Narração: Galvão Bueno, Luís Roberto, Cléber Machado, Rogério Correa, Rembrandt Jr. e Everaldo Marques
Comentaristas: Caio, Júnior, Ana Thaís Matos, Renata Mendonça e Cristiane (futebol masculino/futebol feminino), Fabi (vôlei feminino), Tande (vôlei masculino), Emanuel (vôlei de praia masculino), Talita (vôlei de praia feminino), Gustavo Borges e César Cielo (natação masculina), Joana Cortez (tênis), Joanna Maranhão (natação feminina), Hortência e Janeth (basquete masculino/basquete feminino), Flávio Canto (judô), Claudinei Quirino e Edson Luciano (atletismo), Erlon de Souza (canoagem de velocidade), Acelino “Popó” Freitas (boxe), Daiane dos Santos (ginástica artística feminina), Diego Hypólito (ginástica artística masculina), Bob Burnquist (skate), Miguel Pupo e Alejo Muniz (surfe)
Repórteres: Carlos Gil, Bárbara Coelho, Eric Faria (exclusivo do futebol masculino), Pedro Bassan, Carol Barcellos, Lizandra Trindade (exclusiva do futebol feminino), Júlia Guimarães, Karine Alves, André Gallindo, Felipe Brisolla, Edgar Alencar, Guilherme Pereira, Guilherme Roseguini, Marcelo Courrege, Kiko Menezes e Diego Moraes
Apresentação: Bárbara Coelho, Tiago Medeiros, Karine Alves, Carol Barcellos, Alex Escobar e Felipe Andreoli
Participação: Marcos Uchôa
Traços de uma mudança no departamento de esportes da TV Globo (bem, do Grupo Globo como um todo) já estavam evidentes bem antes de COVID-19 virar termo corrente no vocabulário dos últimos anos. Mesmo na cobertura opulenta dos Jogos Olímpicos de 2016, o mesmo prédio no Parque Olímpico carioca integrar os trabalhos de TV Globo, globoesporte.com e SporTV sinalizava que tudo caminhava para ser uma mesma coisa. Em 2018, a cobertura na Copa do Mundo de futebol masculino sinalizava o mesmo: as três partes cada vez mais integradas, num cenário ainda luxuoso, incluindo estúdio de vidro na Praça Vermelha, em Moscou. Só que, no horizonte, já havia a necessidade de dividir cada vez mais custos entre os trabalhos televisivos e o Globoplay, a plataforma de streaming do conglomerado carioca de mídia. E a pandemia que começaria em 2019 e seria confirmada em março de 2020 adiaria os Jogos Olímpicos – e aceleraria tudo isso.
Falando mais especificamente da cobertura olímpica que estava por vir, projetos como o estúdio panorâmico e envidraçado, próximo à Baía de Tóquio, foram obviamente abandonados. Alocado na capital japonesa desde 2018 para acompanhar os preparativos da cidade-sede olímpica, o repórter Carlos Gil precisaria passar mais um ano por lá – e informaria em Tóquio o óbvio adiamento dos Jogos Olímpicos, os caminhos e descaminhos da pandemia de COVID-19 no Japão, toda a influência dela na organização dos Jogos.
Na sua cobertura esportiva em geral, o Grupo Globo se disse obrigado a uma profunda “revisão do portfólio de direitos esportivos”, conforme comentou em nota emitida em agosto de 2020. Nisso, abriu-se mão do que se pudesse abrir mão. A Globo não poderia transmitir a Fórmula 1 como estava acostumada? Tudo bem: prescindiu dos direitos de transmissão em 2021, após 40 anos. Copa Libertadores? Direitos rescindidos com a CONMEBOL, em agosto de 2020, causando uma briga até jurídica, só resolvida com o passar dos anos – e após o SBT aproveitar e se reativar nos esportes a partir dos torneios da entidade sul-americana de futebol. Campeonatos estaduais? Só restaram o Mineiro e o Carioca na grade de programação de Globo – e SporTV também. Enfim, os tempos de gastos desenfreados ficariam no passado, mesmo que o faturamento seguisse altíssimo. Se era para investir em algo no esporte, o investimento precisaria valer e “se pagar”.
