Pela primeira vez o Brasil terá quatro representantes de simples no Grand Slam australiano. Historicamente, o Aberto da Austrália é o pior Grand Slam dos brasileiros, antigamente os fatores econômicos e logísticos pesavam para às vezes nem levarmos representante. Nossos títulos na Austrália foram nas duplas femininas com Maria Esther Bueno em 1960, Bruno Soares nas duplas masculinas e mistas, ambas em 2016, e mais recentemente em 2023 com Luisa Stefani e Rafael Matos. O único título em simples foi com Tiago Fernandes em 2010 no juvenil.
Na atual edição, teremos a nº 1 do Brasil, Bia Haddad Maia e atual #16 do mundo, e o nº 1 no masculino, Thiago Wild e atual #76, que se classificaram diretamente pelo ranking. Juntam-se a eles, Thiago Monteiro #106 e João Fonseca #113 que passaram por 3 rodadas de qualificatório sem perder sets.
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Bia, Wild, Monteiro e João. Fotomontagem: Carlo Saleme. |
Bia Haddad Maia
O momento não é dos mais favoráveis para a Bia, após um bom final de 2024 que culminou no título do WTA 500 de Seul, ela não começou bem a temporada. Perdeu os dois jogos na United Cup para a chinesa Xinyu Gao, à época #170 do mundo e também perdeu para a sua parceira de duplas, a alemã Laura Siegemund. Ela também foi eliminada na chave de simples do WTA 500 de Adelaide na estreia por Madison Keys, tendo ganho apenas 3 games da norte americana. Ela defende os pontos da 3ª rodada no Australian Open.
A Bia estreará contra a qualifier argentina Julia Riera #147, elas nunca se enfrentaram. Riera tem apenas 22 anos, é bastante promissora, hoje ela é a terceira melhor jogadora do seu país no ranking da WTA. Diferentemente de suas compatriotas, Julia tem um jogo bastante agressivo e de boa mobilidade na quadra dura. É uma estreia complicada para Bia, que se não fizer um jogo que passe pelas suas ações ofensivas pode se complicar bastante.
Segunda rodada:
Saisai Zheng #688 ou Erika Andreeva #86: a chinesa é uma jogadora que obteve mais sucesso nas duplas, mas em 2024 resolveu jogar mais simples, desde 2024 acumula 12 derrotas e 1 vitória. Quem deve passar aqui é a jovem russa de 20 anos, Erika Andreeva. A russa evoluiu de 2024 para cá, mas não vejo a 2ª rodada tão problemática para Bia quanto a estreia. Contra qualquer uma das duas, o confronto seria inédito.
Terceira rodada:
Veronika Kudermetova #77 / Olivia Gadecki #106 / Rebecca Marino #98 / Katie Boulter #23: na 3ª rodada a adversária muito provavelmente deverá ser a Katie Boulter, com quem Bia tem um retrospecto bem ruim de 1-3. Das quatro, a britânica é o maior risco para a brasileira. Marino vem em bom momento e pode surpreender a própria Katie, assim como a russa Kudermetova que sabe jogar muito bem na quadra dura e tem 2-2 contra Bia.
Oitavas de final:
Nesta fase, muito possivelmente a adversária sairá de Jasmine Paolini #4 ou Elina Svitolina #29. A italiana Paolini é uma pedra no sapato da Bia. Desde que a venceu em Dubai no ano passado, a carreira das duas tiveram destinos bem diferentes, Paolini chegou em duas finais de Grand Slam e venceu o ouro olímpico de duplas femininas, enquanto Bia só foi jogar bem e ter bons resultados na gira do US Open. Elas se enfrentaram 3 vezes, com 3 vitórias para Paolini. Svitolina não joga desde agosto, está sem ritmo de jogo, o que a torna uma incógnita, mas é o nome mais pesado depois de Paolini deste quadrante, ela e Bia nunca se enfrentaram. O único nome que pode surpreender deste lado é Caroline Dolehide #82, a estadunidense soma 6 vitórias nos últimos 7 jogos, saiu do quali e perdeu na final no WTA 250 de Guangzhou no final de 2024.
Thiago Wild
O nº 1 do Brasil entrou em quadra pela última vez em outubro/24. Em novembro, fez uma cirurgia para retirada de três hérnias no abdômen e um cisto no ombro, levando-o a ficar cerca de 30 a 45 dias sem treinar; por este motivo decidiu não jogar nenhum torneio preparatório para o primeiro Grand Slam do ano. Em 2024, Wild foi eliminado na primeira rodada do AO para Andrey Rublev no tie-break do quinto set.
Ele vai estrear contra o húngaro Fabian Marozsan #57. Eles já se enfrentaram no Masters 1000 de Indian Wells em 2024 com vitória por duplo 6/2 para o húngaro. Marozsan tem um jogo de fundo muito bom, com bolas potentes e muita mudança de trajetória, um estilo até semelhante ao do brasileiro. Porém, Wild está com menos ritmo de jogo e não se sabe se está 100% após a cirurgia. Considero o Marozsan favorito para este duelo.
