Últimas Notícias

Guia da Copa do Mundo Feminina de Futebol - Grupo F

 Tabela de Jogos (No Horário de Brasília)

1ª Rodada:

23/07 – 07h: França x Jamaica (Sydney Football Stadium – Sydney/AUS)

24/07 – 08h: Brasil x Panamá (Hindmarsh Stadium – Adelaide/AUS)

2ª Rodada:

29/07 – 07h: França x Brasil (Lang Park – Brisbane/AUS)

29/07 – 09h30: Panamá x Jamaica (Perth Rectangular Stadium – Perth/AUS)

3ª Rodada:

02/08 – 07h: Panamá x França (Sydney Football Stadium – Sydney/AUS)

02/08 – 07h: Jamaica x Brasil (Melbourne Rectangular Stadium – Melbourne/AUS)


As duas seleções classificadas enfrentam adversários do Grupo H nas Oitavas de Final


Guia da Copa do Mundo Feminina de Futebol - Grupo A

Guia da Copa do Mundo Feminina de Futebol - Grupo B

Guia da Copa do Mundo Feminina de Futebol - Grupo C

Guia da Copa do Mundo Feminina de Futebol - Grupo D

Guia da Copa do Mundo Feminina de Futebol - Grupo E


França

Foto: Visionhaus (Getty Images)

São duas as certezas que temos em relação à França. A equipe terá um plantel reforçado para esta Copa do Mundo e a reta final de preparação foi menos conturbada do que de costume. O detalhe é que esses dois pontos passam pela saída da contestada Corinne Diacre no último mês de Março. Durante os seis anos em que dirigiu a equipe europeia, a comandante acumulou inúmeros embates contra atletas de liderança e também referências técnicas do elenco francês.

A gota d´água para o desligamento foi o fato de a capitã Wendie Renard se recusar a disputar o mundial por conta de problemas internos. Essa decisão acabaria gerando um movimento crescente que passou a envolver também outras jogadoras. A Federação optou por bancar as atletas, alterando a comissão técnica às vésperas da Copa. A escolha por Hervé Renard como substituto tem como objetivo inicial apaziguar os ânimos no vestiário francês.

O detalhe é que o técnico irá para a sua primeira experiência no futebol feminino, ainda que tenha boa rodagem em torneios de grande relevância no masculino. Especialmente em seleções de África e Ásia, onde venceu uma Copa das Nações Africanas com Zâmbia e levou Marrocos e Arábia Saudita aos mundiais de 2018 e 2022. Agora, seu papel parece ser muito mais o de remontar a equipe com as peças que foram deixadas de lado no período Diacre e reintegra-las ao forte elenco que a França já tem.

Na última Eurocopa, a equipe chegou até as semifinais em sua melhor campanha na história do torneio. A meta agora é continuar evoluindo também no cenário mundial. Em Copas do Mundo, a França tem um 3º lugar obtido em 2011 como o seu ponto mais alto. Se o conjunto europeu encaixar a tempo, é possível sonhar com um lugar ainda mais elevado. Para isso, vai ser necessário superar o alto número de lesões que afetou seriamente todos os setores da equipe nos últimos meses. Mais um obstáculo no caminho de atletas e do recém-chegado Renard.

Ranking da FIFA: 5º Lugar.

Participações Anteriores em Copas do Mundo: 4/8 (2003, 2011, 2015, 2019).

Melhor Campanha: 5º Lugar (2011).

Contratado às pressas para a Copa, Hervé Renard tem a missão de acalmar os ânimos no vestiário e incluir em seu plano de jogo atletas que estavam fora dos planos da antiga comissão técnica. Foto: Panoramic (Imago)

Técnica: Hervé Renard (desde Março de 2023).

Convocação

Goleiras: 1-Solène Durand (28 anos – 20/11/1994; En Avant Guingamp), 16-Pauline Peyraud-Magnin (31 anos – 17/03/1992; Juventus FC-ITA), 21-Constance Picaud (25 anos – 05/07/1998; Paris Saint-Germain);

Laterais: 5-Elisa De Almeida (25 anos – 11/01/1998; Paris Saint-Germain), 7-Sakina Karchaoui (27 anos – 26/01/1996; Paris Saint-Germain), 13-Selma Bacha (22 anos – 09/11/2000; Lyon), 22-Ève Périsset (28 anos – 24/12/1994; Chelsea FC-ING);

Zagueiras: 2-Maëlle Lakrar (23 anos – 27/05/2000; Montpellier HSC), 3-Wendie Renard (33 anos – 20/07/1990; Lyon), 14-Aïssatou Tounkara (28 anos – 16/03/1995; Manchester United-ING), 20-Estelle Cascarino (26 anos – 05/07/1997; Manchester United-ING);

Volantes/Meio Campistas: 4-Laurina Fazer (19 anos – 13/10/2003; Paris Saint-Germain), 6-Sandie Toletti (28 anos – 13/07/1995; Real Madrid CF-ESP), 8-Grace Geyoro (26 anos – 02/07/1997; Paris Saint-Germain), 10-Amel Majri (30 anos – 25/01/1993; Lyon), 15-Kenza Dali (31 anos – 31/07/1991; Aston Villa-ING), 17-Léa Le Garrec (30 anos – 13/07/1993; FC Fleury 91);

Pontas: 11-Kadidiatou Diani (28 anos – 01/04/1995; Paris Saint-Germain), 12-Clara Matéo (25 anos – 28/11/1997; Paris FC), 18-Viviane Asseyi (29 anos – 20/11/1993; West Ham United-ING), 23-Vicki Becho (19 anos – 03/10/2003; Lyon);

Atacantes: 9-Eugénie Le Sommer (34 anos – 18/05/1989; Lyon), 19-Naomie Feller (21 anos – 06/11/2001; Real Madrid CF-ESP).

Lista de Suplentes: Mylène Chavas (GOL | 25 anos – 07/01/1998; FC Girondins de Bordeaux).

Ausências Notáveis: Amandine Henry (VOL/MC – Angel City FC-EUA; lesão na panturrilha esquerda sofrida em Julho de 2023), Delphine Cascarino (PE/PD – Lyon; ruptura parcial do ligamento cruzado do joelho direito ocorrida em Maio de 2023), Marie-Antoinette Katoto (AT – Paris Saint-Germain; lesão no ligamento cruzado anterior do joelho direito sofrida em Julho de 2022), Griedge Mbock Bathy (ZAG – Lyon; deslocamento do joelho direito em lesão sofrida em Setembro de 2022), Oriane Jean-François (MC/VOL – Paris Saint-Germain; lesionou-se às vésperas da Copa), Sarah Bouhaddi (GOL – Paris Saint-Germain; opção técnica), Marion Torrent (LD – Montpellier HSC; opção técnica), Hawa Cissoko (ZAG – West Ham United-ING; opção técnica), Charlotte Bilbault (VOL – Montpellier HSC; opção técnica), Ella Palis (MC – Bordeaux; opção técnica), Sandy Baltimore (PE/ME – Paris Saint-Germain; opção técnica), Melvine Malard (AT – Lyon; opção técnica), Ouleymata Sarr (AT/PD/PE – Paris FC; opção técnica).

Time-Base

Pauline Peyraud-Magnin; Ève Périsset, Estelle Cascarino, Wendie Renard ©, Sakina Karchaoui; Grace Geyoro, Sandie Toletti, Amel Majri; Kadidiatou Diani, Eugénie Le Sommer, Clara Matéo.

Hervé Renard se notabilizou recentemente por comandar esquemas que variam entre 4-3-3 e 4-2-3-1. Ou seja: ideias idênticas à distribuição tática que nos acostumamos a ver durante o período Corinne Diacre. A principal diferença é que o técnico encontrará um ambiente mais leve, já que as rusgas internas ficaram para trás e Renard desde os primeiros dias de trabalhos optou por se reaproximar de atletas que não eram tão bem quistas no grupo de Diacre.

Uma delas foi Amandine Henry, meio campista com longa e vitoriosa carreira no Lyon e titular no mundial de quatro anos atrás realizado em solo francês. O acréscimo que ela oferece ao time se dá principalmente na construção pelo centro do campo e em finalizações de média distância. Outro diferencial de Henry é a facilidade para efetuar lançamentos longos e precisos. A importância dela seria enorme porque o conjunto francês comumente conta com pontas e/ou laterais que buscam a direção do gol e exploram bastante o espaço às costas das defensoras adversárias.

Mas ela tão somente "seria" um reforço enorme ao time. Isso porque o retorno de Amandine Henry ao grupo foi seguido de um problema na panturrilha. O saldo foi um corte no dia 07, praticamente duas semanas antes da estreia. Ausência pesada para o posto de volante mas também para o de meio campista, já que a agora jogadora do estadunidense Angel City conseguiria desempenhar qualquer papel central nesse 4-3-3 idealizado pela comissão técnica para a Copa do Mundo.

A lesão sofrida por Amandine Henry às vésperas da Copa do Mundo deve fazer com que Sandie Toletti assuma de vez o papel de volante na equipe francesa. Foto: S. Mantey (L'Équipe)

Vale dizer que esse problema sofrido pela atleta de 33 anos não chega a ser uma novidade. Amandine Henry foi afetada por lesões tanto no final do ano passado como no começo de 2023. E, por retornar somente em meados de Maio, ela perdeu a primeira convocação de Renard e chegou à reta final de preparação para o mundial sem o ritmo físico considerado ideal e ainda se recuperando da parada que teve no primeiro quadrimestre do ano.

Aliás, esse aspecto clínico era um ponto que dava margem para que Henry fosse utilizada como uma meio campista de maior liberdade para avançar. Por conta do pouco tempo de trabalho de Renard e a questão física da jogadora, ter Henry longe das melhores condições e exposta como volante única poderia gerar problemas ao time no momento defensivo. Mas agora isso é caso do passado. Quem larga em vantagem para a titularidade no posto de volante é Sandie Toletti, titular da posição no difícil teste diante do Canadá e mantida na função para o amistoso de Julho.

Ela que, em muitos momentos do período Corinne Diacre, era uma jogadora de bom recurso técnico e que se aproximava da única volante para variar a forma como a equipe saía ao campo rival com a bola nos pés. Por seguidamente jogar perto da volante, a França mantinha duas jogadoras de centro mais presas e soltava de vez ao menos uma lateral. Nos amistosos mais recentes, porém, foi possível ver Toletti justamente nessa posição mais central. Assim, ela participa mais da construção das ações ofensivas e deixa de lado as tarefas de transição.

Clara Matéo pode ser escalada como ponta, mas possuindo bastante liberdade para centralizar os movimentos e tornar uma meio campista a mais. Foto: FFF

O que nos leva a crer que Sandie Toletti seria utilizada nesse posto foi a convocação francesa para a Copa do Mundo. As até então titulares para essa função central (Charlotte Bilbault e Kheira Hamraoui) não figuram sequer na lista definitiva de 23 nomes. Durante o período de Corinne Diacre, especialmente Bilbault era tida como uma jogadora fundamental para equilibrar o centro do campo e adicionar um maior poderio em matéria de fechar espaços em frente à área. De qualidade técnica e importante no momento ofensivo, sua ausência chama a atenção.