Pausa forçada passada em 2020, 2021 chegou, a vacinação contra a COVID-19 se acelerou um pouco mais, os Jogos Olímpicos poderiam ocorrer. Mas as restrições de locomoção seguiam por todo o mundo, e àquela altura, a TV Globo já sabia: nada seria como antes. A começar pelo estúdio que centralizaria as transmissões: se antes ele seria de fato envidraçado, com a Baía de Tóquio ao fundo, agora ele seria mesmo nos estúdios no Jardim Botânico carioca, com três telas de LED e câmeras ligadas 24h por dia reproduzindo as imagens da baía, para dar a “ilusão” de ser um pedaço global de Tóquio.
A COVID-19 também impactou decisivamente o número de enviados para os trabalhos em Tóquio. Antes, era o que sempre tinha sido: narradores, comentaristas, cinegrafistas, repórteres, produtores, diretores... todos na cidade-sede para os trabalhos. Em 2021 (talvez dali por diante), não seria mais assim. Por tudo que ainda se vivia então, seria até mais restritivo: se antes se pensava no envio de uma equipe de 102 pessoas ao Japão, a equipe definitiva ficou em 50 pessoas, e não mais do que isso. Nem diretores gerais, nem narradores, nem comentaristas estariam no local das disputas. Apenas repórteres, cinegrafistas e produtores iriam aos Jogos para trabalhar, chefiados por Marcela Zaiden (gerente de grandes eventos da TV Globo) e Ricardo Bereicôa (editor de esportes). Diretor de esportes da emissora dos Marinho, Renato Ribeiro – de tantas coberturas anteriores pela Globo, como repórter – enfatizou em nota interna: “Mais do que em outros grandes eventos, será ainda mais importante nossa operação no Brasil”.
Sendo assim, poucos nomes da Globo teriam trabalho a fazer em Tóquio. E os que fossem, se alternariam entre reportagem e apresentação, com máscaras higiênicas e tudo o mais em tempos de COVID. Como Bárbara Coelho: já entronizada na apresentação do Esporte Espetacular ao lado de Lucas Gutiérrez (que ficaria no Rio de Janeiro), a jornalista capixaba seria cara constante nos noticiários globais que relatassem o que ocorresse em Tóquio – nem precisariam ser só noticiários: Bárbara apareceu no Mais Você, no Encontro com Fátima Bernardes... Assim como faria Carol Barcellos: apresentadora da edição fluminense do Globo Esporte, Carol (sem parentesco com Caco, sempre bom repetir) também apareceria repetidamente dando notícias de Tóquio – como aqui, no Fantástico de 18 de julho de 2021, já da cidade-sede, informando as perspectivas dos Jogos. Também egresso do Globo Esporte, mas da edição pernambucana, viria um nome que teria em Tóquio-2020+1 sua primeira aparição nacional pelo esporte da Globo: Tiago Medeiros. Já célebre em Pernambuco pelo tom bem humorado que dava ao seu jeito de apresentar, Tiago poderia mandar um “cheiro” às suas “joias” (como chama, de brincadeira, os telespectadores), diretamente da capital japonesa, preferencialmente na edição nacional que o Globo Esporte teria.
Outro nome que se consolidaria ali na apresentação de programas esportivos da Globo seria Karine Alves. Vinda do FOX Sports em março de 2020, pouco antes da eclosão da pandemia, a gaúcha viu o destino lhe colocar um tremendo desafio, em julho daquele ano, quando o esporte da Globo (e SporTV também) sofreu com a morte precoce de Rodrigo Rodrigues (1975-2020), vitimado por uma trombose venosa cerebral originada da COVID-19, justo quando tinha nas apresentações de Globo Esporte – ocasionalmente, na edição paulista – e Troca de Passes veículos para seu inegável carisma. Karine foi ocupar a lacuna aberta pela ausência de Rodrigo no Troca de Passes, no SporTV. Saiu-se bem, e ganhou o reconhecimento na “emissora-mãe”: seriam dela as aparições no Jornal Hoje para as notícias olímpicas.
Karine Alves chegara à TV Globo (e ao Grupo Globo) tendo grande responsabilidade, após a morte de Rodrigo Rodrigues. Deu conta, ganhou espaço e se destacou em Tóquio (Divulgação) |
Entre os repórteres que não seriam também apresentadores globais em Tóquio, alguns deles já tinham longa experiência em trabalhos fora do Brasil. Obviamente, Carlos Gil puxava a fila, já indo para seu terceiro ano em Tóquio. Então correspondente esportivo da emissora na Europa, baseado em Paris, Marcelo Courrege já tinha no currículo a estadia na Rússia antes da Copa de 2018, no futebol – e seria presença certa na cobertura in loco dos Jogos. Assim como Guilherme Roseguini: correspondente em Nova Iorque à época, o jornalista paulista já estava habituado a matérias poliesportivas, e também seria um nome da Globo na cidade-sede olímpica. Já com passagens pelo exterior nos últimos tempos globais de Fórmula 1, Guilherme Pereira foi igualmente aproveitado, assim como outros nomes que vinham de experiências olímpicas anteriores pela Globo: Pedro Bassan, Edgar Alencar... e como a emissora do Jardim Botânico carioca costumava fazer em Jogos, as Seleções Brasileiras de futebol teriam seus repórteres privativos no Japão: Eric Faria para o time masculino, Lizandra Trindade para o feminino.
