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Bárbara Domingos: O sonho enfeitado por arco, maças, bola e fita

 

Foto: Ricardo Bufolin/CBG

Bárbara Domingos tem um capítulo só dela na história da ginástica rítmica brasileira. Ela fez um ciclo histórico em Paris 2024. Ela acumulou ouros no Pan de Santiago 2023, foi a primeira brasileira a medalhar em Copa do Mundo no individual. Se classificou para os Jogos Olímpicos após ser finalista no Mundial de 2023 e na Olimpíada, conseguiu uma inédita final para o país. 

A paranaense começou muito cedo, há 20 anos. Ela tem 25, o que mostra o quão cedo ela entrou nesse ramo. A ginástica rítmica é um exemplo perfeito da junção entre dança e esporte. Nela, ainda há o desafio de fazer com os aparelhos, que são: fita, arco, maças e bola, além da corda no juvenil. 

Ela começou dançando, em casa mesmo, segundo a própria, ela não parava em casa e isso vem muito também do seu gosto por música. 

“Nossa, eu não parava em casa, tipo, quieta. Acho que dança sempre foi algo que eu sempre gostei. Música, principalmente. Toda hora eu estou escutando uma música. Então, acho que isso já faz parte do meu cotidiano desde criança”.

Babi sempre foi ginasta, mas curiosamente, mesmo ela estando desde criança na rítmica, seu começo foi na artística, mas logo fez a mudança. A principal razão para a troca foi a dança e ela admite que ficou encantada em dançar com os aparelhos.

“Bom, eu comecei com 6 anos e, literalmente, eu troquei a ginástica artística para a ginástica rítmica por conta disso, da dança, por causa da música. Acho que a ginástica em si chama muita atenção de muitas crianças pelo fato da dança, do aparelho. Cativa muito o fato da gente conseguir dançar junto com o aparelho. Então, é algo que me encantou, me chamou muita atenção”, explicou.

A realização do sonho olímpico

Foto: Ricardo Bufolin/CBG


Aquela menina que começava a dar seus passos (a (ponta) do pé da letra) já tinha um sonho grande, o de ser atleta olímpica e ela conta que a cada treino, o sonho era ainda maior e aconteceu. 

“Sempre foi meu sonho ser uma atleta olímpica, desde pequena. Mas era um sonho, sabe? E com o tempo, acho que eu fui vendo o que realmente um atleta olímpico precisaria passar, treinar, enfim, para chegar lá e querendo ou não, isso a cada dia aumentou muito mais o meu sonho. Lógico, era um sonho, a gente não sabia se ia dar certo,  mas realmente eu nunca imaginei estar onde eu estou.

Até mesmo posso dizer que alguns anos atrás, um, dois anos, eu nunca imaginei que eu poderia ser uma atleta que conseguiria a primeira medalha em uma Copa do Mundo. A gente via como algo muito distante.  A gente sabia que era possível estar ali sempre,‘ nossa, aquela ginástica do Brasil é bonita’, Nos comentários das pessoas.

Mas a gente nunca imaginou realmente ser uma atleta medalhista na Copa do Mundo. Finalista, então, nem se fale. Era algo realmente muito distante da nossa realidade, mas a gente trabalhou muito, trabalhou muito, e eu acho que isso é fruto de muito treino, dedicação, que a gente conseguiu”.

Alto rendimento

Mas o nível onde ela chegou não é qualquer um, é o das maiores, o alto rendimento. Ela admite que quando passou para a seleção, teve dificuldade, mas ela seguiu dançando e pegou o ritmo exigido agora, estando completamente acostumada. 

“Eu entrei na seleção com 16 anos, para mim ali foi um choque de realidade totalmente diferente, em questão de treinamento, tudo, passei de ser uma ginástica do clube para ser uma ginástica do clube e de uma seleção.

Realmente foi uma mudança muito drástica, eu diria, mas que hoje eu vejo que já virou normal, já virou rotina para mim”. 

Babi também diz ter se acostumado com a mistura do balé com o esporte. Como quando ela está fazendo um movimento com um plié ou um attitude e de vez em quando, a treinadora até chama a atenção para que os passos saiam os mais limpos possíveis.

“Para mim se tornou tão natural que às vezes a gente nem pensa,  mas a gente vê que muitas coisas do balé estão muito presentes na ginástica rítmica. Questão de ritmo também, querendo ou não, a gente aprende já desde o balé isso, questão de poder escutar música, de ver, até de ter presença (de palco)  também, de fazer uma cabeça, de um olhar, então isso já vem desde o balé.  Eu mesmo faço balé desde pequena, então para a gente se torna mais fácil isso”.

