), 19-Alexandra Pinell (20 anos – 18/10/2002; LD Alajuelense), 21-Sheika Scott (16 anos – 22/10/2006; LD Alajuelense);

Atacantes: 7-Melissa Herrera (26 anos – 10/10/1996; FC Bordeaux-FRA), 9-María Paula Salas (21 anos – 12/07/2002; Monterrey-MEX), 14-Priscila Chinchilla (22 anos – 11/07/2001; Glasgow City-ESC), 17-Sofía Varela (25 anos – 28/03/1998; Sem Clube), 22-Catalina Estrada (24 anos – 11/10/1998; Deportivo Saprissa).

Lista de Suplentes: Não Divulgada.

Ausências Notáveis: Daniela Cruz (AE/AD – Atlas-MEX; sofreu uma entorse no joelho em Junho de 2023), Cristel Sandí (AE/MC – Atlético San Luis-MEX; lesão muscular sofrida em Maio de 2023), Shirley Cruz (VOL/MC – LD Alajuelense; opção técnica), Noelia Bermúdez (GOL – LD Alajuelense; opção técnica), Dinnia Díaz (GOL – Deportivo Saprissa; opção técnica), Diana Sáenz (AD/LD – Sem Clube; opção técnica), Yoanka Villanueva (AD/AE/PD/PE – Dimas Escazú; opção técnica), Carolina Tabash (ZAG – SC Herediano; opção técnica), Lixy Rodríguez (AE/LE – Sem Clube; opção técnica), Yesmi Rodríguez (LE/AE – Sporting FC; opção técnica), Emily Flores Chinchilla (VOL/MC – 19/11/2001; Sporting FC), Viviana Chinchilla (MD/PD – LD Alajuelense; opção técnica), Yerling Ovares (21 anos – 17/01/2002; Sporting FC), María Paula Porras (ME/AE – Sporting FC; opção técnica), Carolina Venegas (AT – Sem Clube; opção técnica), Michelle Montero (AT – CS Herediano; opção técnica).

Time-Base

Daniela Solera; Gabriela Guillén, Fabiola Villalobos, Mariana Benavides, Valeria Del Campo, María Coto; Raquel Rodríguez, Katherine Alvarado ©, Gloriana Villalobos; Melissa Herrera, Priscilla Chinchilla.

O esquema tático adotado pela Costa Rica quase sempre foi o 4-1-4-1, ainda que uma variação para o 4-2-3-1 fosse comum dependendo da característica de jogo de uma das meio campistas. O final do ciclo, porém, viu Amelia Valverde adotando um 5-3-2 que parece encaixar melhor as suas principais atletas em campo. Vamos por partes. Em uma formação com quatro defensoras e cinco atletas de centro, quem normalmente ocupa esse papel de armação é Raquel Rodríguez.

Atacante de origem, ela eventualmente recua para adicionar toda a sua qualidade técnica em uma posição mais retraída e onde tem um maior espaço para circular pelo gramado e organizar os enredos no setor de ataque. Todavia, o histórico de goleadora e também a menor exigência física para recomposições defensivas pode fazer com que “Rocky Rodríguez” atue no comando de frente. Principalmente se a ideia por por contar com uma atacante de fato, o que ocorre no 4-2-3-1/4-1-4-1.

Agora, se pensamos no 5-3-2, as alternativas de Amelia Valverde para a dupla ofensiva são as velozes Priscila Chinchilla e Melissa Herrera. Esse esquema deixa as duas mais confortáveis às movimentações através de contra-ataques, tática que deve predominar pelo menos em duas das três partidas da fase de grupos. Somente no duelo contra Zâmbia é que deve ser possível vermos um maior equilíbrio na posse de bola, ainda que a opção de proporcionar contra-ataques ao time africano seja um risco gigante.

No esquema costarriquenho de povoar a defesa e apostar nas escapadas em velocidade para atacar, cresce a importância da dribladora e rápida Melissa Herrera. Foto: CONCACAF

Independentemente de onde atuarem, é certo que Chinchilla e Herrera serão as atletas mais acionadas do esquema costarriquenho nas partidas contra as favoritas equipes de Espanha e Japão. Isso porque a seleção da CONCACAF tende a enfatizar a marcação e o fechamento de espaços nos setores de defesa e meio campo para só então apostar em escapadas velozes à frente. Muito por conta dessa postura, soa muito mais plausível utilizar o 5-3-2.

O esquema lembra bastante o pensamento costarriquenho no mundial masculino de 2014, competição onde a equipe alcançou as quartas de final e surpreendeu a todos ao obter classificação em um grupo que contava ainda com Uruguai, Inglaterra e Itália. A ideia é essa: montar La Sele tendo a solidez defensiva como grande trunfo e permitir que os grandes talentos da equipe tenham maior liberdade para executarem suas tarefas em meio campo e ataque.

O final até está encaminhado, o problema mesmo é tornar a defesa confiável diante de adversários de maior nível. Vale dizer que o ataque da seleção latino-americana contou ainda com nomes de diferentes estilos. A experiente Carolina Venegas tem maior presença de área, mas seria descartada da lista final. Já María Paula Salas é uma atleta capaz de atuar também pelos lados, não sendo exatamente um nome de referência. Suas aparições na equipe são mais frequentes em um 4-1-4-1 ou 4-2-3-1, ainda que ela se encaixe bem na nova tática da técnica de mais movimentação na frente. O maior problema no momento parece ser sua condição física.

A ausência da goleadora Carolina Venegas deve contribuir para que a habilidosa Priscilla Chinchilla atue ao lado de Melissa Herrera no ataque da Costa Rica. Foto: José Cordero

Se considerarmos a campanha na CONCACAF W Championship, a principal maneira de a Costa Rica levar perigo se deu através de jogadas pelos lados do campo. Priscila Chinchilla e Melissa Herrera costumam trocar de lado com grande frequência na tentativa de abrir espaços e esse movimento normalmente dificulta o trabalho das defensoras adversárias. Um lance rotineiro envolve Herrera, que arranca em velocidade pela faixa direita do campo e cruza rasteiro para trás, buscando a atleta que chega como elemento-surpresa para finalizar de frente para o gol.

Ter meio campistas inteligentes na execução dessas transições facilita o bom funcionamento do lance e também o torna mais perigoso. Vale citar que as grandes alternativas a esse estilo de jogo desempenhado pelas pontas foram Yoanka Villanueva e María Paula Porras, com ambas também tendo facilidade para aparecer em qualquer um dos lados. Eventualmente, elas seriam opções para o recém-modelado 5-3-2, onde desempenham a função de ala. De qualquer forma, elas não seriam mantidas para o grupo que viajou à Oceania. Amelia Valverde optaria por levar María Paula Elizondo, também de característica mais ofensiva, mas de menos experiência internacional.

O meio campo tem Katherine Alvarado comandando as ações. É ela quem ocupa essa posição à frente da linha defensiva, oferecendo uma boa proteção ao setor e ainda contribuindo bem na saída de bola através de passes curtos e inversões de jogo em direção às pontas. Os chutes de longa distância são outro ponto forte da atleta, nome indiscutível na equipe da Costa Rica e que vem de excelente participação na CONCACAF W Championship.

A capitã Katherine Alvarado é um dos grandes destaques da Costa Rica. Ela, Raquel Rodríguez e Gloriana Villalobos formam um trio de meio campo dos mais interessantes. Foto: CONCACAF

Sua companheira, em um cenário ideal, seria Shirley Cruz. Em anos passados, essa dupla de meio campo frequentava as listas das melhores de todo o continente pelo que proporcionava às costarriquenhas na forma de criatividade e também de controle de jogo. Porém, a maior atleta da história do país já está com 37 anos e conviveu com lesões e problemas físicos durante boa parte de 2022.

