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Guia Paris 2024 - CANOAGEM SLALOM

 



* Por Matheus Maia

FICHA TÉCNICA

Local de disputa: Estádio Náutico Olímpico Nacional de Île-de-France em Vaires-sur-Marne

Período: 27/07 a 05/08

Número de países participantes: 31

Total de atletas: 83

Brasil: Pepê Gonçalves (C1, K1 e X1) e Ana Sátila (C1, K1 e X1)


HISTÓRICO

A canoagem slalom é a versão radical da modalidade, inspirado no esqui slalom, presente nos Jogos de Inverno. O esporte foi criado em 1932 na Suíça e teve o seu primeiro Mundial em 1949, na cidade de Genebra.

A estreia nas olimpíadas se tornou um fato geopolítico. A cidade de Munique, na Alemanha Ocidental, inaugurou a modalidade em 1972, com todas as quatro medalhas vencidas pela Alemanha Oriental, rival histórica e comunista do país sede. O gasto total da construção do canal artificial usado para a prova foi de US$4 milhões.

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Após um hiato, retornou em 1992, na edição espanhola de Barcelona. O esporte era até pouco tempo majoritariamente masculino, com provas de canoa para um e dois canoístas, e de caiaque, enquanto as mulheres competiam apenas no caiaque.

A prova de dois atletas foi extinta e o programa olímpico ganhou a canoa feminina, igualando os naipes, em Tóquio-2020. Além disso, os Jogos de Paris-2024 vão ser o grande teste de uma nova categoria, o caiaque cross vai alinhar 3 atletas por gênero e distribuir medalhas para os três competidores.

Os maiores medalhistas são a Eslováquia, com 8 ouros e 15 medalhas no total, a dona da casa, França, em segundo com 7 ouros e 18 na soma dos pódios e Alemanha Unificada com 5 ouros e 15 no total.


BRASIL

As águas brasileiras já receberam a etapa da Copa Mundial de Canoagem Slalom, em 1996, e a Copa do Mundo da modalidade, em 1997, ambas na cidade de Três Coroas, no Rio Grande do Sul. O Brasil não conquistou medalhas olímpicas até o momento, mas cresce mundialmente como um grande do esporte e buscará o ouro no slalom francês.

A canoagem slalom no Brasil começou sua participação olímpica em Barcelona-1992, com Leonardo Selbach na C-1, Gustavo Selbach e Marlon Grings na K-1. A primeira mulher olímpica da canoagem brasileira, Poliana de Paula, na K-1, competiu em Pequim-2008. Atualmente, Ana Sátila e Pepê Gonçalves são os maiores expoentes da modalidade.

Em Tóquio-2020 Ana Sátila conquistou um top-10 no C1 e o 13° lugar no K1, enquanto que Pepê Gonçalves terminou o K1 masculino na 19° colocação. A expectativa para os Jogos de Paris é de finais em todas as categorias, Ana é a maior chance de medalhas olímpicas.


FORMATO DE DISPUTA

Para diferenciar as classes, se utiliza uma sequência com a sigla da embarcação. C para canoa e K para caiaque, originadas dos nomes em inglês canoe e kayak, respectivamente. O número indica a tripulação, atualmente apenas um canoísta participa de cada prova. Portanto, a C1 é a prova da canoa com um tripulante.

A descida da canoagem slalom funciona parecido com o esqui slalom, esporte em que se originou como a “versão de verão”, o canal com água corrente tem entre 18 a 25 portões que se diferem por cores: vermelho contra o fluxo e verde à favor do fluxo. O objetivo é passar por todos o mais rápido possível.

O atleta começa a campanha nas eliminatórias com direito a duas descidas. Os 15 melhores avançam para a semifinal. Após mais duas tentativas de conseguir o melhor tempo, o top-10 disputa a grande final. O canoísta que levar menos tempo para completar o traçado será campeão olímpico. Punições de tempo acrescido podem ocorrer caso um canoísta perca (2s) ou toque um portão (50s).

