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Guia da Copa do Mundo Feminina de Futebol - Grupo B

 Tabela de Jogos (No Horário de Brasília)

1ª Rodada:

20/07 – 07h: Austrália x Irlanda (Stadium Australia – Sydney/AUS)

20/07 – 23h30: Nigéria x Canadá (Melbourne Rectangular Stadium – Melbourne/AUS)

2ª Rodada:

26/07 – 09h: Canadá x Irlanda (Perth Rectangular Stadium – Perth/AUS)

27/07 – 07h: Austrália x Nigéria (Lang Park – Brisbane/AUS)

3ª Rodada:

31/07 – 07h: Canadá x Austrália (Melbourne Rectangular Stadium – Melbourne/AUS)

31/07 – 07h: Irlanda x Nigéria (Lang Park – Brisbane/AUS)


As duas seleções classificadas enfrentam adversários do Grupo D nas Oitavas de Final


Guia da Copa do Mundo Feminina de Futebol - Grupo A


Austrália

Foto: Football Australia

A equipe chega à Copa do Mundo como a anfitriã que mais deve dar trabalho. É verdade que a Austrália não apresenta a solidez necessária para que seja alçada ao posto de séria candidata ao título, mas é uma seleção de boa qualidade e que pode sim surpreender. Ainda mais em um mundial que não parece apresentar uma favorita absoluta até o momento. E vale lembrar que as Matildas terão a torcida ao lado, o que com certeza é um adicional importante.

Dentro das quatro linhas, a artilheira e capitã Sam Kerr lidera uma equipe de nomes experientes, com um histórico importante com a camiseta nacional e que também é muito equilibrada em praticamente todos os setores. Além disso, a Austrália ganhou alternativas importantes e de talento com o passar do ciclo. Especialmente de atletas novatas, que vêm mostrando qualidade suficiente para serem utilizadas com maior frequência na formação titular. Com o passar da Copa, provavelmente algumas delas terão mais espaço.

Essa mescla que vem ganhando força nos últimos anos é um ponto forte da equipe comandada pelo contestado Tony Gustavsson. A quarta posição conseguida nos Jogos Olímpicos de Tóquio anima e adiciona confiança para a conclusão do ciclo, já que foi o melhor resultado alcançado pelas Matildas em uma competição mundial de alto nível. De qualquer forma, o pensamento que paira o imaginário da torcida local é bastante claro: é possível chegar ainda mais longe.

A grande expectativa para a Copa do Mundo é que arquibancadas e seleção nacional se unam e alcancem um resultado inédito para o país. Esse, inclusive, deve ser o último mundial de uma histórica geração que mudou o status da Austrália no cenário internacional e se acostumou a disputar grandes torneios com aspirações maiores do que disputar os três protocolares jogos da fase de grupos. Podemos, portanto, ver uma despedida de gala de boa parte delas.

Ranking da FIFA: 10º Lugar.

Participações Anteriores em Copas do Mundo: 7/8 (1995, 1999, 2003, 2007, 2011, 2015, 2019).

Melhor Campanha: Quartas de Final (2007, 2011 e 2015).

Tony Gustavsson não é unanimidade apesar da campanha na Olimpíada de Tóquio dois anos atrás, quanto a Austrália alcançou uma histórica fase semifinal. Foto: Impetus Football

Técnico: Tony Gustavsson (desde Setembro de 2020).

Convocação

Goleiras: 1-Lydia Williams (35 anos – 13/05/1988; Brighton & Hove Albion-ING), 12-Teagan Micah (25 anos – 20/10/1997; FC Rosengård-SUE), 18-Mackenzie Arnold (29 anos – 25/02/1994; West Ham United-ING);

Laterais: 2-Courtney Nevin (21 anos – 12/02/2002; Leicester City-ING), 7-Steph Catley (29 anos – 26/01/1994; Arsenal FC-ING), 21-Ellie Carpenter (23 anos – 28/04/2000; Lyon-FRA), 22-Charlotte Grant (21 anos – 20/09/2001; Vittsjö GIK-SUE);

Zagueiras: 3-Aivi Luik (38 anos – 18/03/1985; BK Häcken-SUE), 4-Clare Polkinghorne (34 anos – 01/02/1989; Vittsjö GIK-SUE), 14-Alanna Kennedy (28 anos – 21/01/1995; Manchester City-ING), 15-Clare Hunt (24 anos – 12/03/1999; Western Sydney Wanderers);

Volantes/Meio Campistas: 6-Clare Wheeler (25 anos – 14/01/1998; Everton FC-ING), 8-Alex Chidiac (24 anos – 15/01/1999; Racing Louisville-EUA), 10-Emily van Egmond (29 anos – 12/07/1993; San Diego Wave-EUA), 11-Mary Fowler (20 anos – 14/02/2003; Manchester City-ING), 13-Tameka Yallop (32 anos – 16/06/1991; Brann-NOR), 19-Katrina Gorry (30 anos – 13/08/1992; Brisbane Roar), 23-Kyra Cooney-Cross (21 anos – 15/02/2002; Hammarby IF-SUE);

Meias/Pontas: 5-Cortnee Vine (25 anos – 09/04/1998; Sydney FC), 9-Caitlin Foord (28 anos – 11/11/1994; Arsenal FC-ING), 16-Hayley Raso (28 anos – 05/09/1994; Manchester City-ING);

Atacantes: 17-Kyah Simon (32 anos – 25/06/1991; Tottenham Hotspur-ING), 20-Sam Kerr (29 anos – 10/09/1993; Chelsea FC-ING).

Lista de Suplentes: Não Divulgada.

Ausências Notáveis: Elise Kellond-Knight (MC – Melbourne Victory; ruptura no tendão de Aquiles sofrida em Março de 2023), Jada Whyman (GOL – Sydney FC; opção técnica), Karly Roestbakken (ZAG/LE – Melbourne City; opção técnica), Emma Checker (ZAG – Melbourne City; opção técnica), Matilda McNamara (ZAG – AGF Aarhus-DIN; opção técnica), Amy Sayer (MA/MC – Stanford University-EUA; opção técnica), Chloe Logarzo (MC/PE – Western United; opção técnica), Rachel Lowe (MC/MA – Sydney FC; opção técnica), Holly McNamara (PD/PE – Melbourne City; opção técnica), Princess Ibini (PE/AT – UNSW FC; opção técnica), Larissa Crummer (AT – Brann-NOR; opção técnica), Remy Siemsen (AT – Leicester City-ING; opção técnica), Emily Gielnik (AT/PE – Aston Villa-ING; opção técnica).

Time-Base:

Mackenzie Arnold; Ellie Carpenter, Alanna Kennedy, Clare Polkinghorne, Steph Catley; Mary Fowler, Katrina Gorry, Emily van Egmond; Hayley Raso, Sam Kerr ©, Caitlin Foord.

Especialmente após a Olimpíada de Tóquio, vários testes foram realizados. Seja em matéria de nomes ou de esquemas, com as Matildas deixando um pouco de lado o habitual 4-3-3 de anos anteriores para atuar em um 4-4-2, em um 4-2-3-1 e até num 5-4-1. Esse último, testando três zagueiras, foi observado na goleada sofrida diante da Espanha na metade do ano passado. Boa parte dessas mudanças acabaria gerando bons frutos para o plantel de Tony Gustavsson, como veremos adiante.

Uma posição que parece estar totalmente em aberto para a Copa do Mundo é a de goleira. Lydia Williams foi a titular absoluta no mundial de quatro anos atrás, mas agora a experiente atleta de 34 anos enfrenta a concorrência de Teagan Micah e Mackenzie Arnold. Em busca de maiores minutos em campo, Williams deixou a reserva do Paris Saint-Germain no começo do ano e passou a defender o Brighton & Hove Albion, sendo nome importante de uma equipe que assegurou permanência na primeira divisão inglesa ao final da temporada.

Já Teagan Micah iniciou todos os cinco confrontos australianos na última Olimpíada, torneio onde a seleção foi até a semifinal e fez história. Outro nome que busca essa vaga de titular na meta Matilda é Mackenzie Arnold, de chances frequentes em 2023 e que também correspondeu quando fora chamada. A briga é boa e em um alto nível. Não se pode descartar a utilização de pelo menos duas delas na fase de grupos, até para que as atuações mostrem quem merece ser mantida para a sequência do mundial.

Mackenzie Arnold foi quem recebeu chances na meta australiana em 2023, mas é difícil prever se ela iniciará a Copa do Mundo como titular. A disputa está bastante aberta. Foto: Saeed Khan

A lateral-direita é um ponto de grande força e esperança para a Austrália. A razão é a novata defensora Ellie Carpenter, dona absoluta da posição e que vem de boas temporadas no Lyon. Carpenter carrega no currículo duas participações em Olimpíadas e também a titularidade na Copa do Mundo de 2019. E o detalhe: tudo isso com apenas 23 anos. Não há motivos para se colocar em cheque a sua capacidade técnica. O ponto que tirou o sono da comissão técnica e dos torcedores foi a grave lesão sofrida pela lateral em meados de 2022.

Mais uma vítima dos problemas ligamentares no joelho, a defensora acabaria se ausentando da maior parte da reta final da preparação à Copa do Mundo. Menos mal para o treinador europeu que a data FIFA de Abril viu Carpenter retornando bem fisicamente para os duelos contra Escócia e Inglaterra. Sem contar as quatro partidas disputadas pelo Lyon de Abril para cá, o que contribuiu para que a atleta chegasse em melhores condições ao mundial até mesmo no aspecto da autoconfiança.

No esquema australiano, a veloz jogadora é peça importantíssima no jogo ofensivo e com grande frequência aparece nos arredores da área adversária para efetuar cruzamentos. Durante a sua ausência, as Matildas utilizaram a meia/ponta Cortnee Vine improvisada em uma posição mais recuada do gramado. Uma opção mais equilibrada é Charlotte Grant, defensora de ofício e de um potencial maior de marcação em comparação à dupla citada acima.

Pelo vigor físico e a qualidade no momento do apoio, Ellie Carpenter é uma das principais referências das donas da casa. Aos 23 anos, ela vai para a sua segunda participação em Copas. Foto: Canberra Times

Por falar em defesa, o centro da zaga australiana conta com as experientes Clare Polkinghorne e Alanna Kennedy. A dupla está acostumada a atuar junta há um bom tempo e alia velocidade em recuperações e imposição nos duelos pelo alto. O detalhe é que ambas também ajudam na construção ofensiva com bola no pé, seja em lançamentos às costas da defesa rival ou na saída com a volante. Isso é algo bastante importante no estilo de jogo imposto pelo treinador sueco, que busca sempre trabalhar os lances e sair ao campo de ataque de forma paciente e consciente.

As principais alternativas a esse posto são a experiente Aivi Luik (de 38 anos e também volante) e Clare Hunt. Porém, vale dizer que uma delas será escolhida só se for realmente necessário. Kennedy e Polkinghorne são de fato intocáveis, a ponto de a defensora do Manchester City aparecer na convocação final mesmo sem atuar desde Março devido a um problema na panturrilha. Próximo a elas, a lateral-esquerda Steph Catley adiciona um equilíbrio maior ao setor defensivo.