Ainda que seja tecnicamente diferenciada, essa constante quebra de sequência de jogo fez com que Cruz tomasse a decisão de anunciar sua aposentadoria ao final da temporada. E, de forma ainda mais surpreendente, a atleta anunciaria a sua saída do futebol em meados de Junho, praticamente um mês antes do mundial. Uma justificativa bastante plausível dá conta de que a experiente meio campista teria problemas com integrantes da federação de futebol local, e por isso anteciparia sua decisão de abandonar o esporte.

Cruz viveu um período bastante vitorioso em clubes como Lyon e Paris Saint-Germain em uma passagem de sucesso pelo futebol francês que começou em 2005 e terminou somente 13 anos mais tarde. Lá e também nos campeonatos chinês e estadunidense (nos times Jiangsu Suning e Seattle Reign FC e OL Reign respectivamente), ela costumava variar a função apresentada em campo.

O retorno de Gloriana Villalobos ameniza a ausência de Shirley Cruz. Mas os torcedores queriam mesmo as dus atuando juntas. Foto: CONCACAF

Por vezes a costarriquenha era posicionada como uma volante que qualificava a saída de bola, e em outros instantes ela era uma armadora com facilidade para atuar mais próxima do gol adversário – inclusive aparecendo bastante para finalizar lances dentro da grande área. Hoje em dia, ela mantinha essa facilidade em trocar de posições com o andamento do tempo, ainda que o atual estágio físico fosse um empecilho para uma maior intensidade na marcação.

De qualquer forma, Shirley Cruz em campo seria uma atração pelo que a jogadora representou para o futebol latino-americano durante toda essa última década e também pelo que poderia acrescentar em técnica e experiência à La Sele. Sua substituta imediata durante esse período de ausência foi principalmente Cristin Granados, que correspondeu e formou uma parceria de bastante sucesso com Alvarado no qualificatório da CONCACAF.

Granados se destacou especialmente nessa função de se posicionar mais perto da área rival, sendo a meio campista com maior liberdade de avanço. Nesse ponto do campo, o ciclo mostrou que Amelia Valverde normalmente recorreu a nomes de maior rodagem, mas também permitiu que jovens do futebol local recebessem suas chances ao menos em sessões de treinamento. Uma opção de confiança da comissão técnica e que oferece maior experiência é Mariela Campos, de volta ao grupo na data FIFA de Abril e que seria convocada ao mundial.

As atuações de destaque da meio campista Alexandra Pinell nas equipes de base da Costa Rica chamaram a atenção de Amelia Valverde. A capitã do Sub-20 nacional estará na Copa. Foto: FIFA

As maiores esperanças para o futuro da equipe atendem pelos nomes de Sheika Scott e Alexandra Pinell. Scott tem somente 16 anos de idade e desde os 14 atua no torneio local, onde se acostumou a atuar até mesmo mais adiantada em alguns momentos. Já Pinell é mais uma atleta que participou do Mundial Sub-20 de 2022 e tem tudo para se firmar como opção no elenco principal já no começo do próximo ciclo. Ela carrega consigo o fato de ter sido capitã da seleção que disputou a competição internacional dentro da própria Costa Rica em 2022.

Pensando no presente, um reforço do mais alto grau de importância para o centro do campo é Gloriana Villalobos. Ausência na última CONCACAF W Championship por conta de uma lesão, a habilidosa meio campista tem tudo para agregar também no quesito físico, já que seus 23 anos destoam em um setor que se caracteriza por ser dos mais experientes. Maior promessa do país nos últimos tempos, Villalobos viveu ótimo momento enquanto esteve no futebol universitário dos Estados Unidos e foi titular indiscutível da seleção no Mundial Sub-20 realizado em 2014.

À época, com somente 14 anos. Ela também pode aparecer como meia-esquerda, mas é inegável que sua habilidade faz a diferença especialmente quando a atleta recebe a bola em uma região mais central do campo e participa com mais frequência da troca de passes. Encaixar Katherine Alvarado, Shirley Cruz e Gloriana Villalobos parecia ser o cenário ideal para Amelia Valverde se a prioridade fosse o aspecto técnico, mas a repentina ausência da capitã deu um ponto final a essa questão.

A jovem Valeria del Campo parece ter se firmado como uma opção confiável para o trio de zagueiras da Costa Rica. Eventualmente, ela pode ser escalada como volante também.

Sem contar que a Costa Rica terá pela frente duas seleções que concentram meio campistas de talento, controlam a posse de bola e trocam passes de forma veloz e inteligente. Dessa forma: fechar todo e qualquer espaço certamente exigir bastante do meio campo costarriquenho no fator físico. Provavelmente foi por isso que a comissão técnica passou a adotar o 5-3-2. Nesse cenário de maior cuidado atrás, a dúvida tende a ser entre uma atleta de qualidade em transições (Granados) ou uma meio campista de maior característica ofensiva e sem tanta combatividade (caso de Raquel Rodríguez).

Nos duelos contra os favoritos times de Canadá, Estados Unidos e Países Baixos, a Costa Rica foi a campo com cinco defensoras em uma tentativa clara de reforçar sua retaguarda. Assim, a linha defensiva dificilmente não terá as zagueiras Fabiola Villalobos e Mariana Benavides, unanimidades no ciclo. E é bem provável também que Valeria del Campo seja a nomeada para ocupar esse posto no lado esquerdo.

As principais opções para esta posição são Carol Sánchez (de 37 anos) e Emilie Valenciano (de 26 anos e também volante). Elas fizeram parte do elenco que disputou a CONCACAF W Championship e possuem experiência dentro do time principal. Outra atleta testada foi Carolina Tabash, titular no confronto contra Países Baixos. Desse trio, entretanto, somente as duas primeiras seriam mantidas para o mundial.

Gabriela Guillén tem a confiança da comissão técnica e tem tudo para ser a titular na ala-direita da Costa Rica. Ela que tem justamente no jogo ofensivo o seu ponto mais forte. Foto: FCF

Sánchez chegou a ser dúvida para a competição por conta de um problema de doping descoberto em Maio. E, por mais que a acusação tenha sido retirada no mês seguinte, a atleta não poderia sequer treinar para manter-se bem fisicamente durante aquele período. Mesmo assim, Valverde confia na experiência da zagueira (titular nas três partidas em 2015, naquele que foi o único disputado pelas costarriquenhas até hoje) e a levará ao mundial. Nas outras posições da linha defensiva, testes foram frequentes durante todo o ciclo.

Gabriela Guillén desponta como a favorita para a titularidade na lateral-direita ou na ala, mas outros nomes famosos foram testados durante os últimos anos. Casos de Daniela Cruz, Diana Sáenz e María Coto. Sáenz parecia ser a concorrente direta a uma função de ala, enquanto as demais se caracterizam especialmente no aspecto da marcação. De qualquer forma, a atleta com passagem recente pelo Herediano seria ausência na lista de 23. Mesma situação vivida por Daniela Cruz, ainda que essa tenha sofrido uma lesão no joelho em Junho. Uma baixa notável, já que sua temporada no México havia sido de muito destaque.

Outro corte importante e inesperado foi o da já bastante rodada Lixy Rodríguez. E vale a pena mencionar: de todas essas atletas citadas, somente Coto não esteve no elenco costarriquenho que disputou a Copa do Mundo em 2015. As outras três, que curiosamente acabariam ficando de fora da lista final, conhecem bem a competição. Existia ainda a possibilidade de a polivalente e veloz María Paula Porras atuar em uma dessas posições, mas ela seria outra baixa na delegação da Costa Rica.

Daniela Solera deve iniciar a Copa do Mundo como titular da meta costarriquenha. Porém, o rodízio na posição foi grande durante o ciclo e não se descarta a utilização de Priscilla Tapia também. Foto: CONCACAF

No gol, Daniela Solera foi quem mais recebeu oportunidades nos últimos anos e deve pelo menos iniciar a competição como a titular. Porém, Amelia Valverde alternou muito as opções na parte final do ciclo e chegou a dar oportunidades a outras três goleiras em amistosos pós-classificação ao mundial. Esse grupo é formado por Priscilla Tapia, Noelia Bermúdez e Dinnia Díaz. Na lista final, porém, Bermúdez ficaria de fora em outra decisão bastante contestável. Já Díaz não vivia boa fase individual no Deportivo Saprissa e ficara de fora até mesmo da lista prévia de 30 atletas.