Presença de palco

 

De collant vermelho, Bárbara Domingos coloca mão no peito e está com a bola na mão direita. Ela é morena
Foto: Ricardo Bufolin/CBG

A interpretação da música durante a série é fundamental e é chamada no mundo da dança, principalmente no de espetáculos e shows, de presença de palco. Essa é a presença a qual Babi se refere. Ela conta que o balé também ajudou nisso e afirma que isso varia entre as ginastas.

“Presença de competição, acho que vai de cada menina, acho que cada menina tem um jeito eu tenho o meu jeito particular, assim, então acho que vai muito de cada ginasta”; 

O curioso é que ela não precisa forçar carisma ou treinar tanto a presença porque pra ginasta, já veio de uma certa forma, naturalmente.

“É normal para mim, tipo, é igual eu falei, acho que cada ginástica tem um jeito, então para mim é muito natural, muito tranquilo”, comentou.

Produção das séries

Ela estreará  duas séries novas esse ano e contou que a série não é feita só pela sua técnica. Conforme o seu amadurecimento e sua evolução, a série começou a ser montada junto com ela, agora sendo em conjunto por elas. É importante que esteja bem confortável para a ginasta.

“De uns anos para cá, acho que estando mais madura também,  isso mudou muito. Quando eu era pequena, realmente, era a técnica que eu montava, eu fazia do jeito que ela montava. No adulto, a gente monta sempre juntas. Sempre me perguntam, ‘está confortável para você? ‘ Não está, vamos mudar.  Então, a gente sempre entra nesse consenso.

Então, todo momento, toda troca de qualquer movimento da série, a gente sempre está ali trocando juntas para saber, o que fica melhor para mim. Tem também a questão das notas também, não adianta a gente mudar o que for confortável para mim,  mas não vai ler tanto quanto a gente quer na questão de notas. Então, é sempre algo conjunto até, de montar a série, de escolher música, é tudo muito junto”.

Escolha das músicas

Babi Domingos celebra ano histórico e projeta Mundial no Brasil: "Vamos orgulhar nosso país"
Foto: Ricardo Bufolin/CBG 

Ela teve uma série na fita que fez muito sucesso, que era “Bad Romance’’, com um arranjo especial do musical “Moulin Rouge”. O curioso é que a escolha dessa música veio de terceiros, que enxergaram potencial nela. Essa série fez tanto sucesso e agradou tanto ela, que não foi fácil trocar.

“Bad Romance não foi nem a gente que encontrou essa música, foram terceiros que falaram ‘nossa, olha essa música, é incrível’ e a gente escutou e adorou. E, assim, já vou dar um spoiler. Foi muito difícil eu querer trocar essa série, mas eu acredito que já estava na hora já, três anos usando a mesma música, já estava na hora de eu investir em outro estilo”.

Mas essa não era a única música do universo do teatro musical que ela usa. A do arco é “Ciclo sem Fim”, do “O Rei Leão”. Babi admite que gosta muito de musicais, mesmo ainda não tendo conseguido ver um ao vivo. A ginasta conta que se inspira nas cenas dos espetáculos para montar suas séries.

“Eu gosto bastante, assim, não que eu tenha assistido, nunca assisti um musical nem nada, mas, das vezes que a gente tirou essas músicas, eu sempre quis muito ver o que acontecia durante o musical, durante a cena, para saber também o que eu poderia colocar dentro da minha série”.

Séries favoritas

Ela conta que as suas duas novas séries, já estão entre as duas favoritas, porque trazem elementos desafiadores e que não são aqueles que ela costumava fazer, entrando também outros estilos.

“As novas, as duas novas são as que eu mais gosto. Arco e maças, eu também gosto, mas são do ano passado. As novas eu acho que fogem um pouco do que eu estava acostumada a fazer e do que eu já mostrei fora do país”. 

“Então, assim, talvez demore um pouco para o pessoal se acostumar, mas eu queria mostrar esse lado diferente, sabe? Esse ano a gente tentou abordar totalmente diferente, tem também a questão da música, da gente conseguir também fazer vários estilos.”

Novo código

Babi ainda falou sobre o novo código, que ajuda as atletas na questão física, já que o do ciclo de Paris 2024 exigia bastante das atletas, com ela sofrendo bastante depois de uma lesão no quadril. 

