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Saúde mental, medalha em Paris e futuro: um papo franco com Isaquias Queiroz

Alexandre Loureiro/COB

*com Gabriel Sanches

Um dos grandes nomes do esporte olímpico brasileiro, Isaquias Queiroz foi um dos mais requisitados pelos jornalistas na festa de recepção dos atletas do time Petrobras. E ele falou com o Surto Olímpico e em uma conversa franca não se esquivou de nenhum assunto. Ele deu mais detalhes de como foi o seu esgotamento mental em 2023, o que fez pedir ajuda para se mudar de Lagoa Santa (MG), local do centro de treinamento da seleção,  para sua terra natal, Ubaitaba na Bahia

"O que tive foi um pouco de falta de vontade, falta de desejo de estar ali treinando, não sentia mais aquela paixão pela canoagem. Tava muito estressado, muita raiva, às vezes 'estourava' em casa com meu filho. Mas graças a Deus eu fui para Bahia descansar um pouco, aproveitar o clima de lá que eu amo muito. E tive a ajuda da da Confederação, comitê olímpico (COB), do Flamengo e dos meus patrocinadores, que aceitaram e ajudaram na minha decisão de sair da seleção e poder passar o ano 2023 em casa." explicou Isaquias, que explicou em seguida como a rotina incessante de treinamentos da canoagem o esgotou mentalmente:

"Lá eu pude relaxar um pouco, aproveitar um pouco mais da minha vida, que eu nunca tinha feito isso porque quando era novo não tinha dinheiro pra isso. E depois saí cedo de casa para a seleção, e desde então na seleção foi 100% treinando pesado, terminava uma competição começava outra, começava um Mundial, ficava de férias um mês, só depois voltava tudo de novo. Então foi muito corrido, foram 15 anos da minha vida que passou em um piscar de olhos, né? Então isso vinha me desgastando bastante e ainda bem que eu consegui dar uma reviravolta nessa questão"

Isaquias também contou como o apoio de todos já citados (Confederação Brasileira de Canoagem, COB, Flamengo e patrocinadores) foi fundamental para que ele pudesse voltar aos poucos a treinar na Bahia e destacou a importância da atividade física na melhora da sua condição psicológica

"Lógico que a gente sabe que hoje quando a gente fala de saúde mental tem muitas outros problemas mais graves que o meu, né? Mas para mim, que foi um problema mais 'local',  foi muito importante para eu poder ver quem tava do meu lado, quem me apoiou. O comitê (COB) ajudou bastante, botou uma raia para mim lá na Bahia e eu acho que também é a canoagem, que antes tava me sobrecarregando, me ajudou também. Se antes não tava sentindo mais vontade (de treinar), lá pude ir na água só para fazer uma remadinha, fazer uma atividade física no início e isso me ajudou bastante. Acho que fazer uma atividade física ajuda muito quando você passando por estes problemas.  E também acho que a questão de voltar minhas raízes me ajudou bastante para poder me reconectar comigo e com o esporte de novo."

Alexandre Loureiro/COB


Isaquias também falou como pretende lidar com o próximo ciclo para que a rotina de treinamentos não o sufoque como aconteceu neste ciclo de Paris, e para isso ele pretende investir na sua qualidade de vida, para poder se desligar um pouco da canoagem nos momentos de folga:

"Talvez o grande problema da nossa modalidade é que tem muito mais treinamento do que competição.  Lauro (de Souza júnior, o Pinda, seu treinador)  já tinha programado esse ano de 2025 ser um ano mais tranquilo. Se eu não ganhar a medalha no Mundial desse ano, tudo bem, o objetivo do ciclo é a olimpíada. Mas isso eu vou deixar com ele. A gente vai conversar ainda. Mas pra esse ciclo eu, depois de morar com a seleção, em apartamento alugado, vou ter minha própria casa em Lagoa Santa, do jeito que eu quero, com conforto, área gourmet, piscina, videogame, TV pra poder assistir um jogo, uma outra modalidade, e sair mais dessa coisa de só treinar e competir na canoagem, ter meu momento de lazer também. Acho que isso vai me ajudar a chegar melhor a Los Angeles, mas até lá quero desfrutar mais do esporte, chegar nos campeonatos mais leve nesse ciclo olímpico."