A jogadora a ser escolhida pela comissão técnica para esse posto de volante, independente de quem seja, se notabilizou em recuar bastante para a linha de zagueiras durante o período Diacre. A intenção era permitir o avanço das laterais e melhorar a saída à frente com posse de bola. Isso tende a acontecer durante a Copa do Mundo, visto que o jogo pelos lados do campo é uma marca forte do conjunto francês mesmo com os vários problemas médicos no ataque. Essa movimentação ocorreu também em períodos de Renard à frente de equipes masculinas.

Quando a comissão técnica passada utilizava Clara Matéo ou a experiente Kenza Dali numa região mais central, a ideia era ter uma armadora de ofício dentro desse tripé de meio. Habilidosas e habituadas a atuarem em zonas mais ofensivas do campo, ambas adicionam inteligência e criatividade na busca por espaços entre as linhas de defesa e meio campo rivais. Dali, aliás, vem de ótima temporada no Aston Villa. Já Matéo parece destinada a atuar pelos lados do campo ou até no comando de ataque nesse novo ciclo.

A habilidade enorme no pé esquerdo faz com que Amel Majri possa atuar tranquilamente no centro do campo francês. De quebra, isso permite que uma atleta mais jovem execute as funções mais desgastantes da lateral-esquerda. Foto: F. Faugère (L'Equipe)

A única unanimidade no meio campo francês durante o ciclo atendeu pelo nome de Grace Geyoro. Ela que vem de uma Eurocopa de bastante destaque executando o papel de transição entre os setores de meio campo e ataque e se tornou imprescindível para os melhores momentos da equipe de Corinne Diacre nos últimos anos. Tê-la no time significa que a França vai entregar qualidade no ataque a espaços, energia e também potência física para atacar e defender.

Vale ressaltar que Geyoro vive excelente momento também no Paris Saint-Germain, clube onde vem assumindo cada vez mais o papel de protagonista e liderança. Uma das suas colegas no conjunto da capital é Laurina Fazer. A atleta de 19 anos atua na mesma faixa do campo de Geyoro e vem chamando a atenção especialmente pela qualidade técnica que apresenta. E o detalhe é que Fazer tem um potencial até maior do que a companheira para assumir um posto criativo e de maior ofensividade em clube e seleção. Vale ficar de olho. Outra companheira sua no PSG é Oriane Jean-François, também jovem e que vem chamando a atenção quando escalada para executar tarefas defensivas e iniciar o trabalho de construção.

Entretanto, a atleta do clube da capital francesa seria cortada de última hora por conta de uma lesão no período preparatório ao mundial. Outra novidade das mais interessantes, e essa é presença garantida na Copa, é a habilidosa e criativa Léa Le Garrec. Ela vem de uma excelente temporada no FC Fleury, contribuindo diretamente em 15 gols obtidos pela equipe. Le Garrec encontra facilidade para atuar como meio campista, tendo maiores tarefas ofensivas, e também como uma volante de saída de bola. Pode ser ela a alternativa imediata à Toletti na primeira função do meio campo.

Sakina Karchaoui (foto) e Selma Bacha brigam pelo posto na lateral. Trata-se de uma ótima dor de cabeça para a comissão técnica, visto que ambas concentram muita qualidade no setor ofensivo. Foto: Icon Sport

A participação das laterais no campo ofensivo é importante para variar a forma de a França atacar. Ter pontas participativas e meio campistas capazes de decidir confrontos duros em lances individuais é ótimo, mas as europeias ainda possuem cartas na manga. Especialmente pelo lado esquerdo, que conta com o maior número de opções de talento. A ponto de pelo menos uma delas deixar o posto defensivo e passar a ser utilizada numa zona mais adiantada.

Mesmo com a ausência da titularíssima Amel Majri (afastada das atividades esportivas durante boa parte de 2022 por conta da gravidez), o selecionado francês manteve o seu alto nível no setor com Selma Bacha e Sakina Karchaoui. Dois nomes interessantes e com características semelhantes de apoio em diferentes regiões no lado canhoto. Ambas se destacam por auxiliar a construção ofensiva também por dentro, auxiliando uma meio campista mais próxima.

Além disso, elas auxiliam qualidade quando atuam mais próximas à linha de fundo e realizam cruzamentos. Eventualmente, as duas são escaladas até mais adiantadas em partidas realizadas por seus clubes em Liga Francesa e UEFA Champions League. Majri, de volta ao time titular, tem como ponto forte a qualidade técnica e a versatilidade. Por conta do alto nível de atletas para a posição de lateral, será comum vê-la mais avançada durante a Copa do Mundo.

Léa La Garrec vem de ótima temporada no futebol francês e é uma alternativa das mais interessantes para qualificar ainda mais o centro do campo nacional. Foto: L'Equipe

Bastante habilidosa, ela também tem facilidade de atuação como lateral que dá as caras em uma zona mais central do campo ou em momentos onde é acionada mais perto da linha lateral. Tê-la de volta é mais um ganho para Hervé Renard, que chegou a utilizá-la até mesmo como uma meio campista central no amistoso contra a Colômbia. Ainda que não possua a velocidade que ao menos uma das pontas francesas apresentou durante esses últimos anos, ela acrescenta demais em qualidade técnica e inteligência na leitura do jogo.

Pelo lado direito, Ève Périsset e Marion Torrent foram as opções mais frequentes com Corinne Diacre, mas somente a primeira manteve esse posto no elenco principal com a nova comissão técnica. Périsset e a novidade Elisa De Almeida também avançam ao campo de ataque, mas não são tão influentes no jogo ofensivo francês como Bacha, Karchaoui ou Majri são pelo setor canhoto. Durante o ciclo, é importante lembrar que a escolha das laterais variou muito de acordo com a montagem do time no meio do campo e o adversário enfrentado.

A utilização de jogadoras mais ofensivas na faixa central naturalmente exigia um maior trabalho de pressão de toda a equipe para que a defesa não ficasse exposta ou cedesse espaços demais às costas das zagueiras. Muito provavelmente a titular no setor direito do campo manterá uma posição mais equilibrada, não avançando tanto. Isso justifica a escolha por De Almeida, zagueira de origem no PSG ou de Maëlle Lakrar, também defensora. Essa última que, apesar de marcar dois gols no amistoso de Julho contra a Irlanda, é alternativa principalmente para equilibrar a linha de defesa ao atacar menos.

Wendie Renard segue sendo uma liderança anímica importante no elenco francês. Além disso, o talento com bola no pé e a eficiência em lances aéreos (em ambas as áreas) continua a mesma. Foto: Franck Fife (AFP)

Por falar em defesa, a França está muitíssimo bem servida em seu miolo de zaga. Confirmada na Copa do Mundo após os problemas de relacionamento com a comissão técnica anterior virarem coisa do passado, Wendie Renard é arma importantíssima quando acionada em qualquer uma das áreas. Além disso, a histórica atleta do Lyon se destaca pelos lançamentos longos e inversões que colocam as pontas francesas em ação contra as alas/laterais adversárias.

O detalhe é que essa sua facilidade no trato com a bola ajuda a tirar a total responsabilidade da construção ofensiva das costas do trio central francês. Quem largava na frente para ser sua companheira era Aïssatou Tounkara. Mas, ainda que ela tenha voltado à briga por substituir Amandine Henry na lista de 23, o fato de ter sido descartada antes da lesão da companheira dava a entender que ela perdera espaço na hierarquia defensiva francesa. Melhor para Maëlle Lakrar, Elisa De Almeida e Estelle Cascarino, que podem se revezar na titularidade (especialmente na fase de grupos). Independentemente da escolha, trata-se de uma zaga de bom posicionamento e imposição física em duelos aéreos.

No gol, Pauline Peyraud-Magnin se afirmou como titular absoluta e parece a mais confiável opção no momento. Um detalhe é que Sarah Bouhaddi, fora das convocações com Corinne Diacre, também não faz parte dos planos de Renard para a Copa do Mundo. Aliás, a agora atleta do Paris Saint-Germain não chegou a fazer sequer da lista prévia de 26 nomes. Na ocasião, a alternativa ao trio que disputará o mundial era Mylène Chavas, goleira titular do Bordeaux e nome frequente em convocações para torneios internacionais anteriores de base.

Pauline Peyraud-Magnin se consolidou como a goleira titular da França já no período de Corinne Diacre. Esta será a sua primeira Copa do Mundo como titular. Foto: Getty Images

O ataque francês mantém a força de praticamente todos os outros setores. Kadidiatou Diani já é há alguns anos uma referência importante no elenco do PSG e aos poucos foi se tornando intocável dentro da seleção também. No 4-3-3 francês, ela costuma ser utilizada pelo lado direito e sempre busca uma jogada em direção à linha de fundo. Porém, não é nada incomum ver a jogadora tentando criar espaços pelo lado esquerdo ou até mesmo em uma posição mais fixa do ataque. A perda de atletas cruciais para o funcionamento do setor colaborará com isso.

No período em que a goleadora Marie-Antoinette Katoto esteve ausente, Diani foi utilizada em um posicionamento mais central e correspondeu com gols e boas atuações. Como Katoto não disputará o mundial por conta de lesão, manter Diani nesse posto central é uma possibilidade, ainda que não seja uma tendência. De qualquer forma, vale ressaltar o crescimento dela no aspecto da finalização. Cada vez mais a atacante do Paris Saint-Germain se consolida como uma das principais artilheiras da equipe em torneios locais e internacionais.

Outra arma que favorece a jogadora é o cruzamento gerado pelo lado inverso e tendo como destino a segunda trave. Eles servem para pegar Diani em vantagem aérea contra uma das laterais adversárias, geralmente de estatura menor e com uma explosão física inferior. Com Majri de volta (independente da posição onde atue) e contando com setor esquerdo do campo normalmente montado para ser o mais efetivo e acionado, o perigo para os rivais nesse tipo de movimento aumenta consideravelmente.

Kadidiatou Diani vem se notabilizando por marcar cada vez mais gols com o passar dos anos. Por conta disso, hoje ela é uma das atacantes mais cobiçadas do futebol mundial. Foto: Getty Images

O que ameniza a perda de uma atacante como Marie-Antoinette Katoto é o fato de Eugénie Le Sommer voltar a frequentar as listas da seleção. A estrela do Lyon era mais um nome afastado por conta de divergências com a comissão técnica anterior e que com a mudança no comando retornou aos planos do conjunto nacional. E, com esse problema enfrentado por Katoto, a expectativa é que Le Sommer já retorne como titular no comando de ataque. Sua experiência certamente vai agregar muito a um time que, em sua maioria, estará na terceira Copa.

Para esse posto central, a França ainda teve Valérie Gauvin, Melvine Malard e Ouleymata Sarr como alternativas durante o ciclo. Porém, Hervé Renard surpreendeu e optou pela convocação de Naomie Feller (jovem do Real Madrid) para esse posto mais central, deixando o experiente trio acima de fora da lista decisiva. Isso dá margem para que Kadidiatou Diani e também Clara Matéo sejam utilizadas nesse posto mais central, cada qual adicionando suas respectivas características de jogo ao grupo.