Assim, Daniela Solera terá as companhias da remanescente Priscilla Tapia e também da jovem Génesis Pérez. Essa última atua na Liga Universitária dos Estados Unidos e tem apenas 20 anos de idade. Ainda que a novata pareça estar atrás na “hierarquia” costarriquenha para a posição, não seria uma surpresa tão grande se alguma alteração envolvendo Solera e Tapia acontecesse com a competição em andamento.

Na mudança de esquema proposta por Amelia Valverde, a tendência é que Raquel Rodríguez seja cada vez mais uma meio campista. Entretanto, a artilheira está sempre pronta a colaborar com gols se escalada mais adiantada. Foto: CONCACAF

Destaque – Raquel Rodríguez

Outrora um destaque pelo faro de gol, a maior artilheira da história da seleção costarriquenha vem atuando em uma posição um pouco mais retraída de uns tempos pra cá. Dessa forma, ela participa mais da construção ofensiva e adiciona mais talento para o trabalho de bola da Costa Rica desde a faixa central do gramado.

Logicamente que, assim que a seleção retoma a posse e aciona Melissa Herrera ou Priscila Chinchilla em velocidade, “Rocky Rodríguez” se desloca até as proximidades da área adversária para ser uma opção a mais no momento da finalização. Esse ímpeto ofensivo é um dos maiores trunfos da estrela de La Sele, que pode ser escalada eventualmente no centro do ataque em um 4-2-3-1/4-1-4-1 ou como meio campista nesses esquemas e também no 5-3-2.

Esse adiantamento de Raquel aconteceu nos duelos diante de Canadá e Países Baixos, onde a Costa Rica buscou principalmente reforçar a marcação no meio campo e apostar bastante na velocidade dos contra-ataques. Em uma seleção que conta com nomes de bom talento, é até difícil selecionar um só destaque. Porém, até pela importância que teve em todas as variações táticas utilizadas no ciclo, a atleta para se ficar de olho na Copa é mesmo Raquel Rodríguez.


Zâmbia

Foto: CAF

Estreante em Copas do Mundo, Zâmbia chega à Oceania como um time a ser olhado de perto. Por mais que tenham caído em um Grupo C com dois favoritos claros a avançar ao mata-mata, as africanas passam por um momento bastante interessante a em torneios locais. Na Copa das Nações Africanas do ano passado, as comandadas de Bruce Mwape superaram nada menos do que a Nigéria na disputa do terceiro lugar.

Durante a campanha na competição continental, as Rainhas do Cobre também deram trabalho à futura campeã África do Sul na semifinal. Mais um ponto importante que reforça o crescimento da modalidade no país é o alto número de atletas atuando no futebol do exterior, acumulando experiências e também diferentes estilos de jogo. As estrelas do momento atendem pelos nomes de Racheal Kundananji e Barbra Banda.

Zâmbia já vem de uma participação em Jogos Olímpicos, quando conseguiu um empate de 4x4 contra a China entre as derrotas para Países Baixos e Brasil. O que se viu durante a competição realizada em Tóquio foi uma equipe com ideias ofensivas das mais interessantes, mas também com visíveis pontos a serem corrigidos na marcação e também em matéria de posicionamento no momento defensivo. Mais tarde, contra adversários africanos, foram somente três gols sofridos em seis jogos.

Porém, enfrentamentos recentes contra a Coreia do Sul mostraram que é necessário ter um maior olhar neste setor pensando na Copa do Mundo. Se melhorar até o início do mundial, Zâmbia pode sonhar com a classificação. As africanas vivem um momento mais favorável do que a Costa Rica e têm potencial para incomodar o setor defensivo especialmente do Japão, que sofre com uma zaga lenta ainda que apresente muita qualidade com a bola nos pés.

Ranking da FIFA: 77º Lugar.

Participações Anteriores em Copas do Mundo: Não Possui.

Bruce Mwape carrega no currículo a façanha de levar Zâmbia a uma Olimpíada e agora à sua primeira Copa do Mundo. Porém, graves acusações de "má conduta sexual" às atletas foram descobertas em Julho. Foto: CAF

Técnico: Bruce Mwape (desde Maio de 2018).

Convocação

Goleiras: 1-Catherine Musonda (25 anos – 20/02/1998; Tomiris-Turan-CAZ), 16-Letisha Lungu (18 anos – 07/08/2004; ZESCO Ndola Girls), 18-Eunice Sakala (21 anos – 23/05/2002; Nkwazi Queens);

Laterais: 2-Judith Soko (19 anos – 31/03/2004; YASA), 8-Margaret Belemu (26 anos – 24/02/1997; Shanghai Shengli-CHN), 13-Martha Tembo (25 anos – 08/03/1998; BIIK Shymkent-CAZ);

Zagueiras: 3-Lushomo Mweemba (22 anos – 10/04/2001; Green Buffaloes), 5-Mary Mulenga (25 anos – 11/04/1998; Red Arrows), 15-Agness Musase (26 anos – 11/07/1997; Green Buffaloes), 23-Vast Phiri (27 anos – 03/02/1996; ZESCO Ndola Girls);

Volantes/Meio Campistas: 4-Susan Banda (33 anos – 06/07/1990; Red Arrows), 6-Mary Wilombe (25 anos – 22/09/1997; Red Arrows), 10-Grace Chanda (26 anos – 11/06/1997; Madrid CFF-ESP), 12-Evarine Katongo (20 anos – 29/12/2002; ZISD Women), 14-Ireen Lungu (25 anos – 06/10/1997; BIIK Shymkent-CAZ), 22-Esther Banda (18 anos – 21/11/2004; BUSA);

Meias/Pontas: 9-Hellen Mubanga (28 anos – 23/05/1995; Zaragoza CFF-ESP), 19-Xiomara Mapepa (21 anos – 04/07/2002; Elite Ladies), 21-Avell Chitundu (25 anos – 30/07/1997; ZESCO Ndola Girls);

Atacantes: 7-Ochumba Lubandji (22 anos – 01/07/2001; Red Arrows), 11-Barbra Banda (23 anos – 20/03/2000; Shanghai Shengli-CHN), 17-Racheal Kundananji (23 anos – 03/06/2000; Madrid CFF-ESP), 20-Hellen Chanda (25 anos – 16/06/1998; BIIK Shymkent-CAZ).

Lista de Suplentes: Esther Siamfuko (LE | 18 anos – 08/08/2004; Green Buffaloes), Comfort Selemani (MD | 18 anos – 28/11/2004; Elite Ladies), Rhoda Chileshe (ME | 25 anos – 08/05/1998; Indeni Roses).

Ausências Notáveis: Hazel Nali (GOL – Fatih Vatan Spor-TUR; lesão no ligamento colateral medial e ruptura completa do ligamento cruzado anterior do joelho em Julho de 2023), Anita Mulenga (ZAG – Green Buffaloes; opção técnica), Pauline Zulu (ZAG – BUSA; opção técnica), Jacqueline Nkole (ZAG – Indeni Roses; opção técnica), Prisca Chilufya (MD – Fatih Karagümrük-TUR; opção técnica), Misozi Zulu (MD – Hakkarigücü Spor-TUR; opção técnica), Racheal Nachula (MD/AT – Zaragoza CFF-ESP; opção técnica), Maweta Chilenga (ME/MD – Green Buffaloes; opção técnica), Natasha Nanyangwe (MD/AT – Green Buffaloes; opção técnica), Noria Sosala (AT – Indeni Roses; opção técnica), Maylan Mulenga (AT | 23 anos – 17/05/2000; Green Buffaloes).

Time-Base:

Catherine Musonda; Margaret Belemu, Agness Musase, Lushomo Mweemba, Martha Tembo; Evarine Katongo, Ireen Lungu; Racheal Kundananji, Grace Chanda, Xiomara Mapepa; Barbra Banda ©.