Não tão afeita ao apoio como a novata Ellie Carpenter, a atleta do Arsenal costuma fechar seu lado a fim de liberar a ponta que cai por ali. Ao mesmo tempo, Catley é importante nos lances de bola parada da Austrália, com seu pé canhoto sendo responsável por cobranças de falta e escanteios. É verdade que seu momento no futebol inglês não é dos melhores, mas na seleção ela é importante e dificilmente será sacada do time titular por escolha técnica.

Embora não tenha a mesma resistência física de Carpenter, Steph Catley também acrescenta ao conjunto australiano (especialmente na construção ofensiva e em lances de bola parada). Foto: Matildas

Eventualmente, e até pela facilidade em trocar passes e sair para o jogo, Catley pode ser escalada como zagueira também. Courtney Nevin é a sua reserva imediata para a lateral e também já foi utilizada mais ao centro da linha defensiva em confrontos internacionais. O quarteto considerado titular das australianas é forte e oferece solidez e qualidade técnica, ainda que as duas zagueiras sofram quando se deparam com atacantes velozes.

Outros nomes carimbados na seleção Matilda são Katrina Gorry e Emily Van Egmond. A dupla é remanescente de uma fortíssima zona de meio campo que funcionou muito bem na década passada. Com muito boa qualidade para efetuar passes curtos e longos, ambas se mantém no mais alto nível e parecem ser a melhor tutora para Mary Fowler. Essa, uma jovem e talentosa meio campista que merecidamente foi conquistando seu espaço no time de Tony Gustavsson com o passar do tempo.

Atualmente no Manchester City, a jogadora de 20 anos desde os 15 frequenta a lista principal da Austrália e se caracteriza principalmente por realizar a função normalmente executada por uma armadora. De fato, Mary Fowler é a meio campista desse 4-3-3 que mais se desprende à frente, muitas vezes aparecendo como se fosse outra atacante. Ela é um ganho importante em qualidade técnica e é a principal atleta australiana dessa nova geração a despontar nessa zona central do campo.

Atuando como volante, Katrina Gorry se transformou em um dos pilares da Austrália. A agilidade e a facilidade para trocar passes melhoram bastante a saída da equipe ao campo de ataque. Foto: CommBank Matildas

Quem mais se assemelha a ela em matéria de habilidade é Alex Chidiac, um nome de muita criatividade e que é totalmente imprevisível. Kyra Cooney-Cross e Tameka Yallop são alternativas para essa função, ainda que as atletas desse polivalente dupla já tenham sido utilizadas como meias e pontas pelo setor esquerdo e não tenham exatamente a "fantasia" apresentada por Chidiac. Um corte em relação à lista divulgada em Junho foi o de Chloe Logarzo, importante peça no ciclo anterior. No mundial de 2019, ela seria titular nos quatro confrontos e terminaria a competição com um gol e uma assistência.

A péssima notícia para os planos da comissão técnica é a ausência da experiente Elise Kellond-Knight na lista final. A versátil jogadora já havia perdido a maior parte dos anos de 2020 e 2021 após sofrer uma séria lesão no joelho e agora vê o sonho de disputar uma Copa do Mundo em sua casa ser impossibilitado por contra de outro problema médico. Vale ressaltar que Kellond-Knight conseguiu recuperar-se do incômodo inicial ainda em Agosto do ano passado. Ou seja: em tempo de readquirir grande parte do ritmo de jogo até o mundial.

Porém, a lesão ocorrida no último mês de Março foi fatal. O problema desta vez foi uma ruptura no tendão de Aquiles. Este ferimento ocorreu em uma sessão de treinamentos dela pelo Melbourne Victory, equipe onde a atleta de 32 anos atuava desde Novembro justamente na tentativa de readquirir maior ritmo de jogo. Até por ter um centro do campo onde algumas atletas estão indo para a sua primeira Copa, Kellond-Knight certamente seria uma escolha de segurança para Gustavsson para um confronto de maior peso.

Mary Fowler encabeça o grupo de atletas jovens que aos poucos foram conquistando espaço na equipe australiana. A meio campista é quem mais costuma avançar, em muitos momentos atuando realmente como atacante. Foto: FoxSports

Com experiência em Copas do Mundo e Olimpíadas, Elise Kellond-Knight foi um nome bastante importante para as Matildas em anos anteriores. Especialmente pela facilidade que ela apresenta em efetuar distintas tarefas nas linhas de defesa e centro do campo e também pelo bom entrosamento com jogadoras que foram suas companheiras na equipe nacional em vários torneios. Por toda essa rodagem, a atleta também teria uma tranquilidade maior em lidar sob a pressão que certamente virá das arquibancadas.

Normalmente, a encarregada de atuar entre defesa e meio campo é Katrina Gorry. Entretanto, apresentando uma característica de maior intimidade com a bola. Ela não é apenas marcadora, mas também a principal jogadora da Austrália para organizar as transições ao campo ofensivo. E, mesmo tendo duas zagueiras com qualidade para fazer a saída de bola, a presença de Gorry é decisiva também pelo fato de acabar soltando ao menos uma lateral para o apoio.

Especialmente Ellie Carpenter, nome importantíssimo para o momento ofensivo e que é capaz de cobrir praticamente toda a faixa direita do campo. Além disso, a meio campista torna a linha de defesa mais preenchida a partir do momento em que normalmente se posiciona perto de Alanna Kennedy e Clare Polkinghorne e se torna outra zagueira. E vale destacar que a sua adaptação a essa função foi praticamente imediata.

Alex Chidiac é uma opção das mais interessantes para o centro do campo australiano. Canhota habilidosa, ela adiciona qualidade técnica e mantém a ótima circulação de bola no setor. Foto: NBC Sports

Não é exagero dizer que Gorry é uma das mais importantes atletas para que o jogo das Matildas flua. Como a Austrália costuma liberar Mary Fowler para que a jovem frequentemente se aproxime da área rival, cabe a Emily Van Egmond auxiliar a volante do Brisbane Roar na saída de bola do campo de defesa. Uma alternativa de mais marcação é Clare Wheeler, de boas apresentações no Everton e que é uma meio campista com foco especialmente no fechamento de espaços.

Hayley Raso e Caitlin Foord encabeçam a lista de atletas nacionais que buscam principalmente os lados do campo no setor de ataque. Ambas apresentam grande vivência dentro da seleção e são responsáveis por abrir espaços defensivos através de dribles e também acelerar as jogadas para uma eventual finalização de fora da área ou se deslocar até a linha de fundo para realizar cruzamentos.

Ainda que Foord não viva sua melhor fase técnica no Arsenal e tenha sofrido uma lesão muscular no começo do ano, ela costuma fazer a diferença para as Matildas. Certamente ela é um dos grandes trunfos das donas da casa visando a Copa do Mundo, seja atuando como ponta-esquerda ou atacante de movimentação. Já Hayley Raso normalmente é escalada para o lado direito de ataque, e tem como lance principal a jogada em direção ao fundo.

Caitlin Foord normalmente ocupa um lugar no setor esquerdo de ataque. Porém, em alternativa testada com mais veemência a partir do ano passado, a jogadora do Arsenal passou a atuar como atacante de movimentação em um 4-4-2. Foto: DeFodi Images

E vale a pena relembrar: o avanço frequente da lateral Ellie Carpenter torna o setor direito australiano ainda mais perigoso e imprevisível. Quem desponta como reposição imediata à Raso é Cortnee Vine, outra novidade do ciclo. Extremamente rápida e de boa contribuição ofensiva pela faixa direita do campo, ela é o principal motivo para que o 4-4-2 tenha sido utilizado com maior veemência desde o final de 2022.

Nessa formação, Caitlin Foord deixa o setor esquerdo para atuar mais próxima de Sam Kerr no ataque, buscando espaços fora da área como uma segunda atacante. Para o seu lugar, Hayley Raso é deslocada e passa a ser a principal responsável por combinar jogadas com a defensora Steph Catley no lado canhoto. Seja utilizando trio ou quarteto, o ataque é um setor do campo onde a Austrália está muito bem servida.

Outras opções por ali foram Kyah Simon, Remy Siemsen, Emily Gielnik e Larissa Crummer, que podem aparecer como referência na área ou buscando jogo pelos lados do campo. De quebra, elas adicionam uma alternativa interessante que é a aposta em jogadas aéreas e cruzamentos. Como Sam Kerr não é necessariamente uma atacante que fica a maior parte do tempo dentro da área, ter uma companheira próxima de mais imposição física pode fazer com que a capitã participe mais de combinações e tabelas longe da área adversária.

Mesmo com um problema médico ocorrido já em 2023, Alanna Kennedy foi chamada é um dos nomes indispensáveis no conjunto australiano. Foto: NBC Sports

De qualquer forma, essa insistência em lançamentos longos é o tipo de alternativa a ser maior explorada nos finais de partida, onde a Austrália precisará buscar gol(s). No restante do tempo, a tendência é a seleção de Tony Gustavsson preferir combinações através de bola trabalhada. Do quarteto acima, vale dizer que somente Kyah Simon disputará a Copa do Mundo. E essa foi uma escolha bastante questionável da comissão técnica, já que a jogadora do Tottenham ainda não atuou em 2023 por conta de uma lesão ligamentar no joelho sofrida em Outubro.

Uma característica importante das Matildas e que independe do esquema tático montado pelo técnico sueco é a marcação já no campo rival. Assim, é comum ver meio campistas e atacantes pressionando a partir da intermediária ofensiva e não deixando a equipe adversária sair de seu campo de maneira confortável com a posse de bola. Isso pode gerar problemas especialmente no confronto diante da Nigéria, que conta com atletas de habilidade, inteligência e velocidade para atacar esse espaço às costas da exposta dupla de zaga (provavelmente) formada por Clare Polkinghorne e Alanna Kennedy.

Mas é um risco que deverá ser comum durante a Copa do Mundo. Caso as africanas ou qualquer outro conjunto fuja desse cerco inicial proposto pela seleção da casa, encontrará espaço para contra-ataques. O gol sofrido no amistoso contra a Nova Zelândia (ainda no ano passado) surgiu em um lançamento buscando a atacante Hannah Wilkinson justamente nesse espaço entre zagueiras e também a goleira titular.

Vale a pena mencionar esse aspecto especialmente por ser uma Copa do Mundo sediada na Austrália e que terá o torcedor local apoiando e também pressionando as jogadoras em campo. Por isso, é natural a responsabilidade de a seleção buscar uma imposição técnica e também em matéria de postura nos confrontos – especialmente em relação àqueles ocorridos já na fase de grupos. O ônus e o bônus de se jogar uma competição em casa.

Sam Kerr chega à Copa após mais uma grande temporada pelo Chelsea. É principalmente ela que faz os australianos sonharem com uma conquista dentro de casa. CommBank Matildas

Destaque – Sam Kerr

Ela é a cereja do bolo em uma equipe que conta com atletas experientes e que já atuam juntas dentro da seleção em um período relativamente longo. Sam Kerr se consolidou como uma das principais atacantes do mundo em clubes (principalmente nas passagens por Estados Unidos e agora no Chelsea) e já é a maior goleadora da história de uma Austrália que vivencia seu maior momento em todos os tempos.

Porém, apesar dessa importante trajetória construída por Kerr, seu único título vencido com as Matildas, a Copa da Ásia, ocorreu no longínquo ano de 2010. E com um detalhe que vale a pena ser citado: sem que a artilheira tivesse uma real contribuição nele. Isso por que, apesar de já frequentar a lista das mais promissoras atletas do campeonato, ela tinha tão somente 16 anos e participou de apenas uma partida.

