Para virar lei, a medida precisa ainda precisa ser aprovada pela Câmara e pelo Senado
Neste mês de outubro, a Comissão do Esporte da Câmara dos Deputados aprovou projeto de lei que prevê a oferta de curso de conhecimentos básicos de educação financeira para atletas. A obrigação será aplicada às organizações esportivas formadoras de atletas, sendo inclusive um requisito para que sejam reconhecidas como tal.
A proposta altera a Lei Geral do Esporte. O texto aprovado foi o substitutivo apresentado pela relatora, deputada Laura Carneiro (PSD-RJ), ao Projeto de Lei 3151/25, do deputado Da Vitoria (PP-ES).
Originalmente, o projeto propunha que o dever de prover curso de educação financeira fosse atribuído a todas as organizações direcionadas à prática esportiva profissional. Laura Carneiro, no entanto, argumentou que a medida implicaria um ônus excessivo, principalmente para as organizações de menor porte.
Apesar da observação, a relatora concordou com o mérito da proposta. “A maioria dos atletas profissionais, inclusive jogadores de futebol, enfrenta uma realidade de baixos salários, contratos de curta duração e períodos de instabilidade financeira, em que ficam desprovidos de renda. Tais dificuldades tendem a ser agravadas após o encerramento de suas carreiras no esporte”, considerou.
Agora, a proposição segue para análise da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania, em caráter conclusivo. Para virar lei, a medida precisa ser aprovada pela Câmara e pelo Senado.
Para especialistas, a carreira de um atleta é, em essência, a gestão de uma marca pessoal de altíssimo valor, mas com um ciclo de vida útil extremamente curto. “O sucesso de um atleta não deveria ser medido apenas por suas conquistas e números dentro de campo, mas pela sustentabilidade de seu legado. Atletas que enfrentam dificuldades financeiras após a aposentadoria não apenas sofrem em âmbito pessoal, mas também arranham a imagem que construíram, o que afeta, por consequência, a percepção de valor dos clubes e patrocinadores que um dia se associaram a eles”, analisa Thales Rangel Mafia, Gerente de Marketing da Multimarcas Consórcios.
De acordo com o executivo, a aprovação da proposta que visa implementar a educação financeira para atletas na base é um passo fundamental e merece aplausos pela nobre intenção. “Reconhecer que a esmagadora maioria dos atletas enfrenta uma realidade de instabilidade financeira é o primeiro passo para uma mudança nas condições de vida destes atletas e das suas famílias. Contudo, a forma como essa mudança é implementada pode ser a diferença entre um mero protocolo e uma verdadeira transformação”, diz.
Ainda segundo Thales Rangel Mafia, um ponto crucial é como transformar essa iniciativa de uma obrigação legal para um pilar estratégico. “A imposição de uma lei, embora bem-intencionada, arrisca-se a ser percebida como um fardo burocrático, especialmente para clubes menores, que são a base da pirâmide esportiva no Brasil. Isso pode gerar programas “para inglês ver”, que cumprem a formalidade, mas falham no essencial: a real capacitação do atleta. Por isso, entendo que a alternativa mais inteligente e estratégica é criar um ecossistema de incentivos. Em vez de punir quem não faz, deveríamos valorizar e recompensar quem faz bem.”
Para Thiago Freitas, COO da Roc Nation Sports no Brasil, empresa de entretenimento norte-americana, comandada pelo cantor Jay-Z, que gerencia a carreira de centenas de atletas, obrigações isoladas ou motivadas pela imposição de restrições não são saudáveis, mas essa, se associada ao fornecimento do certificado de clube formador, é válida e louvável.
“Caso se certifique uma instituição como formadora de um atleta, para que se beneficie desse certificado, e seja indenizada pelos serviços que oferece, implica formar não somente um adulto apto a praticar um esporte de alto rendimento, mas, também formar um adulto capaz de compreender e administrar as oportunidades e obrigações que uma carreira no esporte profissional traz, especialmente porque vários desses formadores certificados, descartam ou negociam transferências da maior parte dos jovens que alegam formar, ainda na sua adolescência, por vezes, sem qualquer conhecimento sobre como lidar com contratos vultuosos, ou com a dificuldade de firmar um novo”, analisa.
Claudio Fiorito, presidente da P&P Sport Management Brasil, especializada no gerenciamento da carreira de atletas, acrescenta: “A iniciativa é extremamente positiva e chega em um momento necessário. Muitos atletas começam a carreira muito jovens, sem qualquer preparo para lidar com questões financeiras. Incluir a educação financeira como parte da formação esportiva é garantir que esses talentos tenham mais autonomia e segurança para planejar o futuro, dentro e fora dos gramados.”
Ainda de acordo com Thales Rangel Mafia, Gerente de Marketing da Multimarcas Consórcios, é neste momento que a Lei de Incentivo ao Esporte e outras ferramentas de captação de recursos se tornam protagonistas. “Podemos, por exemplo, condicionar uma qualificação maior para projetos submetidos à lei que incluam programas robustos e comprovadamente eficazes de educação financeira. Isso transforma o que seria um custo em uma vantagem competitiva na captação de recursos.”
“Ao longo da minha carreira, sempre senti falta de orientações sobre educação financeira. Por conta própria, consegui estudar, aprender e aplicar, o que me garantiu uma estabilidade para o pós-carreira. É uma lacuna que ainda está aberta, mas que pode ser preenchida com cursos e palestras com quem entende do assunto. Infelizmente, vivemos em um país onde ser jogador de futebol e estudar são vistos como duas coisas diferentes. O atleta não tem o incentivo necessário e, por isso, muitos crescem sem saber como administrar suas finanças, acabando por perder, com coisas triviais, todo o dinheiro que conquistaram através de muito trabalho e esforço” , pontua Romulo Caldeira, ex-atleta com passagens pela Seleção Italiana, Juventus, Lazio e Cruzeiro. Hoje, expert em Finanças e Investimentos, certificado pela ANBIMA (CPA-20).











