Gilvan de Souza / Flamengo |
A disputa do Troféu Brasil de Judô, torneio interclubes nacional com 504 atletas e 83 clubes do país inteiro, entregou as primeiras medalhas do dia para as categorias leves, com destaque para os títulos de Natasha Ferreira e Rafaela Silva, além de derrota de Michel Augusto.
Além do título nacional individual e o de melhor clube no geral, os judocas também brigam por vaga em competições internacionais, como confirmou a Confederação Brasileira de Judô (CBJ), através de fundo de investimento, potencializando a competição interna na seleção brasileira para o ciclo olímpico de Los Angeles-2028, nos EUA.
Para essa sexta-feira, 01, foram selecionadas as categorias -48kg, -52kg, -57kg e -63kg para as mulheres e -60kg, -66kg e -73kg para os homens. No sábado, 02, vão ser contestados os pesos pesados e no domingo, 03, o Grand Prix, competição mista entre equipes. Confira os melhores posicionados do dia e as falas dos campeões sobre as conquistas e a preparação para a nova etapa da busca pelo ouro olímpico.
SURTE+: Conheça o Troféu Brasil e o Grand Prix Nacional de Judô
-48kg Feminino
A primeira campeã do dia foi Natasha Ferreira, da Sociedade Morgenau (MOR), a judoca olímpica, eliminada na estreia em Paris-2024, derrotou a atleta do Instituto Tiago Camilo (SCS), Hanna Nascimento, por ippon. A luta foi controlada por Natasha e encerrada por dominação.
Após a luta, Ferreira falou sobre a medalha e os primeiros passos no novo ciclo olímpico, "é minha primeira competição depois dos Jogos Olímpicos - no Brasil-, então eu tô muito feliz de ter conseguido a medalha de ouro e começar o ciclo de Los Angeles da melhor maneira possível".
A judoca falou sobre a briga interna por uma vaga na seleção da categoria -48kg, "eu acho que a gente ter briga interna dentro do país é a melhor forma da gente conseguir crescer, se a gente tá lá isolado, sozinho, a gente parece que não tem motivação, não tem porque tá treinando. Então eu adoro essa competição interna e para mim faz com que eu fique mais forte, que treine mais, que eu chegue lá fora representando ainda melhor o meu país".
A réporter do Surto, Natália Oliveira, ouviu a fala da Natasha sobre Ana Alexia de Camargo, sua treinadora, "eu adoro ter a Alexia do meu lado, ela é atleta também. A gente poder representar o judô feminino que é muito grande também na parte técnica, porque hoje ela é dominada pelo masculino ali, então é muito bom a gente ter mulheres que nos representem e que estejam ao nosso lado também chegando ao topo".
A disputa dos bronzes da categoria mais leve entre as mulheres coroou Mariana Nunes, do Instituto Reação (REAÇÃO), que derrotou a judoca Clara Carvalho, do SESI-SP, e Laura Ferreira, do Clube Athletico Paulistano (CAP), que bateu Clarice Ribeiro, do Minas Tênis Clube (MTC).
-60kg masculino
Na primeira final masculina, o judoca Crhystian Silva, do Clube Paineiras do Morumby (CPM), venceu o atleta da seleção brasileira Michel Augusto (CAP) por waza-ari no golden score. O atleta havia sido prata no ano passado e sobe ao lugar mais alto do pódio na edição atual, ganhando oportunidade de competir internacionalmente, como comentou
"Essa vitória foi muito gratificante, essa longa trajetória que eu tive, estava pensando em subir de peso, mas comecei a seguir dieta certinho, fizemos um trabalho para poder sair daqui hoje e começar o ciclo bem. Agora vou ter a oportunidade de viajar com a seleção brasileira e buscar Los Angeles 2028, nos EUA - palco dos próximos Jogos Olímpicos -, vamos com tudo, tô com a cabeça boa, vamo que vamo."
Anderson Neves/CBJ |
O judoca completou a fala, "ano passado eu bati na trave, no Troféu e no Brasileiro, eu fiquei muito feliz com a vitória de hoje. Antes de uma luta nós ficamos muito nervosos, ainda mais com o Michel, um excelente adversário, então se ele entrar desligado, vai tomar pontuação. Conversei com os meus sensei, (...)vamos acertar nesses pontos, pra não errar nesses, e essa cara fechada foi só de concentração, sou bem espontâneo."
