Surto Opina – Como foi a primeira edição do SP Open? Sucesso ou fracasso?

Veja os pontos positivos, negativos, o que podem melhorar para futuras edições e as principais queixas e elogios do público que foi ao Parque Villa-Lobos para curtir o torneio e a experiência.

Foto: FOTOJUMP
Foto: FOTOJUMP

A primeira edição do SP Open marcou o retorno de grandes eventos do tênis feminino na principal cidade das Américas após 25 anos. De modo geral, São Paulo estava carente de eventos tenísticos, já não tinha mais o finado Brasil Open que teve sua última edição em 2019, e vivia apenas de eventos como Billie Jean King Cup e torneios Challengers e ITF. O que para uma cidade como São Paulo que possui uma grande gama de tenistas amadores e público que acompanha o esporte, significava uma grande perda de mercado e de potencial desperdiçado.

As tenistas brasileiras vinham em uma ascensão desde o bronze olímpico conquistado por Luisa Stefani e Laura Pigossi em Tóquio-2021; quase ao mesmo tempo, Bia Haddad começou a subir no ranking, ter resultados expressivos, títulos e campanhas memoráveis, como a semifinal de Roland Garros em 2023. Porém, 2016 marcou a última edição do Rio Open em conjunto com as mulheres, no mesmo ano marcou também a última edição do WTA 250 de Florianópolis. Sendo assim, as mulheres brasileiras ficaram quase 10 anos sem torneios femininos de grande nível no seu país.

Após muita pressão das próprias tenistas e público, o sonho de voltar a ter um torneio feminino no Brasil se tornou realidade. Ano passado o Surto Olímpico trouxe na coluna Surto Opina um texto sobre o momento do tênis feminino brasileiro, e a importância de aproveitar esse boom e a nova geração surgindo. Neste ano foi anunciado o torneio 250 em São Paulo com muita expectativa pelas jogadoras, público, imprensa e marcas patrocinadoras.

O objetivo deste texto é trazer a visão geral de como se saiu esta edição de abertura da competição, sobretudo do ponto de vista de torcedores e amantes do esporte. Os pontos positivos, negativos, melhorias que podem ser feitas para as futuras edições, ainda mais quando o torneio tem o objetivo de se tornar um 500 em breve, e muitas outras coisas, vocês verão aqui.

Localização:

O torneio ficou localizado em uma das áreas nobres da cidade, embora não seja uma das regiões centrais da cidade. Situado no Parque Villa-Lobos, um dos principais parques da cidade, com acesso pela Marginal Pinheiros, uma das principais vias de acesso por carro da capital. O parque fica a poucos minutos a pé da estação de trem Villa-Lobos Jaguaré e Cidade Universitária, ambas da linha 9 (esmeralda) da CPTM.

O portão principal foi o 6, que fica em frente ao tradicional Colégio Santa Cruz e para quem desembarcava na estação Cidade Universitária tinha que caminhar por volta de 14 minutos pelo Alto de Pinheiros, para quem optou descer na estação Jaguaré, podia caminhar por dentro do parque, no que era uma caminhada mais longa, porém, mais segura e agradável. Ainda tinha a opção de desembarcar em Pinheiros (linha 4 – amarela do metrô) e escolher ir de Uber/99 para o Parque, em uma corrida que em média dava em torno de 10 reais. Ao final do dia, tinha uma oferta grande de corrida de aplicativo e o transporte público via trem/metrô ainda estava em funcionamento, contudo pelo horário de encerramento já passar em sua maioria de 21h-22h, ficava perigoso ir caminhando até as estações, o que era um ponto negativo.

Nota: 5/5

Estrutura:

Para uma primeira edição e sendo um 250 dá para elogiar bastante a estrutura, foram 3 quadras de jogo, sendo a central com capacidade para 2500 pessoas, as outras duas eram realmente muito menores com capacidade para cerca de 250 pessoas cada. Eram mais quatro quadras de treino, sendo uma delas no meio do Boulevard, o que fazia com que as pessoas estivessem se divertindo, comendo, bebendo e assistindo as principais jogadoras treinando.

