Após 45 anos, Parlamento australiano reconhece esforço e dor dos atletas que decidiram competir nos Jogos de Moscou apesar da pressão política
Quase meio século depois, a Austrália finalmente reconheceu publicamente os atletas que desafiaram o boicote aos Jogos Olímpicos de Moscou 1980. Em cerimônia realizada no Parlamento, nessa quarta-feira, 30, os esportistas foram homenageados por sua coragem ao representar o país em meio à pressão política e à condenação pública.
A decisão do Parlamento encerra uma longa espera de 45 anos. Na época, o governo australiano tentou aderir ao boicote liderado pelos Estados Unidos, em protesto contra a invasão soviética ao Afeganistão. Muitas federações esportivas seguiram a orientação do governo, impedindo pelo menos 62 atletas de viajarem — dos quais 17 nunca se tornaram olímpicos.
Mesmo assim, 121 australianos decidiram competir em Moscou. O time conquistou nove medalhas, incluindo duas de ouro, com destaque para a nadadora Michelle Ford, campeã nos 800m livre, e para o revezamento masculino 4x100m medley.
O presidente do Comitê Olímpico Australiano, Ian Chesterman, celebrou o reconhecimento oficial e destacou o sofrimento silencioso dos atletas ao retornarem ao país, em vez de receberem homenagens, como tradicionalmente ocorre.
Michelle Ford, que tinha apenas 18 anos durante os Jogos, relatou que foi chamada de traidora, recebeu insultos e até ameaças de morte por competir em Moscou. Segundo ela, os atletas foram forçados a sair do país de forma discreta para evitar protestos e cobertura da imprensa.
Max Metzker, bronze na natação, também falou sobre o impacto emocional prolongado da decisão de competir, e afirmou que a homenagem pode ajudar a aliviar cicatrizes psicológicas que duram até hoje.
A cerimônia contou ainda com a presença de Ron McKeon, nadador em 1980, e seus filhos, os também nadadores olímpicos Emma McKeon — maior medalhista da história australiana — e David McKeon.
O primeiro-ministro Anthony Albanese prestou homenagem no Parlamento, reconhecendo tanto a participação esportiva quanto a dor emocional enfrentada pelos atletas. Para ele, a homenagem é uma reparação simbólica, reafirmando o papel desses esportistas na história olímpica da Austrália.