Normalmente a equipe africana utiliza um 4-2-3-1, ainda que o acúmulo de talentosas atletas no setor ofensivo possa facilmente modificar a estrutura tática para o 4-4-2. Contudo, o nível mais alto de uma Copa do Mundo e também o fato de Zâmbia ter caído em uma chave muito difícil tende a favorecer a escolha por um esquema mais equilibrado e com pelo menos duas meio campistas mais dispostas a defender. Pouco antes da Copa, em amistosos na Europa, até mesmo um 4-1-4-1 foi utilizado.

Isso melhoraria a forma como as Rainhas do Cobre se portariam em campo diante das seleções favoritas e deixaria as craques da equipe preocupadas principalmente em fazer a diferença em uma faixa do campo mais ou menos da intermediária ofensiva em diante. Essas craques atendem pelos nomes de Racheal Kundananji e Barbra Banda, atacantes que vêm brilhando nos torneios de Espanha e China respectivamente. E não é de hoje.

Ambas retornam ao elenco nacional após serem ausências na última competição continental por conta de um problema pessimamente explicado e que envolveu também a Confederação Africana de Futebol. À época, os exames de Barbra Banda e Racheal Kundananji acusaram excessivos níveis de testosterona em seus corpos.

Racheal Kundananji vem de uma temporada espetacular no futebol espanhol. Se mantiver a forma para o mundial, a classificação à segunda fase passa a ser mais acessível. Foto: @Copper_Queens (Twitter)

Como punição, elas acabariam sendo excluídas da lista final de Zâmbia. Quem também acabou cortada do grupo antes da competição doméstica foi Racheal Nachula, de consolidada carreira no atletismo e que agora é meia-direita da seleção de futebol e também do Zaragoza CFF. No momento, somente Nachula (por opção técnica) é ausência para a Copa do Mundo se pensamos nesse trio. Banda e Kundananji, capazes de desequilibrar qualquer confronto a nível mundial, seguem para a Oceania.

Pois temos aqui um ponto importante: mesmo sem elas, Zâmbia garantiu uma das vagas para a Copa sem maiores dificuldades. Pelo contrário, visto que as comandadas de Bruce Mwape realizaram confrontos duros contra rivais de maior poderio. É verdade, entretanto, que os números ofensivos zambianos no torneio continental africano não foram os melhores sem a sua dupla infernal, ainda que eles tenham sido bons o suficiente para colocar o país em um mundial pela primeira vez na história – seja no futebol feminino ou masculino.

Na vitoriosa campanha na Copa das Nações Africanas, em somente uma das seis partidas disputadas as Rainhas do Cobre balançaram as redes mais do que em uma única oportunidade. Contar novamente com suas atletas de maior talento para criar e também finalizar os lances é o que dá ao time de Zâmbia a expectativa de estrear em um mundial já com chances de beliscar uma classificação para a segunda fase. Detalharemos agora o que elas acrescentam dentro das quatro linhas.

Ochumba Lubandji teve a difícil tarefa de substituir Banda e Kundananji na Copa Africana de Nações. Não conseguiu balançar as redes, mas mostrou boa movimentação. Foto: Ryan Wilkisky (BackpagePi)

As duas são capazes de atuar como atacante central ou buscando jogo principalmente pelos lados do campo. Durante quase todo o ciclo, isso acontecia no setor canhoto. Porém, a comissão técnica optou por não convocar Racheal Nachula e Misozi Zulu, comumente meias-direitas. Agora, é possível que a movimentação da dupla envolva também essa faixa do campo. De qualquer forma, é bastante comum ver Banda e Kundananji alternando suas posições em uma tentativa de criar espaços em diferentes regiões do gramado e desencaixar uma possível marcação individual.

Como já dito, um 4-4-2 onde ambas atuem juntas no ataque pode até ser visto durante a Copa do Mundo, mas provavelmente em um momento do jogo onde a equipe de Zâmbia busca desesperadamente um resultado de empate ou vitória. Kundananji vinha de gols marcados pela seleção no ciclo passado e também em campeonatos do Cazaquistão, mas passou a chamar a atenção do resto do mundo pelo desempenho apresentado nos espanhóis Eibar e Madrid CFF.

Na equipe da capital, ela é responsável por lances de muito brilho técnico e também de arrancadas que comumente desmontam o setor defensivo adversário. Tamanho sucesso fez com que seu nome fosse cogitado em equipes de maior ambição dentro do futebol europeu na mais recente janela de transferências. Já Banda começou a despontar no espanhol DUX Logroño, mas realmente obteve fama internacional quando passou a empilhar gols e boas atuações no chinês Shanghai Shengli, um dos principais times do país asiático.

Melhor atleta do país em 2022, Grace Chanda é o cérebro do meio campo zambiano. É melhor tê-la como armadora, mas sua qualidade acima da média a transforma também numa volante das mais eficientes. Foto: Olympic Channel

No consolidado 4-2-3-1 montado por Bruce Mwape nos últimos tempos, Misozi Zulu costumava aparecer pelo setor direito enquanto Grace Chanda ocupa o papel de armação. A primeira tem grande experiência dentro da seleção africana e foi uma ausência bastante sentida nos Jogos Olímpicos de Tóquio por conta de lesão. E de forma até surpreendente isso aconteceria também na Copa, já que Zulu ficou de fora da lista final (desta vez por opção). Por outro lado, Chanda mantém sua importância e titularidade e se caracteriza por ser bastante participativa na construção ofensiva quando Zâmbia tem a bola.

Não raramente a criativa meio campista recua para uma região mais perto das volantes e forma um trio que equilibra melhor o centro ao mesmo tempo em que libera as meias-laterais para que essas ocupem um faixa do campo ainda mais próxima da meta rival. As mudanças favorecem os lados do campo, já que as meias são transformadas em ponta e possuem ainda mais liberdade para efetuar cruzamentos e aparecer na área como elemento-surpresa.

Sem contar que o fato de as jogadas construídas de maneira mais paciente surgirem em sua grande maioria pelos lados do campo fortalece uma jogada interessante de Zâmbia. Nela, o cruzamento oriundo por ali encontra Kundananji ou Banda na segunda trave, às costas de uma lateral ou zagueira. Nessa movimentação, as africanas passam a ter realmente duas atacantes. Lembrando: com a saída de Zulu e Nachula da lista decisiva para a Copa do Mundo, esse tipo de movimento pode ocorrer também pelo lado direito durante a competição.

Xiomara Mapepa é opção para o lado esquerdo de ataque. Dribladora e de boa finalização, ela tem tudo para iniciar o mundial na equipe titular após as mudanças importantes que Zâmbia sofreu no setor ofensivo. Foto: Ryan Wilkisky (BackpagePix)

Vale ressaltar que Grace Chanda é companheira de Kundananji no Madrid CFF, o que faz com que a dupla tenha um entrosamento ainda melhor pelo convívio diário. Aliás, no mês de Março, a armadora foi eleita a melhor jogadora do país em 2022. Como companhia à dupla, a tendência é que Xiomara Mapepa assuma o posto. Bastante versátil, ela pode atuar também pelo lado direito, o que manteria a atacante do Madrid CFF em seu setor preferido. Entretanto, Mapepa parece ter conquistado a titularidade justamente sendo uma canhota que atua pelo lado esquerdo. É algo a se observar na Copa.

Além dela, a comissão técnica contou também com Hellen Mubanga, Avell Chitundu, Natasha Nanyangwe e Prisca Chilufya para combinações oriundas pelos lados do campo (especialmente o direito). Dentre essas jogadoras, quem mais se destacou na Copa das Nações Africanas foi Chitundu, autora de dois gols e responsável direta por uma assistência nos seis jogos em que foi a campo. Do quarteto mencionado, somente Mubanga a acompanhará na estreia zambiana em mundiais.