Por ser num parque, espaço não faltou para montar uma estrutura a altura do evento, e contou com a natureza e um espaço menos urbano para o torneio, o que agradou a todos que participaram, seja como expectador ou como jogadoras. As atletas foram unânimes ao elogiar todos os departamentos do torneio, quadras, organização, sala das atletas e fisioterapia, entre outros pontos.

Todos com quem conversamos sobre a estrutura, também foram muito elogiosos, mas trouxeram pontos de melhoria e atenção, como por exemplo, a jovem Giovana Mueckenberger que participou de seis sessões, segundo ela: “A estrutura apesar de ser muito boa, ainda pode melhorar. Poderiam haver mais pontos de hidratação, só encontrei 1 para todas as pessoas do torneio com apenas 2 torneiras. O Boulevard contava com muitas mesas, o que foi ótimo, mas talvez poderia ter mais áreas cobertas, se chovesse o espaço coberto seria pequeno. A quadra central é excelente e a visão da arquibancada muito boa, já a quadra 1 poderia absorver mais pessoas em sua arquibancada. A capacidade era em torno de 250 pessoas, muito pouco para os fãs interessados nos jogos dessa quadra, e quem entrava não ousava sair para não perder o lugar. Os banheiros apesar de improvisados, algumas portas não fechavam adequadamente, porém a limpeza e reposição de materiais de higiene se mantiveram durante todo o dia. Ao final do dia ficava um cheiro mais forte de urina mas acredito que tenha sido pelo fato do encanamento estar sobrecarregado.”

Nota: 4/5.

Serviços:

Assim que as pessoas adentravam ao parque já eram acolhidos e orientados por funcionários do torneio e do “Apoio ao Turista”, sempre muito simpáticos e atenciosos, isso se estendia até a entrada do evento em si. O serviço de limpeza se mostrou bem eficiente. O Boulevard do torneio contou com uma boa praça de alimentação com uma grande variedade, tanto de bebidas, como de alimentos, também possuía food trucks nos pedaços de rua que ligavam as quadras. No primeiro dia houve relatos de falta de reabastecimento de alimentos em alguns fornecedores, mas nos demais dias entenderam o tamanho da demanda, e isso não aconteceu mais.

Contudo, para o tamanho do público do evento é necessário ter ainda mais opções para não se perder tanto tempo de fila, ainda mais quando a pessoa sai para comprar algo com o jogo rolando e perde praticamente 1 set por conta de fila. Algo a se pensar no futuro é em ter mais opções de alimentação mais próximos da quadra central. O modo de ter um cartão próprio para o evento e ir recarregando é uma ótima ideia, e deixa essas situações mais práticas, assim também é feito no Rio Open. Outro questionamento válido é o preço de algumas coisas, não dá para uma pipoca custar R$ 15,00 enquanto a cerveja custa R$ 17,00 (inclusive, a cerveja foi um dos itens mais baratos de todo o evento).

Nota: 3/5.

Venda de ingressos/ocupação das quadras e complexo:

Os ingressos esgotaram-se rapidamente, as sessões 1 tinham preços acessíveis e o SP Open vendeu um ingresso chamado “ground pass” que dava acesso às quadras 1 e 2 para todos os jogos, menos para a quadra central, esse ingresso também fez sucesso. As quadras se viram bem cheias no geral, principalmente as menores. A central nos grandes jogos tinha uma ocupação quase total, o único setor que ficava mais vazio era o dos “vips”, atrás da quadra do lado oposto às cabines de transmissão.

Para as próximas edições, um ponto a ser feito é a ampliação das três quadras, e pelo que nós ouvimos, tem espaço para tal, além de também diminuir a quantidade de ingressos de apoiadores e patrocinadores, pois, claramente passa longe deles serem bem distribuídos. O complexo se viu cheio em todos os momentos, em muitos jogos as quadras ficavam menos ocupadas, mas os demais espaços do parque estavam bem cheios, com pessoas usando os serviços, e também passeando pelas ativações das marcas em estandes.

