Por mais que muitos digam que o Brasil é fraco de ídolos esportivos, resumindo-nos apenas aos do futebol, isto é uma grande mentira ou falta de conhecimento do próprio país neste âmbito. O Brasil é recheado de ídolos dos mais diversos esportes, e muitos deles estão divididos em eras, tivemos a era de ouro do basquete, do vôlei, do vôlei de praia, da vela, da natação, agora estamos em uma era da ginástica artística, skate, surfe e vamos adentrar na era do tênis mais uma vez, já que no passado tivemos Maria Esther Bueno e Guga como bastiões da modalidade
Foto: Divulgação/CBT. |
Estamos diante de um nome que tem todas as ferramentas (técnica, tática, física, mental, postural, atitude e um carisma fora do comum) para se colocar como um ídolo do Brasil no futuro. E diferentemente de outros grandes nomes que tivemos, poderemos acompanhar cada passo, vivenciar essa experiência do início ao fim. Podemos ser parte disso e buscar entender todo o processo que vai alçá-lo até este posto. Por que estou falando tudo isso?
Porque o tênis é um esporte extremamente difícil; posso dizer com muita tranquilidade que dos esportes com bola (seja do tamanho e formato que for) é o mais difícil que tem. É um esporte cruel em que geralmente se perde mais jogos do que se ganha, e com toda certeza perde-se mais torneios do que se conquista, fora que você vence uma partida, e no dia seguinte já tem que jogar novamente, ganha-se um título no domingo, e dois dias depois muitas das vezes já tem que estar em quadra de novo, pouco se saboreia as vitórias e as taças, porém tem que esquecer e aprender com as derrotas na velocidade da luz.
Além disso, é um esporte cujas carreiras são longas, hoje em dia um tenista de primeira linha com os cuidados com o corpo, a mente e o avanço da medicina consegue estender por muito mais tempo do que no começo do século, por exemplo, o Guga oficialmente se aposentou aos 31 anos, mas já com 27 anos não conseguia mais jogar no seu alto nível devido a três cirurgias no quadril. Então, no caso do João, poderemos acompanhar a carreira dele por pelo menos mais uns 15 anos.
Diferentemente de outros esportistas brasileiros em alta que aparecem de formas mais espaçadas ao longo do ano e ganham a maior repercussão possível nos Jogos Olímpicos, o caso do João Fonseca é bem diferente. No tênis você tem visibilidade o ano inteiro, em semanas de Grand Slam (Australian Open, Roland Garros, Wimbledon e US Open) e Masters 1000 ainda mais. De 52 semanas no ano, o tenista compete de 30 a 40 semanas neste nível, isso significa que toda hora o João estará sob os holofotes da mídia e torcida, muito mais propenso a críticas e badalações.
Por isso é tão importante saber acompanhar e entender esta verdadeira jornada. João perderá muitos jogos, jogos estes em que será favorito, da mesma forma que ganhará vários outros em que não será o favorito - já vem fazendo isso, por sinal. O carioca com apenas 18 anos já acumula 3 títulos de Challenger (Lexington, Camberra e Phoenix), uma categoria de torneios mais baixa que os da ATP, conquistou o Next Gen-ATP Finals que reuniu os 8 melhores tenistas sub-20 do ano de 2024, e recentemente venceu o seu primeiro ATP, o 250 de Buenos Aires.
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Títulos do João em ordem cronológica. Fotos: ATP. Fotomontagem: Carlo Saleme. |
Fora os títulos, em seu segundo ATP disputado chegou em uma quartas de final (o Rio Open de 2024), já venceu jogo em chave principal de Masters 1000, ambos os feitos quando tinha apenas 17 anos. Jogou sua primeira chave principal de Grand Slam aos 18 anos furando o quali e vencendo na estreia um top 10. João é o único tenista nascido em 2006 no top 100. São números bem representativos e que já colocam ele como uma realidade, não mais uma promessa, e isso aos olhos do mundo internacional do tênis. São diversos tenistas, ex tenistas, multicampeões de Grand Slam e especialistas que projetam nele um dos grandes nomes do esporte por muito tempo.
Além das conquistas em quadra, João pode alavancar o esporte como um todo no país. Se a CBT (Confederação Brasileira de Tênis), poder público, empresas, mídias não souberam aproveitar o efeito Guga, acredito que hoje estamos mais prontos para aproveitar o fenômeno Fonseca. Tênis está no top 5 dos esportes preferidos do brasileiro, segundo pesquisa realizada em 2024 pelo Resenha Digital Clube; é o quinto esporte mais praticado no mundo e o quarto mais visto, tem uma margem de crescimento muito grande no nosso país, e ele pode ser um expoente disso, além de inspirar novas gerações de tenistas.
E é assim que o fonsequismo cultural será instaurado no Brasil, termo este que o perfil Tênis Além do Óbvio usou ao se referir sobre o jovem brasileiro quando ele ainda era só um garoto de 14 anos se destacando em torneios juvenis, vale lembrar que João terminou a carreira juvenil como nº 1 da categoria ao vencer o US Open juniors de 2023. Particularmente falando, o meu primeiro contato com o João veio pela internet através deste perfil, e no Rio Open de 2023 quando ele tinha 16 anos o vi jogar pela primeira vez ao vivo, foi em uma partida de quali de duplas ao lado de Mateus Alves, e ali eu constatei que ele era realmente muito diferente. De lá pra cá tem sido um prazer e uma alegria acompanhar, analisar, documentar e torcer por este talento geracional do Brasil.
Faço um convite a você que está lendo este texto a fazer o mesmo; vibre, torça, acompanhe, vale a pena e valerá ainda mais. Saiba respeitar o processo, entenda o esporte da melhor forma possível, não projete nele as suas frustrações, não vá nas redes sociais destilar ódio quando vier a perder um jogo ou um título, faça críticas respeitosas e construtivas, não destrutivas - e isso serve para todos os atletas.
João Fonseca vai chegar onde ele sonha, que é ser campeão de Grand Slams (no plural mesmo) e ser número 1 do mundo, ele só vai ter o tempo dele. Eu quero fazer parte disso, de alguma forma. E você, quer? Ou prefere ser a pessoa que torce contra, que só sabe falar mal e duvidar? Contudo, eu aposto que mesmo você sendo esse tipo de pessoa, quando chegar o momento dele, você também vai querer ser parte disso e falar que é fonsequista desde pequeninho.
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