13 anos mais tarde, a agora capitã e badalada Sam Kerr tem a chance de conseguir um resultado histórico com o seu país – e dentro de casa, é sempre bom lembrar. Qualidade, ela e o conjunto australiano possuem. Se o faro de gol da atacante estiver em dia durante o mês da Copa do Mundo, a seleção pode sim sonhar com o título mundial. Sua mais recente temporada pelo Chelsea anima bastante, já que a atleta de 29 anos marcou 30 gols em 38 aparições e ainda contribuiu com sete assistências.


Irlanda

Foto: Ryan Byrne (Inpho)

Uma das seleções que fará sua estreia em Copas do Mundo neste ano de 2023, a Irlanda foi a grande surpresa dentre os países europeus classificados ao mundial. Isso porque a equipe não tem participações sequer em fase final de Eurocopa, o que mostra o tamanho do feito que foi conseguir uma das vagas do velho continente para a Copa. E não para por aí.

O conto de fadas teve um desfecho ainda mais mágico pelo fato de o conjunto comandado por Vera Pauw levar a melhor justamente no clássico regional diante da Escócia. No confronto direto realizado em pleno Hampden Park (Glasgow), melhor para as irlandesas. Diga-se: em duelo bastante disputado e que exigiu muita entrega e disciplina defensiva de Na Cailíní i Nglas (As Garotas de Verde).

Passada a euforia pela classificação, é fato que a Irlanda terá uma chave bastante complicada pela frente. Além da anfitriã Austrália, o atual campeão olímpico Canadá e a talentosa Nigéria compõem o Grupo B. Todos eles possuem participações frequentes em grandes torneios internacionais e um histórico de alcançar fases decisivas.

Por conta disso, avançar à segunda fase do mundial tem tudo para ser uma tarefa bastante complicada para a equipe de Vera Pauw. Entretanto, existem motivos para acreditar. Em 2021, a Irlanda bateu as australianas em confronto amistoso e ainda nesse ciclo arrancou um empate diante da forte seleção da Suécia em pleno território nórdico numa partida válida pelas eliminatórias para a Copa do Mundo. É possível sonhar.

Ranking da FIFA: 22º Lugar.

Participações Anteriores em Copas do Mundo: Não Possui.

Técnica: Vera Pauw (desde Setembro de 2019).

Por mais que haja contestação quanto ao estilo de jogo da Irlanda, é fato que Vera Pauw conseguiu tornar a equipe bastante competitiva à sua maneira. Foto: Inpho

Convocação

Goleiras: 1-Courtney Brosnan (27 anos – 10/11/1995; Everton FC-ING), 16-Grace Moloney (30 anos – 01/04/1993; Reading FC-ING), 23-Megan Walsh (28 anos – 12/11/1994; Brighton & Hove Albion-ING);

Alas: 3-Chloe Mustaki (27 anos – 29/07/1995; Bristol City-ING), 13-Áine O’Gorman (34 anos – 13/05/1989; Shamrock Rovers), 14-Heather Payne (23 anos – 20/01/2000; Florida State Seminoles-EUA), 22-Izzy Atkinson (21 anos – 17/07/2001; West Ham United-ING);

Zagueiras: 2-Claire O’Riordan (28 anos – 12/10/1994; Celtic FC-ESC), 4-Louise Quinn (33 anos – 17/06/1990; Birmingham City-ING), 5-Niamh Fahey (35 anos – 13/10/1987; Liverpool FC-ING), 6-Megan Connolly (26 anos – 07/03/1997; Brighton & Hove Albion-ING), 7-Diane Caldwell (34 anos – 11/09/1988; Reading FC-ING);

Volantes/Meio Campistas: 8-Ruesha Littlejohn (33 anos – 03/07/1990; Aston Villa-ING), 10-Denise O’Sullivan (29 anos – 04/02/1994; North Carolina Courage-EUA), 12-Lily Agg (29 anos – 17/12/1993; London City Lionesses-ING), 17-Sinead Farrelly (33 anos – 16/11/1989; NJ/NY Gotham FC-EUA), 21-Ciara Grant (30 anos – 11/06/1993; Hearts-ESC);

Meias/Pontas: 11-Katie McCabe (27 anos – 21/09/1995; Arsenal FC-ING), 15-Lucy Quinn (29 anos – 29/09/1993; Birmingham City-ING), 19-Abbie Larkin (18 anos – 27/04/2005; Shamrock Rovers), 20-Marissa Sheva (26 anos – 22/04/1997; Washington Spirit-EUA);

Atacantes: 9-Amber Barrett (27 anos – 10/01/1996; Turbine Potsdam-ALE), 18-Kyra Carusa (27 anos – 14/11/1995; London City Lionesses-ING).

Lista de Suplentes: Sophie Whitehouse (GOL | 26 anos – 10/10/1996; Lewes FC), Harriet Scott (AD | 30 anos – 10/02/1993; Birmingham City-ING), Jamie Finn (AD/MD | 25 anos – 21/04/1998; Birmingham City-ING).

Ausências Notáveis: Aoife Mannion (ZAG – Manchester United-ING; lesão no joelho sofrida em Janeiro de 2023), Megan Campbell (AE – Liverpool FC-ING; vem sofrendo com problemas físicos), Ellen Molloy (MC/MA – Wexford Youths; lesão no ligamento cruzado anterior do joelho sofrida em Setembro de 2022), Jessica Ziu (MD/AD – West Ham United-ING; lesão no ligamento cruzado anterior do joelho sofrida em Outubro de 2022), Rianna Jarrett (AT – Wexford Youths; opção técnica – mas com um histórico de duas graves lesões no joelho direito), Tara O’Hanlon (AE –Peamount United; opção técnica), Niamh Farrelly (VOL/MC – Parma-ITA; opção técnica), Roma McLaughlin (VOL/MC – Fortuna Hjørring-DIN; opção técnica), Hayley Nolan (VOL/MC– London City Lionesses-ING; opção técnica), Leanne Kiernan (ME/AT – Liverpool FC-ING; opção técnica), Saoirse Noonan (AT – Durham-ING; opção técnica).

Time-Base:

Courtney Brosnan; Áine O’Gorman, Niamh Fahey, Louise Quinn, Megan Connolly, Izzy Atkinson; Heather Payne, Denise O’Sullivan, Sinead Farrelly, Katie McCabe ©; Amber Barrett.

O principal ponto da Irlanda parece ser mesmo sua linha defensiva. Não exatamente pelo que apresenta no aspecto individual, mas pelo equilíbrio que o setor proporciona para que as suas mais talentosas atletas façam a diferença do meio campo em diante. O consolidado esquema organizado por Vera Pauw com cinco defensoras posicionadas para proteger a própria meta dá uma solidez bastante interessante e possibilita que a linha formada por meio campistas tenha maior liberdade de auxílio a uma solitária atacante.

Katie McCabe é a referência principal para encabeçar os lances em velocidade pelo lado canhoto. Aliás, é quase sempre por ali e com ela que nascem os mais perigosos movimentos ofensivos da Irlanda, como mostram seus sete gols marcados nas eliminatórias e os vários momentos onde o setor esquerdo levou vantagem em duelos contra a linha defensiva adversária.

Pelas arrancadas e também a qualidade técnica, é McCabe a principal parceira da atleta escolhida para atuar no centro do ataque. Heather Payne foi uma alternativa bastante utilizada nesse 5-4-1 montado para escapadas em velocidade assim que a Irlanda recupera a posse de bola. A atacante leva perigo especialmente quando acionada às costas das zagueiras rivais. O problema para a Irlanda é que ela não chega a ser uma artilheira, já que até hoje tem somente um gol marcado pela seleção desde a sua estreia em 2018.

A polivalente Heather Payne já foi ala, meia e atacante durante o ciclo. Sua função em campo ilustra a estratégia irlandesa para determinada partida. Foto: Laszlo Geczo (Inpho)

Muito desse número baixo se dá pela utilização de Payne no esquema irlandês. Embora tenha assumido um posto no comando do ataque em anos recentes, ela era comumente ala-direita ou meia-direita. Nos últimos testes, com Vera Pauw buscando um time mais reforçado e que jogue com uma atacante de ofício, Payne acabaria retornando a esses papéis mais recuados. Quando ela atua mais avançada, a comissão técnica conta com alternativas de características distintas para o posto de ala e meia.

Uma delas é Áine O’Gorman, titular no decisivo duelo diante da Escócia. Ela é muito mais uma atleta de velocidade e entrega física para a ocupação de espaços do que realmente de imprevisibilidade criativa no campo rival. Tanto que a polivalente capitã do local Shamrock Rovers já foi utilizada como ala-direita durante esse atual ciclo e não raramente é escalada no centro do ataque em seu clube.

O’Gorman é um dos nomes de maior experiência pelo fato de estar no time principal há um bom tempo e ter presenciado os momentos de baixa e também o de agora, que é o ápice do futebol feminino irlandês. A presença da jogadora de 34 anos em campo proporciona um estilo menos habilidoso ao apresentado pelas duas principais opções utilizadas ao longo do ciclo. Uma delas seria Jessica Ziu, ponta de origem que tem como característica principal partir pra cima das rivais através de dribles e arrancadas.

Áine O'Gorman é uma das mais experientes jogadoras do conjunto nacional e também tem facilidade para atuar em diferentes posições. Foto: Stephen McCarthy (Sportsfile)

Todavia, a jogadora do West Ham foi mais uma vítima das lesões ligamentares no joelho. Nesse caso, o problema ocorreu em Outubro, impossibilitando a presença dela até mesmo no jogo decisivo diante da Escócia. O ganho para 2023 é Marissa Sheva, atualmente no futebol dos Estados Unidos e que aceitou o processo de naturalização para defender a Irlanda no começo deste ano. Ela é quem mais se assemelha ao estilo de Ziu e se tornou uma opção interessante para Vera Pauw nas datas FIFA preparatórias à Copa do Mundo.

Já Lucy Quinn é uma atacante de referência que foi utilizada durante boa parte do ciclo como meia-direita. Trata-se de uma estratégia proposta pela comissão técnica irlandesa para que a jogadora do Birmingham se adiante e apareça dentro da área para aproveitar jogadas aéreas. Por ter boa força física, sua presença costuma incomodar a defesa adversária.

Dessa forma, o lance se desenha mais ou menos dessa forma: Katie McCabe recebe uma bola veloz pelo lado canhoto e escolhe entre um passe em profundidade que aciona a única atacante às costas da linha de defesa ou um cruzamento longo tendo Lucy Quinn como alvo. Nesse caso, ela avança até a segunda trave e se aproveita do seu quase 1,70cm para no mínimo duelar bem pela bola com a lateral ou a zagueira da equipe rival.

Amber Barrett marcou o gol da classificação irlandesa para a Copa do Mundo e chega em vantagem para a titularidade no comando de ataque após a boa atuação recente contra Zâmbia. Foto: Reuters

Outro fator importante para ter Quinn em campo é o fato de ela comumente se sacrificar bastante pela equipe. Assim, a atleta oferece um trabalho de marcação e acompanhamento da rival até o próprio campo que é importantíssimo para quem baseia o seu jogo em reduzir espaços da outra seleção e apostar em jogadas de contra-ataque. Mesmo com essa boa variação de nomes e possibilidades de alternar o estilo do jogo ofensivo, porém, o ataque d’As Garotas de Verde deixa a desejar nos números.