Completando o trio de ataque, temos Vicki Becho ou Viviane Asseyi como as principais responsáveis por tentar amenizar a perda da habilidosa e titularíssima Delphine Cascarino às vésperas da Copa. É comum ver Asseyi pelo setor canhoto, mas essa troca de posicionamentos entre a titular em questão e Diani acontece muito e ajuda a variar a forma de a França atacar o adversário. Lembrando que a opção por Selma Bacha, Amel Majri e Clara Matéo, que não são pontas de origem, deve acontecer com boa frequência para essa zona do campo.

Grace Geyoro assumiu a responsabilidade de comandar o meio campo nacional na ausência de Amandine Henry e se tornou um dos grandes destaque da seleção nesse período. No PSG, ela também vem assumindo um protagonismo dos mais interessantes. Foto: Thor Wegner (Getty Images)

Destaque – Grace Geyoro

A meio campista do Paris Saint-Germain é um nome de bastante importância para o funcionamento da mecânica francesa. Isso independentemente de analisarmos o aspecto defensivo ou ofensivo. Afinal, é Geyoro quem mais tem fôlego e qualidade para fazer esse papel de transição entre meio campo e ataque a partir de uma região central.

E o detalhe é que ela apresenta também uma inteligência muito grande para ocupar espaços e se posicionar dentro ou nas cercanias da área adversária. O seu maior momento dentro da seleção foi o duelo de abertura da última Eurocopa, quando a França bateu a Itália por 5x1 em duelo que tinha tudo para ser equilibrado e decidido nos detalhes.

Pois Geyoro marcou nada menos do que em três oportunidades e coroou o grande momento individual que vive (considerando também o excelente nível que alcançou no PSG em temporadas recentes). Com a comissão técnica anterior, era comum ver a atleta de 26 anos aparecendo até em um posto de armação. Isso limita a sua circulação pelo campo, é verdade, mas a deixa em ótimas condições de acionar uma companheira mais bem colocada praticamente dentro da área adversária.


Jamaica

Foto: CONCACAF

A seleção caribenha chega ao seu segundo mundial consecutivo com uma equipe de maior rodagem internacional. Isso porque parte do elenco convocado por Lorne Donaldson disputou também a Copa do Mundo de quatro anos atrás, quando a Jamaica foi eliminada ainda na fase inicial com uma campanha de três derrotas. Apesar desses números desfavoráveis, vale dizer que o grupo (que contava com Brasil, Austrália e Itália) era bastante complicado e não gerava qualquer expectativa de classificação.

E esse azar se manteve para a edição de 2023, já que a seleção caiu em uma chave que conta com o favoritismo evidente de França e Brasil para as duas vagas nas oitavas de final. Mesmo assim, as Reggae Girlz têm em mente que é possível fazer história contra o Panamá e conseguir sua primeira vitória em mundiais femininos.

O que aumenta a esperança para uma Copa do Mundo histórica é o desempenho recente em torneios locais. O 3º lugar obtido na eliminatória foi conquistado com méritos, visto que a Jamaica conseguiu vitórias diante do dono da casa México e também das equipes de Costa Rica e Haiti (que também disputarão o mundial). Dentro de campo, a principal esperança do país recai sobre os ombros de Khadija Shaw.

A jogadora de 26 anos encerrou suas duas primeiras temporadas no Manchester City com muitos gols e atuações de destaque em diferentes competições e cenários de jogo. Pode-se afirmar sem medo que a Jamaica tem sim uma atacante de elite do futebol mundial. Meio campo e defesa também contam com boas referências, mas ainda é pouco para que se possa exigir mais do que três pontos no Grupo F.

Ranking da FIFA: 43º Lugar.

Participações Anteriores em Copas do Mundo: 1/8 (2019).

Melhor Campanha: Fase de Grupos (2019).

Há mais de um ano no cargo, o técnico precisou contornar problemas extracampo envolvendo atletas e a federação local no período próximo ao mundial. Segundo elas, as condições de preparação ao torneio passaram longe das ideais. Foto: Jamaica Football Federation (JFF)

Técnico: Lorne Donaldson (desde Junho de 2022).

Convocação

Goleiras: 1-Sydney Schneider (23 anos – 31/08/1999; Sparta Praga-CHE), 13-Rebecca Spencer (32 anos – 22/02/1991; Tottenham Hotspur-ING), 23-Liya Brooks (18 anos – 17/05/2005; Washington State Cougars-EUA);

Laterais: 14-Deneisha Blackwood (26 anos – 07/03/1997; GPSO 92 Issy-FRA), 19-Tiernny Wiltshire (25 anos – 08/05/1998; Sem Clube);

Zagueiras: 3-Vyan Sampson (27 anos – 02/07/1996; Hearts-ESC), 4-Chantelle Swaby (24 anos – 06/08/1998; FC Fleury 91-FRA), 5-Konya Plummer (25 anos – 02/08/1997; Orlando Pride), 17-Allyson Swaby (26 anos – 03/10/1996; Paris Saint-Germain-FRA);

Volantes/Meio Campistas: 6-Havana Solaun (30 anos – 23/02/1993; Houston Dash-EUA), 7-Peyton McNamara (21 anos – 22/02/2002; Ohio State Buckeyes-EUA), 8-Drew Spence (30 anos – 23/10/1992; Tottenham Hotspur-ING), 20-Atlanta Primus (26 anos – 21/04/1997; London City Lionesses-ING);

Meias/Pontas: 2-Solai Washington (18 anos – 01/07/2005; Concorde Fire SC-EUA), 10-Jody Brown (21 anos – 16/04/2002; Florida State Seminoles-EUA), 12-Kiki van Zanten (21 anos – 25/08/2001; Notre Dame Fighting Irish-EUA), 15-Tiffany Cameron (31 anos – 16/10/1991; Sem Clube), 16-Paige Bailey-Gayle (21 anos – 12/11/2001; Crystal Palace-ING), 18-Trudi Carter (28 anos – 18/11/1994; Sem Clube), 21-Cheyna Matthews (29 anos – 10/11/1993; Chicago Red Stars-EUA);

Atacantes: 9-Kameron Simmonds (19 anos – 06/12/2003; Tennessee Volunteers-EUA), 11-Khadija Shaw (26 anos – 31/01/1997; Manchester City-ING), 22-Kayla McKenna (26 anos – 03/09/1996; Rangers FC-ESC).

Lista de Suplentes: Sashana Campbell (LE | 32 anos – 02/03/1991; Sem Clube).

Ausências Notáveis: Siobhan Wilson (LE – Birmingham City-ING; lesão no ligamento cruzado anterior do joelho sofrida em Abril de 2023), Jayda Hylton-Pelaia (LD – Woodbridge Strikers-EUA; opção técnica), Gabrielle Gayle (ZAG/LD – South Alabama Jaguars-EUA; opção técnica), Dominique Bond-Flasza (LD - Ungmennafélag Grindavíkur-ISL; opção técnica), Victoria Williams (ZAG – Brighton & Hove Albion-ING; opção técnica), Jade Bailey (VOL/ZAG – Liverpool FC-ING; opção técnica), Chinyelu Asher (MC/VOL – AIK-SUE; opção técnica), Marlo Sweatman (MC - Szent Mihály FC-HUN; opção técnica), Olufolasade Adamolekun (MD/AT – USC Trojans-EUA; opção técnica), Mireya Grey (MD/ME – Sound FC-EUA; opção técnica).

Time-Base:

Sydney Schneider; Chantelle Swaby, Konya Plummer ©, Allyson Swaby, Deneisha Blackwood; Drew Spence, Peyton McNamara, Havana Solaun; Trudi Carter, Khadija Shaw, Jody Brown.

Por contar com boas alternativas de jogo para os lados do campo, a Jamaica se caracterizou por utilizar principalmente o 4-3-3 durante o período de Lorne Donaldson. Em alguns momentos, porém, a seleção opta por deixar as suas atletas com maior capacidade de desequilíbrio longe de qualquer tarefa defensiva e adere ao 4-4-2. Certo é que a craque e grande referência do esquema jamaicano é Khadija Shaw.

Uma das atacantes mais completas da atualidade, a jogadora é capaz de fazer a diferença para clube e seleção em qualquer zona do setor ofensivo. Se ela permanece mais fixa no comando de ataque, Shaw é perigosa em lances aéreos e também quando recebe a bola de costas para o gol. Nesse caso, pode-se optar por um giro rápido seguido de finalização ou um pivô visando uma companheira mais bem posicionada e em condições de arrematar.

De bom porte físico, “Bunny” costuma levar vantagem na maior parte dos confrontos contra as defensoras adversárias. Além disso, a atacante de 26 anos se caracteriza por sair muito bem da área. Seu alto nível técnico facilita uma assistência mais elaborada e também abre espaços para quem chega de trás.

Kayla McKenna é quem costuma ter a difícil tarefa de substituir Khadija Shaw quando a atacante do Manchester City é ausência. Ainda que com um estilo menos participativo fora da área, ela contribui em lances físicos. Foto: The Scotsman

Sem contar que a explosão física colabora quando Shaw busca os lados do campo. A capacidade que ela tem de arrancar para cima das zagueiras rivais em um deslocamento na diagonal não pode ser descartada. Em resumo: podemos esperar bastante movimentação da craque jamaicana. Por mais que seus números ofensivos chamem a atenção, ela não é o tipo de jogadora caracterizada somente pela finalização.

Shaw, aliás, é um ótimo exemplo de atleta jamaicana que se desenvolveu de um ciclo para o outro. Por mais que já viesse entregando gols desde os torneios universitários dos Estados Unidos, a bagagem que construiu nessas duas temporadas no Manchester City elevou o seu nível consideravelmente em relação ao mundial passado. Por conta de tamanha importância, é evidente que a jogadora não tem uma substituta capaz de cumprir todos esses papéis.

Perder “Bunny” é perder a cereja do bolo (para não dizer que boa parte do bolo também) no esquema jamaicano. Sua reposição mais semelhante é Kayla McKenna. Não tanto pela mobilidade, mas sim pela importância na questão física. Ela se destaca em cabeceios e também quando usa o corpo na proteção à bola.

A jovem Jody Brown segue sendo a principal alternativa de aproximação ao ataque. Extremamente habilidosa, ela é um trunfo importante para abrir setores defensivos bem montados. Foto: Omar Vega (Getty Images)

Outras opções para essa função no comando de ataque da Jamaica são Atlanta Primus e Kameron Simmonds. Porém, ambas se destacam pela maior mobilidade que apresentam, com Primus eventualmente sendo escalada até mesmo no centro do campo. Por conta de algumas mudanças importantes ocorridas nesse setor, imagina-se que ela de fato seja utilizada com maior frequência como uma meio campista.

E, dependendo das escolhidas para as funções nas pontas, pode-se esperar uma intensa troca de posicionamento no setor ofensivo das Reggae Girlz. Por falar em atletas que costumam complementar Khadija Shaw, são muitas as opções disponíveis. As mais cotadas a iniciar a Copa do Mundo na equipe titular são Trudi Carter e Jody Brown. Remanescentes do mundial anterior, ambas seguem sendo importantes no estilo de jogo jamaicano baseado em utilizar os lados do campo – principalmente os espaços às costas das laterais rivais.

