Maya Gabeira anuncia aposentadoria (Foto: Reprodução) |
O anúncio da aposentadoria de Maya Gabeira, aos 37 anos, em janeiro de 2025, marca o fim de uma era no surfe de ondas gigantes. Após duas décadas dedicadas a enfrentar os maiores desafios do oceano, a brasileira deixa um legado incomparável. Recordista mundial, pioneira no cenário feminino e inspiração para gerações, Maya transformou não apenas o surfe, mas também a percepção global sobre a força, resiliência e coragem das mulheres no esporte.
Do Rio de Janeiro para o mundo
Maya Gabeira é natural do Rio de Janeiro (Foto: Reprodução / Instagram) |
Filha das águas cariocas, Maya começou a surfar aos 14 anos, encontrando no mar um refúgio e um desafio. Seu talento e determinação logo a levaram além das praias do Rio de Janeiro. Aos 17 anos, com um sonho de encarar as maiores ondas do planeta, mudou-se para o Havaí, berço do surfe de ondas gigantes, onde começou a construir sua reputação.
Em um esporte tradicionalmente dominado por homens, Maya não apenas encontrou seu espaço, mas o transformou. Aos poucos, ela quebrou barreiras, provou que as mulheres podiam competir nas mesmas condições extremas e, assim, abriu portas para uma nova geração de atletas femininas.
Cumpri o meu propósito. Quando comecei essa vida era impensável que uma mulher competisse com homem, que uma mulher fosse surfar a maior onda do ano entre homens e mulheres, que Nazaré existisse, que recordes mundiais para mulheres existissem. Tanta coisa mudou. Há tantas mulheres hoje em dia. Sou muito orgulhosa e honrada por ter sido parte da transformação dessa indústria, desse esporte, desse estilo de vida.
Conquistas históricas e recordes mundiais
Maya Gabeira surfou a maior onda já surfada por uma mulher (Foto: Reprodução) |
A carreira de Maya Gabeira foi marcada por feitos extraordinários. Entre 2007 e 2010, ela conquistou o prêmio de Melhor Performance Feminina no Billabong XXL Global Big Wave Awards por quatro anos consecutivos, reconhecimento que solidificou sua posição entre os melhores do esporte.
O ano de 2018 foi um divisor de águas. Maya entrou para o Guinness World Records ao surfar uma onda de 20,7 metros em Nazaré, Portugal, um feito que forçou o Guinness a criar uma categoria feminina para registrar a conquista. Dois anos depois, em 2020, Maya superou sua própria marca, surfando uma onda de 22,4 metros no mesmo local, consolidando-se como a maior surfista de ondas gigantes da história.
Muito obrigado por prestar atenção em mim, me enviarem suas energias, seus pensamentos, seu amor, seu apoio. Senti isso, e me mudou em tantos jeitos. Eu deixei o Brasil tão jovem e não sabia o que faria da minha vida. Vivi em muitos países. Aprender diferentes línguas, aprender diferentes culturas, diferentes trabalhos, de escritora a ativista. Tive tantas oportunidades incríveis no meu caminho e sou muito grata.
Nazaré: o palco de seus maiores feitos
A Praia do Norte, em Nazaré, tem uma das maiores e mais perigosas ondas do mundo (Foto: WSL) |
A vila portuguesa de Nazaré tornou-se sinônimo de Maya Gabeira. Suas ondas gigantes, formadas por um fenômeno geológico único, são conhecidas como algumas das mais desafiadoras do mundo. Maya não apenas quebrou recordes em Nazaré; ela desempenhou um papel fundamental na popularização do local como um dos principais destinos globais do surfe de ondas gigantes, atraindo atletas e fãs de todo o mundo.
Esse é meu último mês em Nazaré e estou curtindo cada momento. Não há nada como acordar e pensar: 'Essa pode ser a última vez que vejo ondas como essas.' Sabe, ser ressuscitada e ter uma experiência real de como quão rápida a vida pode ir embora.