Os terceiro-lugares do peso ligeiro masculino foram para o Esporte Clube Pinheiros (ECP), primeiro Gabriel Arruda venceu Erick Kaneda, São João Tênis Clube (SJTC), que recebeu três shidô e foi eliminado, logo depois, Roger Pereira superou João Correia (CAP) no golden score.
-52kg Feminino
Jéssica Pereira (REAÇÃO) conquistou o ouro da categoria -52gk feminina sobre Gabriela Conceição (MTC) no golden score. A luta foi tensa e muito brigada entre as judocas, o tempo regulamentar se esgotou e a disputa foi para o ponto de ouro. Após três minutos de tempo extra, com as duas atletas penduradas com dois shidôs, Gabriela recebeu a terceira punição e foi eliminada, garantindo o ouro para Jéssica.
A campeã conversou com a imprensa sobre a final, "eu não estava pensando em ganhar por três shidôs, eu sempre busco tentar jogar, ganhar de ippon, mas a luta é muito dura e foi decidida no detalhe. Sou muito grata por sair com essa medalha de ouro, na competição que é a mais forte do Brasil. Sensação de dever cumprido, eu treino muito pra competição e to voltando de uma lesão, então para mim é muito gratificante e sinto que o trabalho está sendo feito da forma certa".
Na disputa do bronze, abrindo as finais da categoria, Amanda Lima (MTC) superou a judoca Nicole Marques, do Academia Espaço Marques (AEM), que saiu machucada da luta, e Yasmin Lima (REAÇÃO) derrotou Giovana Shimada (SESI).
-66kg masculino
O judoca Ronald Lima (ECP) conquistou a medalha de ouro ao vencer o judoca do Grêmio Náutico União (GNU), Henrique da Silva por ippon em mobilização. O campeão levou a luta até o limite do tempo regulamentar, já com o cronômetro zerado, Ronald imobilizou Henrique por 20 segundos e se sagrou o grande vencedor.
Após a luta, Lima falou sobre a vitória, "consegui representar muito bem, colocar em prática o que a gente vinha treinando no clube, isso só serve como gás pra continuar treinando todo dia. O mais difícil não é chegar, é se manter, então os anos vão passando e vai ficando mais difícil, você vira alvo da categoria, tive meu primeiro título e consegui manter - nessa edição".
Ocupando os terceiros lugares, João Batista (CAP) e Iago Oliveira (MTC) venceram Paulo Rodrigues (KIA) e Bruno Nóbrega (ECP), respectivamente, para alcançarem o bronze no primeiro dia de competições.
-57kg feminino
Na categoria leve feminina, a atleta Jéssica Lima, da Sociedade de Ginástica de Porto Alegre (SOGIPA), foi vitoriosa na decisão sobre Shirlen Nascimento (MTC). Jéssica contra-golpeou Shirlen faltando dois minutos para o fim do tempo inicial e abriu 1x0 com waza-ari, a atleta resistiu e manteve a superioridade para ser campeã da chave.
Muito emocionada, Jéssica comentou sobre a perda da vaga na seleção olímpica, a superação pessoal e como foi ganhar o ouro no Troféu Brasil, "esse ouro pra mim veio como uma resposta de Deus, pra continuar firme nesse início de ciclo. Eu acabei perdendo a vaga olímpica na "finalera" e pouco se fala da dor do atleta que não conseguiu atingir."
Então, voltar foi muito difícil, duvidei que eu encontraria a alegria no judô novamente, mas graças a Deus, ele me devolveu hoje, foi um dia muito difícil, ainda não tô no meu 100% e parecia que ia dar tudo errado, tive que travar uma guerra interna muito grande, mas eu acho que minha mente venceu, meu corpo quis me boicotar, mas não deixei não", continuou Lima.
Sobre a seleção brasileira e o ciclo para LA-2028, Jéssica dissertou, "bom, o ciclo de Paris eu não tinha colocação nenhuma. Era meu primeiro ano em seleção sênior e fui seguindo passo a passo, acabei alcançando voos que nem eu acreditava que eu alcançaria. Então, Paris eu comecei fazendo por fazer, como se eu estivesse seguindo um plano.