A primeira teve passagem discreta pela Roma e parece ter retomado seus melhores momentos da carreira no espanhol Levante Las Planas. Em seu auge, Carter é capaz de desequilibrar tanto pelo lado esquerdo quanto pelo direito. Isso colabora para que seja uma peça importante na seleção, já que essa versatilidade a coloca em vantagem contra jogadoras que conseguem ser eficientes somente em uma faixa do gramado. Se pensarmos numa dupla montada com Jody Brown, as duas são capazes de se revezar entre um lado e outro sem maiores problemas.

Cheyna Matthews é mais uma opção interessante para explorar os lados do campo. Embora a concorrência seja boa no setor, ela deve ter bons minutos na Copa do Mundo. Foto: Getty Images

Essa troca tende a acontecer quando existe uma marcação individual ou reforçada em cima de Brown. Isso porque a jovem de 21 anos é o complemento ideal a uma atacante móvel e ao mesmo tempo tão inteligente como Khadija Shaw. Jody Brown é a ponta com maior habilidade do esquema jamaicano, o que em muitos momentos faz com que a comissão técnica opte por fechar duas linhas de quatro no meio campo e a utilize como uma segunda atacante.

Isso tira parte do trabalho defensivo e permite que a jogadora foque principalmente em seus afazeres no campo de ataque. Nessa zona do gramado, seu diferencial é a capacidade de abrir defesas quando parte com a bola dominada em diagonal (especialmente pelo setor canhoto). A agilidade e também a velocidade de seus movimentos chamam a atenção.

O detalhe é: quando é deslocada para o lado direito, Brown pode muito bem arrancar em direção à linha de fundo para efetuar um cruzamento buscando Khadija Shaw e quem mais aparecer na área como elemento-surpresa. Essa imprevisibilidade certamente causa problemas à defesa rival. O fato de já fazer parte da equipe nacional desde o ciclo passado e ter aproveitado muito bem o período no futebol universitário dos Estados Unidos adicionam uma bagagem bastante interessante a um dos grandes talentos do futebol caribenho.

Novidade para o ciclo, Drew Spence é um nome de boa habilidade no centro do campo jamaicano. Com as ausências de Marlo Sweatman e Chinyelu Asher, ela ganha ainda mais importância no setor. Foto: CONCACAF

Outros nomes utilizados para essas funções de lado de campo foram Cheyna Matthews, Kiki van Zanten, Paige Bailey-Gayle, Mireya Grey, Solai Washington, Tiernny Wiltshire, Tiffany Cameron e Olufolasade Adamolekun. Logicamente, nem todas estarão no mundial devido ao número restrito de jogadoras. Como dito anteriormente, tamanho leque de opções passa longe de ser um problema para a comissão técnica.

Seja pelo fato de sempre contar com atletas ativas e prontas para suprir qualquer necessidade imposta pelo jogo ou pela possível adaptação de esquema ao 4-4-2. Nesse esquema, utiliza-se uma atleta móvel para atuar ao lado de Khadija Shaw na frente enquanto outras duas meias buscam superar suas marcadoras praticamente estando coladas na linha lateral. No momento do ataque, a natural característica ofensiva dessas atletas faz com que o 4-4-2 se transforme praticamente num 4-2-4.

Assim, o que se vê é uma mobilidade constante que tende a complicar a marcação adversária. Não raramente ocorre uma mudança de posicionamento e as atletas trocam de funções para buscar algo novo dentro dos confrontos. Não se pode descartar até mesmo um 4-2-3-1 onde Jody Brown é a encarregada da armação. Isso aconteceu em momentos do ciclo atual e também do anterior.

Havana Solaun marcou o primeiro gol jamaicano em Copas do Mundo na derrota contra a Austrália em 2019. E ela segue sendo um nome importante para o conjunto caribenho no aspecto técnico. Foto: FIFA (via Getty Images)

O centro do campo conta com atletas de interessante qualidade técnica e também força física. Uma delas é Havana Solaun, remanescente do mundial passado e que entrou para a história do futebol local graças ao gol marcado na derrota de 4x1 diante da Austrália. Isso porque foi o primeiro das Reggae Girlz em uma edição feminina de Copa do Mundo. No tripé central da Jamaica, geralmente ela é uma meio campista com maior liberdade de avanço.

Porém, até pelos constantes testes ocorridos durante o período Donaldson e também a ausência de nomes que pareciam consolidados na equipe que disputará o mundial, percebemos a jogadora de 30 anos em um posicionamento mais retraído. Embora seja menos ágil do que algumas colegas, ela possui qualidade para passes curtos e inversões de jogo. Chinyelu Asher era quem costumava atuar atrás de duas meio campistas, mas é uma das atletas do setor que acabaria ficando de fora da convocação decisiva.

Sua canhota seria capaz de encontrar bons passes às costas da linha de defesa e também executar inversões de jogo com boa precisão. A juventude do setor está em Peyton McNamara, de 21 anos e com destaque em seleções de base da Jamaica e também em ligas universitárias dos Estados Unidos. De boa técnica e altura, ela já foi utilizada como atacante central no Ohio State University e deve ganhar espaço como meio campista no decorrer da Copa.

Chantelle Swaby aos poucos foi se firmando no posto de lateral-direita, ainda que seja zagueira de origem. Pela característica das atletas convocadas, um 5-4-1 passa a ser possível de ser visto na Copa do Mundo. Foto: Jamaica Football Federation (JFF)

A maior novidade do setor central para o atual ciclo é Drew Spence. A atleta do Tottenham chegou a defender a Inglaterra nas seleções de base, mas desde o final de 2021 frequenta as listas jamaicanas. Sua passagem pelo futebol inglês a caracteriza por ser uma meio campista de boa chegada ao ataque e perigosa em chutes de média distância.

Além disso, ela é mais uma atleta com bom porte físico e capaz de vencer duelos aéreos ou rebotes em diferentes zonas do campo. No esquema das caribenhas, sua utilização encaixa muito bem dentro da ideia da comissão técnica de ter um meio campo criativo e que saiba o que fazer com a bola quando tiver a posse dela. Uma prova da qualidade de Spence foi o lindo passe para Kiki van Zanten marcar o gol da vitória contra a Costa Rica no último CONCACAF W Championship.

Outro nome com grande rodagem e história construída dentro do conjunto jamaicano é Marlo Sweatman. Titular em muitos momentos do ciclo passado, chama a atenção o fato de ela não frequentar a lista de 23 atletas que disputará o mundial. Algo semelhante ao ocorrido com Jade Bailey, novidade recente e que parecia ter a confiança do técnico apesar dos poucos minutos disputados com a seleção principal. Ela é quem mais tem um estilo focado em marcação e fechar de espaços.

A capitã Konya Plummer retornou às atividades esportivas após a gravidez e é um nome de grande importância para o setor defensivo da Jamaica. Foto: University of Central Florida

O detalhe é que a atleta do Liverpool poderia ser utilizada também como zagueira em alguma eventualidade. Por falar em posições mais defensivas, um acréscimo importante para a Copa do Mundo será Konya Plummer. Ausência durante boa parte da temporada passada por conta do nascimento de seu primeiro filho, ela foi a principal referência no miolo de zaga jamaicano no ciclo anterior e adiciona uma rodagem bastante interessante ao setor.

Inclusive, foi Plummer a capitã das Reggae Girlz no mundial disputado quatro anos atrás. Sua qualidade técnica para passes curtos e também o porte físico privilegiado chamam a atenção. Sua provável parceira será Allyson Swaby, escolha de confiança da comissão técnica e recém-integrada ao elenco do Paris Saint-Germain. Outras opções para o setor foram Gabrielle Gayle, Chantelle Swaby, Victoria Williams, Satara Murray e Vyan Sampson.

Aliás, por contar com laterais que possuem um senso ofensivo interessante e até mesmo um passado na carreira atuando em meio campo e ataque, não seria realmente algo fora da curva se Lorne Donaldson apostasse em um esquema com três zagueiras e duas alas (5-3-2 ou 5-4-1). O fato de Chantelle Swaby ser uma zagueira de origem e eventualmente atuar improvisada como lateral-direita mostra que uma adaptação mínima de esquema já comportaria essa nova formação.

Mais uma remanescente do elenco de 2019, Sydney Schneider continua sendo uma ótima opção para a meta jamaicana. Becky Spencer, sua reserva imediata, também deu conta do recado quando exigida. Foto: Laurent Cipriani (AP)

A solidez defensiva que um trio formado por Allyson Swaby, Chantelle Swaby e Konya Plummer daria é o principal trunfo dessa formação. Em duelos onde a Jamaica tende a se defender mais e explorar contra-ataques (especialmente diante de Brasil e França), é um cenário tático interessante. Esses esquemas também favoreceriam a maior parte dos nomes testados para as laterais.

Tiernny Wiltshire, Jayda Hylton-Pelaia e Dominique Bond-Flasza receberam oportunidades durante os últimos anos e a primeira, confirmada na Copa, faz a diferença quando está no campo de ataque. No lado esquerdo, essa maior liberdade de avanço tinha tudo para privilegiar Siobhan Wilson. A ala vem de ótimas temporadas em Crystal Palace e Birmingham quando atua mais solta e seria uma parceira de ótimo nível técnico para a talentosa Jody Brown.

Porém, em Março a jogadora sofreria uma grave lesão ligamentar que a tiraria da Copa do Mundo. A equipe perde em qualidade, mas mantém as características de jogo por aquele setor. Isso porque sua concorrente Deneisha Blackwood também se dá melhor quando se apresenta ao jogo na intermediária de ataque. Uma ausência a ser sentida é a de Sashana Campbell, cortada de última hora por escolha técnica. Outra incerteza está no gol, posição onde as Reggae Girlz estão muito bem servidas. A disputa envolve Sydney Schneider (titular e destaques no mundial de 2019) e Becky Spencer. Ambas possuem boa rodagem internacional e já viveram ótimos momentos vestindo a camiseta das caribenhas.

Uma então promissora Khadija Shaw não balançou as redes em 2019. Quatro anos mais tarde, e consolidada como atacante de elite no futebol mundial, ela busca continuar fazendo história com a Jamaica. Foto: Craig Mercer

Destaque – Khadija Shaw

Destaque do Manchester City, a atacante é fundamental para a equipe jamaicana. Pelos vários gols, é lógico, mas também pelas movimentações que costumam desestabilizar a marcação adversária. Não raramente Shaw sai da área em busca de um lance mais próximo às volantes. Caso receba a bola de costas para o gol, o pivô que executa facilita uma rápida troca de passes no setor.

Na sequência do movimento, uma das pontas acaba sendo acionada em velocidade às costas da linha de defesa rival. Dentro da área, o cuidado com ela precisa ser ainda maior. Por conta do bom porte físico, normalmente “Bunny” Shaw carrega duas marcadoras em lances de cruzamento. Obviamente que isso também favorece as companheiras mais próximas que buscam finalização direta ou rebote.

