*Por Matheus Maia
Locais de competição: Centro Aquático de Paris (fases preliminares) e Arena La Défense de Paris (fase final)
Período: 27/07 a 11/08
Número de países participantes: 15
Total de atletas: 286 (156 homens e 130 mulheres)
Brasil: não participa
HISTÓRICO
O polo aquático é um dos esportes mais antigos do programa olímpico, carregando a honra de ser o primeiro coletivo da história. A modalidade, nesse primeiro momento exclusiva para homens, está presente desde a segunda olimpíada da história, realizada em Paris, em 1900, e apenas se absteve da edição de Saint Louis, nos Estados Unidos, em 1904. No caso das mulheres, a estreia olímpica foi em Sydney-2000, na Austrália, 100 anos depois dos homens.
O polo aquático foi inventado durante a segunda revolução industrial no Reino Unido, em meados do século XIX, fruto de uma adaptação do rugby para a água, sendo praticada anteriormente com o objetivo de botar a bola no deck do adversário, uma espécie de try. Com o advento do livro de regras, o polo se aproximou do handebol, com o uso de gols com rede.
Originalmente, times da Inglaterra e Escócia expandiram o esporte com práticas em clubes, mas em Jogos Olímpicos, a hegemonia está longe da ilha bretã. A Hungria é referência mundial e a maior medalhista da história, com nove ouros, três pratas e cinco bronzes, dezessete no total. Em segundo, vem os Estados Unidos, que no início da caminhada olímpica do esporte, foi a primeira nação fora da Europa a se destacar e atualmente possuem quatro ouros e quinze medalhas, vencendo a Itália no número de pratas, seis contra três.
Os húngaros conquistaram os seus nove títulos na chave masculina, se destacando das demais nações com três - Iugoslávia, Itália e Reino Unido - e somando dezesseis medalhas no total. Apesar da dominância, a nação não vence desde Pequim-2008, sendo o último de três ouros seguidos, com Atenas-2004 e Sydney-2000. A Croácia, em Londres-2012, e a Sérvia, no Rio-2016 e Tóquio-2020, são os últimos campeões.
Filipovic, um dos maiores medalhistas olímpicos da Sérvia (foto: World Aquatics) |
Já no naipe feminino, os Estados Unidos estiveram em todos os pódios desde a entrada da chave em 2000, feito inédito no esporte, e venceram três dos seis títulos disputados até o momento, em Londres, Rio e Tóquio. Além disso, possuem duas pratas e um bronze. No Brasil e Japão, a diferença de gols foi de 7 e 9 sobre as rivais nas finais, respectivamente, exemplificando a qualidade das estadunidenses.
Os demais países com vitórias em finais olímpicas femininas são a Itália, única a vencer em homens e mulheres, a Austrália, campeãs na estreia das mulheres em casa, e os Países Baixos, que venceram os Estados Unidos por 9-8 em Pequim-2008.
BRASIL
O histórico do Brasil no polo aquático em Jogos Olímpicos não é muito positivo. A estreia masculina na Antuérpia-1920 teve uma vitória sobre a França e derrota na fase seguinte para os suecos. Ao todo, foram 8 gols marcados e a 6° colocação final. O retorno brasileiro aconteceu em Los Angeles-1932, com apenas cinco seleções classificadas e formato de todos contra todos, o Brasil perdeu as duas partidas que jogou.
As derrotas foram para os Estados Unidos (6-1) e Alemanha (7-3), sendo essa partida contra os europeus polêmica: os brasileiros agrediram o árbitro húngaro Bela Komjadi, após o apito final por discordâncias, e o Comitê Olímpico Internacional (COI) desqualificou o Brasil da competição.
Em Helsinki-1952, a seleção perdeu um jogo e venceu outro na rodada preliminar; na fase de grupos, não pontuou, ficando na 13° posição, mesma colocação de Roma-1960, Tóquio-1964 e Cidade do México-1968. Nessas três campanhas, foram 2 empates e 10 derrotas. Após um hiato, o Brasil voltou em Los Angeles-1984, empatando uma partida e perdendo outras duas, saboreando a 12° e última posição.