No caiaque cross, modalidade estreante na França, a fórmula é diferente. Quatro canoístas descem de uma plataforma suspensa e correm até a linha de chegada. Ainda é necessário passar por portões e evitar as punições, somado a isso, um giro de 360° na água, em local designado, é obrigatório. Com tomada de tempo individual, rodada de qualificação e repescagem, a fase final será com quartas, semi e final. A competição entregará duas medalhas.


ANÁLISES

MASCULINO

C1

Eliminatórias: 27/07 e 29/07

Final: 29/07 às 12:20

Favorito ao ouro: Benjamin Savšek (SLO)

Candidatos à medalha: Nicolas Gestin (FRA), Matej Benus (SVK) e Sideris Tasiadis (GER)

Podem surpreender: Tristan Carter (AUS), Raffaello Ivaldi (ITA) e Adam Burgess (GBR)

Brasil: Pepê Gonçalves


Savsek tem mostrado que idade é só um detalhe na canoagem slalom e vai lutar pelo bi olímpico em Paris (Foto: Reuters)


A prova da canoa slalom é dominada pelo esloveno Benjamin Savšek. Atual campeão mundial e olímpico, o canoísta vai ser o grande favorito nos Jogos Olímpicos de Paris. Além disso, venceu uma etapa da Copa do Mundo em 2024. A França buscará o ouro com Nicolas Gestin. O canoísta acumula dois terceiros lugares em Copas do Mundo na atual temporada e obteve o vice-campeonato para Savšek no Mundial.

Postulante ao pódio, o eslovaco Matej Benus, que buscou a nomeação nacional contra seu compatriota Marck Mirgorodsky etapa por etapa, obteve uma prata, um quinto e um sexto lugar em 2024, no entanto tem regularidade em seus resultados. Desde os Jogos de Tóquio, no Japão, terminou dentro do top-7 nos principais campeonatos.

O alemão Sideris Tasiadis também está vivo na disputa pelo pódio. A campanha recente de Sideris está bem irregular, com uma eliminação na Copa do Mundo de Praga, mas o campeão mundial de 2022 sabe o caminho das águas. Com resultados menos relevantes, porém beneficiados pelo limite de atletas por país, o australiano Tristan Carter, o italiano Raffaello Ivaldi e o britânico Adam Burgess também podem brigar pelo bronze em Vaires-sur-Marne.

A participação brasileira será de Pepê Gonçalves, o canoísta não tem resultados fortes na classe C1 e não deve brigar por finais, mas usará a olimpíada para ganhar experiência e perder o nervosismo da estreia, visto que suas principais apostas, o K1 e o K1 extremo, ocorrerão após o fim do C1.


K1

Eliminatórias: 30/07 e 01/08

Final: 01/08 às 12:20

Favoritos ao ouro: Felix Oschmautz (AUT), Giovanni De Gennaro (ITA) e Peter Kauzer (SLO)

Candidatos à medalha: Timothy Anderson (AUS), Joseph Clarke (GBR), Xin Quan (CHI) e Vit Prindis (CZE)

Podem surpreender: Mathis Soudi (MAR), Finn Butcher (NZL) e Pepê Gonçalves (BRA)

Brasil: Pepê Gonçalves


Pepê vai tentar buscar uma medalha inédita para o Brasil na modalidade (Gaspar Nobrega/COB)

O caiaque masculino é muito disputado com variações nos campeões dos principais torneios da modalidade, a Copa do Mundo e o Mundial. O austríaco Felix Oschmautz é um destaque na temporada de 2024. Atual vencedor da etapa de Augsburg da Copa do Mundo, o canoísta foi bem no início do ciclo e chegará embalado no território francês.

Em sua perseguição está Giovanni de Gennaro. O italiano venceu uma etapa da Copa do Mundo esse ano e foi vice no Mundial de 2022; vai ser um favorito a lutar pelo pódio e se redimir após ficar fora da final em Tóquio. Finalizando a briga pelo título olímpico, o esloveno Peter Kauzer não pode ser descartado. Nas etapas de Augsburg e Praga, da Copa do Mundo de Canoagem Slalom, foi o mais consistente dos favoritos e cresceu muito durante o intervalo entre os Jogos.