A atacante foi a artilheira do país na última eliminatória (com 3 gols em 4 jogos) e novamente chega em um mundial como a principal esperança das Reggae Girlz. Em 2019, ela passou em branco. Agora, a expectativa é que Shaw consiga balançar as redes ao menos uma vez e guie a Jamaica para a sua primeira vitória em Copas do Mundo femininas. O duelo contra o Panamá parece ser o mais acessível para isso.


Brasil

Foto: Lucas Figueiredo (CBF)

A seleção brasileira chega ao mundial com expectativas maiores do que aquelas de quatro anos atrás. O fato de cair em um Grupo F que conta também com Panamá e Jamaica não causa medo, ainda que a perda de pontos no confronto contra a França ou um menor saldo de gols geral possa jogar o Brasil no caminho da Alemanha já nas oitavas de final. A grande questão enfrentada por Pia Sundhage durante o ciclo foi iniciar um necessário processo de renovação no elenco.

Assim, muitas jogadoras receberam oportunidades de frequentar o clima da seleção em jogos e/ou treinamentos. Porém, o acúmulo de lesões sofridas por diferentes nomes da equipe durante esse período acabou alterando até mesmo o panorama inicial de minutos e chances cedidas às atletas. Tratou-se de uma infelicidade enorme para a comissão técnica.

Dessa forma, a ideia de consolidar uma equipe titular também seria afetada. Não no sentido de manter somente onze jogadoras prontas para a Copa do Mundo, mas para que uma maior continuidade das titulares favorecesse o entrosamento e amenizasse erros mais banais de posicionamento e movimentações. O fato de o Brasil enfrentar seleções de alto nível em boa parte dos amistosos evidenciou certas fragilidades, mas também mostrou mudanças positivas em comparação ao que era visto em ciclos anteriores.

A principal é que o time é capaz de competir contra qualquer rival. O que ficou abaixo do esperado mesmo foi o desempenho na Copa América, onde a seleção é franca favorita ao título e de fato viria a conquistar mais uma taça. Entretanto, com um desempenho ofensivo e criativo pouco convincente. Embora não entre como favorita, a equipe de Pia está no grupo de seleções que é livre para sonhar.

Ranking da FIFA: 8º Lugar.

Participações Anteriores em Copas do Mundo: 8/8 (1991, 1995, 1999, 2003, 2007, 2011, 2015, 2019).

Melhor Campanha: 2º Lugar (2007).

A sueca Pia Sundhage será a primeira estrangeira a comandar a seleção brasileira em Copas do Mundo.  No ciclo, a experiente comandante já venceu a Copa América. Foto: Thais Magalhães (CBF)

Técnica: Pia Sundhage (desde Julho de 2019).

Convocação

Goleiras: 1-Bárbara (35 anos – 04/07/1988; Flamengo), 12-Lelê (28 anos – 13/08/1994; Corinthians), 22-Camila (22 anos – 02/01/2001; Santos);

Laterais: 2-Antonia (29 anos – 26/04/1994; Levante UD-ESP), 6-Tamires (35 anos – 10/10/1987; Corinthians), 13-Bruninha (21 anos – 16/06/2002; NJ/NY Gotham City-EUA);

Zagueiras: 3-Kathellen (27 anos – 26/04/1996; Real Madrid-ESP), 4-Rafaelle (32 anos – 18/06/1991; Sem Clube), 14-Lauren (20 anos – 13/09/2002; Sem Clube), 19-Mônica (36 anos – 21/04/1987; Madrid CFF-ESP);

Volantes/Meio Campistas: 5-Luana (30 anos – 02/05/1993; Corinthians), 8-Ana Vitória (23 anos – 06/03/2000; Sem Clube), 15-Duda Sampaio (22 anos – 18/05/2001; Corinthians), 17-Ary Borges (23 anos – 28/12/1999; Racing Louisville-EUA), 20-Angelina (23 anos – 26/01/2000; OL Reign-EUA);

Meias/Pontas: 7-Andressa Alves (30 anos – 10/10/1992; Houston Dash-EUA), 11-Adriana (26 anos – 17/11/1996; Orlando Pride-EUA), 18-Geyse (25 anos – 27/03/1998; Barcelona CF-ESP), 21-Kerolin (23 anos – 17/11/1999; North Carolina-EUA);

Atacantes: 9-Debinha (31 anos – 20/10/1991; Kansas-EUA), 10-Marta (37 anos – 19/02/1986; Orlando Pride-EUA), 16-Bia Zaneratto (29 anos – 17/12/1993; Palmeiras), 23-Gabi Nunes (26 anos – 10/03/1997; Sem Clube);

Lista de Suplentes: Tainara (ZAG | 24 anos – 21/04/1999; Bayern de Munique-ALE), Aline Gomes (ME/MD |18 anos – 07/07/2005; Ferroviária).

Ausências Notáveis: Lorena (GOL – Grêmio; lesão no ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo sofrida em Março de 2023), Letícia Santos (LD – Eintracht Frankfurt-ALE; grave lesão no joelho direito sofrida em Dezembro de 2022), Ludmila (AT – Atlético de Madrid-ESP; lesão no ligamento cruzado anterior do joelho direito sofrida em Março de 2023), Nycole (AT – SL Benfica-POR; lesão por conta de uma entorse no tornozelo esquerdo sofrida em Julho de 2023), Luciana (GOL – Ferroviária; opção técnica), Tarciane (ZAG – Corinthians; opção técnica), Yasmin (LE – Corinthians; opção técnica), Julia Bianchi (MC – Chicago Red Stars-EUA; opção técnica), Gabi Portilho (MD – Corinthians; opção técnica), Gio Queiroz (AT – Arsenal FC-ING; opção técnica).

Time-Base

Lelê; Antonia, Kathellen, Rafaelle ©, Tamires; Geyse, Ary Borges, Kerolin, Adriana; Debinha, Bia Zaneratto.

O 4-4-2 brasileiro varia bastante para 4-2-3-1 ou 4-4-1-1. Dessa forma, é normal ver pelo menos uma das atacantes saindo da área para buscar espaços em diferentes zonas do campo. A responsável por esse papel agora é Bia Zaneratto. Jogadora criativa e que se sente muito bem quando tem liberdade para circular, ela foi a substituta de Marta na função durante o período em que a craque se ausentou dos gramados por conta de problemas médicos.

Um importante acréscimo proporcionado por Bia ao ataque é o aspecto físico. Isso fortalece as transições brasileiras em contra-ataques e também quando a equipe de Pia opta por cruzamentos à área. Quando Bia ou Marta é escalada como atacante, a tendência é que uma delas rode bastante pelo campo e se torne uma meio campista a mais.

Agora, vale lembrar que Pia chegou a utilizar duas atacantes juntas em diferentes momentos do ciclo. Geralmente, a dupla se caracterizava por velocidade e drible, o que aumentava a movimentação na frente e consolidava o 4-4-2. Ao mesmo tempo, todavia, diminuía a possibilidade de uma assistência mais elaborada surgida de uma atleta que tem como maior característica esse estilo cerebral.

Bia Zaneratto cresceu quando posicionada mais próxima ao gol adversário, ainda que com total liberdade para se movimentar na zona das meio campistas e atrás de uma atacante. Foto: Lucas Figueiredo (CBF)

Duda Sampaio despontou como uma ótima alternativa para esse posto de criação. Porém, com o diferencial de ser uma jogadora habituada a já atuar numa zona central. Assim, ela não necessariamente precisaria recuar do campo de ataque para se juntar ao quarteto de meio campo. Tanto que sua utilização no esquema tático de Pia Sundhage se deu especialmente a partir de uma zona mais retraída, e foi bastante comum ver a jogadora do Corinthians sendo a encarregada pela saída de bola próximo às zagueiras.

Infelizmente, Duda também sofreu grave lesão no final de 2022 e acabaria vendo sua continuidade na seleção ser ameaçada. Mesmo assim, ela estará na Copa. O que explica essa sua utilização como meio campista em uma região mais próxima do centro do que propriamente da intermediária ofensiva foi a ausência de Angelina, mais uma titular que sofreu com problemas médicos graves e voltaria aos gramados somente em Junho deste ano. De qualquer forma, ela frequentaria a lista de suplentes e mais tarde estaria incluída no grupo principal por conta da lesão sofrida por Nycole e o corte em 17 de Julho.

Sem dúvida, a meio campista do OL Reign foi o maior ganho brasileiro de todo o ciclo. A atleta fez uma Copa América praticamente impecável e se consolidou como a responsável pela construção ofensiva a partir de bola trabalhada. Sem contar que ainda mostrou boa combatividade em frente à área de defesa. Em resumo: uma meio campista completa. Sua saída já contra a Colômbia foi responsável por expor erros que preocupam para a Copa.

Vítima de uma grave lesão logo quando vivia um dos seus melhores momentos na carreira, Luana demoraria a voltar ao alto nível. Agora, às vésperas da Copa, ela parece ter reencontrado o seu melhor futebol. Foto: Lucas Figueiredo (CBF)

E é fato que o Brasil não conseguiu encontrar no grupo uma opção capaz de substituir Angelina em todos esses aspectos. Luana vinha muito bem em clube e seleção até o começo de 2021, quando também foi vítima de lesão e longa parada. E, para azar de atleta e comissão técnica, a atual meio campista do Corinthians não conseguiu retomar o ótimo nível do início do ciclo de imediato.

Por outro lado, o que dá esperança para Pia é que a maior sequência positiva de Luana aconteceu justamente nas primeiras partidas de 2023, à beira da Copa. Tê-la de volta no grupo é importantíssimo para o estilo proposto pela sueca no conjunto brasileiro. Julia Bianchi foi uma alternativa interessante buscada por Pia, mas que pelo menos durante os jogos não conseguiu apresentar o mesmo futebol de Avaí/Kindermann e Palmeiras e acabaria descartada do mundial.

Cenário parecido com o vivido por Ana Vitória, que atua mais avançada no futebol português e não chegou a empolgar nos momentos em que esteve em campo, ainda que esteja no grupo que vai à Oceania. Quem mais agradou na função de meio campista foi Ary Borges. Leve para as transições à frente e de melhor ocupação de espaços no setor, ela se firmou como titular do Brasil a partir do ano passado e vem emendando ótimas atuações também no Racing Louisville, clube que defende desde o começo de 2023.

Ary Borges foi aos poucos conquistando seu espaço no centro do campo e hoje é imprescindível para o 4-4-2 proposto por Pia. Foto: Thais Magalhães (CBF)

Vale ressaltar, porém, que seu estilo não a encaixa como uma substituta imediata de Angelina. Ele é muito mais complementar, como foi possível observar nos momentos em que as duas atuaram juntas. A Copa América viu a dupla atuando como parceiras de meio campo em cinco das seis partidas e, por mais que se discuta o nível de intensidade imposto pelo Brasil durante a competição, é fato que elas apresentaram mais momentos positivos do que negativos.