Também falando da competição continental, vale destacar que a escolhida de Bruce Mwape para substituir a goleadora Barbra Banda no comando de ataque foi Ochumba Lubandji. Apesar de deixar o torneio local sem um golzinho sequer, a atacante de 21 anos tem bom porte físico e mostrou qualidade quando era necessário sair da área. Dessa forma, ela garantiu o posto que parece ser de reserva imediata às craques do conjunto africano.

O bom trabalho de Evarine Katongo no setor de marcação é fundamental para que Zâmbia mantenha o equilíbrio defensivo no momento do ataque. Foto: ZamFoot

Além disso, ela normalmente auxilia na recomposição quando Zâmbia perde a posse de bola e também faz sua parte em situações onde as africanas optam por uma pressão adiantada sobre as zagueiras adversárias. Uma alternativa de boa experiência foi Noria Sosala, de 34 anos e um histórico de muitos gols marcados em campeonatos nacionais. Neste ano, porém, Sosala perderia espaço e não entraria sequer na lista prévia de 35 atletas divulgadas em Maio.

Na contenção, as duas principais referências das zambianas são Ireen Lungu e Evarine Katongo. Enquanto Grace Chanda é responsável principalmente pela criatividade no meio campo e atua mais adiantada nesse 4-2-3-1 organizado por Bruce Mwape, a dupla acima aparece com menor frequência no campo ofensivo e se destaca principalmente na proteção à linha defensiva. Não podemos, porém, descartar a opção pelo 4-4-2.

Nesse caso, a tendência é que a cerebral atleta do Madrid CFF seja recuada um pouquinho e a comissão técnica saque uma das duas volantes. Trata-se de um cenário comum em competições continentais e quando Zâmbia desponta como a principal favorita em um confronto, mas que dificilmente será proposto diante de Espanha e Japão. A opção direta à dupla é Mary Wilombe, uma canhota de boa qualidade técnica e muito combativa no centro de campo.

Uma alternativa mais recente é a jovem Esther Banda, outrora gandula em partidas da seleção e que agora faz parte do grupo que disputará a Copa. A versátil atleta pode ser utilizada também como zagueira, ainda que sua zona preferida seja a do centro do campo. Afinal, essa zona torna mais comum os seus arremates de média distância, uma das suas maiores qualidades. Susan Banda foi uma opção testada na data FIFA de Junho e parece ter agradado a comissão técnica.

Margaret Belemu é destaque com bola nos pés e nas ultrapassagens ao campo adversário. A lateral é um dos pontos mais fortes do jogo ofensivo de Zâmbia. Foto: Football Association of Zambia (FAZ) 

Além de proteger bem a linha de defesa, a meio campista de 33 anos mostrou qualidade no momento em que tinha a bola nos pés. O retorno de Susan abre margem para um 4-1-4-1, como visto em partes do duelo diante da Irlanda. Ter em campo ao menos uma volante de maior capacidade defensiva é importante pelo fato de a seleção de Zâmbia contar com uma lateral bastante presente no campo de ataque e que se torna praticamente mais uma meio campista nesse momento. Trata-se de Margaret Belemu, nome incontestável para o lado direito.

A defensora do Shanghai Shengli (equipe onde também atua Barbra Banda) já foi escalada em posições mais ofensivas em momentos anteriores da carreira especialmente pelo que é capaz de acrescentar em lances de velocidade e pelo fato de efetuar bons cruzamentos à área. Além disso, Belemu é uma jogadora de ótima qualidade técnica e que se sente bastante confortável tendo a bola nos pés. Por todos esses atributos, ela é insubstituível dentro dos planos de Bruce Mwape e se apresenta tão importante para as Rainhas do Cobre quanto a sua dupla de ataque.

Pelo setor canhoto, a ofensiva Martha Tembo foi titular nos seis confrontos de Zâmbia na Copa das Nações Africanas. Ela que, em outros momentos do ciclo, foi utilizada em uma linha mais à frente, atuando como uma legítima meia-esquerda. A principal alternativa para essa função foi a promissora Esther Siamfuko, de apenas 18 anos. A defensora fez parte do elenco que esteve em Tóquio para a disputa dos Jogos Olímpicos e tende a assumir um protagonismo até maior a partir dos próximos anos, ainda que tenha ficado de fora da convocação oficial para a Copa do Mundo.

A grave lesão sofrida pela titular Hazel Nali abre espaço para que Catherine Musonda seja a titular da meta de Zâmbia durante a Copa do Mundo. Foto: ZFF

Acostumada a cumprir papéis defensivos, ela dá um maior equilíbrio à função e parece ter agradado a comissão técnica especialmente no período pós-eliminatória. Muito por isso que sua não convocação pegou tanta gente de surpresa. Para o seu lugar, Bruce Mwape optou pela promissora Judith Soko (19 anos). Esse é o ponto onde a briga pela titularidade está totalmente aberta e é bastante possível que ocorra um revezamento entre Tembo e Soko nos duelos da primeira fase.

Um nome pouco discutível era o de Hazel Nali, que tinha tudo para iniciar a competição como a goleira titular. Atualmente no futebol da Turquia, foi ela quem defendeu a meta de Zâmbia nos duelos válidos pela Olimpíada de Tóquio. O problema foi uma lesão grave no joelho ocorrida já em Julho, que acabaria com o sonho da atleta de 25 anos de disputar o seu primeiro mundial às vésperas do início do torneio. Tudo leva a crer que sua substituta será Catherine Musonda, titular no histórico 3x2 zambiano contra a Alemanha. Na maior parte do tempo, as goleiras de Zâmbia correspondem. Os problemas costumam acontecer na linha defensiva como um todo.

E, até por conta desse desajuste, o que se vê é uma indefinição na dupla de zagueiras. Agness Musesa é a principal referência das africanas para embates físicos e lances pelo alto. Já Lushomo Mweemba larga em vantagem pelo posto remanescente, mas é fato que já esteve em melhor momento técnico e físico. Dessa forma, a comissão técnica de Zâmbia acenou com a possibilidade de escalar Anita Mulenga durante o decorrer do ciclo.

A jovem Lushomo Mweemba é uma das boas peças do setor defensivo zambiano. Além de ter boa impulsão, ela se destaca pela velocidade nas perseguições. Foto: Goal

Ela que é outra remanescente da campanha das africanas em solo japonês e certamente acrescentaria estatura física à linha de defesa pensada por Bruce Mwape. Entretanto, Mulenga não faria parte da equipe convocada para o mundial. Assim, as demais opções para o centro da defesa durante o ciclo foram majoritariamente jovens. No caso: a já mencionada Esther Banda e também Pauline Zulu. Essa última, que também acabaria não entrando na lista de 23, atualmente é membro da equipe nacional Sub-20 e carrega no currículo uma passagem pelo Barcelona.

No geral, Zâmbia é um dos países que mais evolui dentro do cenário africano se consideramos o futebol feminino. As Rainhas do Cobre foram eleitas o Time do Ano de 2022 em evento local realizado na metade do último mês de Março e inegavelmente geram curiosidade para a Copa do Mundo. Especialmente após o 3x2 contra a Alemanha no início de Julho em pleno solo germânico. O resultado histórico na competição continental foi a cereja no bolo, mas a equipe de Bruce Mwape conquistaria o seu primeiro título na modalidade justamente no ano passado.

E ele aconteceu na disputa da COSAFA Women’s Championship, disputada por países do sul do continente africano. E, por mais que o adversário batido na grande decisão tenha sido um time alternativo da África do Sul, a temporada de 2022 reservou essa grande conquista às atletas de Zâmbia. O campeonato marcou o retorno de Barbra Banda ao time após a ausência no torneio continental realizado no Marrocos.

Não surpreende que ela tenha sido a artilheira da COSAFA com 10 gols e tampouco que decidiria o confronto final contra as sul-africanas. Ainda que a equipe seja a única seleção estreante do Grupo C, Zâmbia não entra na competição como candidato a saco de pancadas. Se é verdade que tecnicamente o time de Bruce Mwape não é tão poderoso como Japão e Espanha, também é fato que a equipe tem suas armas bem definidas e vai poder explorar seus fortes movimentos em contra-ataque para machucar esses adversários.