Como dito anteriormente, Heather Payne não é exatamente uma artilheira. Tanto que terminou o qualificatório europeu sem marcar um golzinho sequer. Aliás, a Irlanda dificilmente conseguiu mais do que um gol por partida nos confrontos contra seleções do velho continente. Foi somente nos resultados positivos diante da Geórgia (9x0 e 11x0) e no decisivo e duro duelo contra a Finlândia (2x1) que as irlandesas apresentaram um maior poder de fogo e balançaram as redes rivais mais do que em uma oportunidade.

Não que seja errado montar o seu estilo de jogo a partir de um setor bem montado desde trás. O problema é: se mantiver essa média para a Copa do Mundo, o conjunto de Vera Pauw precisará de muita eficiência defensiva e também um aproveitamento incrível nas chances de gol geradas durante os confrontos para ter chance de pontuar e conseguir brigar seriamente por uma histórica classificação às oitavas de final.

Denise O'Sullivan é a referência de um meio campo de ótima qualidade. Além do toque de bola, ela costuma se projetar muito bem ao campo ofensivo. Foto: Laszlo Geczo (Inpho)

As opções mais utilizadas para o centro do ataque irlandês durante os últimos anos foram Amber Barrett e Kyra Carusa, que conseguiram balançar as redes adversárias durante a eliminatória. A primeira, aliás, decidiu o duelo decisivo contra a Escócia em Glasgow. A habilidosa Abbie Larkin e a artilheira Leanne Kiernan também se mostraram alternativas interessantes para esse posto pela mobilidade que dão ao setor, mas costumam ser utilizadas pelos lados do campo com Vera Pauw.

E é preciso destacar que Kiernan sofreu séria lesão em Setembro, responsável por tira-la dos gramados até a metade de Maio. Ainda que tenha jogado em torno de 30 minutos pelo Liverpool em Maio e também o amistoso recente diante de Zâmbia, sua condição de jogo não era considerada a ideal. Tanto que a atacante acabaria desfalcando a Irlanda na convocação final, não fazendo parte sequer da lista de suplentes. Triste pelo potencial da atleta e pela forma como encaixaria tão bem no esquema nacional.

O centro do campo irlandês encontra em Denise O’Sullivan uma jogadora inteligente e dotada de grande qualidade com bola nos pés. Dessa forma, ela é a principal responsável por passes que exijam um maior nível de exigência técnica. É geralmente através da criativa meio campista do North Carolina Courage que se dá a saída de bola mais bem elaborada e também algum lançamento longo buscando o setor mais forte do conjunto irlandês, ocupado pela capitã McCabe no lado canhoto do gramado.

Além disso, é quase sempre O’Sullivan quem se movimenta para ajudar o ataque, seja dando as caras na área adversária como uma atacante a mais ou buscando um melhor posicionamento para rebotes nas cercanias da meia-lua. Os seis gols que marcaram a campanha de classificação para a Copa do Mundo enfatizam a força que a meio campista tem nesse tipo de movimentação e também a importância no momento ofensivo irlandês.

Apesar dos 18 anos, Abbie Larkin vem agradando quando escalada na equipe principal. Sua qualidade técnica chama a atenção. Foto: RTE

Aos 29 anos, a jogadora tem passagem por equipes de Escócia e Inglaterra antes de rumar aos Estados Unidos. E, ainda que apresente números discretos nos clubes, essa facilidade para chegar à frente contribui para que n’As Garotas de Verde a atleta tenha um total de 25 gols marcados. O 5-4-1 organizado por Vera Pauw normalmente tem em Denise O’Sullivan a figura da meio campista que mais se desprende ao campo de ataque.

Ruesha Littlejohn e Lily Agg foram nomes frequentes para esse posto remanescente no centro do campo e corresponderam em confrontos importantes das eliminatórias. Outro nome confirmado na Copa é Ciara Grant, de boa experiência com a camiseta alviverde. A grande novidade é Sinead Farrelly, convocada para a data FIFA de Abril após oito anos de inatividade no futebol. A atleta de 33 chegou a defender seleções de base dos Estados Unidos no passado, mas faria a sua estreia pela equipe principal da Irlanda justamente contra as estadunidenses já em 2023.

Uma opção ao grupo era Ellen Molloy, nome muito promissor no futebol local e que vinha se destacando bastante no auxílio ao ataque em seleções de base. Porém, uma grave lesão ligamentar no joelho sofrida em Setembro passado minou a possibilidade de a jovem de 19 anos ser parte do elenco que vai disputar o mundial. Espera-se que ela seja uma jogadora importante e de grande futuro, voltando a fazer parte dos planos de Vera Pauw assim que se recuperar fisicamente.

Sinead Farrelly estreou na seleção somente em 2023, mas foi o suficiente para agradar a comissão técnica. Pelo rendimento recente, ela tem boas chances de começar o mundial no time titular. Foto: The Irish Times

E, ainda que não pareça ser a ideia primeira da comissão técnica, o fato de ter um esquema tático com cinco defensoras permite que a Irlanda atue com duas atletas centrais de boa retenção de bola e chegada frequente à frente. E isso foi motivo de debate até mesmo na imprensa irlandesa em meados de 2023. Uma crítica ferrenha surgiu da defensora Karen Duggan, que não faz mais parte da equipe nacional. Em sua coluna no Irish Times, ela foi bem direta ao dizer que a técnica deveria deixar de lado essa postura extremamente defensiva.

A ideia de Duggan dá a entender que Vera Pauw deveria soltar a equipe e priorizar a escalação de jogadoras de maior capacidade técnica, e não somente escolher determinados nomes pelo que esses acrescentam em embates físicos. Se o texto publicado em Março alterou as escolhas gerais da comissão técnica é difícil dizer, mas pelo menos para os amistosos do mês seguinte o que se viu foi uma Irlanda um pouco mais ofensiva diante dos Estados Unidos.

Se não com um time disposto a equilibrar a posse de bola e também as finalizações gerais das partidas, é certo que a seleção europeia foi escalada com uma atacante de ofício e contou também com atletas marcadas pela alta ofensividade nas funções de lado de campo. E, até pelo rendimento geral da equipe nos duelos contra as estadunidenses, espera-se que Vera Pauw tire boas percepções dessas duas partidas amistosas.

Uma dupla combinando Denise O’Sullivan e Sinead Farrelly acrescentaria muito no aspecto técnico pelo centro de campo, e essa última foi publicamente elogiada pela comissão técnica após sua estreia pela seleção europeia. E esse bom nível apresentado pela volante do Gotham FC dá margem para que a Irlanda possa substituir o 5-4-1 por um 5-3-2 com o passar da Copa do Mundo.

Courtney Brosnan seria eleita a Irlandesa do Ano de 2022 graças à regularidade e ao brilho que teve no confronto decisivo da eliminatória contra a Escócia. Foto: Tim Clayton

Neste caso, O’Gorman e McCabe largam na frente para as alas enquanto O’Sullivan, Farrelly e Littlejohn/Agg surgem como favoritas para os postos centrais. Na frente, Pauw pode escolher entre uma jogadora de drible e mobilidade (Payne ou Larkin) e outra de maior força física ou apostar de vez em cruzamentos à área tendo Lucy Quinn, Kyra Carusa e Amber Barrett.

Vale reafirmar que a montagem da defesa com cinco atletas dificilmente será modificada. Esse posicionamento fixo do quinteto evita espaços pelos lados do gramado e também garante que a lenta defesa não precise correr na direção do próprio gol após a perda da posse de bola e um consequente contra-ataque montado pelo rival. Trata-se de uma jogada muito explorada pelos três adversários deste Grupo B, que contam com pontas velozes, habilidosas e com muito mais gingado corporal do que as zagueiras irlandesas.

E, muito por conta dessa menor exposição de suas defensoras, a equipe europeia vem se caracterizando pelo baixo número de gols sofridos. Antes dos confrontos amistosos em Abril diante dos Estados Unidos, o conjunto de Vera Pauw chegou a emendar oito jogos consecutivos com a meta intacta. Courtney Brosnan é um nome incontestável para esse sucesso irlandês, e correspondeu durante toda a eliminatória quando foi exigida.

Principalmente no momento mais importante dela: no clássico disputado contra a Escócia em pleno Hampden Park. Na partida em questão, Brosnan defendeu uma cobrança de pênalti ainda no primeiro tempo e foi uma das principais heroínas da classificação de seu país a uma Copa do Mundo de futebol feminino. Pelos seus esforços, a goleira receberia o prêmio de Atleta Irlandesa do Ano em 2022.

Além das já mencionadas Áine O’Gorman e Heather Payne, Jamie Finn e Deborah-Anne De La Harpe foram nomes utilizados na convocatória irlandesa para o posto de ala-direita. Finn acabaria na lista de suplentes, enquanto a última seria descartada. No setor canhoto, Megan Campbell largava em vantagem para o posto de titularidade graças à segurança, ao bom tempo de bola para lances aéreos e também aos arremessos longos a partir da linha lateral. Porém, problemas físicos na reta final do ciclo acabariam impedindo sua participação no mundial.

Os problemas médicos na linha defensiva acabariam tirando da Copa duas atletas consideradas titulares. Aumenta a responsabilidade de Louise Quinn, uma das lideranças da equipe. Foto: Laszlo Geczo (Inpho) 

Melhor para Chloe Mustaki e Izzy Atkinson, jogadoras que podem muito bem suprir essa ausência.  A primeira desponta como uma alternativa mais equilibrada e tem maior experiência no conjunto nacional, enquanto Atkinson atuou muitas vezes como ponta-esquerda na Escócia antes de rumar ao West Ham. Inclusive, seria ela a responsável pelo gol do título do Celtic na Copa Escocesa de 2022 em uma final dramática contra o Glasgow City.

A escolha pela jovem de 21 anos faz com que esse lado ganhe muito em matéria de velocidade e boa capacidade ofensiva, já que conta também com McCabe. Outra novata que chegou a ser convocada para a parte final do ciclo e é uma aposta grande para o futuro irlandês é Tara O’Hanlon, atleta de apenas 18 anos e que tem facilidade para atuar como lateral-esquerda ou ala. Embora não faça parte do grupo que irá à Oceania, ela desponta como um talento de futuro muito promissor.

O miolo da defesa contou com um acréscimo importante para 2023: Aoife Mannion. Atualmente no Manchester United, a atleta de 27 anos aceitou o convite da Federação Irlandesa para representar o país e se destacou no duelo contra a China por ser uma liderança técnica e anímica no setor defensivo. Entretanto, um problema no joelho a tiraria da última data FIFA e também do mundial. Trata-se, sem dúvida, de uma perda significativa. Apesar de ser uma adição recente ao conjunto nacional, o encaixe de Mannion foi imediato.

De intocável, restou Louise Quinn, referência nacional no aspecto físico e que fez eliminatória bastante segura. Megan Connolly (também volante), Claire O’Riordan, Diane Caldwell e Niamh Fahey brigam pelas vagas restantes, com Connolly e Fahey parecendo estar à frente no momento. Além de organização e empenho, o sexteto defensivo irlandês precisará também de muita concentração diante de ao menos dois times do Grupo B que deverão ter maior posse de bola durante grande parte dos 90 minutos.