Um novo intervalo entre participações aconteceu e o país retornou na Rio-2016. E na cidade maravilhosa, o Brasil não apenas participou, por ser país-sede, mas venceu três jogos contra Austrália (8-7), Japão (16-8) e Sérvia (6-5). Também sofreu duas derrotas na fase de grupos para Grécia (9-4) e Hungria (10-6), potências do esporte. Nas quartas de final, os brasileiros foram superados pela Croácia (10-6), disputando as vagas entre a 5° e a 8° posição, terminando no 8° lugar, a melhor colocação em relação ao número de participantes na história.
A estreia das mulheres brasileiras em edições olímpicas foi na Rio-2016, com a vaga de país-sede. A equipe sofreu derrotas nos seus três jogos na fase de grupos, para Itália (9-3), Austrália (10-3) e Rússia (14-7). Mesmo em último, avançaram às quartas e perderam para os EUA (13-3), disputando a chave de 5° ao 8°, foram superadas pelas australianas (11-4) e pela China (10-5). Ambos os naipes brasileiros não contestaram os Jogos de Tóquio-2020.
As seleções brasileiras de polo aquático estão fora de Paris-2024, pelo lado feminino, não foi possível classificar pelos Mundiais de 2023, sem participação brasileira, e o de 2024, com o Brasil eliminado ainda na fase de grupos, terminando em 15° ao final da disputa. A vaga continental foi perdida após a queda para o Canadá na semi dos Jogos Pan-Americanos em Santiago, no Chile, em 2023. Na disputa do terceiro lugar, o Brasil foi bronze sobre a Argentina.
Os homens igualmente não disputaram o campeonato mundial de 2023 em Fukuoka, no Japão. No entanto, no Pan, alcançaram a final, após vitória contra o Canadá, mas não foi possível vencer o Estados Unidos, a derrota por 17-7 deu a prata para os canarinhos. Em Doha, Catar, último Mundial e possibilidade de classificação para Paris, o Brasil fechou a campanha na 14° posição, longe do 10° lugar, último que permitia classificação.
FORMATO DE DISPUTA
O modelo de disputa é praticamente igual entre homens e mulheres: no naipe masculino, são 12 seleções com seis em cada grupo; já no feminino são 10 equipes, sendo cinco em cada agrupamento. Os times jogam entre si dentro de cada grupo, totalizando cinco partidas
Em ambas as chaves se classificam às quartas de final quem terminar nas quatro primeiras posições de cada grupo. A partir daí, é mata-mata até a decisão. Além da partida de ouro, o esporte conta com jogos de colocação entre os demais classificados à fase eliminatória, com disputas de 5° a 8° e do 3° ao 4°, este para decidir o bronze.
Cada seleção alinha sete nadadores no campo de 25m, para mulheres, e 30m, para homens, com o objetivo de marcar gols no adversário. No banco, seis reservas podem ser utilizados, e um jogador fica de fora da relação, caso tenha alguma lesão na sua equipe.
O polo aquático é jogado em quatro tempos de 8 minutos (32 ao todo), e tem intervalos de 2 minutos entre os quartos, como são chamados os períodos de jogo. Exclusivamente entre o segundo e o terceiro, a pausa é de 3 minutos.
ANÁLISE
Foto: Aniko Kovacs/World Aquatics |
MASCULINO
Fase de grupos/mata-mata: 28/07 a 09/08
Final: 11/08 às 09h:00
Favoritos ao ouro: Croácia, Espanha e Itália
Candidatos à medalha: Hungria e Grécia
Podem surpreender: Sérvia, França e Montenegro
Brasil: não participa
O atual campeão do polo aquático masculino é a Sérvia, sendo a Grécia vice e a Hungria terceira colocada. Após três anos dos Jogos de Tóquio, a relação de forças sofreu algumas alterações e as três seleções mencionadas perderam certo protagonismo, mas ainda são fortes. Com muitos torneios recheando esse curto ciclo, algumas novas equipes são destaque.
Os principais favoritos são os croatas, que na temporada de 2024 conquistaram o Mundial da modalidade, em Doha, no Catar, e foram vice-campeões do Europeu. O país também conquistou o continental de 2022, tendo um início promissor para o ciclo olímpico. A Croácia tem o polo aquático como o maior esporte nacional e vai tentar capitalizar no bom 2024 para levar o ouro olímpico, mas não será fácil.
A seleção da Espanha chega com status de favorita pela sua regularidade, os títulos do Mundial de Esportes Aquáticos de 2022 e o Europeu de 2024 que são somados aos pódios do continental de 2022 e Mundiais de 2023 e 2024. Os espanhóis também foram quarto colocados em Tóquio-2020.
Na mesma prateleira de favoritas ao título, a Itália fechou o ciclo trienal sem troféus, mas com duas pratas em Mundiais (2022 e 2024), além do bronze no continental deste ano, o que mostra que os italianos não vão para passear em Paris. Logo na primeira fase, enfrentam os croatas no grupo A, podendo ensaiar uma possível decisão de medalha.
A Grécia, por sua vez, sem top-4 em 2024, acumula pódios nos anos anteriores e vai lutar por medalhas nos Jogos. Alocados no Grupo A com a Hungria e a Itália, vão ser testados logo no início.
Na sequência, os húngaros também poderiam estar entre os favoritos. Campeões mundiais de 2023 e vice-campeões europeus de 2022, a Hungria não chegou a pódios ainda na temporada. A seca de medalhas dos maiores campeões não anima, mas podem beliscar pódio e ouro se crescerem na hora certa.
Como postulantes a surpresas, está o país-sede dos Jogos Olímpicos de 2024: a França obteve um bom resultado no último Mundial, realizado meses antes das primeiras partidas em Paris, com o quinto lugar, e trouxe esperanças para que o quadro de medalhas seja aumentado com pódio neste evento.
A Sérvia, atual campeã olímpica, perdeu força e não chega a pódios desde 2021, mas tem um retrospecto que pode favorecer um bom resultado nesta edição. A última menção vai para Montenegro, por mais que a seleção seja modesta e tenha participações entre a 8° e a 6° colocação, não pode ser desconsiderada.
FEMININO
Fase de grupos/mata-mata: 27/07 a 08/08
Final: 10/08 às 10:35
Favoritas ao ouro: Estados Unidos
Candidatas à medalha: Países Baixos, Hungria, Itália e Espanha
Podem surpreender: Grécia e Austrália
Brasil: não participa
Foto: Reprodução/X |
O naipe feminino do polo aquático tem donas desde o seu início: os Estados Unidos são as atuais tricampeãs olímpicas, também acumulando duas pratas e um bronze, sendo a única seleção medalhista em todas as edições em que o esporte esteve no programa olímpico.
Em 2024 se tornaram octacampeãs mundiais, chegando em Paris com força total para mais um ouro. No ciclo, apenas não ficaram no pódio de grandes eventos em 2023, com o título do mundial de 2022 sendo a primeira grande conquista.
A Espanha é uma forte seleção na modalidade, campeã europeia em 2022, não ficou entre as três primeiras apenas no Mundial de Esportes Aquáticos do mesmo ano. O ciclo espanhol se mostrou fortíssimo, recheado de medalhas e, se passarem por Hungria e Países Baixos, farão o teste de fogo contra os Estados Unidos. Na história, tem vices contra as estadunidenses.
As atletas dos Países Baixos também montaram um bom ciclo em direção aos Jogos: venceram o Mundial de Esportes Aquáticos em 2023 e o Europeu da modalidade em 2024, somado a um bronze em no mundial de 2022. A seleção não foi consistente, mas cresce quando o momento pede e se apresenta como postulante à final.
Seguindo a lista, a Hungria apresenta um perfil curioso, sendo consistente e usando isso como principal arma. Entre os Jogos de Tóquio-2020 e Paris-2024, as húngaras conquistaram dois pódios. O top-5 apenas saiu da mão das húngaras no Mundial de 2023. Todavia, a falta de títulos, diferente dos Países Baixos, evidencia uma falta de capacidade de decisão. O país ainda decidiu as finais dos mundiais de 2022 e 2024 contra os EUA e fizeram jogo duro.
As italianas também são candidatas ao pódio olímpico, mas devem brigar pelo bronze. Prata no Rio-2016, as "azzurras" ganharam três bronzes e acumularam campanhas sem destaque no ciclo olímpico de 3 anos, e a campanha de 7° colocadas no Mundial de 2024 não é animadora.
Por fora, Grécia e Austrália se mostraram presentes em Mundiais e podem pegar medalhas. Campanhas com pódios para as gregas não podem ser subestimadas, a seleção está ansiosa por uma medalha olímpica que não vem desde 2004, em solo nacional. Já a Austrália, primeira campeã em Sydney-2000, tem como última medalha o bronze em Londres-2012. Não alcançou pódios no ciclo, mas surpresas sempre aparecem em Olimpíadas.
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