Barbra Banda é uma das atacantes mais letais do futebol mundial na atualidade. E ela terá mais uma chance de provar isso em um evento mundial. Foto: Goal

Destaque – Barbra Banda

A atacante chega ao mundial após construir uma linda história nos Jogos Olímpicos de Tóquio. Em solo japonês, Banda marcou três gols nos duelos contra Países Baixos e China e se tornou a primeira atleta a conseguir tal feito em jogos consecutivos de Olimpíadas. Foi nesse momento que ela, que já vinha de ótimas temporadas no Shanghai Shengli, chamou a atenção do grande público e passou a ser cobiçada por equipes do mais alto escalão do futebol europeu.

Banda é uma ótima arma para movimentações em contra-ataque, ponto que deve ser muito explorado por sua seleção durante a fase de grupos da Copa do Mundo. Além da força física e também da inteligência para atacar espaços às costas das defensoras rivais, a craque de Zâmbia apresenta muita qualidade no momento da finalização. Atuando mais centralizada ou no setor esquerdo, Banda faz a diferença.

Especialmente quando encontra campo para arrancar com o domínio da bola. Não raramente a craque arrasta marcadoras em seu encalço antes de arrematar ou achar o passe decisivo para uma companheira melhor posicionada. Seu retorno à equipe nacional do país faz Zâmbia pensar seriamente em classificação. Com companheiras de alto nível na frente, fica menos complicado imaginar esse cenário.


Japão

Foto: Japan Football Association (JFA)

O Japão é um dos favoritos a avançar nesse Grupo C. E, por conta dos problemas mais recentes envolvendo a Espanha, não é nada impossível imaginarmos um cenário onde a seleção asiática se classifique como líder da chave. Para chegar lá, a equipe guiada por Futoshi Ikeda conta com uma mescla bastante interessante de atletas renomadas mundialmente e com boa experiência vestindo a camiseta Nadeshiko com outras que passaram a receber maiores oportunidades no time principal do Japão após se destacarem em torneios de base.

Aliás, destaque esse que aconteceria sob o comando do próprio Ikeda. O treinador carrega no currículo uma passagem vencedora por seleções femininas Sub-17 e Sub-20 do país, tendo conquistado um campeonato continental e outro mundial nos anos de 2017 e 2018. E esse início de trabalho na equipe adulta soa bastante promissor, apesar dos cenários onde o time se mostrou irregular e com problemas de adaptação ao novo esquema (especialmente se considerarmos o aspecto defensivo).

O Japão caiu nas semifinais da recente Copa da Ásia e foi derrotado em duas oportunidades na SheBelieves Cup realizada no início de 2023. Entretanto, parece ter alcançado um convincente nível de jogo durante esse período. As japonesas têm tudo para realizar uma grande campanha neste mundial e no momento se apresentam como uma das reais candidatas à surpresa. Ainda mais se uma de suas atacantes estiver em um mês abençoado e arrematar melhor as inúmeras oportunidades que a equipe de Ikeda é capaz de criar durante os 90 minutos.

Saki Kumagai é remanescente do único título mundial Nadeshiko, ocorrido doze anos atrás na Alemanha. E é até desnecessário dizer que ela é uma das principais lideranças dentro da atual equipe por conta desse histórico construído na seleção asiática e também em clubes europeus nos últimos anos. Sua experiência contará ainda mais ao elenco após Mana Iwabuchi, sua companheira em 2011, ser barrada da convocação decisiva. Vale pontuar também que mais e mais japonesas rumaram ao velho continente em meio a este ciclo. É ver se essa nova bagagem adquirida servirá para que a equipe brigue pelo bicampeonato.

Ranking da FIFA: 11º Lugar.

Participações Anteriores em Copas do Mundo: 8/8 (1991, 1995, 1999, 2003, 2007, 2011, 2015, 2019).

Melhor Campanha: Campeão (2011).

Técnico: Futoshi Ikeda (池田 ; desde Outubro de 2021).

Com um currículo vencedor em seleções de base do Japão, Ikeda busca agora um título relevante sob o comando da equipe principal do país. Foto: JFA

Convocação

Goleiras: 1-Ayaka Yamashita (山下 杏也加; 27 anos – 29/09/1995; INAC Kobe Leonessa), 18-Momoko Tanaka (田中 桃子; 23 anos – 17/03/2000; Tokyo Verdy Beleza), 21-Chika Hirao (平尾 知佳; 26 anos – 31/12/1996; Albirex Niigata);

Alas: 2-Risa Shimizu (清水 梨紗; 27 anos – 15/06/1996; West Ham United-ING), 6-Hina Sugita (杉田 妃和; 26 anos – 31/01/1997; Portland Thorns-EUA), 17-Kiko Seike (清家 貴子; 26 anos – 08/08/1996; Urawa Reds), 19-Miyabi Moriya (守屋 都弥; 26 anos – 22/08/1996; INAC Kobe Leonessa);

Zagueiras: 3-Moeka Minami ( 萌華; 24 anos – 07/12/1998; AS Roma-ITA), 4-Saki Kumagai (熊谷 紗希; 32 anos – 17/10/1990; AS Roma-ITA), 5-Shiori Miyake (三宅 史織; 27 anos – 13/10/1995; INAC Kobe Leonessa), 12-Hana Takahashi (高橋 はな; 23 anos – 19/02/2000; Urawa Reds), 23-Rion Ishikawa (石川 璃音; 20 anos – 04/07/2003; Urawa Reds);

Volantes/Meio Campistas: 8-Hikaru Naomoto (猶本 ; 29 anos – 03/03/1994; Urawa Reds), 10-Fuka Nagano (長野 風花; 24 anos – 09/03/1999; Liverpool FC-ING), 14-Yui Hasegawa (長谷川 ; 26 anos – 29/01/1997; Manchester City-ING), 16-Honoka Hayashi ( 穂之香; 25 anos – 19/05/1998; West Ham United-ING);

Pontas: 7-Hinata Miyazawa (宮澤 ひなた; 23 anos – 28/11/1999; MyNavi Sendai), 13-Jun Endo (遠藤 ; 23 anos – 24/05/2000; Angel City FC-EUA), 15-Aoba Fujino (藤野 あおば; 19 anos – 27/01/2004; Tokyo Verdy Beleza), 22-Remina Chiba (千葉 玲海菜; 24 anos – 30/04/1999; JEF United Chiba);

Atacantes: 9-Riko Ueki (植木 理子; 23 anos – 30/07/1999; Tokyo Verdy Beleza), 11-Mina Tanaka (田中 美南; 29 anos – 28/04/1994; INAC Kobe Leonessa), 20-Maika Hamano (浜野 まいか; 19 anos – 09/05/2004; Hammarby IF-SUE).

Lista de Suplentes: Não Divulgada.

Ausências Notáveis: Shu Ohba (大場 朱羽; GOL – ETSU Athletics-EUA; opção técnica), Asato Miyagawa (宮川 麻都; AE/LE – Tokyo Verdy Beleza; opção técnica), Ruka Norimatsu (乗松 瑠華; ZAG - Omiya Ardija Ventus; opção técnica), Saori Takarada (宝田 沙織; ZAG/AT - Linköpings FC-SUE; opção técnica), Rikako Kobayashi (小林 里歌子; PE/PD – Tokyo Verdy Beleza; opção técnica), Yui Narumiya (成宮 唯; PD – INAC Kobe Leonessa; opção técnica), Mana Iwabuchi (岩渕 真奈; AT/PE – Tottenham Hotspur-ING; opção técnica), Yuika Sugasawa (菅澤 優衣香; AT – Urawa Reds; opção técnica).

Time-Base:

Ayaka Yamashita; Shiori Miyake, Saki Kumagai ©, Moeka Minami; Risa Shimizu, Yui Hasegawa, Fuka Nagano, Hina Sugita; Aoba Fujino, Riko Ueki, Jun Endo.