Remando por fora, Joseph Clarke, da Grã-Bretanha, Timothy Anderson, da Austrália, e Xin Quan, da China, são postulantes ao top-5 e têm talento para bater seus adversários para ganhar medalha no caiaque masculino. Fechando os principais canoístas do top-10, Pepê Gonçalves não alcançou finais em 2024, mas não terá à sua frente rivais de países repetidos, bônus que o marroquino Mathis Soudi e o neozelandês Finn Butcher também vão usufruir. Pepê tem costume de superar marcas e cresce em grandes competições, para a mídia geral ele pode ser carta fora, mas tem capacidade para surpreender e não deve ser subestimado.


KX1

Eliminatórias: 02/08 a 05/08

Final: 05/08 às 12:00

Favorito ao ouro: Mathurin Madore (FRA)

Candidatos à medalha: Manuel Ochoa (ESP), Dimitri Marx (SUI), Joseph Clarke (GBR) e Vit Prindis (CZE)

Podem surpreender: Pepê Gonçalves (BRA) e David Llorente (ESP)

Brasil: Pepê Gonçalves

A prova radical do caiaque masculino pode dar um ouro para os donos da casa. Mathurin Madore venceu uma etapa da Copa do Mundo e foi quarto em outra, o único com duas finais em 2024, será um favorito para vencer a modalidade estreante. O pódio deve ser completado pelo espanhol Manuel Ochoa, que foi campeão em Praga e já mostrou competitividade no cross, além do suíço Dimitri Marx, que conta com duas finais de 2022 até hoje.

Na rabeta, o brasileiro Pepê Gonçalves, finalista em Augsburg e Cracóvia, pode ficar mais uma vez entre os quatro melhores. As performances do brasileiro são expandidas na modalidade radical e ele será um incômodo para os demais atletas. Apesar da má fase em 2024, o britânico Joseph Clarke tem tradição no esporte e pode conquistar um pódio.


FEMININO

C1

Eliminatórias: 30/07 e 31/07

Final: 31/07 às 12:25

Favorita ao ouro: Jessica Fox (AUS)

Candidatas à medalha: Ana Sátila (BRA), Mònica Dòria (AND) e Nele Bayn (GER) 

Podem surpreender: Martina Satková (CZE) e Zuzana Paňková (SLO)

Brasil: Ana Sátila

A canoa tem a australiana Jessica Fox como líder. A atleta é a atual campeã olímpica e tem duas etapas de Copas do Mundo da temporada de 2024 na sua estante de troféus. Nos Mundiais de 2023 e 2022, foi bronze e prata, respectivamente, tornando o seu ciclo olímpico um domínio total do esporte, sendo favorita para coroar a temporada com título no país em que nasceu.


Sátila vai para sua quarta olimpíada mais experiente e mais confiante em um bom resultado (foto: Gaspar Nóbrega/COB)

Na sua perseguição, o Brasil tem a principal representante na modalidade, Ana Sátila vai embalada para Paris após o vice na etapa de Cracóvia, na Polônia, da Copa do Mundo, justamente para Jessica, além de um 9° e um 5° lugares. No ciclo, a brasileira se destacou com o quinto lugar no Mundial de 2023, em Londres, na Inglaterra. Ana cresce em olimpíadas e já mostrou alto nível ao finalizar a campanha em Tóquio 2020 no top-10.

Seguindo a lista, a alemã Nele Bayn conseguiu bons resultados na atual temporada. Foram dois top-5 e um 7° lugar, pesa para a atleta conseguir bons resultados no ano olímpico e ir mal nos Mundiais de 23 e 22. A andorrana Mònica Dòria é uma potencial medalhista. O ciclo não contou com pódios nos grandes eventos, tirando a Copa do Mundo de Augsburg, mas ela pode crescer na França. Martina Satková, da República Tcheca, e Zuzana Panková, da Eslovênia, não seriam cartas fora do baralho também.