McCabe é a maior esperança irlandesa para o mundial. Destaque do Arsenal, ela faria também uma ótima eliminatória com a seleção alviverde. Foto: Brian Lawless (PA)

Destaque – Katie McCabe

Nesse esquema intencionalmente montado para povoar o espaço em linhas de defesa e meio campo e buscar contra-ataques, McCabe torna-se essencial nessas rápidas movimentações ao campo rival. A atleta do Arsenal já realizou todo tipo de tarefa pelo lado canhoto do campo em seu período no clube, sendo ala e também lateral quando necessário.

No combinado europeu, até pelo nível técnico diferenciado que possui quando comparada às companheiras de posição, Katie McCabe ganha uma liberdade maior para avançar até os arredores da área rival. Não soa exagerado dizer que o esquema tático é organizado justamente para favorecer aquela que é o grande nome do time. Dessa forma, é comum ver a meia-esquerda livre de qualquer exigência defensiva em determinados cenários.

Nessa variação que acontece momentaneamente dentro dos confrontos, nota-se um 5-3-2 onde a valente jogadora do Arsenal atua praticamente como uma companheira da solitária atacante na linha de frente d’As Garotas de Verde. Se o conjunto europeu quiser continuar sua jornada de estreia em mundiais femininos além das três partidas protocolares da fase de grupos, vai precisar de Katie McCabe (que foi a artilheira irlandesa nas eliminatórias e é a capitã nacional) em sua mais completa forma.

 

Nigéria

Foto: AFP

Sempre uma força do futebol feminino africano, a Nigéria chega ao mundial após um ciclo não tão animador. Muitas dúvidas ficaram no ar após uma campanha muito problemática na Copa Africana de Nações – competição que serviu também como eliminatória do continente à Copa do Mundo. O problema médico que tirou a estrela Asisat Oshoala logo na rodada inaugural do torneio ajudou a dificultar as coisas, é lógico.

Todavia, o nível das atuações ficou muito aquém do esperado. É evidente que o elenco nigeriano pode apresentar muito mais pelos nomes que tem à disposição. Para piorar o cenário, a seleção africana emendou uma grande sequência negativa de resultados no período do final de 2022 e começo de 2023. Foram cinco derrotas seguidas e atuações que mostravam mais problemas do que realmente evoluções.

A Nigéria voltaria a vencer em Fevereiro, quando superou a Costa Rica. Dois meses mais tarde, emendaria resultados positivos também contra Haiti e Nova Zelândia. O que se espera é que o bom momento seja mantido para a Copa do Mundo, quando a equipe africana terá pela frente três adversários duros. Levando-se em consideração os duelos mais pesados que teve na Copa das Nações Africanas, as nigerianas venceram somente Camarões.

Contra África do Sul, Zâmbia e o dono da casa Marrocos, o conjunto do bastante contestado Randy Waldrum sucumbiu. As derrotas acabariam deixando a equipe em quarto lugar na classificação final, repetindo o pior resultado da seleção na história do torneio (ocorrido no ano de 2012). Essa irregularidade nos atrapalha no momento de pensar até onde a equipe pode ir. Qualidade existe, em especial no ataque.

Ranking da FIFA: 40º Lugar.

Participações Anteriores em Copas do Mundo: 8/8 (1991, 1995, 1999, 2003, 2007, 2011, 2015, 2019).

Melhor Campanha: Quartas de Final (1999).

Randy Waldrum é mais um técnico do Grupo B que vem sendo bastante contestado. Se serve de consolo, ao menos a Nigéria acabou com a sequência negativa de resultados ainda antes da Copa. Foto: Brad Smith (ISI Photos)

Técnico: Randy Waldrum (desde Outubro de 2020).

Convocação

Goleiras: 1-Tochukwu Oluehi (36 anos – 02/05/1987; Hakkarigücü Spor-TUR), 16-Chiamaka Nnadozie (22 anos – 08/12/2000; Paris FC-FRA), 23-Yetunde Balogun (33 anos – 28/09/1989; Saint-Étienne-FRA);

Laterais: 2-Ashleigh Plumptre (25 anos – 08/05/1998; Leicester City-ING), 7-Toni Payne (28 anos – 22/04/1995; Sevilla FC-ESP), 20-Rofiat Imuran (19 anos – 17/06/2004; Stade de Reims-FRA), 22-Michelle Alozie (26 anos – 28/04/1997; Houston Dash-EUA);

Zagueiras: 3-Osinachi Ohale (31 anos – 21/12/1991; Deportivo Alavés-ESP), 4-Glory Ogbonna (24 anos – 25/12/1998; Beşiktaş JK-TUR), 5-Onome Ebi (40 anos – 08/05/1983; Abia Angels), 14-Oluwatosin Demehin (21 anos – 13/03/2002; Stade de Reims-FRA);

Volantes/Meio Campistas: 10-Christy Ucheibe (22 anos – 25/12/2000; SL Benfica-POR), 13-Deborah Abiodun (19 anos – 02/11/2003; Rivers Angels), 18-Halimatu Ayinde (28 anos – 16/05/1995; Rosengård-SUE), 19-Jennifer Onyi Echegini (22 anos – 22/03/2001; Florida State Seminoles-EUA);

Pontas: 11-Gift Monday (21 anos – 09/12/2001; Granadilla Tenerife-ESP), 12-Uchenna Kanu (26 anos – 20/06/1997; Racing Louisville-EUA), 15-Rasheedat Ajibade (23 anos – 08/12/1999; Atlético de Madrid-ESP), 17-Francisca Ordega (29 anos – 19/10/1993; CSKA Moscou-RUS);

Atacantes: 6-Ifeoma Onumonu (29 anos – 25/02/1994; NJ/NY Gotham-EUA), 8-Asisat Oshoala (28 anos – 09/10/1994; Barcelona FC-ESP), 9-Desire Oparanozie (29 anos – 17/12/1993; Wuhan Jiangda-CHN), 21-Esther Okoronkwo (26 anos – 27/03/1997; Saint-Étienne-FRA).

Lista de Suplentes: Não Divulgada.

Ausências Notáveis: Nicole Payne (LE – West Virginia Mountaineers-EUA; opção técnica), Akudo Ogbonna (ZAG – Rivers Angels; opção técnica), Peace Efih (MC – SC Braga-POR; opção técnica), Ngozi Okobi (MC – Levante Las Planas-ESP; opção técnica), Rita Chikwelu (MC – Levante Las Planas-ESP; opção técnica), Vivian Ikechukwu (PD – Besiktas JK-TUR; opção técnica), Chinwendu Ihezuo (AT/PE – Monterrey-MEX; opção técnica), Anam Imo (AT - Piteå IF-SUE; opção técnica).

Time-Base:

Chiamaka Nnadozie; Michelle Alozie, Osinachi Ohale, Onome Ebi ©, Ashleigh Plumptre; Christy Ucheibe, Halimatu Ayinde, Jennifer Onyi Echegini; Rasheedat Ajibade, Asisat Oshoala, Francisca Ordega.

Os testes que ocorreram em diferentes momentos do ciclo mostraram que a Nigéria possui um time titular interessante e com alternativas de alto nível para determinadas funções do campo. O que parece faltar mesmo é ajuste, já que em muitos momentos a equipe apresenta falhas de posicionamento e permite generosos espaços para os rivais. De quebra, a falta de intensidade nos momentos sem a bola também é algo que precisa ser corrigido para a Copa do Mundo.

No mais, as africanas parecem estar bem servidas. Suas defensoras centrais contam com bastante experiência em torneios internacionais e ainda são capazes de transmitir segurança num nível. Já o setor de meio campo pode muito bem realizar um eficiente trabalho na marcação além de demonstrar qualidade em transições e também nos passes curtos e longos. Por consequência, esse bem abastecido ataque tende a marcar gols e desequilibrar partidas.

As alternativas para compor esse setor de frente são inúmeras, e com a maior parte delas acrescentando diversos estilos de jogo também. Aliás, tanta qualidade no ataque faz com que um trio muitas vezes se transforme em quarteto. Mas isso é algo que veremos mais adiante. Vamos por partes. Chiamaka Nnadozie está afirmada como a goleira titular da Nigéria para a Copa do Mundo. Desde o ciclo passado a atleta já chamava a atenção pela tranquilidade e também a eficiência apresentada debaixo das traves. O tempo e uma maior sequência de partidas ajudariam nessa tarefa, e Nnadozie passou a apresentar um evidente crescimento em fundamentos específicos do jogo.

De boas atuações no mundial de 2019, Chiamaka Nnadozie chega ainda mais consolidada na meta nigeriana para esta Copa do Mundo. Foto: Soccrates Images

A jovem de 22 anos se afirmou definitivamente na meta nigeriana após a participação de destaque que teve na mais recente Copa das Nações Africanas. Mesmo com toda a equipe sofrendo com irregularidade, a goleira conseguiu manter seu excelente nível. O futuro parece lhe reservar um tempo bastante duradouro dentro da seleção africana.

Vale a pena relembrar que foi Chiamaka Nnadozie a arqueira titular em três das quatro partidas disputadas pelo seu país no mundial de quatro anos atrás. Lá, e então com apenas 18 anos de idade, ela seria uma das principais responsáveis por guiar a Nigéria à segunda fase de uma Copa pela primeira vez neste século. Atualmente no Paris FC, a goleira tem longa passagem pelas seleções de base do seu país, tendo disputado mundiais Sub-17 e também Sub-20 nos anos de 2016 e 2018.

Agora, ela entra na Copa do Mundo como um dos nomes indiscutíveis na equipe de Randy Waldrum. Se a meta nigeriana é defendida por uma jovem, o centro da zaga é um dos mais experientes de toda a competição. Osinachi Ohale e Onome Ebi atuam juntas em mundiais desde a edição de 2011, e trazem na bagagem uma rodagem muito importante em torneios dessa relevância. A polivalente Ohale já foi lateral em ciclos passados, mas hoje parece confortável neste papel de zagueira.

Osinachi Ohale continua sendo uma peça importante no setor defensivo da Nigéria, ainda que agora atue em outra posição. Foto: FIFA

De quebra, ela ainda mostra qualidade no momento de sair do campo defensivo através de passes curtos. A capitã Onome Ebi tem 40 anos de idade e chega à sua sexta Copa, uma verdadeira façanha. Entretanto, vale a pena ficar de olho na situação física da defensora africana, visto que sua passagem no futebol da Espanha não lhe rendeu muitos momentos em campo. Nos últimos meses, o que se viu foi Ebi realizando trabalhos por conta própria, buscando se manter em forma.

Lances em velocidade costumam complicar a já experiente zaga nigeriana, mas ambas costumam compensar essa fraqueza ao prevalecer em movimentos de antecipação e também de posicionamento. Quem ganhou um posto na equipe nacional após se destacar em torneios de base foi Oluwatosin Demehin, de 21 anos e membro de um time Sub-20 que realizou ótima campanha no mundial da categoria realizado no ano passado.

