FICHA TÉCNICA
Local de disputa: praia de Teahupoʻo, na ilha do Taiti, na Polinésia Francesa
Período: 27/07 a 05/08 (as provas acontecerão em quatro dias dentro de uma janela de dez dias a depender da condição climática)
Número de países participantes: 11
Total de atletas: 48
Brasil: Filipe Toledo, Gabriel Medina e João Chianca (masculino) e Luana Silva, Tainá Hickel e Tati Weston-Webb (feminino)
HISTÓRICO
Ítalo foi o primeiro ouro olímpico do surfe (Foto: Jonne Roriz/COB) |
A prática de pegar ondas é muito antiga, remontando de 2.000 a 3.000 anos atrás com os polinésios, um povo navegador que colonizou a maior parte das ilhas do Pacífico, incluindo o Havaí. O primeiro registro oficial do esporte no Havaí foi feito pelo explorador inglês James Cook, que relatou surfistas na ilha em 1778. No entanto, há teorias de que o surfe pode ter surgido na América do Sul. No Peru, pescadores usavam uma espécie de canoa feita de junco, chamada Caballito de Totora, que facilitava o retorno à terra firme usando as ondas.
Estima-se que essas embarcações tenham de 2.000 a 3.000 anos de existência.
O esporte ganhou destaque mundial na edição dos Jogos Olímpicos de 1912, em Estocolmo, na Suécia, quando o havaiano Duke Kahanamoku, considerado o “Pai do Surfe Moderno”, ganhou duas medalhas na natação, incluindo ouro nos 100m livre. Ele contou ao mundo sobre sua prática de surfe e começou a disseminar o esporte globalmente, introduzindo-o na América em 1913 e na Austrália em 1915, que hoje é considerada uma das capitais mundiais do surfe.
Na década de 1920, fãs e atletas de surfe, incluindo o próprio Duke Kahanamoku, começaram a fazer campanha para que o esporte fosse incluído no programa Olímpico. Muitos anos depois, o surfe finalmente entrou no programa Olímpico dos Jogos de Tóquio 2020. Em sua primeira edição, o pódio do surfe masculino foi formado por Italo Ferreira (BRA), Kanoa Igarashi (JPN) e Owen Wright (AUS). No feminino, as medalhas foram para Carissa Moore (EUA), Bianca Buitendag (RSA) e Amuro Tsuzuki (JPN).
Para os Jogos de Paris 2024, o lendário local de Teahupo’o, no Taiti, foi escolhido como sede dos eventos de surfe. As ondas da Polinésia Francesa são conhecidas por serem desafiadoras e perigosas, quebrando sobre corais venenosos e pontiagudos, e começando a se formar nas profundezas de uma fossa abissal. Uma queda em Teahupo’o pode causar ferimentos graves, desmaios e até afogamentos.
Atualmente, a principal competição de surfe de alto nível é o Circuito Mundial da Liga Mundial de Surfe (WSL), que tem temporadas anuais com eventos ao redor do mundo, inclusive em Teahupo’o, onde surfistas enfrentam algumas das ondas mais desafiadoras do planeta.
BRASIL
O Brasil vive a expectativa de entrar para o Top 10 pela primeira vez na história dos Jogos e, para isso, aposta principalmente no surfe, modalidade onde os brasileiros chegam em alta.
A Brazilian Storm, termo cunhado em 2011 pela imprensa estadunidense para se referir a nova geração de surfistas brasileiros que na visão dos estrangeiros, tomaram de assalto o cenário do surfe mundial como uma tempestade tropical. Na década de 2010, o surfe brasileiro despontou de vez com muitas conquistas.
Gabriel Medina, Adriano de Souza, Ítalo Ferreira e Filipe Toledo são alguns dos maiores nomes desse movimento. Surfistas que não só representam o talento brasileiro, mas também protagonizam a conquista de sete títulos mundiais na última década (ao todo), ultrapassando a quantidade de premiações de esportes tradicionais como o futebol e o vôlei.
Nas Olimpíadas, o primeiro ouro da história do surfe olímpico foi para o brasileiro Ítalo Ferreira, que esse ano vai ficar acompanhando de longe - nos comentários da transmissão da Globo.
Para Paris, o Brasil preencheu todas as seis vagas possíveis. Tati Weston-Webb foi a primeira a se classificar ao terminar em oitavo lugar no ranking feminino da Liga Mundial de Surfe (WSL) em 2023. Depois, Filipe Toledo se classificou em julho de 2023, após vencer a etapa de Jeffrey’s Bay, na África do Sul. Já João Chianca carimbou o passaporte em agosto de 2023, após terminar em quinto lugar no ranking masculino da WSL. Talvez o atleta de maior nome da modalidade, Medina garantiu a vaga após ser campeão do ISA Games. No mesmo campeonato, o título por equipes colocou Luana Silva nos Jogos e Tainá fechou o pacote ao terminar no top-12.
FORMATO DE DISPUTA
A Olimpíada de Paris 2024 já apresenta uma curiosidade histórica antes mesmo de começar. A sede do surfe será a mais distante da cidade anfitriã na história dos Jogos Olímpicos.