Uma alternativa observada por Pia durante a reta final do ciclo foi a utilização de Kerolin como atleta de meio campo. Ela vinha ocupando um posto mais ofensivo na seleção e é lógico que sofreu com essa adaptação brusca. Principalmente quando precisava reduzir os espaços existentes entre as linhas ou se via acionada em embates físicos.

A continuidade, porém, foi dando maior conhecimento da posição, e é bastante possível que ela seja utilizada como meio campista na Copa. O que a jovem Kerolin mais entrega é energia para atacar e defender. Além disso, sua velocidade e a facilidade para dribles podem acabar quebrando uma marcação rival bem organizada a partir do centro. Ela é outra atleta que vem chamando a atenção pelo ótimo desempenho no futebol dos Estados Unidos, já somando oito gols em 13 jogos pelo North Carolina Courage.

Kerolin deixou para trás as desconfianças e se tornou um nome importantíssimo para a seleção. Ela é uma das atletas favoritas da técnica sueca, visto que consegue render muito bem em duas diferentes posições. Foto: Getty Images

No ciclo passado, um dos principais questionamentos era quanto ao papel do centro do campo. A ofensividade das atletas praticamente colocava o Brasil em um 4-2-4 que sofria muito quando confrontado diretamente pelo meio. Sem uma recomposição adequada, era bastante comum ver a equipe de Vadão atrasada nos encaixes de marcação e exposta em sua linha defensiva. A princípio, esse foi um ponto aprimorado nesses quatro anos de Pia.

Por mais que se discuta o fato de ter duas jogadoras leves em postos de proteção, a organização do time como um todo está em um patamar mais avançado. E esse tipo de trabalho depende bastante das meias. Além da já mencionada Kerolin, o Brasil contou com Adriana, Geyse, Nycole, Gabi Portilho, Aline Gomes e Duda Santos para essas funções durante o ciclo. Nem todas elas estarão na Copa, logicamente.

Quem parecia carta fora do baralho e reconquistou seu espaço na seleção foi Andressa Alves. Campeã italiana com a Roma em uma temporada onde balançou as redes em 15 oportunidades, a jogadora mostrou ter estrela ao marcar o gol de empate contra a Inglaterra na Finalíssima. Dessa forma, Andressa coroou uma temporada de altíssimo nível e confirmou o passaporte para a sua terceira Copa do Mundo na carreira. E o bom rendimento recente a credencia a receber bons minutos nas competição.

Geyse enfim conseguiu levar à seleção o excelente futebol que a tornou um dos nomes mais importantes do Barcelona (atual campeão europeu). Foto: Getty Images

Todas são comprometidas com o trabalho defensivo e também foram capazes de fazer a diferença quando acionadas no campo de ataque. O maior destaque vai para Geyse, que conseguiu levar para a seleção o ótimo nível que apresenta no Barcelona nos aspectos técnico e físico. E um detalhe muito importante: eventualmente, ela e Adriana podem ser utilizadas também na linha de ataque.

No caso, sendo um acréscimo à Debinha. Ela que é, sem sombra de dúvida, o maior nome brasileiro se considerarmos os últimos quatro anos. Com bastante mobilidade pelos dois lados, a atacante passou a atuar mais perto do gol adversário e se deu bem. Dessa forma, ela adicionou ao seu arsenal técnico o oportunismo de uma artilheira. E, por mais que Debinha seja agora uma definidora de fato, vamos lembrar que sua parceira Bia Zaneratto sai da área com frequência para ocupar diferentes espaços do campo. Isso acaba favorecendo a meia-esquerda titular, que passa a ter a liberdade de aparecer praticamente dentro da área adversária.

Essa movimentação interessante teoricamente ajuda a desencaixar a marcação individual sobre determinada atleta e colabora para que o Brasil não seja um time estático. A característica móvel do ataque nos últimos anos foi reforçada com Gio Queiroz e Gabi Nunes, opções de Pia no banco de reservas. As jogadoras acabariam disputando a vaga que se abriu no ataque após a lesão sofrida por Ludmila em Março. Melhor para Gabi, que venceu a briga graças ao alto número de gols marcados nos últimos anos por clubes de Brasil e Espanha.

Até por conta da grave lesão sofrida por Marta, o Brasil se viu obrigado a buscar alternativas para o andamento do ciclo. O saldo seria positivo, e hoje é possível ver a seleção competindo contra as equipes de maior força mesmo sem sua histórica camisa 10. Foto: Thais Magalhães (CBF)

Um ponto que atrapalhou muito a continuidade de Gio foi a sequência de lesões sofrida por ela no período de Arsenal e Levante. Muito se debateu Cristiane durante os últimos anos, mas a histórica artilheira também é ausência na Copa. Ainda que sua presença como titular em todas as partidas não encaixe nesse esquema, ter uma atleta com essa experiência e qualidade para adicionar algo de diferente ao proposto inicialmente por Pia poderia ser útil em certos cenários.

Sua fiel parceira Marta estará no mundial, mas não se sabe ao certo a forma como ela vai ser utilizada. Devido ao longo tempo de inatividade e à idade avançada da craque, espera-se que seus minutos sejam bastante pontuais. Ter Marta como “uma cereja no bolo” a ser escalada em momentos esporádicos parece algo bastante plausível para a Copa do Mundo. E a ideia de jogo de Pia tende a privilegiar muito mais o que a atleta oferece do setor intermediário em diante do que em uma zona mais afastada do gol adversário.

Assim, Marta estaria livre para se movimentar onde bem entender e sem tanta responsabilidade para fechar espaços. Algo totalmente oposto do que se via há quatro anos, quando a jogadora era encarregada inclusive de fechar linha e acompanhar adversárias que caíam naquela faixa do campo. Agora, é possível imaginar a craque ocupando um posto mais à frente num 4-4-2 ou sendo o ponto de ligação entre meio campo e ataque num 4-4-1-1/4-2-3-1.

Tamires segue sendo um nome importante no apoio ofensivo. A lateral é a que mais frequenta o campo de ataque se analisarmos o trio convocado ao mundial, já que em muitos momentos é meia ou até ponta no Corinthians. Foto: Lucas Figueiredo (CBF)

Certo é que a utilização de Marta altera a forma de a equipe atuar e também impacta a montagem do setor defensivo rival. Diferenciada como é, lógico que ela é capaz de colocar seu talento acima de qualquer esquema e decidir jogos. Porém, a seleção busca não ser dependente de alguma genialidade de Marta para alcançar seus objetivos.

Destaquemos o setor defensivo. O forte lado esquerdo conta com Tamires e o retorno de Rafaelle, ausência bastante sentido no mundial anterior. A lateral costuma atuar mais avançada no Corinthians, o que a caracteriza como um nome importante de projeção ao ataque. E o detalhe é que o fato de a meia-esquerda centralizar seus movimentos acaba cedendo praticamente toda a faixa esquerda do campo para Tamires.

Sem contar que a presença de uma zagueira de origem como Antonia na lateral pelo lado direito contribui ainda mais para que a capitã do Corinthians avance e seja fundamental quando dá as caras no campo ofensivo. Antonia que também ficou afastada dos gramados por alguns meses devido a um problema médico, mas emendou uma boa sequência de partidas a partir de Março e tem tudo para manter o posto de titularidade para a Copa.

Defensora do Levante, Antonia assumiu o posto de titular na lateral-direita da seleção e não perdeu mais. Ainda que avance menos do que Tamires, ela também costuma aparecer bem na frente. Foto: Thais Magalhães (CBF)

Sua escalação serve para equilibrar a equipe, como dito, mas também adiciona uma jogadora alta para duelos aéreos em ambas as áreas. Características que diferem das apresentadas por Letícia Santos, Fê Palermo e Bruninha, outras opções utilizadas nesse ciclo. Como todas são laterais de ofício, acabam naturalmente participando mais do jogo ofensivo – além de não serem tão afeitas a lances pelo alto.

Na esquerda, a alternativa a Tamires foi Yasmim, sua companheira de Corinthians e especialista em lances de bola parada. Entretanto, a comissão técnica optaria pela convocação de Antonia para o lado direito, Tamires para o canhoto e a polivalente Bruninha como essa jogadora capaz de auxiliar a equipe em qualquer um dos setores. Caso seja necessária uma atitude mais drástica com o passar da Copa, Rafaelle também já foi utilizada como lateral-esquerda em momentos anteriores da carreira.

A dupla de zaga também parecia uma afirmação para a Copa do Mundo. Tainara e Rafaelle adicionam uma imposição importante para duelos aéreos e também sabem sair muito bem para o jogo. Não é à toa que ambas são unanimidade dentro dos fortes times de Bayern de Munique e Arsenal. Porém, um problema médico acabaria atrapalhando a reta final de Tainara, que acabaria se tornando uma suplente às 23 convocadas.

Ausência bastante sentida em 2019, Rafaelle é a líder da zaga brasileira. Além disso, ela é uma arma importante para iniciar a construção ofensiva da seleção com bola no pé. Foto: Sam Robles (CBF)

E foi aí que aconteceu a principal contestação na lista brasileira, já que a escolhida por Pia para ocupar seu lugar foi Mônica. Outrora titular da seleção, a defensora de 36 anos já parecia até mesmo uma carta fora do baralho ao estar atrás de nomes como Tarciane, Thais Regina e Giovana Campiolo nessa proposta de dar oportunidades a jogadoras mais jovens. Entretanto, Pia optaria pela experiência de Mônica no momento da convocação final.

Espera-se, porém, que ela não retorne já como titular. A peça de reposição para o centro da defesa com maior moral hoje parece ser Kathellen, titular no mundial de quatro anos atrás e que também tem o jogo aéreo como uma virtude (apesar de ser menos eficiente do que a outrora dupla titular quando busca uma jogada construída com bola no chão). Na hierarquia do grupo brasileiro, a tendência é que ela seja a substituta natural de Tainara.

Já Lauren se firmou na amarelinha graças especialmente ao que apresentou na SheBelieves Cup e é mais uma alternativa para a zaga brasileira. Pelo rendimento recente, aliás, não seria nada de outro mundo se a jovem de 20 anos (e companheira de Mônica no Madrid CFF) iniciasse a Copa como parceira de Rafaelle. Vale destacar que o Brasil até chegou a atuar com um trio (3-5-2) em parte do jogo contra a Inglaterra na Finalíssima, mas tratava-se de uma ocasião especial.

Destaque de um Corinthians que vem empilhando títulos nacionais nos últimos anos, Lelê foi a escolhida natural para substituir Lorena na meta brasileira. Foto: Lucas Figueiredo (CBF)

Na meta, novos problemas para Pia Sundhage. Lorena vinha em visível crescimento e era a dona absoluta da posição. Porém, uma lesão no joelho sofrida em Março acabou por tirar qualquer chance de a goleira do Grêmio disputar a Copa do Mundo. A substituta natural é Lelê, de 28 anos. A jogadora do Corinthians vem de ótimas temporadas no clube paulista e é bastante elogiada também por saber utilizar os pés na transição aos movimentos ofensivos.