Nesta lista de repórteres, saltava aos olhos a ausência de dois nomes históricos de coberturas esportivas da emissora da família Marinho: Tino Marcos e Marcos Uchôa. Havia alguns anos, tanto um quanto o outro já desaceleravam o ritmo de suas atividades televisivas – Tino, inclusive, já tivera um “ano sabático” entre 2015 e 2016. Durante a fase mais aguda da pandemia, ambos até fizeram um programa de entrevistas remotas, o Tino Marcos Uchôa. Ainda assim, havia sinais de que ambos logo colocariam um ponto final em suas longas passagens pela Globo. Tino foi o primeiro a fazer isso, anunciando sua saída definitiva da emissora (e um fim em sua trajetória como repórter) em fevereiro de 2021, após 30 anos – não sem antes deixar pronta uma série de reportagens com candidatos brasileiros a medalha em Tóquio, ao lado de Kiko Menezes, para o Jornal Nacional. Marcos Uchôa ainda seguiria na Globo em 2021, participaria da cobertura olímpica no grupo de mídia, repetiria na cerimônia de abertura uma parceria com Galvão Bueno vista em Atlanta-1996, Atenas-2004 e Rio-2016... mas em 2022, desejoso de novas vivências, Uchôa também sairia do canal, depois de 34 anos.
Ainda assim, ficar no Brasil não significaria que narradores, comentaristas e apresentadores teriam papel diminuto ou menos emocionado. Nem de longe. A começar por Galvão Bueno: já com o nome marcado fazia muito tempo na história da televisão brasileira, Galvão podia enfim voltar a trabalhar com o que e como gostava, depois de passar o retiro pandêmico isolado, entre aparições nos programas feitas no escritório de sua residência, em Londrina (Paraná), e na casa de sua produção de vinhos, em Candiota (Rio Grande do Sul), membro do “grupo de risco” que era. Mesmo dos estúdios, Galvão estava obviamente garantido em todas as narrações importantes: cerimônia de abertura, de encerramento, de quase todas as disputas importantes envolvendo brasileiros. Mais: já começando a firmar espaço na internet, Galvão teria espaço certo nas mídias sociais, a partir de vídeos que a Globo faria durante suas narrações, em estúdios, nos trabalhos olímpicos.
Após o tempo forçosamente recolhido na pandemia, Galvão Bueno podia voltar a trabalhar na narração. E mesmo no Brasil, foi o símbolo da Globo em Jogos Olímpicos (Reprodução) |
Nestes vídeos também estaria Luis Roberto. Se já começava a “trocar de lugar” no futebol com Cléber Machado, se tornando opção preferencial como “veterano global” sem Galvão, Luis também teria muito espaço nos Jogos Olímpicos. A ponto de ser o titular da narração em todos os jogos do Brasil num esporte específico: o vôlei, ao qual já estava acostumado havia muito tempo. Mesmo assim, Cléber ainda dividiria com Luis a aparição em várias disputas em Tóquio. Também estaria nelas a voz de Rembrandt Júnior, “habitué” olímpico da Globo fazia tempo.
E, por último mas jamais menos importante, um nome elogiado havia anos teria, enfim, seu espaço numa grande cobertura da Globo. Nos tempos de ESPN, onde esteve desde 2005, o paulistano Everaldo Marques se notabilizou pela versatilidade desenvolvida (de futebol a futebol americano, passando por basquete) e por adotar um tom bem humorado acertando nas oportunidades. Quando já estava maduro no antigo local de trabalho, recebeu a chance na Globo, aceitando e se transferindo em fevereiro de 2020. Mesmo nos tempos pandêmicos, ainda narrou algumas provas de Fórmula 1, alguns eventos no SporTV... e quando Tóquio chegou, na divisão entre Globo e SporTV, “Evê” já ficaria do lado da “emissora-mãe”.