E o ciclo olímpico de Los Angeles deve ser o mais tranquilo para Isaquias, embora ele saiba agora surgiu um ' rival' pode destroná-lo do C1-1000m: Mateus Nunes Bastos, que segundo Isaquias, será o termômetro para saber se ele ainda brigará por pódios em Los Angeles:

"Eu quero ir para Los Angeles, mas não sei se vou chegar lá. Se o Mateus chegar 'arregaçando' tudo nesse ciclo? Porque quando o cara é bom mesmo, no primeiro ano de 'senior' dele ele já chega ganhando tudo e todos. O Mateus tem muito talento, mas espero não deixar ele ganhar nada por enquanto, porque isso vai significar que eu tô no topo ainda. mas quero que ele evolua bastante também até lá. Mas até Los Angeles vai ter muita água pra remar ainda."

Claro que não deixamos de perguntar sobre sobre a incrível final no C1-1000m, onde ele fez uma arrancada impressionante pulando de quinto lugar para a medalha de prata. E Ele admitiu que a prova não saiu como o planejado, e teve que fazer rapidamente a mudança de planos para fazer a super arrancada:

"Dentro de um competição olímpica o plano muda. Às vezes você pega uma eliminatória ou semifinal mais forte, aí você chega na final mais desgastado. Mas na final a gente estava planejando não ser tão conservador,  saindo desde o início brigando pelo primeiro lugar, mas acabou que não saiu do jeito que eu queria e aí tive que dar aquela subida. Muita gente já tinha me falado que tinha jogado a toalha, pensando que eu não ia conseguir e de repente me viram começar a subir e é assim. Sempre acontece alguma coisa que não tava  planejado e a gente vai recalculando a rota rapidamente em questão de segundos para poder fazer o nosso melhor."

Isaquias admite que ao rever a prova, sentiu muita agonia no início da prova por ter ficado lá trás, mas curtiu muito as narrações de Everaldo Marques pela TV Globo e Rômulo Mendonça pela Cazé TV:


"Eu assisti a prova depois, mas mas me deu muito agonia assistir aquele início, porque eu fiquei muito pra trás. Mas depois foi bem legal. Eu já tinha falado com a galera da Cazé TV sobre que negócio é esse de gostoso (risos) e com o Everaldo (Marques), agradecendo muito aos dois por transmitirem a emoção da prova para cada um que tava assistindo, porque deu outra cara para a prova. O jeito que o pessoal da Globo e da Cazé Tv transmitiram, o pessoal das rádios também, foi muito legal mesmo."

E sobre ter sido ultrapassado por Rebeca Andrade, que agora é a maior medalhista olímpica do Brasil (ela tem seis medalhas contra cinco de Isaquias), Isaquias já jogou a toalha, admitindo que ela tem tudo para se isolar ainda mais no posto:

"Meu objetivo é chegar em Los Angeles e tentar ganhar mais uma ou duas medalhas. Só que não quero pensar em Los Angeles ainda, tem muita coisa pra rolar até lá. Mas em relação a Rebeca, não tem como chegar mais nela não (risos). Não sei quantas provas ela vai querer fazer, mas tomara que ela vá e ganhe muitas medalhas, porque a gente sabe se ela for disputar quatro provas em Los Angeles é capaz dela ganhar medalha nas quatro, ela é muito competente, a maior do esporte olímpico. E quanto mais ela ganhar melhor para todo o esporte olímpico, que aumenta a divulgação" disse Isaquias, que concluiu contando os seus próximos planos para esse fim de 2024:

"Agora quero descansar, aproveitar esse 'hype' todo da medalha para ver se a gente arruma mais patrocinadores (risos) e divulgar mais a nossa modalidade por aí "


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