“O código mudou agora, eu diria para melhor. Eu mesma, como já tenho uma cirurgia no quadril direito, tenho um problema no quadril esquerdo,  o código do ano passado, ele machucava muito. Tinha que fazer muita repetição, porque a gente tinha as dificuldades mistas. Então, tinha que treinar muito. Isso acabou, querendo ou não, forçando muito mais o quadril de todo mundo. Muitas ginastas, com esse código do ciclo passado, tiveram muitas lesões. 

“Eu diria que o código agora, não sei como ele vai estar daqui no final do ciclo, mas agora, nesse momento, eu diria que é um código que está muito mais tranquilo para a gente, assim, sabe? É um código que talvez não vá ter tantas lesões, ginastas. Eu acho que a vida útil das ginastas dentro do esporte em si, - porque é um esporte que a gente se aposenta muito cedo - vai aumentar muito”. 

Machucados e lesões

No alto rendimento, as lesões acabam sendo normais e rotineiras, tanto que na ginástica, há quem diga que depois que começou a carreira, nenhum ginasta fica 100%. Bárbara teve a sua primeira lesão aos 15 anos. Sobre lidar com isso, é preparo e apenas isso. 

“É muito difícil você entrar num esporte de alto rendimento e terminar ele sem nenhuma lesão, é impossível. Durante a sua carreira você vai ter muitas lesões,  eu mesma diria que a minha primeira lesão foi em 2015, que foi quando eu rompi os ligamentos do meu pé esquerdo. Realmente, querendo ou não, você coleciona medalhas, competições, mas também coleciona lesões, Acho que isso é o mais comum de todos os esportes.

E a gente tem que lidar da melhor forma possível. A gente sabe que a gente está suscetível a isso. Porque, como eu falei, a gente faz um treinamento de alto rendimento, então, é normal, a gente sempre tem que estar muito bem com o nosso corpo, muito bem preparado fisicamente, tudo, bem forte em questão de academia, tudo, pra gente aguentar a carga de treino”.

Maior repercussão da GR

Por muito tempo, a ginástica rítmica foi vista como um esporte “bonitinho” ou gracioso, mas isso está mudando aos poucos. Com ajuda dos resultados de Babi, Maria Eduarda Alexandre, Geovanna Santos e o conjunto do Brasil, a imagem da modalidade está mudando e Bárbara comentou sobre.

“Eu acho que ele tem um olhar totalmente diferente, acho que tanto pra nós brasileiras, indo pra uma competição, quanto também pra mídia, querendo ou não, eu falo até hoje que antigamente o nosso esporte não era conhecido, ainda é pouco conhecido perto dos outros, porque muitas vezes eu chegava e falava, ah, eu faço ginástica rítmica.

’É igual da Rebeca?’ Eu falava, não, gente, isso não tem nada a ver com a Rebeca, não dou mortal, não faço nada. Então, infelizmente, a gente tinha essa carência das pessoas saberem, ter esse conhecimento, e hoje em dia eu vejo que elas têm um pouquinho mais, ainda confundem,  mas eu vejo que é diferente e eu tenho certeza que isso vai crescer a cada dia. Acho que isso realmente é fruto dos nossos resultados”.

Ídolos e referências

Foto: Lionel Bonaventure/AFP

Ela tem como grande referência a israelense Linoy Ashram, a primeira desde Los Angeles 1984, a ser campeã olímpica de ginástica rítmica sem ser do leste europeu. Ela foi campeã europeia e tem uma prata e dois bronzes em Campeonatos Mundiais na disputa do individual geral, que é a prova olímpica. Babi também tem como referência, Boryana Kalaeyn, da Bulgária.

“Eu, desde sempre, desde antes dela ser campeã olímpica pra mim, sempre foi a Linoy Ashram, de Israel. E depois, na Olimpíada, no ano passado, pra mim, foi a Boryana. Ela não foi campeã, mas pela história dela em si. Como a gente do Brasil (seleção) vai muito pra Bulgária,  então, querendo ou não, a gente pode ver muito de perto, assim, sabe? E eu fiquei muito feliz por ela, ter conseguido.

Ela é uma ginasta que quando a gente vê em competição a gente conversa, assim, (18:20) então, tipo, eu fiquei muito feliz dela ter conquistado o que conquistou. Então, querendo ou não, pra mim, também ela é uma inspiração


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