Nos comentários, de certa forma, a Globo reaproveitou nomes habituais do dia-a-dia e nomes habituais de suas coberturas. Os nomes do cotidiano foram vistos principalmente nas transmissões dos jogos do Brasil no futebol masculino e no feminino: Caio, Júnior, Ana Thaís Matos e Renata Mendonça – as jornalistas paulistanas firmavam presença na Globo ali, nos primeiros trabalhos televisivos no futebol feminino olímpico após serem efetivadas na emissora (após participações em programas do SporTV, Ana Thaís viera para ficar em 2019; Renata, em 2020). Por outro lado, já era possível notar nessa escalação a perda de espaço de Casagrande, que já vinha numa certa rota de colisão com a TV Globo, consolidada com sua saída da emissora, em julho de 2022.
No vôlei olímpico, Fabi e Tande, ambos já acostumados em coberturas olímpicas na emissora, opinariam sobre os jogos na arena de Ariake – Fabi no feminino, Tande no masculino. E muitos personagens que haviam feito parte do “Time de Ouro” do Rio-2016 estavam de volta: Emanuel no vôlei de praia, Hortência no basquete, Gustavo Borges na natação, Flávio Canto no judô, Daiane dos Santos na ginástica artística...
Além deles, haveria novidades entre os comentaristas. Pedida aqui e ali na convocação de Pia Sundhage para o Brasil no futebol feminino olímpico, Cristiane ficou de fora do torneio olímpico – para entrar na equipe da Globo, sendo mais uma comentarista. Se o skate era novidade no programa olímpico, a emissora carioca já providenciou um comentarista dos mais simbólicos em Bob Burnquist, dos grandes da modalidade em todos os tempos. E mesmo com Gustavo Borges já presente na equipe, esporadicamente uma nova dupla apareceria comentando as provas de natação no Centro Aquático: César Cielo e Joanna Maranhão, mais focados no “filhote esportivo” SporTV. Finalmente, para arrematar a cobertura, nem seria necessário um programa como a Balada Olímpica fora na cobertura de 2016: com a maioria das disputas ocorrendo na madrugada brasileira, o Globo Esporte da hora do almoço serviria para mostrar como tinha sido o dia olímpico a quem não queria/não podia ficar acordado, com apresentações alternadas – ora Alex Escobar, ora Felipe Andreoli ficavam no estúdio “oficial” da Globo.
Na hora do começo, foi o de sempre: o futebol veio antes. Dos estúdios “panorâmicos”, Galvão Bueno “ganhou” da Seleção feminina um presente em 21 de julho de 2021, dia exato de seu aniversário (71 anos): ao lado de Júnior, Cristiane e Ana Thaís Matos, mais Lizandra Trindade in loco, transmitiu o 5 a 0 brasileiro na China, estreia na fase de grupos. No dia seguinte, lá estava Galvão, com Caio (além de comentarista habitual do futebol, membro da campanha do bronze em Atlanta-1996) e novamente Júnior, mais o repórter Eric Faria, dando voz ao 4 a 2 do Brasil na Alemanha – com o Brasil chegando a ter 4 a 0 no placar, o narrador chegou a sonhar com a “vingança” ao 7 a 1 da Copa do Mundo adulta, sete anos antes. Finalmente, no dia 23, Galvão pôs mais uma locução de cerimônia olímpica de abertura em seu currículo, enfatizando o caráter sem igual daquele momento olímpico (nada de torcida, várias restrições sanitárias), tendo a seu lado o velho companheiro Marcos Uchôa, Fabi e Flávio Canto – e, no Estádio Nacional de Tóquio, Carlos Gil.
O trabalho só estava começando para Galvão: o dia seguinte, 24 de julho, reservou sua voz para um empolgante 3 a 3 entre Brasil e Holanda (Países Baixos), segundo jogo da fase de grupos do futebol olímpico de mulheres. E reservou até dois momentos engraçados e involuntários para Cristiane (comentarista da partida em trabalho remoto, enquanto Renata Mendonça e Júnior estavam nos estúdios com Galvão). O primeiro: nos comentários no intervalo, a atacante – recordista de gols em Jogos Olímpicos justamente até Tóquio, quando a holandesa Vivianne Miedema lhe tomou o recorde – comentou que seu uniforme global tinha sido alvo dos “vômitos” do filho recém-nascido, Bento. O segundo: quando a lateral Dominique Janssen acertou cobrança de falta no ângulo para o terceiro gol holandês, confirmando o 3 a 3, foi audível o seu “puta merda!” de irritação.