Nota: 3/5.

Torneio:

Levando em consideração que foi um torneio de nível 250 e em sua primeira edição, além de ser logo após o US Open e que ocorreu durante um WTA 500 (Guadalajara), dá para dizer que o torneio teve um nível bom de jogadoras, com boas partidas, surpresas e o principal, aparições grandes de brasileiras para o grande público, tanto o que acompanha mais o esporte, como o público mais casual. Provavelmente com a mudança de data e elevação de nível futuro, o torneio ganhará ainda mais poder de barganha para trazer jogadoras mais renomadas.

Vale lembrar que Ons Jabeur, três vezes finalista de Grand Slam, ótima jogadora e super carismática estava confirmada para vir a São Paulo, mas desistiu por questões de saúde. Seria um grande nome para essa estreia do SP Open, ainda mais levando em conta a grande comunidade árabe presente na cidade. Neste torneio em si foram sete jogadoras presentes no top 100 de simples, mas o grande nome era a dona da casa Bia Haddad.

Ainda segundo a expectadora, Giovana Mueckenberger: “De modo geral, foi um bom primeiro SP Open, com pontos de melhoria mas com bons jogos. A sessão 1 na quarta e quinta-feira foram prejudicadas por apresentarem jogos sem apelo emocional para os brasileiros, isso poderia ser melhor distribuído, e quem não conseguia ingresso para a sessão 2 precisava se lançar aos leões para tentar ver uma fresta da quadra 1. Não foi a final que desejávamos mas deu para criarmos simpatia por outras competidoras e apreciar o tênis como um todo.”

Ainda sobre essa questão da má distribuição dos jogos para a quadra Maria Esther Bueno nas sessões 1 nestes dias acima citados, muitas pessoas também reclamaram das escolhas da organização. Poderiam ter alocado o jogo da Luisa Stefani para este horário na quadra, mas preferiram deixar restrito para poucas pessoas na quadra 1, isso também é um ponto a ser melhorado para as futuras edições. Duplas brasileiras tem apelo e público para jogarem na principal quadra do torneio, ainda mais quando se trata de uma das melhores duplistas da história do país e medalhista olímpica.

Nota: 4/5.

Imprensa:

Foram mais de 174 jornalistas credenciados, inclusive internacionais. Mais de 170 países alcançados em quase 90 horas de transmissão. Para o Brasil teve transmissão do SporTV 3 com equipes de narração, comentários e reportagens in loco, assim como é feito no Rio Open. O canal entrava ao vivo para o primeiro jogo da quadra central e ia até o encerramento do dia.

A sala de imprensa tinha uma boa estrutura e no período da noite com os melhores jogos ficava muito cheia, mas ainda assim com espaço para todos trabalharem. Era um ambiente climatizado, com bom wi-fi (que funcionava até na quadra central para trabalhar enquanto via os jogos), muitas tomadas e contava com água, café, frutas à vontade, além de petiscos, sanduíches, snacks, entre tantas outras coisas. Um cuidado com a imprensa que em poucos eventos esportivos se vê.

Nota: 5/5.

Obviamente por todos esses pontos levantados e outros, o SP Open 2025 foi um verdadeiro sucesso, seja em nível técnico, audiência, público, sucesso também comercial, entre outros. Fora mais de 33 mil pessoas visitando o complexo ao longo dos 9 dias de competição, um Boulevard com 8 mil metros quadrados com 38 patrocinadores e 25 marcas ativando seus clientes. Além disso tudo, gerou 3500 empregos diretos ou indiretos para a cidade de São Paulo. Com isso tudo, a expectativa para 2026 só cresce, e a exigência do público também aumentará.

Carlo Saleme

Carlo Saleme

28 anos, profissional de marketing, analista e redator esportivo. Apaixonado por esportes (dos mais variados tipos) desde criança, muitas das minhas primeiras lembranças são envolvendo acontecimentos esportivos. No Surto desde 2023.
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