Hoje, ela parece estar em vantagem na briga contra Ashleigh Plumptre e Glory Ogbonna, outras opções para o centro da defesa nigeriana. Mas elas ainda podem atuar juntas. Isso porque essa dupla é comumente utilizada para a função na lateral-esquerda também. A escalação de uma delas por ali serve também para aumentar o poderio aéreo da seleção africana, já que a dupla costuma se sobressair nesse ponto.

Onome Ebi fará história ao disputar a sua sexta Copa do Mundo. Ao lado de Ohale, ela forma uma dupla de zaga de bastante experiência em competições internacionais. Foto: The Guardian

Outro detalhe: por serem zagueiras de origem, Ogbonna e Plumptre têm por característica aparecer com menos frequência no campo de ataque. Isso dá margem para que a comissão técnica utilize uma jogadora mais ofensiva pelo lado oposto. Toni Payne, uma ponta-direita nata, é a alternativa principal para soltar a equipe de vez. Mas é comum que Michelle Alozie, de maior cuidado defensivo, também apareça por ali.

Destaque nos últimos anos e novidade para o ciclo atual, normalmente é Tony Payne (atleta do Sevilla) a escolhida para ir a campo quando Randy Waldrum opta por soltar de vez pelo menos uma lateral com boa frequência à intermediária de ataque. O curioso é que a irmã dela, Nicole Payne, também fez parte de convocações das nigerianas em tempos recentes. Entretanto, essa última não seria convocada para a Copa do Mundo.

Nicole foi usada na lateral-esquerda, algo que ocorreu também com a novata Rofiat Imuran, mais uma que chamou a atenção pelo desempenho no Mundial Sub-20 do ano passado. Inclusive, a defensora do Stade de Reims e companheira de Demehin na equipe de base nacional e também no conjunto francês venceria a batalha pelo lugar remanescente na lista final de Waldrum.

Zagueira de origem, Ashleigh Plumptre correspondeu quando escalada na lateral-esquerda. Além de dar maior segurança nos lances aéreos, ela possibilita o avanço da lateral oposta e das meio campistas. Foto: BBC

Voltando ao setor direito, vale ressaltar a qualidade de Michelle Alozie, grande novidade para o presente ciclo. No caso, ela é uma alternativa que mantém a ofensividade e as características de Toni Payne, já que é comum vê-la atuando mais avançada no estadunidense Houston Dash. Vale dizer que tanto Alozie quanto as irmãs Payne nasceram no país do continente americano, mas optaram por defender as Super Falcons com o desenrolar da carreira.

Esperava-se que centro do campo fosse o posto responsável por manter uma boa base de ciclos anteriores, mas alguns cortes na lista final chamaram a atenção. A começar pelo da habilidosa Rita Chikwelu, importante para qualificar a saída de bola à frente como uma volante pelo lado esquerdo. Porém, sua falta de sequência de jogo no Levante Las Planas certamente foi um fator importante para a decisão da comissão técnica.

Outras ausências importantes foram as de Ngozi Okobi e Peace Efih. A primeira já vinha perdendo o posto de titular e era cada vez mais frequente uma opção no banco de reservas, mas se esperava que a meio campista de 29 anos estivesse no grupo principalmente pela experiência adquirida em torneios de maior relevância internacional nos últimos anos e a importância que teve em diferentes momentos do ciclo passado.

Independentemente de ser utilizada como lateral ou ponta, certo é que Toni Payne costuma dar muito trabalho quando acionada pela faixa direita do campo. Foto: Goal

Idade diferente e problema semelhante para Peace Efih, que não conseguiu se firmar no SC Braga. Sua ausência será sentida especialmente pelo que a jogadora era capaz de transmitir ao time em matéria de qualidade técnica. Ela não chamava a atenção pelo número de gols marcados, mas dava um maior equilíbrio a um time que tem vocação para atacar (pelo menos se pensarmos nas características das atletas que vão a campo).

Dentre as remanescentes, Halimatu Ayinde geralmente é a volante mais presa em frente à linha defensiva, cumprindo as tarefas de proteger as zagueiras e coordenar os ataques da seleção quando essa tem a posse de bola. Sua companheira tende a ser Christy Ucheibe, atleta que passou a ganhar minutos importantes nos últimos anos e surge como titular indiscutível após as ausências mencionadas acima e pelo que vem apresentando no Benfica.

Uma alternativa interessante que deu as caras na virada de 2022 para 2023 foi Jennifer Onyi Echegini. De apenas 21 anos, a meio campista foi bem no campeonato universitário dos Estados Unidos aos poucos foi conquistando seu espaço no meio campo nigeriano. Ainda que ela pareça ter mais a característica de uma camisa 10, Echegini já foi escalada mais atrás e tende a não sofrer tanto com um possível ajuste tático.

Rasheedat Ajibade surgiu como atacante, mas foi se acostumando a exercer novas funções e se transformou em uma jogadora capaz de ajudar bastante quando escalada no meio campo. Foto: Molatsportgist

O ponto aqui é que nenhuma dessas é realmente uma jogadora de transição, o que na teoria favorece uma forma de jogo baseada na troca paciente de passes nesse setor de meio campo. Inclusive Deborah Abiodun, que foi a grata surpresa na lista final. O nome que rompe com esse estilo mais cadenciado é Rasheedat Ajibade. Se ela é utilizada em uma zona mais central, as africanas praticamente abandonam o 4-3-3 e passam a atuar num 4-2-3-1.

Seu toque refinado para esse posto de criação e a inteligência para criar e gerar espaços costumam fazer a diferença quando ela recebe maior liberdade para aparecer da intermediária ofensiva em diante. Mas não é só isso. Ajibade é bastante versátil e rende muito bem também quando atua numa linha mais ofensiva, sendo parte do trio de ataque. Quando isso ocorre, ela normalmente ocupa a faixa direita do gramado, atuando como meia/ponta.

O fato de a Nigéria conseguir trocar de esquema tático sem necessariamente alterar os nomes, aliás, passa muito pela jogadora do Atlético de Madrid. Sem contar que a sua escalação mais centralizada ajuda a resolver um “problema” que a seleção tem: o excesso de boas atacantes. Dessa forma, Ajibade é parte importante de um quarteto que é capaz de assombrar qualquer adversário do Grupo B. Sem contar que, dependendo das parceiras postas em campo, a jogadora pode tranquilamente buscar algum lance específico pelos lados do campo e transformar esse 4-2-3-1 num 4-4-2 com duas meias-laterais bastante abertas e ainda duas atacantes. Ou seja: praticamente um 4-2-4.

Desire Oparanozie continua sendo uma opção bastante interessante ao forte setor de ataque nigeriano. Foto: GoalBall

Mesmo no período onde a Nigéria não contou com uma atleta completa e com facilidade para jogar em qualquer posto ofensivo como Asisat Oshoala, a comissão técnica não pôde reclamar de falta de opções para compor o seu trio de frente. Francisca Ordega, Chinwendu Ihezuo, Gift Monday, Esther Okoronkwo, Desire Oparanozie, Ifeoma Onumonu e Uchenna Kanu são atletas de muito bom nível e capazes de desequilibrar confrontos. E, dessas todas, somente Ihezuo não estará na Copa.

Outro detalhe que corrobora para a boa expectativa criada em relação ao setor de frente das Super Falcons é que um bom número dessas jogadoras se notabiliza por diferentes características. Isso naturalmente acrescenta um estilo diferente ao ataque nigeriano. Dependendo da formação escolhida por Randy Waldrum, a equipe alterna movimentações, esquemas e também formas de buscar vantagem nos lances diante das defensoras adversárias.

Durante os últimos anos, o que se viu foi uma variação bem grande. Oparanozie, Oshoala e Ordega foram titulares em 2019, mas hoje é difícil bancar que o trio seja mantido na equipe de maneira intocável. A craque do Barcelona é uma escolha óbvia, mas as suas companheiras tendem a variar com o decorrer da Copa. Essa rotação de jogadoras evita o esgotamento físico e faz com que a Nigéria seja forte em todos os momentos do jogo e em todas as partidas do Grupo B.

Seus muitos gols no futebol mexicano transformaram Uchenna Kanu em uma opção das mais interessantes para o setor de ataque nigeriano no atual ciclo. Foto: Twitter (@UcheOfficial_)

Se bem estruturada atrás e com pelo menos duas atletas desse trio ou quarteto realizando um bem organizado trabalho de recomposição quando necessário, trata-se de um time candidato a avançar. Indiscutivelmente, as Super Falcons são o conjunto africano com o maior número de boas opções para esse setor ofensivo.

O maior problema vem sendo encontrar um meio termo entre investir fortemente naquele que é o ponto mais forte da equipe sem jogar toda a criação no talento individual das suas atacantes. Isso por não conseguir apresentar um jeito mínimo de atacar e não insistir em lances mais elaborados, com auxilio de meio campistas. Esse é o ponto onde mais se contesta o trabalho da atual comissão técnica.

O que se notou especialmente no período de resultados ruins e na Copa das Nações Africanas foi uma dependência enorme de um lampejo gerado por qualquer atleta do setor de frente para que a equipe conseguisse criar algo. E, apesar do ingresso de novas jogadoras no meio campo, o cenário não sofria grandes alterações naquele momento.

Francisca Ordega vai para o seu quarto mundial. Embora não seja nome garantido no time titular, ela apresenta qualidades de drible e velocidade que podem fazer a diferença. Foto: Omar Vega

A Nigéria dependeu demais das suas individualidades para alcançar a classificação ao mundial, algo que deveria ter acontecido com apresentações mais convincentes. Não é errado dar todo o poder de decisão a quem tem mais capacidade de desequilibrar confrontos, outras seleções na Copa fazem isso. O problema é não apresentar nenhuma variação minimamente eficiente como alternativa.

O fato de ter tantas atletas em condições de decidir fez com que em vários momentos do ciclo a Nigéria desistisse de construir seus lances com maior paciência e optasse por um lançamento longo, praticamente se livrando da bola. Em alguns momentos até funcionou, visto a qualidade que as atletas do ataque possuem em matéria de inteligência, movimentação e explosão física.

Entretanto, o meio campo é habilidoso o suficiente para participar mais e melhor da criação de jogo. Ao mesmo tempo, o time de Waldrum se apresenta pouco agressivo ao rival quando esse tem a posse de bola. Dessa forma, o adversário frequentemente se sente à vontade para tocar a bola sem ser realmente incomodado e vai aos poucos ganhando espaço no campo defensivo das nigerianas.

Uma maior pressão na região central do campo, coisa que pode acontecer com esse rejuvenescimento maior das atletas do setor, certamente facilitaria o trabalho das experientes zagueiras (que já não se veriam tão expostas assim) e também serviria para a equipe construir lances de contra-ataques ao roubar a bola mais longe da própria área. Esses ajustes tornariam a Nigéria uma seleção com ainda mais poderio. Pelo que vem apresentando, ela parece somente brigar com as irlandesas pelo posto de terceira força do grupo. E só.

Longe das lesões, Asisat Oshoala é uma das melhores jogadoras do mundo. Com ela bem fisicamente, é possível ver a Nigéria brigando por uma vaga na segunda fase. Foto: Sports News Africa

Destaque – Asisat Oshoala

A estrela do Barcelona é a cereja do bolo em um conjunto individualmente interessante e que tem um setor ofensivo recheado de excelentes opções. Os problemas médicos a atrapalharam nos últimos tempos, mas ela segue sendo a principal referência da Nigéria e chega novamente a uma Copa do Mundo como uma das principais jogadoras da competição.

