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Conheça Kaylia Nemour, ginasta franco-argelina que conquistou a torcida francesa e a primeira medalha da África na ginástica

Kaylia Nemour é a 5ª ginasta mais completa dos Jogos Olímpicos de Paris 2024. Foto: Maxppp - Caroline Brehman

Kaylia Nemour é uma sensação da nova geração da ginástica artística feminina. Com apenas 17 anos, a jovem nascida na pequena cidade de Saint-Benoît-la-Forêt, na França, é a atual vice-campeã mundial nas barras assimétricas e disputa em Paris sua primeira Olimpíada. Neste domingo (04), ela fez história ao ser ouro nas assimétricas com a maior nota da história do aparelho, 15.700 e se tornar a primeira medalhista africana na ginástica em Jogos Olímpicos.

Saiba como a atleta conquistou a torcida francesa em Paris 2024, mesmo optando por defender a Argélia após imbróglio com a federação da França.

A conquista da torcida da casa

Na final do individual geral, quando os olhos do mundo estavam voltados para Simone Biles e Rebeca Andrade, Kaylia contou com o apoio da torcida da casa para alcançar a 5ª colocação, a apenas 0.566 pontos de Sunise Lee (EUA), medalhista de bronze. No entanto, após a competição, a ginasta demonstrou não estar completamente satisfeita com o quinto lugar: 

Eu fui quinta, então não fui tão mal, mas estou decepcionada. Eu estou contente comigo mesma, mesmo que na trave eu esteja decepcionada, pois poderia ter feito melhor. Eu gostaria de ter feito uma trave mais bonita, pois foi isso que me ajudou na classificação. Quando eu vi minha nota na classificação, eu sabia que poderia fazer um pódio, mas que seria muito apertado.   

Mesmo não tão contente com a própria apresentação na trave, Kaylia disse que ficou feliz com o apoio da torcida da casa na Arena Bercy:

Sim, foi louco, porque estamos em Paris. Eu represento a Argélia, mas a França também é meu país. Então, honestamente, todo o apoio que tive no ginásio foi louco!

O barulho da torcida da casa para Kaylia pode ser explicado por algumas razões, sendo as duas principais a ausência da equipe da França nas finais e também o fato da ginasta ter nascido e crescido na França. Contudo, em 2023, ela optou por defender a Argélia após desentendimento com a Federação Francesa de Ginástica (FFGym). 

Com o desequilíbrio na trave, Kaylie tirou 13.233 na final do individual geral. Foto: REUTERS/Hannah Mckay

A escolha pela Argélia após imbróglio com a federação francesa

Tudo começou em 2021, após Kaylia descobrir uma inflamação chamada osteocondrite, que afeta ossos e cartilagens, gerando dor e limitação nos movimentos. A jovem precisou operar os dois joelhos e se afastar dos treinos por um ano. 

Em seu retorno, o médico da FFGym, Pierre Billard, determinou, contudo, que ela ainda precisaria treinar e competir com certas restrições. No entanto, Kaylia e seu time viram a atitude como um boicote por sua opção de seguir treinando no pequeno clube Avoine-Beaumont, presidido por sua mãe, em região próxima de onde nasceu. 

Kaylia competindo nos Jogos Olímpicos. Foto: Loic Venance

Segundo jornalistas franceses, a federação queria que ela treinasse no INSEP, Instituto Nacional de Esporte, Especialização e Desempenho, centro para atletas de elite localizado em Paris. Contudo, a ginasta preferiu ficar no clube que já conhece, perto de sua família. 

Vale destacar também que o INSEP esteve no centro de uma investigação da comissão de inquérito às disfunções das federações esportivas francesas, conduzido pelo poder legislativo nacional. Se isso pesou para a decisão de Kaylia, não é possível afirmar. Mas é fato que outras ginastas francesas também optaram por não ir ao INSEP. 

Após o conflito com a FFGym, em 2022, Kaylia decidiu defender a bandeira da Argélia, país de seu pai. Para fazer essa mudança, seu clube apresentou uma queixa contra o médico da federação e a situação foi resolvida com a intervenção da ministra do esporte francesa, que lhe concedeu uma carta de saída. Isso lhe permitiu evitar um ano de carência sem competir, regra estipulada pela federação internacional de ginástica em casos de troca de nacionalidade. 

Na ginástica desde os quatro anos, Kaylia é destaque nacional desde os 14 

Nascida em Saint-Benoît-la-Forêt, cidade de 857 habitantes, Kaylia Nemour começou a praticar ginástica com sua irmã mais velha quando tinha quatro anos. E foi entre os 8 e 10 que começou a levar o esporte mais a sério, com seu desenvolvimento físico e técnico. 

Numa família de cinco irmãos, hoje Kayla é referência para a caçula Elina. A ginasta de apenas 11 anos é a atual campeã nacional da França em sua categoria e promete seguir os passos da irmã mais velha. 

O primeiro grande título de Kaylia veio em 2021, quando foi campeã francesa nas barras assimétricas, aparelho em que é especialista e favorita ao ouro nos Jogos de Paris. Em 2023, seu primeiro ano competindo sob a bandeira da Argélia, levou a prata também nas barras no campeonato mundial. Neste mesmo ano, foi eleita pela imprensa argelina como a atleta do ano.

Kaylia em 2019, aos 12 anos, no campeonato classificatório para o nacional francês. Foto: Anne-Sophie Henri

Em Paris 2024, Kaylia classificou-se para as finais do individual geral (terminou em 5º) e das barras assimétricas, na qual fez história com a nota e o ouro. Ela se tornou a primeira medalhista da Argélia nestes Jogos Olímpicos e a primeira ginasta na história do pais campeã olímpica.

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