Treinadoras estiveram com Clarisse Vallim e Nicole Marques nas conquistas dos ouros nos Mundiais Cadete e Júnior, reforçando o legado do Brasil na modalidade
No esporte, há quem conquista e, depois, quem ensina a conquistar, devolvendo tudo o que aprendeu em anos de dedicação. Em 2025, duas personagens que, no passado, já defenderam o judô brasileiro nas principais competições do mundo, assumiram o papel de guiar dois dos quatro títulos mundiais do país nas categorias de base. E, coincidentemente, com atletas dos pesos que um dia se consagraram. Maria Portela, ao lado de Clarisse Vallim (-70kg), ouro no cadete, e Erika Miranda, junto a Nicole Marques (-52kg), campeã no júnior, provaram mais uma vez que, no ciclo do judô, a história continua quando transformada em referência.
Continuando o legado de atletas olímpicas que migraram do alto rendimento para a função de treinadoras da Seleção, como Rosicleia Campos, Sarah Menezes e Andrea Berti, Portela e Erika integraram oficialmente a comissão das equipes brasileiras cadete e júnior, respectivamente, em março deste ano. Ao lado dos professores Douglas Potrich, Marcus Agostinho, Alexandre Katsuragi, José Olívio e Thiago Valladão, elas orientaram a equipe de jovens que trouxe 96 medalhas em etapas internacionais, além de campanhas históricas nos Mundiais das duas classes de idade.
Portela também esteve com o Brasil no Mundial Cadete de 2024, na época convidada pela CBJ, e foi quem entrou com Nycolly Carneiro (-48kg) na disputa pela medalha de bronze, onde a brasileira saiu vitoriosa. Já em 2025, também no Cadete, ela esteve na cadeira para Nicole Marques (-52kg), bronze, e Clarisse Vallim (-70kg), campeã na mesma categoria que a treinadora foi a três Jogos Olímpicos e levou inúmeras medalhas no Circuito Mundial.
“Eu fiquei muito feliz de conseguir contribuir com a Clarisse, porque era uma categoria que eu competia. Depois que eu fiz minha transição de carreira, não teve representatividade na última Olimpíada, e eu prometi pra mim mesma que eu faria o meu melhor para ensinar tudo o que eu aprendi durante todos esses anos representando o Brasil para todas aquelas que tivessem a oportunidade de entrar no lugar onde eu estive. E tive a oportunidade de trabalhar com a Clarisse. Ela me escutou em todos os momentos, e isso foi muito legal… a troca, o respeito”, disse a Portela.
“Ela confiou em mim naquele momento, porque o trabalho todo foi feito pelo clube. Me sentir parte daquela conquista foi muito especial. Ela é uma atleta que é bastante jovem e está em construção. Poder contribuir com ela nessa categoria na qual eu representei, que eu conheço muito bem as adversárias e o estilo de luta, foi muito especial”, continuou.
Clarisse faturou o ouro no Mundial Cadete aos 14 anos, em campanha onde passou por adversárias da Polônia, Japão, França e Canadá. Carioca, começou no judô aos quatro anos pelo incentivo do pai e do avô, também judocas, no projeto social Samurais do Morro, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Hoje, ela representa o Clube de Regatas do Flamengo (RJ), orientada pelos senseis Rosicleia Campos, Renan Moutinho, Walter Matheus e Murilo Gouveia.
“É uma felicidade muito grande ser campeã mundial cadete no meu primeiro ano de sub-18 e, ainda, ao lado de uma grande técnica que é a sensei Portela. É um grande privilégio e uma honra ter ao meu lado essa grande atleta. Ela passa uma tranquilidade absurda, porque já esteve em lugares que eu quero chegar. Fico feliz em saber que eu me encontro em boas mãos”, contou Clarisse.
Cerca de um mês após a conquista da atleta, o Brasil subiu ao topo do pódio Mundial novamente, desta vez com Nicole Marques (-52kg). Quem esteve com a brasiliense de 16 anos durante todo o dia de competição foi Erika Miranda, que, coincidentemente, também é natural de Brasília, fez história no meio-leve feminino e foi revelada pela mesma academia que Nicole representa atualmente — Espaço Marques (DF) —, comandada pelos professores Robert Marques, Phyllis Marques e Glauco Leite.
Para a treinadora, que defendeu a Seleção Brasileira por mais de 10 anos, foi a dois Jogos Olímpicos e levou cinco medalhas mundiais durante a carreira, ver Nicole, a quem conhece desde bebê, ganhando destaque na categoria de peso que um dia representou é gratificante.“Eu tenho um amor por essa categoria, onde consegui vários sucessos anteriores. É gratificante para mim saber que o -52kg está forte e crescendo. A Nicole ainda está no último ano de cadete, vai para o primeiro de júnior em 2026, então ainda vamos escutar muito dela”, disse Erika.
Com o ouro no Mundial Júnior, Nicole quebrou um jejum de 15 anos sem uma campeã brasileira no naipe feminino da competição. Além disso, sagrou-se a primeira mulher brasiliense campeã mundial de judô, assim como Erika foi a primeira medalhista.
“Além de ser uma referência da categoria, a sensei Erika é uma das minhas inspirações no judô. Desde pequena, eu sempre a vi. Ela saiu do Espaço Marques, e ter ela comigo foi muita felicidade. Eu falei isso para ela, que foi uma honra tê-la como treinadora na conquista do Mundial”, disse Nicole.
Os ouros de Clarisse e Nicole fizeram parte de uma campanha de 13 medalhas faturadas pelo judô brasileiro na temporada de mundiais deste ano, sendo 4 ouros, 3 pratas e 6 bronzes. No sênior, foram duas — Daniel Cargnin (-73kg/prata) e Shirlen Nascimento (-57kg/bronze) —; no cadete, cinco — Clarice Ribeiro (-48kg/ouro), Clarisse Vallim (-70kg/ouro), Arthur Bonato (-50kg/prata), Nicole Marques (-52kg/bronze) e Laryssa Fonseca (-63kg/bronze) —; e no júnior, seis — Nicole Marques (-52kg/ouro), Jesse Barbosa (-90kg/ouro), João Segatelle (-90kg/prata), Gyovanna Andrade (-57kg/bronze), Dandara Camillo (-78kg/bronze) e Equipe Mista (bronze).
Além disso, nas classes cadete e júnior, a campanha brasileira em 2025 foi a melhor da história. Os resultados reforçam a consistência do trabalho de base da Confederação Brasileira de Judô e a importância das referências, como Erika e Portela, que se mantêm atuantes na formação de novos talentos.