O Taiti, uma das ilhas da Polinésia Francesa, fica a mais de 15.600 quilômetros de Paris, estabelecendo a maior distância já registrada. As ondas do território ultramarino francês, especificamente em Teahupoo, são famosas e desafiadoras. Apesar de algumas polêmicas, a organização decidiu realizar a competição na Polinésia Francesa para valorizar a histórica onda local e o território francês. Teahupoo, que sedia anualmente uma das etapas da WSL, é conhecida por suas ondas desafiadoras e perigosas, sendo uma das preferidas dos atletas de elite.
Nos Jogos Olímpicos, os surfistas são avaliados por cinco juízes com base na variedade, tipo e dificuldade das manobras, bem como pela velocidade, força e fluidez dos movimentos.
Com 8 vagas a mais do que nas últimas Olimpíadas, o surfe em Paris 2024 contará com 48 participantes, sendo 24 homens e 24 mulheres. Este ano, cada país poderá ter no máximo 3 atletas em cada categoria, totalizando 6 competidores por país na modalidade.
Serão três rodadas preliminares, sendo que na primeira fase, os vencedores de cada bateria avançam direto para a terceira fase e as duas perdedoras farão a segunda fase. Depois teremos as quartas de final, seguidas pelas semis e pelas finais.
ANÁLISE
MASCULINO
Fase de grupos/mata-mata: 27/07 a 30/07
Final: 30/07
Favoritos ao ouro: Gabriel Medina (BRA), Jack Robinson (AUS), Kauli Vaast (FRA)
Candidatos à medalha: João Chianca (BRA), John John Florence (EUA)
Podem surpreender: Filipe Toledo (BRA), Griffin Colapinto (EUA), Ramzi Boukhim (MAR)
Brasil: Gabriel Medina, João Chianca e Filipe Toledo
Foto: Aaron Hughes/WSL |
Um dos surfistas que mais se destacam no Taiti é Gabriel Medina. Desde 2014, ele sempre terminou entre os três primeiros nas etapas da WSL em Teahupoo que disputou. Sua combinação de força física e técnicas apuradas faz dele um mestre nessas águas.
Falando ainda da onda brasileira, João Chianca também tem facilidade com as ondas desafiadoras do Taiti e se sai muito bem nesse local. Já Filipe Toledo, apesar de sua qualidade que o tornou bicampeão mundial, não tem o costume de acumular bons resultados por lá. No entanto, ele sempre é um forte candidato ao pódio.
Contudo, a competição olímpica será acirrada. O australiano Jack Robinson, campeão do Tahiti Pro 2023, é um forte concorrente, assim como o nativo Kauli Vaast, vice-campeão em 2022. Os norte-americanos Griffin Colapinto e John John Florence também estão na disputa. Apesar de Colapinto nunca ter terminado com um resultado melhor que nono em suas seis participações no World Tour em Teahupoo, ele demonstra grande aptidão em ondas desafiadoras como Pipeline e outras ondas ocas.
Para dar aquele gostinho, no final de maio, foi disputada a etapa de Tahiti no mundial da WSL. Destacamos aqui aqueles que atingiram somatórias excelentes a partir das oitavas. John John Florence (EUA) anotou 17.16 na final, 18.00 na semifinal, 18.33 nas quartas; Gabriel Medina (BRA) alcançou 18.96 nas quartas, 19.83 nas oitavas - a maior desta etapa; Ramzi Boukhim (MAR) conquistou 16.86 nas oitavas e 17.13 nas quartas em cima da super estrela Kelly Slater (EUA), que marcou 16.66.
O grande campeão do SHISEIDO Tahiti Pro 2024 foi o brasileiro Ítalo Ferreira - não classificado para os Jogos -, que venceu Florence.
FEMININO
Fase de grupos/mata-mata: 27/07 a 30/07
Final: 30/07
Favoritas ao ouro: Vahine Fierro (FRA)
Candidatas ao pódio: Tatiana Weston-Webb (BRA)
Podem surpreender: Caroline Marks (EUA), Brisa Hennessy (CRC)
Brasil: Tatiana Weston-Webb, Tainá Hinkel e Luana Silva
Foto:Matt Dunbar/WSL |
Vahine Fierro, francesa local de Teahupoo, remou em algumas das ondas mais pesadas da história do surf feminino no local. Ela foi a campeã do SHISEIDO Tahiti Pro 2024 e somou a impressionante nota de 17.70 na semi.
Quando o Taiti foi colocado de volta no Tour Feminino, Caroline Marks foi uma das primeiras atletas femininas a ir para lá e fazer as repetições para entender a escalada angustiante. Na etapa deste ano, terminou em terceiro lugar.
Outra que está acostumada com Teahupoo é a brasileira Tatiana Weston-Webb que conquistou uma nota 10 perfeita na semifinal - A PRIMEIRA CONQUISTADA POR UMA MULHER (assista abaixo) - e somou 16.06 ao final da bateria.
Confira a coletiva de Tatiana Weston-Webb sobre as expectativas para o Taiti.
A costarriquenha Brisa Hennessy se destacou ao terminar o SHISEIDO Tahiti Pro em segundo lugar, além de ocupar o terceiro lugar do ranking.
A atual campeã olímpica, Carissa Moore, ficou fora desta temporada da WSL por decisão própria, mas ela irá disputar os Jogos, na competição que deve marcar a sua aposentadoria das pranchas. Ela foi Wild Card na etapa do Taiti neste ano e foi a quinta colocada, assim como nas outras duas vezes que competiu na ilha.
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