Todavia, se os primeiros dias de competições em Tóquio tiveram um destaque na cobertura da Globo, este foi Everaldo Marques. Já nas competições de skate no Parque Urbano de Ariake, o narrador deu a emoção habitual às pratas de Kelvin Hoefler, em 25 de julho, no masculino, e Rayssa Leal, no dia seguinte, no feminino, ambos na modalidade street. A competição de mulheres no skate, inclusive, causou muitas piadas nas mídias sociais com o lema da Globo na cobertura (“Olimpíadas de Tóquio: despertando o melhor de nós”). Afinal de contas, na torcida por Rayssa, muitos torceram por tombos e erros das jovens japonesas, como Momiji Nishiya, a dona do ouro olímpico no street skate, e Funa Nakayama, que ficou com o bronze. E torcer pelo pior para jovens não era bem “o melhor de nós”...
De todo modo, o melhor de Everaldo Marques na cobertura da Globo veio também na madrugada de 26 de julho, mas de outro esporte olímpico novato: o surfe. Coube ao paulistano narrar o primeiro ouro brasileiro em Tóquio, com a vitória de Ítalo Ferreira nas águas de Tsurigasaki. Seus brados de “Ítalo Ferreira, das águas de Baía Formosa para a eternidade do esporte brasileiro!” foram marcantes, assim como a piada feita depois foi bastante oportuna: além da clássica vinheta sonora de Edmo Zarif para a celebração global de sucessos brasileiros no esporte, “Evê” pediu outro grito de “Brasil!” famoso naquele 2021: o grito que ajudara Gilberto Nogueira, o “Gil do Vigor”, a se notabilizar no Big Brother Brasil daquele ano. Ainda naquela transmissão, Guilherme Pereira também brilhou: falando com Ítalo na “zona mista olímpica”, nas areias da praia, o repórter da Globo chorou junto com o surfista potiguar. Ficara claro com aquele ouro o tamanho do acerto da emissora dos Marinho em trazer Everaldo Marques para sua equipe.
Outros narradores teriam momentos alegres para narrar em Tóquio. Na falta de um, Cléber Machado deu voz a três ouros brasileiros: Ana Marcela Cunha na maratona aquática (narrado ainda na noite brasileira de 3 de agosto, nas águas do Parque de Otaiba); o bicampeonato olímpico da dupla Martine Grael/Kahena Kunze na classe 49erFX do iatismo feminino, na baía de Enoshima; e a consagração de Isaquias Queiroz, enfim levando o ouro na classe C1 1000m da canoagem (“O Brasil é o país da canoagem!”, exultou Cléber na locução, em 6 de agosto). De certa forma, uma “despedida olímpica” muito digna para Cléber, que deixaria a TV Globo em março de 2023. Se fora o locutor da primeira medalha brasileira no Rio-2016 (a prata de Felipe Wu no tiro masculino), Rembrandt Júnior deu voz ao marcante bronze da dupla Luisa Stefani/Laura Pigossi no tênis feminino.
Luis Roberto se faria notar um pouco mais. Principalmente no vôlei, onde foi o titular absoluto nas locuções da Globo. Com Tande comentando, no vôlei masculino, o rumo da campanha ficou um pouco abaixo, terminando com as derrotas na semifinal (Comitê Olímpico Russo, 3 sets a 1) e na decisão do bronze (aqui, os melhores momentos dos 3 sets a 2 para a Argentina sobre o time brasileiro – Wallace, Bruno, Lucarelli, Maurício, Lucão, Douglas Souza, Leal etc). O narrador paulistano - criado em São João da Boa Vista, no mesmo estado – brilhou mesmo ao lado de Fabi, nas transmissões da prata do vôlei feminino. A ponto de criar bordões com rimas, a cada jogadora que pontuava nas quadras de Ariake. E foram muitas: “Carol Gattaz, não volta mais!”, “O nome dela é Gabriela!”, “Natália, não falha!” e por aí ia. Um bom exemplo foi nos 3 sets a 0 na Coreia do Sul, na semifinal. Luis ainda tirou partido das microcâmeras que a Globo liberou nas cabines que locutores e comentaristas usavam nos estúdios no Rio de Janeiro: teve exibidas suas reações, ao lado de Gustavo Borges, no bronze de Fernando Scheffer nos 200m livres da natação masculina.
Ahhh, essa narração do bronze de Scheffer na natação... 🥲
— ge (@geglobo) July 27, 2021
SABE DE QUEM? LUIS ROBERTO É O NOME DA EMOÇÃO! 😍💚💛 #Olimpíadasnoge #Tokyo2020 pic.twitter.com/WPc3Lfl26z
Entretanto, se Luis apenas começava a se fazer notar para o grande público, Galvão Bueno já o tinha na mão. Se precisava exemplificar sua versatilidade, mostrou-a em 25 de julho. Durante a narração do 0 a 0 entre Brasil e Costa do Marfim, na fase de grupos do futebol masculino, começou a disputa pelo bronze no judô masculino até 66kg, em que Daniel Cargnin enfrentaria o israelense Baruch Shmaidov. Galvão não se fez de rogado: com telas divididas, mudou de futebol para judô e narrou o bronze do judoca brasileiro. Tendo suas reações também filmadas – e prontamente postadas em suas mídias sociais...
Mas o grande momento de Galvão naqueles Jogos Olímpicos ainda estava por vir. E seria vinculado a um esporte que pouco tivera sua voz, ao longo de sua carreira já longa: a ginástica artística. Ao lado de Daiane dos Santos e Diego Hypólito, Galvão estava a postos nos estúdios para narrar as provas do individual geral. Rebeca Andrade lá estava, lá competiu, foi evoluindo, a emoção do trio Galvão-Daiane-Diego crescia... e foi coroada com a primeira medalha da ginástica brasileira, a prata de Rebeca, em 29 de julho – na qual a exibição no solo, ao som de “Baile de Favela”, seria entronizada como um dos pontos luminosos da história olímpica brasileira. E naquela transmissão, as caras e bocas de Galvão forneceriam material para muitos memes nas mídias sociais – como o próprio, no fundo, queria...
Não era só você que tava quase infartando em casa
— ge (@geglobo) July 29, 2021
Dá só uma olhadas nas reações de @galvaobueno e Daiane dos Santos na transmissão da prata de Rebeca Andrade! 🥈🇧🇷 #Olimpíadasnoge #Tokyo2020 pic.twitter.com/50y0Uvw9Nb
Era muito? Seria pouco diante da final do salto sobre o cavalo, três dias depois, também no Centro de Ginástica de Ariake. Rebeca fez a apresentação perfeita. Galvão, Daiane e Diego Hypólito se empolgaram. E as notas restantes resultaram na apoteose daquele domingo, 1º de agosto de 2021: o ouro que transformou a ginasta paulista, desde então, em uma referência de ginástica artística no país e no mundo. Como já era... Daiane dos Santos, que deixou as lágrimas escorrerem (com justiça) em seus comentários comemorando o histórico ouro. A TV Globo, por sua vez, já tinha a “heroína olímpica” de que tanto gosta em coberturas de Jogos. Mal voltou de Tóquio para os dias de folga no Brasil, Rebeca participou do Criança Esperança daquele ano – ainda sem público, pelas restrições pandêmicas -, do Encontro com Fátima Bernardes... e em todos esses programas de variedades, dando vazão a um hobby conhecido: cantar. No caso, Rebeca deu voz a “Dona de mim”, de Iza – inclusive, fazendo isso na frente da própria, no Criança Esperança
.A Rebeca faz absolutamente t-u-d-o #CriançaEsperança pic.twitter.com/rgoSm9Thag
— TV Globo 📺 (@tvglobo) August 24, 2021
Diante das emoções vividas nas narrações das medalhas de Rebeca Andrade em Tóquio, Galvão Bueno nem precisava de muito mais. Só que teve, mesmo assim: como não poderia deixar de ser, foi dele a voz do bicampeonato olímpico brasileiro no futebol masculino, após o 2 a 1 na Espanha de Pedri e Gavi, ao lado de Caio e Júnior nos comentários. E embora ninguém soubesse disso, sua locução na cerimônia de encerramento em 8 de agosto, ao lado de Marcos Uchôa, Flávio Canto e Daiane dos Santos, seria um ponto de mudança em sua trajetória olímpica. Afinal, em março de 2022, Galvão anunciava: sua trajetória como locutor esportivo se encerraria ao fim da Copa do Mundo de futebol daquele ano. Seguiu e segue na TV Globo, mas de certa forma, um capítulo de seu “livro” se fechou em Tóquio.
Assim como para com a TV Globo em suas coberturas esportivas. Os trabalhos em Tóquio deixaram claro: os tempos de gastos e coberturas opulentas ficariam no passado. Sim, a Vênus Platinada estará presente. Mas não será a única presença em grandes eventos, como Jogos Olímpicos. Talvez por opção própria, até.
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