Outra escolha surpreendente da comissão técnica se deu na convocação das goleiras reservas. Em especial no caso de Bárbara. Titular no mundial 2019 e na Olimpíada de dois anos atrás, a atleta não vive boa fase no Flamengo e reaparece no time brasileiro após um tempo considerável. Ainda que ela seja reserva para a meta, seu retorno foi um ponto que chamou a atenção e gerou discordâncias.

Debinha vem fazendo a diferença em uma equipe que foi se fortalecendo enquanto conjunto ao longo do ciclo. No período em que Marta esteve ausente, foi ela a principal referência brasileira. Foto: Aitor Alcalde Colomer (Getty Images)

Destaque – Debinha

Durante muito tempo, esse espaço foi ocupado por Marta. Agora, porém, a história é outra.  Debinha cresceu muito de rendimento nos últimos anos e, por conta disso, não é exagero dizer que ela frequenta atualmente o grupo das principais atacantes do futebol mundial. Muito por ainda manter a capacidade de driblar e enfileirar adversárias quando arranca, mas também pela tranquilidade no momento de efetuar as finalizações.

E com um importante detalhe: os gols saem em profusão tanto no futebol dos Estados Unidos como na seleção brasileira. Nesse esquema utilizado por Pia Sundhage, bastante móvel e sem uma referência como Cristiane, é comum ver Debinha aparecendo (e levando vantagem) em diferentes espaços do campo. Porém, cada vez mais ela se firma como uma jogadora que atua perto da meta rival.

A forma como ela naturalmente chamou a responsabilidade de guiar a seleção brasileira em duelos de maior peso e também em meio a um processo de renovação de atletas impressiona. Uma das maiores certezas do Brasil atualmente é que a atacante de 31 anos chega ao mundial como a grande esperança nacional para uma histórica campanha na Copa do Mundo.


Panamá

Foto: Fepafut

O Panamá é uma das boas novidades que a Copa do Mundo nos proporciona. Não se sabia ao certo nem se a equipe conquistaria uma das vagas no playoff, já que o duelo contra Trinidad e Tobago se desenhava equilibrado. E de fato foi, como o 1x0 indica – ainda que as panamenhas tenham terminado o confronto com mais posse de bola e finalizações. Porém, o ponto alto da classificação se deu na disputa contra o Paraguai.

Imaginava-se que o conjunto sul-americano era o favorito, já que vinha de boa Copa América e contava com atletas mais experimentadas mundo afora. Pois não foi o que se viu.  Dando continuidade à superioridade da CONCACAF nos confrontos contra seleções da CONMEBOL, as comandadas de Nacho Quintana venceram o duelo por 1x0, assegurando assim a primeira participação do país em um mundial feminino de futebol.

Agora, esperar algo mais do que essa vivência em um clima de Copa do Mundo parece difícil. São poucas as chances de o Panamá arrancar pontos de França e Brasil na busca por uma eventual classificação, ainda que não soe impossível um resultado positivo no confronto regional contra a Jamaica. Nem que seja um golzinho ou o empate. Para alcançar esses feitos, a equipe conta com talentos em diferentes setores do campo.

Na meta, as panamenhas têm em Yenith Bailey um ponto muito sólido. Ela foi destaque em competições internacionais já quando tinha 17 anos e continuou em grande estágio de desenvolvimento desde então. Por conta do nível das adversárias que o Panamá terá pela frente no Grupo F, certamente a goleira será bastante exigida na Copa do Mundo. Outros destaques da seleção são a meio campista Marta Cox e a heroína Lineth Cedeño, autora do histórico gol diante das paraguaias.

Ranking da FIFA: 52º Lugar.

Participações Anteriores em Copas do Mundo: Não Possui.

O mexicano Ignacio Quintana será o responsável por comandar o Panamá na primeira aparição da história do país numa Copa do Mundo feminina. Foto: CONCACAF

Técnico: Ignacio ‘Nacho’ Quintana (desde Dezembro de 2020).

Convocação

Goleiras: 1-Sasha Fàbrega (32 anos – 23/10/1990; Independiente La Chorrera), 12-Yenith Bailey (22 anos – 29/03/2001; Tauro FC), 22-Farissa Córdoba (34 anos – 30/06/1989; Ñañas-EQU);

Alas: 2-Hilary Jaén (20 anos – 29/08/2002; Jones County Bobcats-EUA), 4-Katherine Castillo (27 anos – 23/03/1996; Tauro FC), 15-Rosario Vargas (20 anos – 09/08/2002; Rayo Vallecano B-ESP), 21-Nicole De Obaldía (23 anos – 16/03/2000; CS Herediano-CRC), 23-Carina Baltrip-Reyes (25 anos – 01/07/1998; CS Marítimo-POR);

Zagueiras: 3-Wendy Natis (21 anos – 19/08/2001; América de Cali-COL), 5-Yomira Pinzón (26 anos – 23/08/1996; Deportivo Saprissa-CRC), 16-Rebeca Espinosa (31 anos – 05/07/1992; Sporting San Miguelito);

Meio Campistas: 6-Deysiré Salazar (19 anos – 04/05/2004; Tauro FC), 7-Emily Cedeño (19 anos – 22/11/2003; Tauro FC), 8-Schiandra González (28 anos – 04/07/1995; Tauro FC), 14-Carmen Montenegro (22 anos – 05/12/2000; Sporting San Miguelito), 17-Laurie Batista (27 anos- 29/05/1996; Tauro FC), 20-Aldrith Quintero (21 anos – 01/01/2002; Alhama ElPozo-ESP);

Meias/Pontas: 10-Marta Cox (25 anos – 20/07/1997; CF Pachuca-MEX), 11-Natalia Mills (30 anos – 22/03/1993; LD Alajuelense-CRC), 18-Erika Hernández (24 anos – 17/03/1999; Plaza Amador);

Atacantes: 9-Karla Riley (25 anos – 18/09/1997; Sporting San José-CRC), 13-Riley Tanner (23 anos – 15/10/1999; Washington Spirit-EUA), 19-Lineth Cedeño (22 anos – 05/12/2000; Sporting San Miguelito).

Lista de Suplentes: Não Divulgada.

Ausências Notáveis: Nadia Ducreux (GOL – Sporting San Miguelito; opção técnica), Yerenis de León (ZAG – Club Deportivo Universitario; opção técnica), Meredith Rosas (ZAG – Sporting San Miguelito; opção técnica), Dayane Madrid (ZAG – Sporting San Miguelito; opção técnica), María Guevara (VOL/MC – Sporting San Miguelito; opção técnica), Kenia Rangel (MD/ME – LD Alajuelense-CRC; opção técnica), Ana Quintero (AT – Sporting San Miguelito; opção técnica), Gianna Hall (AT – University of North Dakota-EUA; opção técnica), Shayari Camarena (AT – Tauro FC; opção técnica), Gabriela Villagrand (AT – The Houston Aces-EUA; opção técnica).

Time-Base:

Yenith Bailey; Katherine Castillo, Rebeca Espinosa, Yomira Pinzón, Wendy Natis, Hilary Jaén; Marta Cox ©, Deysiré Salazar, Schiandra González, Natalia Mills; Lineth Cedeño.

Nos confrontos onde se via como franco-atirador na CONCACAF W Championship, o Panamá utilizou um 5-4-1 com ênfase principalmente em fechar espaços pelos lados do campo. Deu certo e a equipe melhorou a solidez defensiva, sendo derrotada pelo muito superior conjunto canadense somente pelo placar de 1x0. E, até pelas características de jogo das seleções que irá enfrentar dentro deste Grupo F, não parece fazer muito sentido se desfazer dessa organização tática.

Isso porque Brasil, França e Jamaica utilizam bastante suas talentosas meias e pontas para construir lances de perigo. Como o Panamá é o franco-atirador da chave e tende a dar a bola ao adversário durante a maior parte do tempo, parece muito mais de acordo com a ideia da comissão técnica manter esse esquema com cinco defensoras e apostar numa compactação na zona central do campo que gerou bons resultados desde que o esquema passou a ser de fato utilizado.

Talvez contra a Jamaica, na segunda rodada, a equipe tente equilibrar um pouco mais as ações. Porém, vale destacar que as caribenhas possuem mais experiência em Copas do Mundo, estão em um estágio mais avançado de trabalho e parecem ter um arsenal técnico maior para se sobressair no confronto. A maior dificuldade encontrada pela seleção parece ser no momento onde precisa tomar a iniciativa da partida e controlar as ações. Porém, imagina-se que esse não deve ser um cenário tão comum durante a Copa do Mundo. Muito dificilmente a equipe de Nacho Quintana vai se largar ao ataque de qualquer maneira e deixar as suas zagueiras expostas a duelos individuais contra as atacantes adversárias.

A outrora meia-direita Katherine Castillo tende a ser muito favorecida com o 5-4-1/5-3-2 panamenho, já que mantém a ofensividade característica ocupando o papel de ala. Foto: ISI Photos

Até mesmo quando estiver em desvantagem no marcador a tendência é manter uma boa estruturação defensiva para não permitir excesso de gols – em especial de brasileiras e francesas. Por conta disso, desde o princípio dos encontros o Panamá deve ser manter bastante confortável nesse estilo de primeiro bloquear espaços e proteger a própria meta para só então arriscar movimentações através de contra-ataques.

Nesse cenário de dar a bola ao adversário e não marcar no campo rival, é uma consequência natural que a goleira Yenith Bailey seja muito exigida durante o mundial. Menos mal para o Panamá que ela já mostrou muitas virtudes em competições internacionais do passado, inclusive diante de equipes como os Estados Unidos. Ela é um dos pontos de segurança do conjunto panamenho.

A linha defensiva conta com Katherine Castillo como opção para a ala-direita. Com qualidade no apoio e de boa velocidade para tomar conta daquela faixa do gramado, ela é um bom trunfo para quando a seleção roubar a bola e tiver algum espaço em cima do lado canhoto adversário. Castillo atuou até mais avançada em momentos anteriores da carreira, o que reforça sua vocação ofensiva na equipe de Nacho Quintana. A opção imediata para a função é Carina Baltrip-Reyes, nome que pode aparecer também no setor esquerdo.

Yomira Pinzón é um nome de segurança no setor defensivo panamenho. Com a ausência de Yerenis de León, é ela quem deve ser escalada na função central do trio de zagueiras. Foto: Fepafut

Vale ressaltar: outra atleta com bom ímpeto ofensivo e inteligente na tarefa de abrir espaços em direção à linha de fundo. Algo totalmente diferente de Hilary Jaén, que se caracteriza por um melhor trabalho defensivo e que não costuma avançar tanto. Além disso, sua presença adiciona maior estatura ao Panamá.

Como a bola parada ofensiva se mostrou importante durante boa parte do ciclo (além do natural reforço que ela dá a uma linha de cinco atletas que já ataca bem pelo lado direito), imagina-se que ela largue em vantagem para iniciar a Copa do Mundo na equipe titular. Alternativas capazes de atuar em ambos os lados e que surgem como opções imediatas para esse posto de ala: Rosario Vargas e Nicole De Obaldía.