A troca no comando técnico após os Jogos Olímpicos ocorridos em Tóquio fez com que o Japão testasse diferentes formações durante o ano de 2022. Copa da Ásia e do Leste Asiático viram o time nipônico com mudanças importantes em comparação ao trabalho antecessor, conduzido por Asako Takakura. Com Ikeda, as japonesas deixaram um pouco de lado os tradicionais 4-4-2 e 4-2-3-1 e passaram a adotar com maior frequência uma formação com três zagueiras.

Quase sempre em um 3-4-3, mas o 3-5-2 com um maior preenchimento no centro do campo também foi observado em diferentes momentos e contra rivais de diferentes posturas. Dessa forma, o time nipônico passou por modificações importantes também em matéria de nomes. Porém, é indiscutível que o Japão está bem servido em praticamente todas as posições, o que fez com que o nível geral da equipe não tenha diminuído mesmo com os constantes testes.

O meio campo parece ser o setor com o maior número de opções de talento, e é por ali que surgem os nomes que geram maior expectativa para a Copa do Mundo. Seja pelo que vêm rendendo no presente ou pelo que algumas delas apresentaram em anos pouco distantes. No pensamento da maioria dos japoneses, uma grande campanha da sua seleção só será possível se as meio campistas estiverem em um mês inspirado. E isso não é uma forma de desmerecer o restante do time, muito pelo contrário. O ponto é: essa região traz consigo muita qualidade.

Yui Hasegawa terminou a temporada como um dos principais destaques do Manchester City mesmo atuando em uma faixa do campo diferente da habitual. Foto: Masashi Hara

Historicamente, o Japão sempre teve atletas de bastante qualidade no centro do campo e que eram diferenciais técnicos com a bola no pé. Ou seja: a figura de uma volante que tão somente era utilizada para fechar espaços nas proximidades da área e reforçar a proteção às defensoras não existia. Agora, a possibilidade de Futoshi Ikeda eventualmente escalar o Japão em um 3-5-2 dá margem para que uma meio campista seja a encarregada pela saída de bola e ocupe esse papel mais central.

Curiosamente, Yui Hasegawa vem de ótima temporada no Manchester City executando essa função. Ela foi deslocada para esse posto de coordenação de saída de bola no clube inicialmente em caráter emergencial. Porém, Hasegawa acabaria crescendo e mais tarde seria fixada por ali. Ainda que o 4-3-3 do conjunto inglês dificilmente seja copiado por Ikeda, a nova função de uma das principais atletas do Japão dá margem para que Hasegawa seja usada mais pelo centro.

Nos amistosos, o que se viu foi uma jogadora mais ativa nas transições. Mas, é um ponto a ser observado para a Copa do Mundo. Em uma região do campo muitíssimo bem servida, é até natural que a comissão técnica se sinta à vontade para adicionar uma nova peça para certas ocasiões. Nessa formação de jogo, Fuka Nagano, Hikaru Naomoto e Honoka Hayashi foram as companheiras mais comuns à Hasegawa para o setor e se revezaram nos dois postos disponíveis.

Fuka Nagano enfim conquistou uma maior sequência de partidas dentro do conjunto principal do Japão. Ela que já liderou campanhas históricas de equipes nacionais de base em anos recentes. Foto: FIFA

Nagano, aliás, parece ter enfim se firmado na equipe Nadeshiko. Negociada com o Liverpool no começo do ano, ela vem empilhando atuações de alto nível desde então. Logo que surgiu, a talentosa meio campista parecia destinada a coisas grandes. Suas atuações de destaque em competições de base e a natural liderança reservavam um futuro brilhante para ela a nível profissional. Para relembrarmos: Nagano foi a principal jogadora de um Japão campeão mundial Sub-17 em 2016 e que também venceria o Sub-20 dois anos mais tarde.

Suas exibições em torneios nacionais já vinham sendo muito acima da média, mas a atleta de 24 anos demoraria a se firmar na seleção principal por supostamente não se adaptar ao que era pedido pela comissão técnica anterior. Foi somente com a saída de Asako Takakura (que hoje comanda um clube chinês) e a chegada do velho conhecido Ikeda que Fuka Nagano passou a receber oportunidades no plantel Nadeshiko com frequência e também sequência.

Sua facilidade em fazer o jogo asiático funcionar através de passes curtos e longos e a capacidade que ela tem de se movimentar e receber a bola sempre em uma zona confortável do campo e fugindo de um encaixe proposto pela marcadora adversária chamam a atenção e a transformam em uma das meio campistas mais talentosas (pelo menos) do continente Asiático.

O fortíssimo meio campo nipônico conta ainda com o talento de Hikaru Naomoto, campeã nacional pelo Urawa Reds. Embora não seja titular absoluta na seleção, ela costuma corresponder quando chamada. Foto: AFC Media

Outra meio campista que se beneficiou com a troca no comando técnico na seleção foi Hikaru Naomoto. Um dos maiores destaques do Japão no Mundial Sub-20 de 2012, ela era tida como referência para as Copas do Mundo que viriam. Porém, isso demoraria a acontecer. Após idas e vindas durante o período de Asako Takakura, foi somente com Futoshi Ikeda que a atleta do Urawa Reds emendaria uma maior série de aparições nas listas convocatórias.

Naomoto atua bem com os dois pés, o que a torna uma alternativa bastante interessante para iniciar a saída ao campo de frente e fugir de uma marcação individual. Mesmo que a tendência para a Copa do Mundo mostre o Japão em um 3-4-3 onde as figuras centrais sejam Nagano e Hasegawa, a possibilidade de ter Naomoto como uma quinta meio campista adicionaria maior controle de bola e criatividade ao Japão.

Passaria longe de ser algo negativo, portanto. Ainda existe a chance de Yui Hasegawa ser utilizada como ponta-direita, o que manteria o 3-4-3 ainda que alterasse a característica do ataque. Hina Sugita era um nome bastante comum para ocupar uma das vagas no centro do campo, mas acabaria virando ala na reta final do ciclo.

Hina Sugita normalmente atua mais centralizada em seu clube, mas na seleção ela é quem mais conseguiu render atuando como ala ou meia-esquerda. Foto: Naoki Morita

Pelo Portland Thorns, porém, até hoje é comum ver a japonesa numa faixa mais próxima das meio campistas. Tanto ela é opção por ali que Sugita foi contratada em Maio do ano passado para substituir a armadora Lindsey Horan, então transferida ao Lyon e uma das referências do conjunto bicampeão mundial. No futebol dos Estados Unidos até hoje, Sugita apresenta bons números de gols e assistências desde então.

Mesmo com opções de diferentes características, o Japão mantém seu histórico de possuir um meio campo de qualidade técnica e capaz de desequilibrar jogos. É inegável que o setor estará muitíssimo bem representado independente da escolha e do esquema. O maior problema do time japonês parece ser a falta de velocidade para atacar, ainda que os lados do campo sejam frequentemente utilizados para isso.

No direito, quem surge como a principal aposta pé Aoba Fujino. Destaque do time Sub-20 vice-campeão mundial no ano passado, ela é muito mais um nome que adiciona qualidade técnica nos movimentos do que propriamente correria. A ponta parece ter conquistado de vez sua vaga na equipe titular após a grande sequência de partidas na SheBelieves Cup do começo do ano. A alternativa para essa região do campo é Remina Chiba, que venceu a briga direta contra Yui Narumiya (de boas atuações na última Copa da Ásia) e estará no mundial.

Extremamente habilidosa, Aoba Fujino se destacou bastante em seleções de base e aos 19 anos parece já ser uma afirmação na equipe principal. Foto: Takamoto Tokuhara

Pelo lado esquerdo, Hinata Miyazawa, Jun Endo e a já mencionada Hina Sugita foram protagonistas em boas vitórias no período Futoshi Ikeda e surgem como principais alternativas para a função. E vale dizer que duas delas devem atuar juntas nesse 3-4-3. No caso, com uma sendo escolhida como meia enquanto a outra se posiciona em uma região mais avançada.