E vale destacar que em muitos momentos a craque literalmente assume o posto de referência, já que Oshoala aos poucos passou de uma atleta de lado de campo para assumir um papel mais solto no comando de ataque africano. Óbvio que com a frequente movimentação que tão bem a destaca no time catalão, mas sem qualquer incumbência de marcação.

Sua capacidade de drible, a inteligência para atacar os espaços deixados por defensoras e a velocidade para vencer jogadas diante de marcações adversárias a torna uma das mais perigosas atacantes do futebol mundial. Em sua vitoriosa carreira profissional (tanto em resultados obtidos por seus clubes quanto em marcas individuais), a chave dourada seria uma campanha de grande destaque em Copas do Mundo.


Canadá

Foto: Andre Penner (AP Photo)

O Canadá chega à Copa do Mundo com uma responsabilidade ainda maior após vencer o ouro olímpico em Tóquio. Em solo japonês, um time extremamente organizado correspondeu e fez com o que o futebol do país alcançasse o maior momento de toda a sua história. A meta agora é emendar uma boa sequência em competições internacionais e superar a campanha de 2015, quando a seleção nacional parou nas quartas de final em torneio realizado em solo canadense.

O maior problema a ser solucionado durante o ciclo aconteceu fora dos gramados, visto que o grupo ameaçou até mesmo não disputar um torneio internacional no começo deste ano por desacordos com a Canada Soccer Association quanto às condições financeiras e estruturais oferecidas. No final de Junho, a CSA esteve perto de declarar falência após descobrir que esses cortes em gastos com as equipes nacionais não tinham sido suficientes para melhorar o caixa. Tudo isso após o futebol alcançar seu auge no país, já que o conjunto feminino é o atual campeão olímpico enquanto o masculino vem de participação em Copa após 36 anos.

Dentro das quatro linhas, a seleção segue sendo guiada por Christine Sinclair, a maior artilheira da história do futebol feminino internacional e atleta símbolo deste crescimento canadense no Século XXI. Esta edição da Copa do Mundo deve ser a última página de sua vitoriosa carreira, e é lógico que todos esperam uma participação digna dela e também da sua seleção.

O restante do plantel, todavia, é forte e maduro, já tendo demonstrado qualidades mesmo sem sua capitã em campo. O Grupo B não é nada simples e vai exigir diferentes comportamentos do conjunto comandado por Bev Priestman ao longo dos três duelos, mas é inegável que o Canadá aparece como um favorito a avançar até a fase final, fazendo companhia à anfitriã Austrália.

Ranking da FIFA: 7º Lugar.

Participações Anteriores em Copas do Mundo: 7/8 (1995, 1999, 2003, 2007, 2011, 2015, 2019).

Melhor Campanha: Quartas de Final (2015).

A inglesa Bev Priestman fez história com o Canadá ao alcançar o ouro olímpico em Tóquio. A ideia agora é pelo menos igualar a melhor campanha do país em Copas do Mundo. Foto: Will Palmer (Canada Soccer)

Técnica: Bev Priestman (desde Outubro de 2020).

Convocação

Goleiras: 1-Kailen Sheridan (28 anos – 16/07/1995; San Diego Wave-EUA), 18-Sabrina D’Angelo (30 anos – 11/05/1993; Arsenal FC-ING), 22-Lysianne Proulx (24 anos – 17/04/1999; Torreense-POR);

Laterais: 2-Allysha Chapman (34 anos – 25/01/1989; Houston Dash-EUA), 8-Jayde Riviere (22 anos – 22/01/2001; Manchester United-ING), 10-Ashley Lawrence (28 anos – 11/06/1995; Paris Saint-Germain-FRA), 16-Gabby Carle (24 anos – 12/10/1998; Washington Spirit-EUA);

Zagueiras: 3-Kadeisha Buchanan (27 anos – 05/11/1995; Chelsea FC-ING), 4-Shelina Zadorsky (30 anos – 24/10/1992; Tottenham Hotspur-ING), 14-Vanessa Gilles (29 anos – 11/08/1993; Lyon-FRA);

Volantes/Meio Campistas: 5-Quinn (27 anos – 11/08/1995; OL Reign-EUA), 7-Julia Grosso (22 anos – 29/08/2000; Juventus FC-ITA), 13-Sophie Schmidt (35 anos – 28/06/1998; Houston Dash-EUA), 17-Jessie Fleming (25 anos – 11/03/1998; Chelsea FC-ING), 21-Simi Awujo (19 anos – 23/09/2003; USC Trojans-EUA);

Armadoras: 12-Christine Sinclair (40 anos – 12/06/1983; Portland Thorns-EUA), 23-Olivia Smith (18 anos – 05/08/2004; Penn State Nittany Lions-EUA);

Meias/Pontas: 6-Deanne Rose (24 anos – 03/03/1999; Reading FC-ING), 15-Nichelle Prince (28 anos – 19/02/1995; Houston Dash-EUA), 19-Adriana Leon (30 anos – 02/10/1992; Portland Thorns-EUA);

Atacantes: 9-Jordyn Huitema (22 anos – 08/05/2001; OL Reign-EUA), 11-Evelyne Viens (26 anos – 06/02/1997; Kristianstads DFF-SUE), 20-Cloé Lacasse (30 anos – 07/07/1993; Arsenal FC).

Lista de Suplentes: Não Divulgada.

Ausências Notáveis: Desiree Scott (VOL – Kansas City Current-EUA; não se recuperou a tempo de uma lesão no joelho sofrida em Dezembro de 2022), Janine Beckie (MD/ME – Portland Thorns-EUA; lesão no ligamento cruzado anterior do joelho direito sofrida em Março de 2023), Jade Rose (ZAG/LD – Harvard Crimson-EUA; lesão não divulgada sofrida em Julho de 2023), Bianca St. Georges (LD – Chicago Red Stars-EUA; opção técnica), Marie Levasseur (LE – FC Fleury 91-FRA; opção técnica), Victoria Pickett (MC - North Carolina Courage-EUA; opção técnica); Jenna Hellstrom (ME/MD/AT - Dijon FCO-FRA; opção técnica), Marie-Yasmine Alidou (MA – SL Benfica-POR; opção técnica), Clarissa Larisey (AT – BK Häcken FF-SUE; opção técnica).

Time-Base:

Kailen Sheridan; Jayde Riviere, Kadeisha Buchanan, Vanessa Gilles, Allysha Chapman; Jessie Fleming, Julia Grosso; Ashley Lawrence, Christine Sinclair ©, Nichelle Prince; Jordyn Huitema.

O Canadá conta com um plantel bastante interessante e também com atletas capazes de atuar em diferentes funções do campo. Por conta disso, muito provavelmente o conjunto titular terá mudanças a cada partida. Até mesmo no esquema tático, que costuma variar entre 4-3-3 e 4-2-3-1 dependendo das atletas que estão em campo e do que o rival oferece como ponto forte no campo de ataque e também no aspecto da marcação.

Certo é que as canadenses costumam utilizar bastante as suas laterais no apoio. Especialmente Ashley Lawrence, importantíssima na vitoriosa campanha olímpica e que parece aumentar seu nível ano após ano também pelo que apresenta no Paris Saint-Germain. De quebra, ela é símbolo dessa virtude canadense de poder executar diferentes funções em campo, já que pode aparecer em qualquer um dos lados com a mesma eficiência e qualidade.

Durante a SheBelieves Cup e também em outros momentos do ciclo, Lawrence, inclusive, chegou a ser escalada até mesmo em uma linha de meio campo. Especialmente em momentos onde o Canadá não contou com lesionadas atletas que costumam atuar mais à frente. Isso valoriza sua alta qualidade no momento ofensivo e ainda diminui a necessidade de ela fechar a linha de defesa após efetuar um grande esforço físico na intermediária adversária. É óbvio que tamanho vai e volta causa um maior desgaste à atleta.

Recém-contratada pelo Chelsea, Ashley Lawrence se consolidou como uma das melhores laterais do mundo. No Canadá, ela pode atuar até mais avançada, sem tantas responsabilidades defensivas. Foto: Naomi Baker

Essa posição de lateral, aliás, é uma das que oferece mais alternativas de alta qualidade para a comissão técnica canadense. Jayde Riviere, Bianca St-Georges e as versáteis Marie Levasseur e Gabby Carle receberam oportunidades com Bev Priestman durante os últimos anos e brigaram até o final por posições na lista final. A primeira parece ser a atleta mais pronta para assumir o papel pelo setor direito, sendo presença constante no apoio e se assemelhando muito à Ashley Lawrence pelo fato de conseguir render também quando joga mais à frente.

A chegada dela ao Manchester United no começo de 2023 serviu para dar uma bagagem ainda mais interessante à lateral, agora em uma das Ligas referência no mundo. O problema é que sua estreia no clube demorou a acontecer por conta de uma lesão sofrida ainda no mês de Setembro. Plenamente recuperada, espera-se que Riviere ganhe bons minutos nessa Copa do Mundo e seja parte, quem sabe, de um lado direito dos mais interessantes caso vá a campo com Ashley Lawrence.

A lesão da outrora meia-direita titular Janine Beckie pode contribuir para que a dupla acima dê as caras no mundial com uma frequência maior do que se previa. Outro nome consolidado no Canadá é o da experiente Allysha Chapman, que cumpre seu papel de lateral especialmente no setor esquerdo. São boas opções para Bev variar as atletas em campo sem perder qualidade e fôlego.

Kailen Sheridan assumiu a meta canadense nesse último ciclo e vem dando conta do recado. Sua temporada no futebol dos Estados Unidos também foi boa, o que aumenta a confiança que o setor defensivo transmite. Foto: FIFA

Kailen Sheridan foi o nome escolhido para assumir a posição na meta após a aposentadoria das experientes Stephanie Labbé e Erin McLeod. Seu rendimento mais recente no campeonato dos Estados Unidos e também as atuações muito seguras na SheBelieves Cup chamaram a atenção, e a credenciam a ser um nome de segurança na defesa canadense. Sua sombra para a função é Sabrina D’Angelo, mas a agora goleira reserva do Arsenal recebeu poucas chances no conjunto inglês e também na seleção em épocas recentes.

Mesmo assim, ela se mostrou competente no momento em que foi exigida e não representaria uma queda de nível realmente grande em comparação à titular. No centro da defesa, duas jogadoras brigam por uma vaga. Kadeisha Buchanan é a intocável, e o tempo tratou de confirmar todas as expectativas que existiam sobre o seu potencial desde as aparições na Copa do Mundo de 2015.

Vale relembrar: Buchanan recebeu o prêmio de Melhor Atleta Jovem nesse campeonato de oito anos atrás. Hoje ela defende o Chelsea, ainda que por muitos anos tenha formado uma das mais sólidas duplas de defesa do futebol mundial ao lado de Wendie Renard no Lyon. E o detalhe é que Buchanan acrescenta bastante à equipe quando tem a bola no pé. Trata-se de uma zagueira de excelente recurso técnico para iniciar a saída ao campo adversário através de passes curtos e longos.

