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Top-4 em Paris 2024: por que a Austrália é uma potência olímpica?

Montagem com diversos atletas australianos à esquerda e frase "our Australian olympic team" e foto da Torre Eiffel à direita
A Austrália participou de Paris 2024 com 467 atletas. Foto: reprodução/Comitê Olímpico Australiano

Uma nação olímpica não se constrói do dia para a noite e a Austrália sabe disso. O sexto maior país do mundo em extensão territorial, mas com apenas 26 milhões de habitantes, alcançou o top-4 no quadro de medalhas pela quarta vez em sua história e bateu o recorde de medalhas de ouro (18), ultrapassando campanhas de Tóquio 2020 e Atenas 2004 (17).

Conciliando investimentos no alto rendimento com uma cultura esportiva enraizada no estilo de vida australiano, o país coroou, na capital francesa, um projeto de longo prazo que o consolida como potência olímpica. Mas como isso foi possível? Conheça meste espeical como a Austrália, que se prepara para receber sua 3ª edição de Jogos Olímpicos em 2032, tornou-se tão vitoriosa. 

Histórico olímpico 

A Austrália esteve presente em todas as edições de Jogos Olímpicos da era moderna desde 1896. Em 1908 e 1912, competiu junto da Nova Zelândia sob o nome de Australasia. Desde então, o país conquistou 597 medalhas e sediou duas olimpíadas, Melbourne-1956 e Sydney-2000. Em 2032, será mais uma vez a casa dos Jogos, dessa vez em Brisbane. 

Entre seus esportes mais vitoriosos, estão a natação, carro-chefe do time atual, com 69 ouros, 70 pratas e 73 bronzes, e o atletismo com 83, modalidade que foi mais forte no passado.

Com a ascensão do desempenho na natação a partir dos anos 1990 e o fortalecimento das estruturas de treinamento, o país passou a figurar com mais frequência no top-10 do quadro de medalhas. Desde Barcelona-1992, a Austrália termina os Jogos entre as 10 melhores delegações. Em Paris, igualou-se às campanhas de Sydney e Atenas com a 4ª colocação, mas com mais ouros, 18.

Jessica Fox conquistou dois ouros na canoagem slalom e ajudou o time australiano a bater o recorde de medalhas douradas. Foto: B. Virginie/L'Équipe

A cultura esportiva do povo australiano

O esporte é um estilo de vida na Austrália. É com esta frase que o jornalista Hayden Johnson, do The Courier Mail, resume a importância do esporte na cultura australiana. Correspondente australiano nos Jogos de Paris, ele também ressalta que a prática esportiva desde a infância, frequentemente motivada pela busca por interações sociais, muitas vezes evolui para uma vertente competiva:

Nosso belo clima e espaços abertos ajudam, mas há algo enraizado nos australianos que desenvolve uma paixão pelo esporte competitivo. O esporte comunitário é incentivado desde a infância e, muitas vezes, é aí que começa o caminho para o alto desempenho. 

A importância do esporte nas relações sociais não é só uma percepção de Hayden. Segundo a consultoria de dados Mccrindle, em pesquisa realizada em 2019, 31% dos australianos dizem que praticam esportes ou atividades físicas por razões sociais. Segundo a mesma pesquisa, um australiano médio passa mais tempo praticando esportes ou atividades físicas (2h27min) que assistindo televisão (2h22min) ou em atividades religiosas (35 min) por semana. 

Dentre as atividades físicas favoritas dos aussies, estão academia (35%), corrida (15%), natação (15%) e ciclismo (12%). Para assistir, na televisão ou presencialmente, o futebol é o esporte mais amado seguido de perto pelo rugby. 

Grupo de corredores em Sydney
A corrida é um dos principais esportes praticados pelos australianos. Foto: reprodução.

Apesar da cultura esportiva enraigada no povo australiano, ela por si só não seria capaz de gerar tantos atletas para o alto rendimento. Por isso, para explicar o sucesso do país em Jogos Olímpicos, é preciso olhar também para os investimentos governamentais realizados nos últimos 40 anos. 

Investimento no esporte

Às vésperas dos Jogos de Paris, o governo australiano anunciou um investimento recorde de 283 milhões de dólares australianos – equivalente a aproximadamente 1,04 bilhões de reais – para os próximos dois anos, dobrando o investimento atual.  