Superação após o acidente de 2013
Maya Gabeira quase morreu em um acidente em Portugal (Foto: Ana Catarina) |
Mas nem tudo foi glória na carreira de Maya. Em 2013, durante uma tentativa de quebrar o recorde mundial em Nazaré, sofreu um acidente quase fatal. Após cair de uma onda gigantesca, perdeu a consciência e precisou ser resgatada e reanimada por socorristas. O episódio deixou marcas físicas e emocionais profundas, mas também demonstrou sua incrível resiliência.
Depois de um longo período de recuperação, incluindo cirurgias e fisioterapia, Maya retornou ao surfe com ainda mais força. Sua volta triunfal foi um testemunho de sua determinação inabalável e da paixão pelo esporte.
Transformação do surfe feminino
Maya Gabeira não foi apenas uma atleta; ela foi uma revolucionária. Quando iniciou sua carreira, era raro ver mulheres competindo em ondas gigantes. Hoje, graças à sua influência, há categorias femininas em competições importantes, mais visibilidade para as atletas e um aumento significativo no reconhecimento público e financeiro para as mulheres no surfe.
Além disso, Maya usou sua plataforma para lutar por igualdade de gênero, sendo uma voz ativa em campanhas sociais e ambientais. Sua contribuição vai além das ondas, transformando o esporte em um espaço mais inclusivo e sustentável.
Digo isso para as pessoas que me apoiaram, me ajudaram e para as pessoas que me desafiaram, me criticaram, por vezes me odiaram, mas eu entendo. Eu era osso duro de roer. Eu queria demais, queria aprender e queria viver coisas que nem todo mundo entenderia o porquê, mas fiz. Foi difícil para mim não me sentir ferida às vezes, mas tudo serviu seu propósito.
“Maya and the Wave”: Uma jornada nas telas
Maya and the wave (Foto: Divulgação) |
Em 2024, a trajetória de Maya foi imortalizada no documentário Maya and the Wave, dirigido por Stephanie Johnes. O filme revela os bastidores de sua vida como atleta, desde os desafios enfrentados até as vitórias que a transformaram em uma lenda. A produção explorou tanto os aspectos técnicos de sua carreira quanto os emocionais, mostrando o preço de viver no limite.
O filme pode ser assistido no MUBI.
Curiosidades sobre Maya Gabeira
- Começou a surfar aos 14 anos no Rio de Janeiro.
- Mudou-se para o Havaí aos 17 anos para perseguir o sonho de surfar ondas gigantes.
- É fluente em português, inglês e francês, reflexo de sua carreira internacional.
- Foi incluída na lista da BBC das 100 mulheres mais influentes do mundo em 2020.
- É uma defensora ativa de causas ambientais e da igualdade de gênero no esporte.
Cronologia dos momentos mais marcantes
- 2007-2010: Quatro vezes vencedora do prêmio Billabong XXL na categoria Melhor Performance Feminina.
- 2013: Sofre acidente quase fatal em Nazaré.
- 2018: Entra para o Guinness Book ao surfar uma onda de 20,7 metros.
- 2020: Bate seu próprio recorde, surfando uma onda de 22,4 metros.
- 2024: Lança o documentário Maya and the Wave.
- 2025: Anuncia sua aposentadoria, encerrando uma carreira lendária.
O legado de uma lenda
Maya Gabeira sai de cena como uma das maiores figuras da história do surfe. Seu impacto vai muito além dos recordes e prêmios. Ela mudou a forma como o mundo vê o surfe feminino, inspirando mulheres a desafiar limites e reescrever as regras. Em sua despedida, Maya deixa uma mensagem poderosa: “Nunca subestime a força de um sonho e a coragem de persegui-lo.”
Enquanto se afasta das competições, Maya promete continuar ativa como escritora, ativista e influenciadora global. O mundo do surfe, porém, sempre guardará um espaço especial para a brasileira que ousou desafiar os maiores gigantes do oceano.
Entrei no surfe para me entender e pela liberdade que me dava. E estou me afastando do surfe me sentindo tão livre, com a mente tão livre, com o coração tão completo. Não tenho arrependimentos. Sei que escolhi a carreira certa. Obrigada por fazer parte disso.
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