Surto História: 25 anos de Sydney-2000 e o ‘trauma’ brasileiro

A Olimpíada na Austrália foi a última que o Brasil saiu sem nenhuma medalha de ouro e causou trauma em muita gente

Comitê Olímpico Australiano
Comitê Olímpico Australiano

Em 15 de setembro de 2000 começavam os jogos Olímpicos de Sydney, o segundo em solo australiano. Uma olimpíada marcante em muitos sentidos, por conta de momentos históricos como de Cathy Freeman unindo uma nação e fazendo ela rever o seu passado, as duas coreias desfilando juntas pela primeira vez após a sua separação, Ian Thorpe assombrando e Eric Moussambani encantando o mundo, Marion Jones também assombrando e depois envergonhando o mundo por conta do doping. Mas o trauma maior ficou para o povo brasileiro, que ficou madrugadas e manhãs torcendo por um ouro que não veio.

E a expectativa era alta. Os jogos Pan-americanos de Winnipeg em 1999, tiveram ampla cobertura televisiva e com o bom desempenho brasileiro, todo mundo esperava que pelo menos parte do sucesso na Austrália. A Rede Globo, inovou com música- tema cantada pelo Pato Fu e o Zé do Pulo, um mascote interativo com voz do famoso dublador Mario Jorge.

A Expectativa do COB na época era superar Atlanta-96 como a melhor campanha da história do Brasil em número de medalhas, e tinha bons motivos para isso – vela, vôlei, vôlei de praia, futebol, tênis e hipismo tinham grandes favoritos ao ouro, além de outros esportes que sempre traziam medalha como atletismo, natação e judô, este dois últimos de onde vieram as primeiras medalhas, com as pratas surpreendentes do jovem talento de 18 anos Tiago Camilo e de Carlos Honorato e do bronze com gosto de ouro do revezamento 4x100m livre formado por Gustavo Borges, Fernando Scherer, Carlos Jayme e Edvaldo Valério.

O fracasso do futebol

23 de setembro veio o primeiro baque, com a seleção de futebol masculino, comandada por Wanderley Luxemburgo e apenas com jogadores sub23 como Lúcio, Alex, Ronaldinho Gaúcho entre outros – o que causou polêmica entre os jornalistas especializados, sucumbiu para Camarões nas quartas de final, sendo que a seleção africana estava com dois jogadores a menos e conseguiu marcar na prorrogação, que era disputada no sistema gol de ouro. O treinador, que que também comandava a seleção principal, foi demitido do cargo.

A frustação dupla

Dois dias depois a decepção veio em dose dupla. Primeiro com Gustavo Kuerten, o Guga, que foi para os Jogos olímpicos com bicampeonato de Roland Garros na garagem e vinha em busca da medalha olímpica. E no dia 25 de setembro, ele encarou o russo Yevgneny Kafelnikov, um dos grandes rivais de sua carreira, mas com mais vitórias do brasileiro do que derrotas. Mas desta vez, o russo, apelidado carinhosamente por guga de ‘café no copo’ pelo som parecido da frase com o sobrenome, foi inapelável na quadra rápida, vencendo por 2 sets a 0 e acabando com o sonho do brasileiro em ter um ouro.

A segunda frustração do dia veio com a dupla multicampeã Adriana Behar e Shelda, que estavam em grande fase e encararam na decisão as australianas Cook e Pottharst, empurradas por uma arena lotada de 10 mil australianos. até aquele momento, em 17 confrontos, as brasileiras tinham vencido 14 vezes. No primeiro set, Behar e Shelda chegaram a abrir 11 a 8, mas as australianas salvaram três set points e venceram por 12 a 11 – na época o set das finais terminavam em 12 pontos – ainda tinha vantagem no vôlei de praia.

No segundo set, a dupla brasileira chegou a ficar próxima de vencer o set com 10 a 8, mas Cook e Pottharst viraram o jogo e no fim, fecharam em 12 a 10, levando o publico presente à loucura e os brasileiros à tristeza de mais um ouro escapando.

Vale tudo para deter Robert Scheidt

Ivo Gonzalez/ Agência o Globo

29 de setembro, mais uma frustração: Robert Scheidt, campeão olímpico em Atlanta-96, vinha como favorito ao bi na classe laser, mas tinha como o seu maior rival o britânico Ben Ainslie. Ele , que perdeu o ouro quatro anos antes, foi para o tudo ou nada. Na regata da medalha, Ainslie quis ter certeza de que Scheidt ficaria abaixo da 21ª colocação, e fechou Scheidt na abertura da regata, o forçando a perder tempo. O brasileiro atingiu o britânico, que continuava a bloquear o seu caminho e e foi no desespero tentar recuperar posições, chegando a terminar em 22º – Ainslie foi o 36º. Após a regata, Scheidt ainda foi desclassificado pelo choque com o britânico, ficando com uma prata bem frustrante.

A largada que custou o ouro

No dia seguinte, mais frustração na Vela. Marcelo Ferreira e Troben Grael lideravam com 5 pontos de vantagem na classe star e na regata da medalha, já tinham o bronze garantido e eram favoritos ao bi olímpico. Mas o barco da Nova Zelândia queimou a largada e a o barco brasileiro não retornou para um novo início , porque Grael não percebeu que era um largada falsa e seguiu em frente, com o barco sendo desclassificado. O resultado entrou entrou nos descartes e Torben e Marcelo acabaram pegando o bronze já garantido.

A refugada

E por fim, a maior frustração, a do hipismo. Como grandes favoritos caindo e outros com boas chances, também caindo, a responsabilidade do ouro foi caindo para Rodrigo Pessoa e Baloubet Du Rouet. Tricampeões mundiais consecutivos entre 98 e 2000 e que ajudaram o Brasil ganhar um bronze por equipes, repetindo o desempenho de Atlanta. No dia 25, Rodrigo ficou em 11º lugar no primeiro round e 28 de setembro, mais um segundo e um primeiro lugares nos rounds seguintes, avançando em primeiro para a final.

Comitê Olímpico Brasileiro

E veio a final, em 1º de outubro, último dia da olimpíada. Na primeira rodada da final, Baloubet e Rodrigo zeraram o percurso, indo para a rodada final precisando apenas zerar o percurso novamente, já que ninguém conseguiu essa façanha. Mas Baloubet teve um raro momento de insegurança e colocou uma palavra no vocabulário popular brasileiro, refugando três vezes no obstáculo 7, onde ele tinha passado nas outras vezes mesmo receoso, mas na última vez, ele não conseguiu. Rodrigo Pessoa terminou em vigésimo sétimo e Baloubet virou sinônimo de arregão no imaginário popular, até se reerguer com o próprio Rodrigo em Atenas

O Brasil saiu sem medalha de ouros, algo que tinha acontecido somente na olimpíadas de Montreal-1976. E Sydney foi a última vez que o Brasil saiu sem ouros, e quem viveu o trauma destes jogos, espera que colheita de ouros de quatro em quatro anos iniciada em Atenas continue eternamente.

Marcos Antonio

Marcos Antonio

Pai, Carioca, 40 anos, profissional de TI e cursando jornalismo. Um Fã de basquete e de todos os esportes olímpicos (e alguns não olímpicos também) que faz um trabalho de formiguinha para que todos eles tenham seu espaço. No Surto Olímpico desde 2012.
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