Essa quantia chegará aos atletas através da Comissão Australiana de Esportes (ASC), agência governamental responsável por apoiar e investir no esporte em todos os níveis, e do Instituto de Esportes Australiano (AIS), centro de treinamento de alto rendimento gerido pela ASC. 

Esse investimento pesado, contudo, não é recente. Foi em 1976, após o país não conquistar nenhuma medalha de ouro na olimpíada de Montreal, que a discussão sobre a necessidade da criação de um centro de excelência começou. Quatro anos depois, em 1980, o AIS foi criado em Camberra com oito esportes prioritários: basquete, ginástica, netball, natação, tênis, atletismo, futebol e levantamento de pesos. Desde então, mais modalidades foram adicionadas, bem como novos centros em outras partes do país. 

Piscina coberta do AIS
Centro de treinamento de natação no AIS. Foto: reprodução/AIS

Além da prática dos esportes em si, o AIS proporciona uma estrutura multidisciplinar aos atletas. Lá os esportistas encontram acompanhamento nutricional, análises de performance, psicologia, recuperação, educação para a carriera do atleta, condicionamento, entre muitos outros serviços.

Atualmente, além do Instituto de Esportes em Camberra, a Austrália possui mais sete centros de treinamento nacionais de excelência e programas de apoio a atletas de maneira individual. Hayden reforça  a importância dessa descentralização para a busca e refinamento de talentos:

O talento é identificado desde cedo e nutrido por meio de institutos de esporte de classe mundial na maioria dos estados e em âmbito nacional. O governo federal também promove o envolvimento no esporte por meio de subsídios a clubes comunitários e famílias.

Toda essa estrutura e investimento são essenciais para o sucesso do time australiano em Jogos Olímpicos. Após o anúncio do novo orçamento para o ciclo de Los Angeles-2028, a nadadora Cate Campbell, bicampeã olímpica, reforçou que o pensamento a longo prazo é necessário para a busca pela excelência:

Os atletas não atingem o auge de seu esporte da noite para o dia. São anos e anos trabalhando e se esforçando para chegar ao ponto em que você pode competir pelo seu país, por isso é muito importante apoiar os atletas em ascensão para que se tornem atletas de elite.

A atleta ainda reforçou a importância de 17,6 milhões de dólares australianos serem destinados exclusivamente para os fundos de apoio direto ao atleta para auxiliar com os custos de moradia:

Ter um financiamento que vai diretamente para os bolsos dos atletas será grande alívio sobre seus ombros e permitirá que eles se concentrem em seu treinamento. Precisamos que os atletas permaneçam nos caminhos porque eles serão as estrelas do futuro. 

Laboratório de testes no AIS. Foto: reprodução/AIS

Qual a chave do sucesso? 

Anna Meares, chefe da missão australiana em Paris e ciclista campeã olímpica em 2004 e 2012, resumiu a conjunção de fatores que levou a Austrália a sua melhor campanha olímpica: "Esse ambiente foi o produto de um forte relacionamento e planejamento envolvendo nossos membros esportivos, o Australian Institute of Sport e a rede de institutos esportivos estaduais e territoriais". 

Além do recorde de ouros, o país atingiu algumas outras marcas impressionantes. Emma McKeon, nadadora, chegou a 14 medalhas e se tornou a maior medalhista olímpica do país e igualando-se a Katie Ledecky (EUA) como nadadora com mais pódios. Jess Fox, com seis medalhas, é agora a atleta mais bem sucedida da canoagem slalom.

Equipe de revezamento 4x100 livre foi ouro em Paris. Foto: Clodagh Kilcoyne/Reuters

O segredo, portanto, não é bem um segredo: a Austrália encontrou uma forma de incentivar a prática esportiva de maneira maciça, aumentando exponencialmente o número de atletas num país com uma população bem menor que seus principais concorrentes olímpicos (EUA, China, Japão, Grã-Bretanha, França). Aliando a quantidade com a qualidade propiciada pelos centro de treinamento modernos e completos, além de políticas públicas de suporte aos atletas em todos os aspectos de sua carreira, a Austrália construiu um celeiro de talentos. Celeiro este que tentará buscar novamente o top-3, conquistado uma única vez em casa (Melbourne 1956), nos Jogos de Los Angeles 2028 e Brisbane 2032.

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