K1

Eliminatórias: 27/07 e 28/07

Final: 28/07 às 12:45

Favorita ao ouro: Jessica Fox (AUS)

Candidatas à medalha: Ricarda Funk (GER) e Maialen Chourraut (ESP)

Podem surpreender: Ana Sátila (BRA)

Brasil: Ana Sátila

A australiana Jessica Fox também domina o caiaque feminino. Foram uma vitória, um vice e um 9° nas Copas do Mundo de 2024, somado a isso tem o título Mundial de 2023; na edição de 2022 foi vice e em Tóquio-2020, bronze. A história parece repetida, mas Fox é grande candidata a fazer a limpa na modalidade e ouvir o hino da ilha oceânica mais de uma vez.


Jéssica Fox é o grande nome da canoagem slalom feminina na atualidade (foto: ICF)

Os torneios antecessores aos Jogos Olímpicos de Paris mostram uma grande alternância nas canoístas em destaque, a alemã Ricarda Funk se apresenta na cola de Jessica, mas com dificuldade de superar sua rival australiana. No Mundial de 2022, na etapa da Copa do Mundo de Augsburg e na Olimpíada japonesa, em 2021, Funk levou a melhor e, se remar com eficácia, pode vencer a briga com Fox.

Uma adversária que não mostrou muita consistência em 2024 é a espanhola Maialen Chourraut. A atleta foi vice de Fox em Cracóvia e prata em Tóquio para Funk e pode chegar em Paris como uma das favoritas à medalha.

A prova não é o forte da brasileira Ana Sátila. A atleta conseguiu um ótimo terceiro lugar em Augsburg, porém apenas um top-10 e um top-15 nas outras etapas da Copa do Mundo; no Mundial em 2023 foi quinta colocada. Ainda assim, é rápida no caiaque e pode surpreender as principais atletas, seu objetivo é chegar à final e lutar pelo bronze.


KX1

Eliminatórias: 02/08 a 05/08

Final: 05/08 às 11:55

Favoritas ao ouro: Jessica Fox (AUS), Angele Hug (FRA) e Camille Prigent (FRA)

Candidatas à medalha: Tereza Kneblova (CZE) e Noemie Fox (AUS)

Podem surpreender: Katerina Bekova (CZE) e Kimberley Woods (GBR)

Brasil: Ana Sátila

A última modalidade do slalom olímpico é o caiaque cross feminino. A favorita é Jessica Fox, a australiana pode levar os três ouros em disputa para a ilha oceânica. Atual campeã em Cracóvia, última etapa do circuito mundial antes dos Jogos Olímpicos, a “aussie” sabe administrar a corrida aquática como poucas no cenário e ganhou o Mundial em 2022, na imprensa especializada, Jessica vai com tudo para a França.

O pódio também pode ter duas francesas em seu ponto mais alto, Angele Hug e Camille Prigent. Ambas acumulam resultados acima da média no ciclo olímpico, Hug ganhou a etapa da Copa do Mundo em Praga e se mantém consistente, vai ter que melhorar suas marcas para enfrentar Fox. Já Camille é uma pedra no sapato da australiana, ótimos resultados no ciclo olímpico botam a canoísta na aba de favoritas ao ouro.

Disputando um lugar no pódio, Tereza Kneblova, da República Tcheca, chegou em 2024 com finais e top-5, levando a briga contra as maiores do esporte, com certeza será uma ameaça em Vaires-sur-Marne. A irmã de Jessica, Noemie Fox, que também é nascida em território francês, mas que compete pela Austrália, despontou no esporte e pode oferecer concorrência aos três primeiros lugares na tabela; tem vice em 2024.

Mais duas canoístas podem surpreender no caiaque radical feminino, a tcheca Katerina Bekova botou seu nome no cenário após um bom repertório de resultados nos eventos globais. Fechando a nominata tem a britânica Kimberley Woods. Um pouco sumida das melhores colocações em Copas do Mundo, Wood voltou ao top-3 em Cracóvia, logo antes dos Jogos e mostra estar pronta para brigar por medalhas.

Na prateleira de baixo, Ana Sátila chega em Paris como uma das pretendentes às quartas de final. A brasileira não deve nada à modalidade e será uma grata surpresa se chegar mais longe, pois neste ano Ana não chegou às quartas no circuito.

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