"Uma amiga minha, a Milena, falou que talvez tivesse faltado convicção desde o início. Como era nova no meio, eu me assustei um pouco. Hoje, mais madura, mais experiente, eu tenho essa convicção. Só que são provas, a gente vai ser provado o tempo inteiro. Então, acho que para esse ciclo eu venho com a convicção de não deixar dúvidas e crer desde o início que pode dar certo", fechou a atleta.
Anteriormente, Rafaela Batista, do Flamengo (CRF), conquistou o primeiro bronze ao superar Gabriele Sogabe, da Assoc. Yamazaki de Judô de S.J. Campos (AYJ), enquanto Bianca Reis (ECP) venceu Gabrielle Gonzaga (MTC) na outra disputa.
-73kg masculino
Na última decisão masculina dessa sexta-feira, 01, Vinicíus Ardina (SESI) derrotou Júlio Koda Filho (MTC) para se sagrar campeão nacional de judô. A luta se estendeu com disputa árdua entre os judocas, com 29s para o fim do tempo regulamentar, Ardina projetou Koda para o chão e pontuou um waza-ari. Sem recuar, Vinicius marcou um ippon e venceu Júlio na decisão.
O judoca medalhista de ouro falou sobre a vitória, "de derrotas e vitórias, essa medalha é pra fechar o ano, tô muito feliz, esses sonhos de dever cumprido, e é comemorar agora com os pais, com a noiva, com todos eles. Eu agora nem lembro, vou ter que ver o replay, mas acho que eu fiz um "sodê", um golpe manga-manga, um golpe que eu não tava conseguindo acertar nos treinos, mas de tanto treinar saiu aqui. A sensação é inexplicável, tô muito feliz mesmo, não sei explicar o sentimento, quero só sair pulando, gritando, essa é a sensação do momento."
Para receberem as medalhas de bronze, Michael Marcelino (SESI) e Guilherme de Oliveira (CPM) aplicaram ippon em seus rivais, que terminaram na quinta posição geral, Claiton Faria (GNU) e Thawã Frade (REAÇÃO), respectivamente.
-63kg feminino
Fechando a sessão de finais, a bicampeã mundial e olímpica Rafaela Silva (CRF) venceu luta disputadíssima contra Erika Ferreira (REAÇÃO) no golden score. A atleta do Flamengo inicia processo de adaptação na categoria peso-médio, antes atleta do -57kg, e ganha o título nacional na estreia no -63kg no Brasil.
Para a repórter do Surto, Natália Oliveira, Rafaela comentou o processo de mudança de categoria de 57 pata 63kg, "eu comecei a competir nessa categoria de 57kg em 2008, então tem uma longa estrada, conquistei Mundial e olimpíadas, se fosse em questão de títulos, de resultados, eu poderia parar aos 24 anos. Mas eu quero competir, eu quero entregar o judô, foi uma coisa planejada. Venho fazendo um trabalho para subir de categoria, para me adaptar, porque as meninas são um pouquinho mais fortes fisicamente. Eu tô focada e a gente ainda tá no meio do processo."
Além disso, Silva comentou os desafios desse período pós-olímpico, "depois da olimpíada, ainda (tive) muita agenda, eu não consegui até hoje completar uma semana inteira de treino, né? Mas eu tinha esse compromisso com o meu clube, vim aqui representar da melhor maneira possível. Foi diferente porque eu já tinha lutado antes nessa categoria antes, mas sabendo que é a minha categoria oficial, ficou aquela "será que agora que a vera vai", mas graças a Deus deu tudo certo."
Anderson Neves/CBJ |
A judoca encerrou projetando o ciclo até os Jogos de Los Angeles-2028, "eu quero buscar mais um ciclo olímpico, é muito duro pras pessoas que acompanham de fora, acham que passa muito rápido. Fala, "ah Los Angeles está logo ali", mas às vezes num mês a gente tem duas, três competições. E eu perdia entre seis e oito quilos em duas, três semanas. Você ficar perdendo isso, eu acredito que não vai ajudar muito, então para o treinar bem, me sentir à vontade, eu tô buscando aí novos objetivos nessa minha nova categoria."
Os últimos bronzes do dia foram para Eduarda Bastos (SESI), que bateu a atleta do CRF Melanie da Silva, e Ketelyn Nascimento (ECP) ao superar a rival de Pinheiros, Nauana Silva.
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