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Brasil e os 100 anos dos Jogos Olímpicos de Inverno: PRÓLOGO - Um país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza também no inverno

 

Cerimônia de Abertura Albertville 1992
Foto: CBDN

Por Brasil Zero Grau 




O dia 25 de janeiro é uma data especial para quem aprecia o Movimento Olímpico. Há 100 anos, Chamonix realizava a Semana Internacional de Esportes de Inverno, uma proposta para incrementar a programação dos Jogos Olímpicos de Paris 1924. Deu tão certo que o COI resolveu abraçar de vez o evento, renomeando para Jogos Olímpicos de Inverno.

Exatos 68 anos e 14 dias depois da abertura em Chamonix, o Brasil, famoso por suas praias, verão e sol, iniciou sua trajetória nesta história centenária na edição de Albertville 1992. Aliás, praticamente um terço dela conta com a presença de atletas brasileiros. Uma experiência que, convenhamos, não é de se jogar fora e que apenas reforça a importância de se pensar a longo prazo.

Até porque a primeira participação do Brasil em Jogos Olímpicos de Inverno não foi fruto do acaso. Pelo contrário, levaram décadas de trabalho para se chegar a esta oportunidade. Várias pessoas contribuíram para isso, mas uma se destaca pelo pioneirismo: Domingos Giobbi. O ítalo-brasileiro nascido em abril de 1925 foi o responsável por colocar o país no mapa das modalidades de neve e gelo.

De suas mãos e mente saíram todo o projeto que fez o Brasil disputar um evento internacional de esporte de inverno pela primeira vez: o Mundial de Esqui Alpino em Portillo, no Chile. Recrutava parentes e amigos que sabia que esquiava. Repetiu a dose em 1970 e 1974. Organizou o primeiro Sul-Americano em 1968. Até chegar aos anos 80 e encontrar mais adeptos da neve como ele. Após hiato de 11 anos, o país voltou a competir nos Mundiais de 1985, 1987 e 1989. Nesta última edição surgia a Associação Brasileira de Ski (ABS), embrião da atual CBDN.

Foi uma época de intensa expansão do Olimpismo e dos Jogos Olímpicos, catapultada pelos megapatrocinadores. Isso abriu de vez os esportes de inverno para outras nações. Jamaica Abaixo de Zero em 1988 nada mais é do que consequência deste movimento. Tanto que quatro anos depois, foi a vez deste país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza fazer sua estreia de inverno.

Hans Egger (93), Sergio Schuler (97), Christian Lothar Munder (77) e Marcelo Apovian (96) em Albertville 1992
Foto: Reprodução


Sete atletas e Domingos Giobbi novamente como chefe de delegação. Nenhum deles tinha o índice necessário para estarem lá, mas foram convidados mesmo assim com apoio do Solidariedade Olímpica: Fabio Igel, Hans Egger, Marcelo Apovian, Christian Lothar Munder, Sergio Schuler, Robert Scott e a única mulher, Evelyn Schuler, desfilaram na Cerimônia de Abertura em Albertville, na França, sem saber que estavam abrindo portas importantes.

Eram épocas amadoras, em todos os sentidos. Tanto pela falta de estrutura quanto pelo fato da maioria ali pagar para esquiar só pelo amor ao esporte. Os brasileiros rapidamente chamaram a atenção da Vila Olímpica, com direito a uma “partida de futebol” contra integrantes do time suíço. Mas dentro da neve, o melhor resultado foi de Evelyn Schuler, 40ª no slalom gigante entre as 44 que completaram a prova (resultados completos no fim do texto).

Sobreviventes desta geração conseguiram manter a chama acesa do Brasil nos Jogos Olímpicos de Inverno nos anos seguintes. Na edição de Lillehammer 1994, Christian Munder foi o único atleta e participou de apenas uma prova: 50º no downhill. Em 1998, Marcelo Apovian também retorna aos Jogos Olímpicos como único integrante do Time Brasil: 37º (último) no Super G.

A semente plantada por estes pioneiros começou a dar frutos a partir de 2002. Domingos Giobbi, por exemplo, expandiu a atuação para além do esqui, recrutando atletas para o esqui cross-country a partir de 2001 e, desde 1995, realizando anualmente o Campeonato Brasileiro de Snowboard – que se revelaria útil mais para frente. Enquanto isso, nos EUA, Eric Maleson, brasileiro que morava no país e era fã do bobsled, resolveu criar uma própria equipe com apoio de outros atletas radicais.

O resultado não poderia ser outro: recorde de delegação com 10 atletas em 4 esportes. Bobsled ficou na 27ª posição entre 33 equipes no 4-man, de longe o melhor resultado da edição. No luge levamos dois atletas: Ricardo Raschini e Renato Mizoguchi. Número idêntico ao do esqui cross-country (Franziska Becskehazy e Alexander Douglas Penna) e esqui alpino (Mirella Arnhold e Nikolai Hentsch).

A mão cheia de atletas convocados elevou o sarrafo para sempre no caso brasileiro. A partir de 2006, em Turim, era hora de buscar mais atletas e, claro, mais resultados. É aí que entra Isabel Clark. A brasileira viu neve pela primeira vez na vida apenas com 18 anos, 1994. No ano seguinte conquistou o Brasileiro de Snowboard – o primeiro de mais de duas dezenas que ela possui. A partir de 2002, passou a se dedicar mais ao cross, modalidade que faria sua estreia Olímpica em 2006.

Isabel Clark surpreende e é nona colocada em Turim 2006
Foto: Reprodução

O time de bobsled estava lá presente, mas com diversos problemas. No esqui cross-country, tivemos a estreia de Jaqueline Mourão, principal estrela do Mountain Bike feminino do país e que começara a treinar a modalidade de neve. Mirella Arnhold e Nikolai Hentsch também continuaram. Porém, era Isabel que roubou a cena. Sexto melhor tempo na classificatória, ela foi terceira na classificatória, a uma posição da semi. Na definição do 9º ao 12º lugar, conseguiu a nona posição e um inédito top 10 para o Brasil.

Parecia o início de um período de crescimento dos esportes de inverno. As duas federações buscavam ampliar o número de participantes e esportes. Mas problemas estruturais começaram a aparecer, principalmente no gelo – a ponto do bobsled sequer conseguir a classificação para os Jogos de 2010. Assim, depois de duas edições com delegações na casa de dez atletas, o Brasil volta a levar uma equipe diminuta com apenas cinco competidores de neve. Pior ainda, metade das provas não concluídas no esqui alpino e Isabel Clark eliminada ainda na fase de classificação do snowboard cross.

O Brasil precisaria se reinventar – e logo – para conseguir sobreviver nos Jogos Olímpicos de Inverno.

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