Kadeisha Buchanan estreou em Copas na edição de 2015 já chamando a atenção. Oito anos mais tarde, ela continua sendo uma referência importante no centro da zaga canadense. Foto: Goal

Shelina Zadorsky e Vanessa Gilles disputam o posto remanescente na zaga do Canadá. No atual momento, a defensora do Lyon parece ser a favorita para pelo menos iniciar a Copa do Mundo como companheira de Buchanan. O que adiciona pontos importantes a Gilles junto à comissão técnica foi o ótimo rendimento apresentado na reta final da última Olimpíada, quando a atleta foi alçada ao posto de titular nos confrontos mais pesados e correspondeu.

Mas, vale destacar que Zadorsky sempre deu conta do recado quando necessário e vem de exibições consistentes no Tottenham. Além disso, a defensora de 30 anos é uma das principais lideranças do conjunto londrino e também da equipe nacional do Canadá. Uma alternativa das mais interessantes seria Jade Rose, de grandes exibições pelos times de base do país, de muito bom potencial e que vem recebendo oportunidades com a comissão técnica desde 2021.

Ela seria uma alternativa também para o posto de lateral-direita, ainda que apresente uma característica distinta se comparada à grande parte das convocadas que atuam na função. Isso pelo fato de acrescentar qualidade em matéria de solidez defensiva e marcação, e não por contribuir com dribles e lances em velocidade no campo ofensivo. Jade Rose foi titular em dois duelos de peso na última SheBelieves Cup e parece ter agradado Bev Priestman. O problema foi a lesão sofrida em Julho, às vésperas do mundial. Ela acabaria cortada da relação final.

Dona de uma canhota habilidosa, Julia Grosso é uma alternativa das mais interessantes para cenários onde o Canadá é protagonista e tem maior tempo de posse de bola. Foto: Canada Soccer

O centro do campo foi um ponto vital para o Canadá durante toda a última década, e desta vez não é diferente. O fato de utilizar a capitã Christine Sinclair como armadora ou atacante móvel faz com que a equipe em muitos momentos vá a campo com duas volantes caracterizadas pela boa marcação. Quinn e Desiree Scott surgiam como naturais candidatas a esse posto em frente à própria área, mas Scott (de 35 anos) não se recuperou a tempo de um problema no joelho sofrido na reta final do ano passado.

Em confrontos mais equilibrados e que exigissem uma maior intensidade na região central do campo, elas poderiam até mesmo formar uma dupla. As habilidosas Julia Grosso e Simi Awujo e a experiente Sophie Schmidt cumprem esse papel também, mas com maior qualidade nas subidas à intermediária adversária e sendo capazes de acrescentar talento ao time canadense no momento da posse de bola. Schmidt, bem como Scott, esteve no grupo que disputou a Copa do Mundo no já distante 2011. Com o adicional de que a volante do Houston Dash havia participado e marcado gol no mundial de 2007.

Outra opção durante o ciclo foi Victoria Pickett, meio campista de bons momentos no futebol dos Estados Unidos em anos passados. Porém, ela acabaria fora da lista de convocadas para a Copa. Jessie Fleming é o maior símbolo dessa mudança constante que o Canadá costuma ter e também a facilidade de alterar esquemas sem necessariamente mudar atletas em campo. A jogadora do Chelsea já foi volante de saída de bola, armadora e também atacante em competições passadas.

Jessie Fleming já atuou em todas as funções centrais do meio campo e até mesmo no ataque. Ela é uma das atletas com maior recurso técnico no time comandado por Bev Priestman. Foto: Goal

Versatilidade também é o forte de Olivia Smith, normalmente uma meia-atacante, mas que pode atuar no centro do ataque ou pelos lados do campo. Aos 18 anos, ela foi a grande surpresa na lista final, visto que deixaria para trás rivais de maior experiência internacional. Smith chamou a atenção da comissão técnica especialmente pelo Mundial Sub-20 de 2022. Por conta dessa facilidade na troca de funções por parte de diferentes atletas, é difícil prever uma “equipe-base” para a competição inteira. As escolhas técnica e tática de Bev provavelmente vão ocorrer de acordo com o que for proposto pelo time rival.

Sempre importante lembrar: a escolha das meio campistas influencia muito o estilo de jogo do Canadá. Recordemos que pelo menos uma lateral é figura marcante no campo ofensivo, então é provável que uma volante de maior poder de marcação seja utilizada nos duelos ante Nigéria e Austrália. Isso porque essas dois conjuntos contam com muita movimentação de suas atletas de frente e normalmente utilizam meio campistas capazes de frequentar os espaços entre as linhas de defesa e meio campo.

Contra a Irlanda, entretanto, não seria nada surpreendente ver o Canadá em uma formação com Fleming e Grosso, dupla que se sente bem confortável com a posse de bola e que é capaz de pensar o jogo com maior velocidade e qualidade. Num 4-2-3-1, Christine Sinclair normalmente atua atrás da isolada centroavante (ela sendo Jordyn Huitema ou Evelyne Viens), mas com total liberdade para recuar no espaço das volantes para participar mais da construção.

Ainda que não seja titular absoluta, Jordyn Huitema é uma jogadora que já mostrou qualidade nos momentos ofensivos. Trata-se de uma alternativa interessante para o Canadá. Foto: Maddie Meyer

Certo é que, sem a bola, a craque troca de posicionamento com a atacante central, ficando sem tantas responsabilidades defensivas. Além disso, a capitã se encarrega do passe decisivo para quem aparece em velocidade pelos lados do campo assim que a equipe retoma a posse de bola e organiza o contra-ataque. Uma alternativa é utilizar Sinclair como referência no ataque, em um 4-3-3 que se assemelha a um 4-3-1-2 em losango.

Neste cenário, já utilizado em confrontos amistosos, podemos esperar a artilheira canadense atuando como atacante de mobilidade e não guardando posição fixa na frente. Seu nível técnico e também a inteligência para ocupar e abrir espaços diante de defesas adversárias fazem a diferença e dificultam bastante uma possível marcação individual proposta pela outra equipe. Sem contar que, com Sinclair ocupando uma zona do campo mais avançada, o combinado da CONCACAF ganha em matéria de recomposição com suas duas atletas de lado do campo.

Se recordarmos que Lawrence/Riviere é uma lateral-direita bastante ativa no apoio, essa tática serve para o Canadá ter um meio mais preenchido e com jogadoras acostumadas e capazes de realizar o papel de se projetar à frente quando a seleção ataca e de recuar e fechar espaços quando se defende. Para esse importante trabalho de lado de campo, sobram nomes de qualidade na equipe comandada pela inglesa Bev Priestman. Apesar de as lesões afligirem a continuidade de algumas delas durante o ciclo, é fato que o time canadense conta com opções muito interessantes para esse setor do campo.

Nichelle Prince foi mais um nome do elenco que vai à Copa que sofreu com lesões num período recente. De qualquer forma, ela será alternativa para o torneio. Foto: Francisco Seco (AP)

Nichelle Prince e Adriana Leon largam na frente por serem alternativas para o lado esquerdo e direito. Além de serem bastante eficientes na frente com seus respectivos estilos de jogo, elas se destacam pelo trabalho duro que fazem também na fase defensiva. Prince se machucou em um dos amistosos realizados contra o Brasil em Novembro do ano passado e perdeu o início da temporada com o estadunidense Houston Dash por conta desse problema na perna direita.

Em seus melhores momentos, a jogadora de 28 anos adiciona potência física e velocidade, além de levar perigo em lances aéreos. Já Leon acrescenta movimentação e tem um estilo de jogo mais próximo ao de uma atacante do que propriamente ao de uma ponta. Outra atleta afetada com problemas médicos na reta final do ciclo foi Deanne Rose. Mais uma alternativa para o lado do campo, a jogadora do Reading sofreu grave lesão no tendão de Aquiles no mês de Setembro e desde então passou a correr contra o tempo para estar disponível até a Copa do Mundo.

O seu time acabaria rebaixado no campeonato inglês ao final de uma temporada onde Rose só atuou por 25 minutos de Setembro até o final de Maio, quando retornou aos gramados para os duelos contra Tottenham e Chelsea. Por conta dessa longa ausência, suas reais condições físicas são incertas. Mesmo assim, sua importância e a moral que tem com a comissão técnica certamente influenciaram a decisão de Priestman pela convocação da atleta.

As temporadas recentes de Cloé Lacasse no Benfica chamaram a atenção do Arsenal. Uma artilheira nata, é bastante possível que ela ganhe bons minutos dentro da Copa. Foto: Canada Soccer

Quem não se recuperou a tempo de disputar o mundial por conta da gravidade da lesão foi a titularíssima Janine Beckie. Trata-se de uma perda gigantesca para o Canadá, já que a atual jogadora do Portland Thorns era um dos nomes mais versáteis do elenco e rendia muito bem como meia ou lateral (independente do lado onde atuava). Dribladora e veloz, Beckie se caracterizava também pelos cruzamentos em direção à área adversária, já que pega bem na bola.

De qualquer forma, eficiência, esforço e bons nomes não faltam no setor ofensivo canadense. Isso pelo fato de a comissão técnica contar, durante o ciclo, com a dupla formada por Cloé Lacasse e Jenna Hellstrom. Ambas encontraram facilidade para atuar como meia/ponta em um 4-2-3-1 ou num 4-3-3 e também como atacante em um possível 4-3-1-2, esquema que tem Christine Sinclair como o ponto de ligação entre centro do campo e dupla de ataque. Entretanto, somente Lacasse está na lista final. Hellstrom apresentou números mais discretos desde que se transferiu para a França.

E, de maior importância para Bev Priestman do que essa polivalência, é a fase vivida por Lacasse. Ou melhor: no ciclo como um todo. A agora atleta do Arsenal marcou nada menos do que 102 gols pelo Benfica desde o início da temporada 2019/20. Curiosamente, o seu mais alto número foi obtido no recém-concluído campeonato, onde a canadense balançou as redes rivais 35 vezes em 43 partidas realizadas. Seu desempenho a coloca no mínimo como uma boa opção à Jordyn Huitema ou Evelyne Viens para o andamento da Copa.

Essa tem tudo para ser a despedida de Christine Sinclair em Copas. Uma das mais importantes atletas do século na modalidade, a canadense busca encerrar sua participação num grande cenário com o troféu de campeão. Foto: Naomi Baker

Destaque – Christine Sinclair

Os mais de 100 gols marcados pela seleção nacional falariam por si só. Porém, reduzir Sinclair a uma “goleadora” não é condizente com o que se viu e vê dela em campo. Tecnicamente muito acima da média, é possível notar que os 40 anos de idade não influenciam no nível altíssimo da atleta. Que já foi centroavante, armadora e que hoje praticamente escolhe onde quer aparecer em campo.

Por vezes uma atacante de mobilidade e por vezes uma meio campista a mais (bem próxima das volantes), é certeza que todas as movimentações ofensivas do Canadá devem ter sua participação em algum momento. A conquista da medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Tóquio serviu como um merecido prêmio a uma das grandes atletas da história da modalidade e que teve justamente em Olimpíadas os seus melhores momentos, visto que ela venceria dois bronzes nas edições de 2012 e 2016.

É chegado o momento de Canadá e Sinclair obterem algo histórico também em Copas do Mundo? Novamente o país não entra no torneio como favorito ao título, mas é um candidato a surpreender – exatamente como aconteceu na Olimpíada. Primeiramente, porém, é preciso pensar em avançar à fase final e superar esse Grupo B traiçoeiro.

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