Segunda e terceira rodada:
Caso avance, Wild deverá enfrentar na 2ª rodada o norte americano Frances Tiafoe #17, que não vem em boa fase, sua última boa campanha foi a semifinal do US Open 2024. Numa hipotética 3ª rodada, ele pode enfrentar o seu algoz do ano passado Andrey Rublev #9, o tricampeão de Grand Slam Stan Wawrinka #158, o italiano Lorenzo Sonego #54 ou seu compatriota João Fonseca #113.
Thiago Monteiro
O cearense Thiago Monteiro começou o ano perdendo para Alexander Zverev na United Cup por duplo 6/4 e depois fez uma ótima campanha no quali do Australian Open, furando sem perder set. Monteiro vem jogando cada vez melhor no piso rápido, com um ótimo aproveitamento de primeiro saque e com uma média de aces maior do que o seu normal. Tem variado mais o jogo, usado bem os slices e subido à rede. Este vai ser o seu 24º Grand Slam.
Monteiro vai encarar na estreia o experiente japonês Kei Nishikori que já foi top 4 em 2015 (na época do Big 3), e hoje ocupa a posição de nº 74 do ranking da ATP. Nishikori combateu diversas lesões nos últimos anos e vem tentando encontrar o seu melhor tênis, ele foi recentemente vice campeão do ATP 250 de Hong Kong. Eles se enfrentaram uma vez, na 1ª rodada de Wimbledon em 2019 com vitória para o japonês em sets diretos. É uma estreia difícil, mas vejo com boas chances uma classificação do brasileiro, se valendo do seu físico melhor hoje em dia e do seu saque aprimorado.
Segunda e terceira rodada:
Em caso de avanço, o seu adversário na 2ª rodada pode ser Tommy Paul #12 que vem ano a ano melhorando o seu jogo e seu ranking, extremamente adaptado às quadras rápidas; eles nunca se enfrentaram. Numa eventual 3ª rodada, ele provavelmente encararia Alejandro Tabilo #23, com quem Monteiro tem o retrospecto de 1-0 ou Roberto Carballes Baena #59, que tem incríveis 6 derrotas para o brasileiro, embora, todas elas no saibro.
Oitavas de final:
Monteiro nunca chegou em uma oitavas de final de Grand Slam, sua melhor campanha foi uma 3ª rodada em Roland Garros 2020, porém, apesar da chave difícil, a começar pela estreia, Monteiro vem jogando bem e no último ano conseguiu 3 grandes vitórias contra tenistas do alto escalão, como Holger Rune, Stefanos Tsitsipas e Casper Ruud. E o Ruud, cabeça de chave nº 6, é um dos possíveis adversários nesta fase, juntamente de Jakub Mensik #49, Juncheng Shang #50 ou Felix Auger-Aliasime #29.
João Fonseca
A sensação
João Fonseca vem de dois títulos nas últimas semanas,
o Next Gen ATP Finals (torneio que reunia os 8 melhores sub-20 de 2024) e o
Challenger 125 de Camberra, conseguiu furar um quali de
Grand Slam pela primeira vez, depois de ficar na última rodada do
US Open 2024 e na 1ª rodada de
Wimbledon do mesmo ano.
O carioca vem de 13 vitórias seguidas, sendo 8 delas em sets diretos. Ele tem jogado um tênis de primeira linha, que vem impressionando o mundo do esporte e está com muita confiança, ritmo de jogo e pronto para debutar em sua primeira chave principal de Grand Slam. A grande dúvida acerca do João nesses primeiros Grand Slams é a questão física e mental de experimentar pela primeira vez partidas de melhor de 5 sets, o que torna o jogo muito mais desgastante, ainda mais para um jovem de apenas 18 anos.
João vai estrear contra o cabeça de chave nº 9 Andrey Rublev, uma estreia muito dura, evidente, mas o João tem suas reais chances de avançar, dado o momento técnico e tático. Obviamente, o favoritismo está com o russo, embora a sua fase não seja de encher os olhos, sua última boa campanha foi em agosto/24, onde alcançou a final do Masters 1000 de Montreal e perdeu. No ATP Finals, último torneio de 2024, Rublev perdeu os seus 3 jogos no grupo. Antes disso, foi eliminado em rodadas iniciais para tenistas, como: Francisco Cerundolo, Stan Wawrinka, Jakub Mensik e Yunchaokete Bu.
Rublev tem um jogo muito agressivo, um forehand que anda muito, mas tem um histórico de se desestabilizar muito fácil e nos primeiros sinais de fraqueza, algo que João pode explorar. João é o azarão, vai jogar leve, solto, em uma quadra grande, tudo que ele gosta. Pode perder de 3 x 0 que estará no lucro, mas por que não acreditar em mais um feito?
Segunda e terceira rodada:
Caso consiga quebrar a barreira da estreia, ele tem uma segunda rodada entre Lorenzo Sonego #54, que ele já venceu no ano passado em sets diretos no ATP 250 de Bucareste ou Stan Wawrinka #158, o que seria um verdadeiro duelo de gerações. Na terceira rodada pode ter um duelo doméstico com Thiago Wild que o João tem retrospecto de 1-0, Fabian Marozsan #57 ou Frances Tiafoe #17.
Oitavas de final:
Nas oitavas de final, caso o João siga fazendo história, o seu adversário seria o russo Daniil Medvedev #5, um especialista em quadra rápida e 3 vezes finalista do Australian Open.
1 Comentários
Quantas informações importantes sobre o tênis, excelente escrita!
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