Últimas Notícias

Surto História: O trágico fim das primeiras campeãs olímpicas da ginástica artística feminina

 

Em preto e branco, delegação feminina neerlandesa da ginástica posa para a foto oficial
Foto: COI

Neste dia 27 de janeiro de 2025, é celebrado o Dia Internacional em Lembrança as Vitimas do Holocausto. Ele é celebrado todo 27 de janeiro porque foi nesse dia em 1945, que as tropas soviéticas chegaram a Auschwitz-Birkenau e libertou o campo.

O esporte não passou ileso pelo genocídio de cerca de 6 milhões de judeus cometido pelos nazistas. No total, 64 pessoas, entre atletas, árbitros e treinadores olímpicos, foram assassinados apenas pelo fato de serem judeus. 

Destes 64, houve mortos nos campos de Auschwitz/Birkenau, Dachau, Bergen-Belsen, Bulchenwald, Theresienstadt, Mauthausen-Gusen, Sachsenhausen, Banjica, Majdanek, Zavidovo, Natweller-Sturthof, Chernihiv, Hinzert, Breendonk, Neuengamme e Sobibor.

O número poderia ser maior, mas muitos também conseguiram sobreviver. Um exemplo é Shaul Ladany, da marcha atlética, que além de ter conseguido escapar do genocídio, voltou a Alemanha para disputar os Jogos de Munique-1972, chegando a vestir a estrela amarela a qual os judeus eram obrigados a usar na guerra, durante a competição.

Surte +: Conheça a história de Shaul Ladany

Neste Surto História, contaremos a história do time de ginástica dos Países Baixos campeão olímpico em Amsterdã 1928 que teve parte de suas atletas e seu técnico assassinados nos campos. 

O ouro em Amsterdã 1928

Os Jogos de Amsterdã 1928 foram os primeiros a ter a categoria feminina no programa olímpico da ginástica artística, tendo apenas a disputa por equipes. A pontuação era a soma das apresentações de solo, salto e aparelhos. 

As neerlandesas conseguiram no total 316,75 pontos, à frente da Itália com 289,00 e Grã-Bretanha, com 258,25. As 12 integrantes da equipe campeã eram: Estella Agsteribbe, Jacomina van den Berg, Alida van den Bos, Petronella Burgerhof, Elka de Levie, Helena Nordheim, Anna Polak, Petronella van Randwijk, Hendrika van Rumt, Judik Simons, Jacoba Stelma e Anna van der Vegt. Todas comandadas por Gerrit Kleerekoper.

O técnico Gerrit Kleerekopper (Foto: Yad Vashem)


A performance da equipe encantou a todos os presentes no Estádio Olímpico de Amsterdã, levando a torcida anfitriã a loucura.  

"Tudo foi feito com muito cuidado até o último detalhe. Ótimo material - não tão pesado - composto de lógica, perfeitamente executado com classe, uma sequência e liderança maravilhosa , em uma palavra sublime. (...) O júri ficou entusiasmado e premiou as ginastas de Kleerekoper com a pontuação toal de 316.75 points, deixando as outras equipes longe. Com esse sucesso mais que merecido, as ginastas foram as primeiras mulheres campeãs olímpicas nos Países Baixos. Às 17h15, a bandeira neerlandesa flutuava sobre o Estádio Olímpico e o Hino Nacional soou sobre todo a área central", relatou a imprensa na época. 

A perseguição nazista

Em maio de 1940, os nazistas invadiram e ocuparam os Países Baixos, botando em prática tudo o que já faziam na Alemanha e nos outros territórios ocupados, de segregar os judeus e acabar com os seus direitos. Em setembro de 1941, os judeus foram proibidos de praticar esportes, mas mesmo assim, elas continuaram treinando no "Bato", maior clube judeu de Amsterdã, até ele ser fechado no ano seguinte.

No verão de 1942, os nazistas começaram a deportar os judeus neerlandeses para o leste europeu, com destino aos campos de concentração, sobretudo os localizados na Polônia. Quatro atletas e o treinador da primeira equipe feminina de ginástica campeã olímpica, entraram nos trens rumo ao sombrio fim que os esperavam.

Judik Simons morava em Utrecht e mudou para Amsterdã após a invasão nazista junto com as crianças e o staff de um orfanato do qual eles eram donos na sua cidade natal. Ela foi presa junto de seu marido, dois filhos e todos do orfanato (crianças e funcionários). Em 20 de março de 1943, ela chegou ao campo de Sobibor, onde foi assassinada, assim como sua família e as crianças órfãs das quais ela cuidava.

Quem também morreu em Sobibor foi sua companheira de equipe, Helena Nordheim e o treinador Gerrit Kleerekoper. Junto de sua filha e seu marido, Helena foi presa e depois deportada. Na mesma leva, estavam Gerrit, sua esposa e sua filha de 14 anos. Assim que chegaram, foram mortos. 

Anna Polak foi deportada para o campo polonês após dois meses detida nos Países Baixos, chegando a passar por dois campos no seu país natal. Em 20 de julho de 1943, começou a ser deportada para Sobibor, onde chegou no dia 23 e lá foi morta junto de sua filha de seis anos.

Estella Agsteribbe foi presa em julho de 1943 e em setembro foi deportada para Auschwitz e assim que chegou ao campo foi direto junto de seus filhos, Nanny (6 anos) e Alfred (2) para a morte. Seu marido, deportado na mesma, conseguiu viver mais um ano, mas acabou morto em abril de 1944.

De todas as atletas judias da equipe, uma conseguiu sobreviver ao genocídio. Elka de Levie. A ginasta conseguiu se manter morando nos Países Baixos e acabou falecendo em Amsterdã no ano de 1979. 

0 Comentários

Digite e pressione Enter para pesquisar

Fechar