Jaén, pelo 1,70cm que possui, pode aparecer também no lado esquerdo de uma linha de três zagueiras. Porém, vale dizer que nos últimos duelos ela vem ocupando esse posto mais perto da lateral. Caso a escolha de Nacho Quintana seja realmente por outros nomes, foram quatro as atletas que competiram pelos postos no trio central nos últimos tempos. Yomira Pinzón e Wendy Natis são nomes que transmitem confiança e estão asseguradas no conjunto titular.

Wendy Natis é destaque no futebol colombiano e foi um dos destaques do Panamá na histórica campanha de classificação à Copa. Sua atuação contra o Paraguai foi impecável. Foto: Fepafut

Yerenis de León e Rebeca Espinosa em tese disputariam a vaga restante. As duas possuem boa rodagem internacional, mas de León estava à frente no aspecto técnico por ter uma maior noção de posicionamento e por ser a panamenha nessa briga que mais se sente confortável em ocupar um posto central no trio de defensoras. Porém, a defensora perderia a reta final de preparação e por consequência uma vaga no grupo que disputa a Copa do Mundo por supostas desavenças com a comissão técnica.

Espinosa, embora tenha apresentado momentos de instabilidade no playoff intercontinental, tem tudo completar o setor dentro do mundial. A atleta de 31 anos foi um dos poucos pontos vulneráveis de uma equipe que atuou muito bem enquanto conjunto durante os decisivos encontros diante de Papua Nova-Guiné e Paraguai em Fevereiro.

Ainda falando de zagueiras, vale mencionar o papel desempenhado por aquelas que são as afirmações do setor. Yomira Pinzón já vestiu a braçadeira de capitã anteriormente e é uma das lideranças da equipe. Além disso, ela se mostrou bastante eficiente quando precisou cobrar pênaltis pelo costarriquenho Deportivo Saprissa. Já Wendy Natis é uma jovem de 20 anos que foi conquistando aos poucos o seu espaço dentro do conjunto principal do Panamá após ótimo rendimento pelas seleções de base.

Os 19 anos de idade não foram empecilho para que Deysiré Salazar se firmasse como titular no centro do campo panamenho. Foto: CONCACAF

Ela é um nome indispensável no América de Cali e chama a atenção pela disposição apresentada em embates físicos e também pela precisa recuperação quando necessário. Para se ter uma ideia: contra o rápido e bastante móvel ataque paraguaio, Natis levou a melhor na maior parte dos lances e acabou o histórico confronto que garantiu o Panamá em sua primeira Copa do Mundo Feminina como um dos principais destaques.

Vale dizer que em 2022 a defensora foi campeã colombiana com Las Diablas Rojas e também fez parte da excelente campanha do América na mais recente Copa Libertadores, quando a equipe terminou a competição em 3º lugar e deu muito trabalho ao futuro campeão Palmeiras no duelo válido pela semifinal.

A dupla de meio campistas permanece incerta. A jovem Deysiré Salazar (de 19 anos) desponta como a principal referência no setor, adicionando principalmente uma qualidade para inversões de jogo e lançamentos longos em direção à solitária atacante – prioritariamente no espaço entre a linha defensiva e a goleira adversária. Sua parceira durante boa parte do ciclo foi Laurie Batista, mas a ausência dela na etapa decisiva da classificação ao mundial permitiu que novas atletas recebessem oportunidades no setor.

Laurie Batista chegou a ser dúvida para a Copa do Mundo, mas retornaria a tempo de convencer a comissão técnica de seu valor dentro do elenco. Foto: Fepafut

Nos duelos contra Papua Nova-Guiné e Paraguai, a encarregada de preencher o meio campo foi Schiandra González. Vale ressaltar que a principal tarefa da dupla escolhida é buscar fechar os espaços e não permitir a entrada de uma armadora nata aparecendo no espaço da intermediária ofensiva. Quem desponta para brigar por uma vaga é Aldrith Quintero, volante de boa estatura que atua no futebol espanhol e se caracteriza pela boa chegada à área rival e também em arremates de média distância.

María Guevara seria uma opção interessante pelo que adiciona em matéria de qualidade técnica, mas acabaria ficando de fora da convocação final apesar do bom momento vivido no Sporting San Miguelito. A decisão geraria discordância entre torcedores e jornalistas panamenhos. Detalhe: diretamente falando, ela acabaria sendo barrada justamente para que ocorresse o retorno de Laurie Batista. Na lista para o mundial, Quintana optaria em chamar também as jovens Carmen Montenegro e Emily Cedeño.

O trio ofensivo é um ponto dos mais interessantes para o Panamá. Isso principalmente pelo fato de a seleção contar com o talento de Marta Cox. A meio campista do mexicano Pachuca normalmente é escalada pelo lado esquerdo, mas a todo o momento é comum vê-la mais centralizada e atuando atrás da (teórica) isolada atacante.

Marta Cox é garantia de talento no conjunto panamenho. Atuando mais centralizada ou na ponta, ela costuma fazer a diferença. Além da habilidade, ela se destaca também pela eficiente bola parada. Foto: CONCACAF

Dessa forma, uma variação de jogo bastante comum de esquema é o 5-4-1 se tornar um 5-3-2, com Cox recuando para participar da construção ofensiva ao lado das volantes enquanto a meia pelo lado direito atua ao lado da solitária atleta de frente. Por mais que acabe se exigindo mais da talentosa meio campista no aspecto da recomposição, essa maior proximidade ao centro do campo melhora o toque de bola panamenho e também evita que um lançamento longo buscando a atacante aconteça a todo o momento.

Sem contar que, dependendo das características das volantes que vão a campo, a zona central do Panamá pode acabar apresentando um estilo mais agradável de acompanhar. Isso melhoraria a companha e deixaria a criativa panamenha mais à vontade para executar passes e até mesmo ocupar um posto diferente no gramado. Independente de onde atue, portanto, Cox é a responsável mor pela criatividade de Las Canaleras.

Uma das panamenhas beneficiadas com esse movimento mais central de Marta Cox deve ser Lineth Cedeño, heroína da classificação após marcar o gol da vitória contra o Paraguai já no segundo tempo do confronto. A jogadora de 22 anos atuava na Sampdoria até o final do último mês de Março e é uma das principais joias do país.

A habilidosa e veloz Lineth Cedeño marcou o gol da classificação panamenha ao seu primeiro mundial feminino. Ela pode atuar pelos lados ou como atacante central, sempre explorando lançamentos longos às costas das defensoras. Foto: FIFA (via Getty Images)

Sua passagem pela Itália ainda incluiu uma excelente temporada no Hellas Verona, onde marcou gols e ainda contribuiu com assistências para as companheiras. Na seleção panamenha, Cedeño pode ser utilizada como meia pela direita ou até num posto mais avançando e central. Nesse último cenário, o que Nacho Quintana tem em mente é uma equipe fechando espaços num 5-4-1 e contando com um lançamento longo às costas da linha de defesa rival para que a veloz Cedeño possa vencer um eventual duelo e finalizar.

Caso a talentosa atleta de fato atue neste posto mais central, o Panamá conta com Erika Hernández e Natalia Mills para os trabalhos de lado de campo. Com o detalhe de que a última atua preferencialmente no setor esquerdo, o que acabaria deslocando Marta Cox para o lado inverso. Uma atleta que foi ficando para trás nos ideais da comissão técnica de forma surpreendente foi Kenia Rangel, uma das referências ofensivas panamenhas em anos anteriores.

Entretanto, vale destacar que o comando de ataque fica bem servido mesmo se Cedeño é escolhida para desempenhar uma função mais longe da meta adversária. Isso por conta da presença da artilheira Karla Riley, uma das principais referências dentro da seleção apesar dos 25 anos. De boa mobilidade, ela foge um pouco das características de uma atacante de referência que somente espera os movimentos ofensivos para finalizá-los já dentro da área.

Riley Tanner selou a vitória contra Papua Nova-Guiné após bonita arrancada. Ela já mostrou boa qualidade e pode ser até mesmo garantir a titularidade no ataque com o passar da Copa. Foto: COS Panamá

Caso semelhante ao de Riley Tanner, titular contra o Paraguai e responsável por um lindo gol após bela jogada individual no confronto contra Papua Nova-Guiné. As duas parecem ser as alternativas mais experimentadas e com maior potencial para entregar gols e lances de qualidade técnica no comando ofensivo. Obviamente, se considerarmos que Lineth Cedeño seja utilizada na linha de meio campo.

As demais opções para o centro do ataque panamenho durante o ciclo foram Gabriela Villagrand e Shayari Camarena, de estilos diferentes. A primeira é alternativa para um posto de maior referência, já que busca principalmente lances aéreos e contatos físicos. Por outro lado, Camarena é uma jogadora de boa mobilidade e com características mais próximas a de uma meia do que propriamente uma atacante.

Para a Copa do Mundo, entretanto, nenhuma delas acabaria sendo convocada. Ana Quintero e Gianna Hall foram outros nomes a receber oportunidades nos últimos meses e não conseguir convencer a comissão técnica a tempo do mundial. Somente Tanner, Cedeño e Riley tentarão guiar o Panamá a algo que hoje parece pouquíssimo provável que é um avanço à fase final.

Destaque em competições continentais quando não tinha nem 18 anos, Yenith Bailey é uma das referências do conjunto panamenho. Foto: CONCACAF

Destaque – Yenith Bailey

Por mais que o setor de ataque seja aquele que mais chama a atenção pelo bom número de atletas de qualidade disponíveis para as funções, é na meta que reside o principal nome panamenho. Bailey já vinha chamando a atenção dos acompanhantes de futebol feminino em anos passados graças ao número alto de boas atuações quando ainda tinha 17 anos e se via diante de seleções de mais alto nível do continente como Canadá e Estados Unidos.

E vale destacar: hoje com 21 anos, a goleira na verdade era meio campista até um ano antes do CONCACAF W Championship de 2018, torneio onde recebeu o prêmio de Melhor Goleira e também fez parte da Seleção Ideal. O Panamá até chegou a disputar o playoff final para o mundial de 2019, mas acabou eliminado pela Argentina mesmo com boas exibições individuais de Bailey.

Agora, com a classificação inédita do país da América Central à Copa do Mundo, a jogadora tem uma grande oportunidade de mostrar ainda mais do que é capaz de fazer e se tornar ainda mais visada para competições futuras em nível de seleções e também de clubes.

0 Comentários

.

APOIE O SURTO OLÍMPICO EM PARIS 2024

Sabia que você pode ajudar a enviar duas correspondentes do Surto Olímpico para cobrir os Jogos Olímpicos de Paris 2024? Faça um pix para surtoolimpico@gmail.com ou contribua com a nossa vaquinha pelo link : https://www.kickante.com.br/crowdfunding/ajude-o-surto-olimpico-a-ir-para-os-jogos-de-paris e nos ajude a levar as jornalistas Natália Oliveira e Laura Leme para cobrir os Jogos in loco!

Composto por cinco editores e sete colaboradores, o Surto Olímpico trabalha desde 2011 para ser uma referência ao público dos esportes olímpicos, não apenas no Brasil, mas em todo o mundo.

Apoie nosso trabalho! Contribua para a cobertura jornalística esportiva independente!

Digite e pressione Enter para pesquisar

Fechar