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Coelho Olímpico: Correção de rumos salva abertura da Olimpíada de Paris

Foto: Reuters

Como espetáculo artístico, a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris mudou da água do Sena para o vinho francês (com a propriedade do maior produtor do mundo da bebida na atualidade) conforme anoiteceu na Cidade Luz. Se o desfile das delegações foi menos cansativo para a audiência ao embarcar os times nacionais, os primeiros números apresentados às margens da água conseguiram tornar o passeio dos barcos como uma opção mais interessante do que esses segmentos. 

Os trechos ao vivo (ou que ao menos foram supostamente apresentados assim) destoaram demais das gravações. Como teatro ao ar livre, uma atuação amadora. Como filme para televisão, um blockbuster arrebatador para orgulhar a terra dos irmãos Lumière. Mas centenas de milhões de pessoas ao redor do mundo não acompanharam o espetáculo nem nas arquibancadas parisienses nem em salas de cinema - opção que a Globo adotou em outros eventos esportivos, mas infelizmente parece ter abandonado. 

Foi através da televisão que o grande público acompanhou o momento histórico. Aqui no Brasil, especialmente na própria Globo. E a transmissão da emissora com dois maestros acabou se tornando atrapalhada em muitos momentos. O revezamento informal do comando entre Luis Roberto e Galvão Bueno confundiu os repórteres e ofuscou os comentaristas Ítalo Ferreira e Daiane dos Santos. Guilherme Pereira, virtualmente o maior conhecedor de Paris, acabou subutilizado numa posição que o limitava. 

Como era previsível desde as primeiras deixas fornecidas pelo Comitê Organizador, se tratou de uma abertura em que rigorosamente nenhum cidadão conseguiu acompanhar tudo com os próprios olhos. A chuva torrencial apenas coroou a falta de lógica global em investir para deslocar uma equipe completa para o Trocadéro enquanto a pira foi acesa no Jardim das Tulherias. Por maior que seja a relevância geopolítica da cerimônia inaugural, faltou um bom senso para que a priorização fosse completa para as competições esportivas que guiarão as próximas semanas. 

Embora as primeiras transmissões indiquem que a Globo irá mesmo assumir seu compromisso de acompanhar incessantemente os brasileiros na França, a abertura destoou brevemente dessa ideia. A presença de Marcelo Barreto no barco da delegação foi melhor aproveitada pelo SporTV, que conseguiu ainda ouvir um dos artistas brasileiros que participou do evento instantes depois da apresentação. Capitaneada por Milton Leite, a cobertura do canal fechado teve a participação do comentarista Marcelo Lins como um bom diferencial. Ele agregou informações não apenas factuais, mas também culturais. 

Para azar do departamento comercial e sorte do público brasileiro, o SporTV ainda escapou da constrangedora ação comercial protagonizada na transmissão da Globo durante os breves segundos em que o barco brasileiro surgiu no sinal internacional. O momento foi completamente atrapalhado para uma menção que poderia ter vindo depois em uma oportunidade em que a câmera exclusiva pudesse sintonizar os calçados anunciados. 

E para sorte do mundo inteiro, que teve a chance de se ver mergulhado no espírito olímpico de imediato, os instantes finais da abertura foram realmente apoteóticos. A beleza da pira acoplada em um balão, numa ideia que pode funcionar bem se replicada em outras edições, se transformou em uma imagem para a eternidade em qualquer idioma. Foi o ponto alto de uma festa em que a chama foi valorizada realmente desde os primeiros segundos. E com chave de ouro antes da distribuição das medalhas douradas, Céline Dion fechou outro golaço nos acréscimos para cravar a vitória da festa no saldo. 

Uma abertura de Olimpíada pode sim acontecer ao ar livre, afinal. Mas ficou a lição de que os números podem ser concentrados em menos locais ao longo do trajeto. E uma transmissão também pode ter dois nomes narrando, porém com a ressalva de treinar melhor a harmonia entre eles. Boas ideias nem sempre conseguem as melhores execuções, mas as melhores se sobressaem mesmo em meio ao caos. 

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