Jun Endo foi crucial para o título mundial Sub-20 de cinco anos atrás chegando com frequência na área adversária para finalizar, porém ainda busca uma maior regularidade na seleção principal. A alternativa para esse posto no lado canhoto é Kiko Seike, que superou a versatilidade e a maior experiência de Rikako Kobayashi por um dos lugares na convocação final.

Outra ausência até certo ponto surpreendente foi a de Mana Iwabuchi. Ela que normalmente ocupa uma posição no centro do ataque ou na ponta-esquerda, tornando-a praticamente mais uma meio campista nesse móvel ataque japonês. Pois a atleta do Tottenham foi descartada na lista final após uma temporada de mais baixos do que altos em uma equipe que até o final lutou tão somente para garantir a permanência na elite do futebol inglês.

Maika Hamano se destaca pela facilidade em marcar gols e na ajuda às meio campistas no momento da construção. Ela já foi testada como atacante de movimentação em um esquema que não utiliza centroavante e tem tudo para receber bons minutos neste mundial. Foto: Noriko Hakayusa

Para essa posição no comando de ataque, o Japão conta com Mina Tanaka como uma opção das mais interessantes. Ainda que não esteja vivendo seus melhores momentos na carreira, é certeza que ela já mostrou aptidões para balançar as redes adversárias em outros ciclos. Porém, quem parece estar liderando a briga pelo posto de titular é Riko Ueki. Desde que a nova comissão técnica tomou posse, foi ela quem mais parece ter agradado.

O grande problema da equipe japonesa nos últimos tempos tem sido aproveitar as chances que cria. Isso ficou evidente na SheBelieves Cup, mas já era observado em torneios continentais também (especialmente na Copa do Leste da Ásia do ano passado). O Japão consegue o mais difícil, que é ter o controle do jogo e construir oportunidades de gol. Entretanto, o normal é desperdiçar a grande maioria delas.

Ainda no comando do ataque, outro acréscimo bastante interessante ao combinado Nadeshiko foi Maika Hamano. Bola de Ouro no último Mundial Sub-20, a craque desponta como a estrela mor do conjunto asiático para os próximos anos. Atacante muito inteligente e móvel, Hamano demonstrou eficiência também no momento de balançar as redes rivais (seriam quatro os gols nos seis jogos da competição) e ainda se destacou nas assistências.

Contratada pelo Chelsea no começo de 2023, a estrela japonesa acabaria sendo imediatamente emprestada ao Hammarby IF. No campeonato sueco, Hamano empilhou ótimas atuações e também apresentou um número chamativo de gols (foram 7 em 17 jogos). Pela forma recente e a confiança que transmite à comissão técnica, não seria surpresa se ela ganhasse bons minutos já nesta Copa. Inclusive, uma cobrança muito comum sobre Ikeda é a utilização da móvel atacante nesse posto central do ataque.

Ayaka Yamashita foi a titular na meta japonesa em grande parte da era Asako Takakura e manteve o posto com o desenrolar do trabalho da nova comissão técnica. Foto: Olympic Channel

Por sair da área com frequência, Maika Hamano atuaria como uma armadora em muitos momentos, fato que alteraria o esquema ofensivo para o 3-4-1-2 sem utilização de centroavante. A ineficiência das atacantes mais experientes na tarefa de balançar as redes colabora para que essa seja uma tentativa válida por parte de Futoshi Ikeda. No caso, a ideia é reforçar a faixa central do campo e dar maior liberdade de avanço para praticamente todo o quinteto do setor.

Atrás, o Japão parece muitíssimo bem encaminhado. Na meta, Ayaka Yamashita deve iniciar o mundial como a titular. O trio de defesa apresenta a capitã Saki Kumagai como incontestável, enquanto Shiori Miyake e Moeka Minami complementam o centro da zaga com quase igual eficiência. Caso opte por um 4-4-2 ou 4-2-3-1, Ikeda dá margem para que exista uma disputa por esse posto remanescente. Porém, a tendência é que as três atuem juntas.

Minami até já foi usada como lateral-esquerda, o que significa reforçar a marcação por aquele lado quando o conjunto japonês se vê diante de uma seleção que gosta da bola e utiliza pontas para atacar.  Esse estilo encaixa direitinho com o da Espanha, rival de Grupo C. Como a tendência é que o rival seja escalado em um 4-3-3, esse posicionamento de Minami ajudaria o setor a manter uma maioria nessa região do gramado. Mesmo assim, trata-se de um cenário específico.

Na maior parte das vezes, o que se notará no Japão é o seu trio de zagueiras servindo como ponto de equilíbrio ao talentoso e ofensivo setor de meio campo. Uma alternativa às zagueiras acima é Rion Ishikawa (de 20 anos), nome muito promissor e que vem de ótimas aparições recentes em campeonatos de base.

Risa Shimizu é destaque por conseguir desempenhar funções de ala e lateral pelo lado direito sem perder qualidade nos setores de defesa e ataque. Foto: JFA

A novidade de última hora foi Hana Takahashi, parceira de Ishikawa no campeão nacional Urawa Reds na temporada recém-encerrada. A jovem dupla desbancou a parceria formada por Saori Takarada e Ruka Norimatsu, ambas com um farto número de partidas disputadas em competições de maior peso internacional.

A ideia de uma linha de quatro defensoras se tornou bastante remota após a não convocação de Asato Miyagawa no setor canhoto. Ela seria de fato a única lateral com características mais equilibradas de apoio e marcação por aquele lado. Kiko Seike é ponta de origem enquanto Hina Sugita foi meio campista na maior parte da carreira, vale a pena relembrar. Pela direita, Risa Shimizu é a titular absoluta.

Bastante segura atrás e capaz de realizar ótimos cruzamentos à área adversária no momento ofensivo, a defensora do West Ham United pode ser escalada como lateral ou ala sem maiores problemas de adaptação devido a essa facilidade em cumprir funções que cada duelo em específico pede. Pela regularidade e a segurança que transmite, Risa Shimizu é uma das peças incontestáveis no conjunto Nadeshiko independentemente do posto que ocupe pelo lado direito do gramado.

A alternativa mais interessante que o Japão tem para esse posto é Miyabi Moriya, de muito bom rendimento recente no INAC Kobe Leonessa e capaz de realizar ótimos cruzamentos já na faixa intermediária. Além disso, não raramente a ofensiva Moriya avança até a área adversária para finalizar lances construídos pelo lado inverso. Por ter essa característica de atuar praticamente o tempo todo no campo de ataque, ela é um nome que funciona muito bem no 3-4-3 proposto por Ikeda.

Saki Kumagai é figura remanescente do título mundial em 2011 e vive grande momento individual (como quase sempre nos últimos anos). Foto: Gonzalo Fuentes (Reuters)

Destaque – Saki Kumagai

A capitã japonesa vai para o seu quarto mundial e ainda se apresenta em altíssimo nível. Aliás, a cada temporada que passa parece que Kumagai se desenvolve mais como atleta e cresce em outros aspectos que não os de marcação e bloqueios defensivos. Tanto que ela foi uma volante de posse de bola nas passagens por Lyon Bayern de Munique, ainda que no Japão seja comum vê-la como a grande referência defensiva da equipe.

Mesmo em outra função sob o comando de Futoshi Ikeda, ela possui liberdade para se desprender e na grande maioria das vezes é a responsável pelo passe que inicia o movimento ofensivo. Kumagai é nome de confiança também para as inversões de jogo buscando os lados do campo – especialmente as pontas, região onde costumam nascer a maior parte das tramas de ataque da equipe Nadeshiko.

Quando a dupla de meio campistas do Japão recebe uma marcação agressiva e individual, é a capitã nipônica a maior responsável por comandar a saída ao ataque. Uma das remanescentes do glorioso período do futebol feminino japonês (tendo até cobrado o pênalti decisivo do título mundial em 2011), Saki Kumagai é uma referência natural também pelo período em que esteve vencendo campeonatos em sequência com o todo-poderoso clube francês. Para a próxima temporada, a zagueira já acertou sua transferência para a atual campeã italiana Roma.

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