Coluna Coelho Olímpico: William Bonner, de saída do Jornal Nacional após 29 anos, comandou o telejornal durante oito Olimpíadas

César Tralli, o sucessor, atuou presencialmente como repórter em Atenas 2004 e Pequim 2008

Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

Por Lucas Felix

Nos últimos dias, poucas notícias de qualquer editoria foram tão comentadas quanto a sucessão no comando do Jornal Nacional. A TV Globo consumou a substituição de William Bonner, que será deslocado ao Globo Repórter, por César Tralli, que até então ocupava a titularidade do Jornal Hoje. Uma troca natural após 29 anos no ar, mas que inegavelmente impacta a rotina de um “boa noite” que está associado com a história recente do país. Na cadeira do JN desde 1996, Bonner liderou o principal noticiário do país durante os Jogos Olímpicos de Atlanta, Sydney, Atenas, Pequim, Londres, Rio de Janeiro, Tóquio e Paris. Esteve in loco em uma competição olímpica, porém, em apenas uma ocasião. Foi na cerimônia de abertura dos Jogos de 2016, quando tanto ele quanto Renata Vasconcellos estiveram no estádio do Maracanã fazendo uma espécie de pré-jogo da festa (teriam sido melhor aproveitados na repercussão pós-espetáculo, vale frisar). Na conquista inédita do ouro pelo futebol masculino, por exemplo, Renata conduziu toda a edição do Parque Olímpico, enquanto Galvão Bueno estava no Maracanã. O estúdio habitual nem foi acionado. 

Em 2020, Renata deveria ter ido até Tóquio nos planos originais da TV Globo, alterados pela pandemia. Em 2024, a dupla ficou na bancada durante a Olimpíada parisiense por uma questão puramente econômica, como já havia ocorrido na Copa do Mundo masculina de futebol no Catar dois anos antes. Nos tempos financeiros áureos, o próprio Bonner (1998) e suas parceiras Fátima Bernardes (2002, 2006 e 2010), Patrícia Poeta (2014) e Renata Vasconcellos (2018) estiveram nas sedes do Mundial da Fifa.

Se não deu sorte para a Seleção Brasileira de futebol na França, Bonner também não  logrou êxito pessoalmente ao cobrir a Copa das Confederações de 2013. Viajando com o time nacional pelo país, teve que voltar às pressas para o Rio de Janeiro conforme as manifestações de rua se intensificaram nas principais capitais. Não foi a primeira vez em que o JN se viu forçado a desidratar uma cobertura de um megaevento em solo brasileiro. Em 2007, foi a vez de Fátima Bernardes retornar aos estúdios no Jardim Botânico em meio aos Jogos Pan-Americanos do Rio, enquanto seu então marido viajou até São Paulo para repercutir o acidente aéreo em Congonhas. 

Se Bonner raramente foi até os grandes atletas brasileiros, a recíproca também é verdadeira – pela falta de convite da Globo, claro. A bancada do JN poucas vezes foi ocupada por esportistas. Entre os raros casos nessas quase três décadas, o fenômeno Ronaldo após a recuperação da lesão que quase o tirou da Copa de 2002, o tenista Gustavo Kuerten após a sua aposentadoria, o técnico de vôlei Bernardinho após o eneacampeonato da Liga Mundial, o nadador Daniel Dias após a Paralimpíada do Rio e os técnicos da Seleção de futebol após as convocações para as Copas entre 2002 e 2018 (Felipão em duas oportunidades, Carlos Alberto Parreira, Dunga e Tite). Como se vê, mais uma tradição que foi interrompida em 2022, assim como a exibição de perfis dos convocados em uma série especial. Será que esses elementos retornam em 2026, já com Tralli no ar e Cristiana Souza Cruz nos bastidores?  

Pelos links, contudo, William também conduziu conversas intermediadas pelos repórteres com grandes campeões. Foi assim com Rebeca Andrade no ano passado, logo após a ginasta se transformar na maior atleta olímpica da história brasileira. E com Gabriel Medina em 2014, quando o Brasil conquistou o seu primeiro título mundial no surfe e também o seu primeiro triunfo relevante globalmente em qualquer modalidade após a eliminação da Seleção de futebol da Copa em casa. O mesmo editor-chefe que ajudou na transformação do garoto de Maresias em herói nacional também reduziu progressivamente o espaço das conquistas seguintes, inclusive das dele próprio, contudo. 

Rebeca, por sua vez, ganhou uma deferência especial recentemente não no JN, mas no Globo Repórter, a futura casa de William. Até aqui, é a única atleta homenageada numa série especial conduzida por Sandra Annenberg para enaltecer grandes personalidades nacionais. Será que veremos William no comando do perfil de algum atleta em 2026? É mais uma questão em aberto. 

Em Paris, houve uma diminuição sensível nas vezes em que a Olimpíada propriamente dita abriu o JN na comparação com as duas edições imediatamente anteriores. Em Londres, a cobertura diminuta havia sido anunciada em editorial lido pelo próprio Bonner pela falta de aquisição dos direitos por parte do Grupo Globo para a TV aberta. 

Precisaremos aguardar as cenas dos próximos capítulos – ou melhor, as edições dos próximos jornais – para construir impressões sobre o pós-Bonner. O ocaso do esporte olímpico teria as suas digitais? Ou é um processo irreversível? Tralli, o sucessor, larga pelo menos com memórias olímpicas na mente, de quem esteve como repórter geral mostrando o impacto nas sedes dos Jogos de Atenas e Pequim. Torçamos para que ele ou Renata estejam em Los Angeles daqui a três anos, quando o JN vai precisar ser encaixado justamente no momento mais relevante das competições diárias.

Redação Surto Olímpico

Redação Surto Olímpico

Desde 2011, vivendo os esportes olímpicos e paralímpicos com intensidade o ano inteiro. Estamos por trás de cada matéria, cobertura e bastidor que conecta atletas e torcedores com informação acessível, atualizada e verdadeira.
Keep in touch with our news & offers

Inscreva-se em nossa Newsletter

Enjoy Unlimited Digital Access

Read trusted, award-winning journalism. Just $2 for 6 months.
Already a subscriber?
Compartilhe este post:

Comments

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *